Domingo, 17 de Janeiro de 2016
Teste de filosofia do 11º ano turma C (Dezembro de 2015)

Eis um teste de filosofia numa perspectiva que ultrapassa o modelo de testes dos manuais escolares da chamada «filosofia analítica» que se limita quase só à análise lógica da linguagem e à ética, ignorando quase todos os grandes  problemas da ontologia e da metafísica.

 

Agrupamento de Escolas nº1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 11º ANO TURMA C
3 de Dezembro de 2015.

Professor: Francisco
Queiroz

I

 

 

«A doutrina do ser na história universal, de Hegel, exprime a lei da tríade e comporta o conceito de alienação. Parménides sustentou que «o ser não foi nem será porque é ser, a cada instante» e a sua doutrina pode ter duas interpretações, uma realista e a outra idealista ontológica. O raciocínio de analogia pode dispensar o ethos e o pathos da retórica mas talvez não dispense a percepção empírica nem a intuição inteligível.»

 

1)Explique, concretamente este texto.

 .

2)Exponha e classifique gnoseologicamente os quatro passos do raciocínio de Descartes a partir da dúvida absoluta até à certeza do mundo exterior.

 

3)Defina as leis dialéticas das causas internas e causas externas e do salto    qualitativo.

 

4) Defina e construa um exemplo de:
A) Falácia depois de por causa de.
B) Petição de princípio.
C) Falácia ad hominem.
D) Falácia ad ignorantiam.
E) Falácia do homem de palha.
F) Convencionalismo.

 

CORREÇÃO DO TESTE COTADO PARA UM MÁXIMO DE 20 VALORES

 

1) A doutrina de Hegel define o ser como a ideia absoluta, o pensamento criador, extra humano, que está no princípio de tudo . Este ser desdobra-se em três fases, segundo a lei da tríade: fase lógica, Deus sozinho antes de criar o universo o espaço e o tempo (é a tese ou afirmação, o primeiro momento da tríade); fase da natureza, na qual Deus se aliena ou separa de si mesmo ao transformar-se em espaço, tempo, astros, pedras, montanhas, rios, plantas e deixa de pensar (é a antítese ou negação, o segundo momento da tríade); fase da humanidade ou do espírito, em que a ideia absoluta/Deus emerge com a aparição da espécie humana, que é Deus encarnado evoluindo em direção a si mesmo, por sucessivas formas de estado, desde o despótico mundo oriental até ao mundo cristão da Reforma protestante onde todos os homens são livres (é a síntese ou negação da negação) (VALE TRÊS VALORES). A ontologia de Parménides de Eleia diz que a única realidade é o ser uno, imóvel, imutável, esférico, invisível, imperceptível, eterno, que não foi nem será porque é eternamente o mesmo e diz que «ser e pensar são um e o mesmo». A interpretação realista desta última frase é: o pensamento é idêntico ao ser, é espelho do ser material (realismo é doutrina que sustenta que o mundo de matéria é real em si mesmo). A interpretação idealista da mesma frase é: o ser é pensamento, nada existe fora da ideia absoluta que é o ser, e o mundo de matéria, com a mudança das estações do ano, o nascimento e a morte não passa de ilusão. (VALE TRÊS VALORES) O raciocínio de analogia é o que, usando a imaginação, estabelece semelhanças de forma ou de função entre entes de natureza muito diferente (exemplos: homem e árvore; ) e de facto não precisa do ethos (carácter do orador na retórica) nem do pathos (sentimento de paixão colocado no discurso) mas não dispensa a percepção empírica (ver,tocar, ouvir, cheirar algo) nem a intuição inteligível (captar algo que não se vê nem toca). (VALE TRÊS VALORES).

 

.2) A radicalidade filosófica consiste no poder de a filosofia ir à raíz dos problemas, destruindo certezas do senso comum e inventando hipóteses e teses incomuns, especulativas. Os quatro passos do raciocínio de Descartes são pautados pelo racionalismo, doutrina que afirma que a verdade procede do raciocínio, das ideias da razão e não dos sentidos, racionalismo esse que é uma forma de radicalidade filosófica:

 

Dúvida hiperbólica ou Cepticismo Absoluto( «Uma vez que quando sonho tudo me parece real, como se estivesse acordado, e afinal os sentidos me enganam, duvido da existência do mundo, das verdades da ciência, de Deus e até de mim mesmo »).

 

Idealismo solipsista («No meio deste oceano de dúvidas, atinjo uma certeza fundamental: «Penso, logo existo» como mente, ainda que o meu corpo e todo o resto do mundo sejam falsos»).

 

3º Idealismo não solipsista («Se penso tem de haver alguém mais perfeito que eu que me deu a perfeição do pensar, logo Deus existe).

 

Realismo crítico («Se Deus existe, não consentirá que eu me engane em tudo o que vejo, sinto e ouço, logo o mundo de matéria, feito só de qualidades primárias, objetivas, isto é, de figuras, tamanhos, números, movimentos, existe fora de mim»). Realismo crítico é a teoria gnosiológica segundo a qual há um mundo de matéria exterior ao espírito humano e este não capta esse mundo como é. Descartes, realista crítico, sustentava que as qualidades secundárias, subjectivas, isto é, as cores, os cheiros, os sons, sabores, o quente e o frio só existem no interior da mente, do organismo do sujeito, pois resultam de movimentos vibratórios exteriores e que o mundo exterior é apenas composto de formas, movimentos e tamanhos e uma matéria indeterminada. (VALE QUATRO VALORES).

 

3) A lei das causas internas e externas sustenta que um fenómeno ou ente possui dois tipos de causas, as internas, determinantes na morfologia e desenvolvimento desse fenómeno ou ente, e as externas, indispensáveis, que actuam por meio das causas internas. Exemplo: o terreno orgânico (causa interna) é tudo, o micróbio vindo de fora (causa externa) é nada. A lei do salto qualitativo postula que a acumulação lenta e gradual em quantidade de um dado aspecto de um fenómeno leva a um salto brusco ou nítido de qualidade nesse fenómeno (exemplo: muitas greves económicas e políticas acumulam-se, gota a gota, e um dia desencadeiam a queda do governo). (VALE UM VALOR).

 

4) a)A falácia depois de por causa de é a que atribui uma relação necessária de causa efeito a dois fenómenos vizinhos por acaso (exemplo: «Há 10 dias vi um gato preto e caí da bicicleta, há 5 dias vi outro gato preto e perdi a carteira, logo ver gatos pretos dá-me azar).  (VALE UM VALOR)

 

4) b A petição de princípio é uma falácia em que a conclusão se limita a repetir uma das premissas ou ambas (exemplo: «Ela venceu o concurso de a mulher mais bela, porque é a mais bela»). (VALE UM VALOR)

 

4) c) A falácia ad hominem é aquela que desvia a argumentação racional para o campo do ataque pessoal ao adversário (exemplo: «Ele´ganhou o concurso para gestor de empresas, mas é gay, vamos impedi-lo de subir a gestor da empresa»).(VALE UM VALOR)

 

4) d) A falácia do apelo à ignorância é a que raciocina sobre um fundo desconhecido e o usa de forma tendenciosa, sustentando que uma tese fica demonstrada se a não se conseguiu demonstrar a sua contrária (exemplo: «Nunca ninguém demonstrou que Deus existe, logo Deus não existe).(VALE UM VALOR)

 

4) e) A falácia  do homem de palha é o vício de argumentação que consiste ao atribuir ao interlocutor posições que ele não defende (exemplo a respeito de um teórico que quer introduzir a acupunctura e a naturopatia nos hospitais públicos: «Ele quer acabar com os hospitais e a classe médica que receita químicos e faz cirurgias»). (VALE UM VALOR)

4.f)  Convencionalismo é a teoria que sustenta que a verdade não existe em si mesma ou é desconhecida e que o se intitula verdade é apenas uma convenção (exemplo: convencionou.se que o número atómico do hidrogénio é um, na realidade ninguém pode ver um electrão de hidrogéneo»). (VALE UM VALOR)

 

 

 

www.filosofar.blogs.sapo.pt
f.limpo.queiroz@sapo.pt

 

© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)

 



publicado por Francisco Limpo Queiroz às 19:16
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