Sexta-feira, 18 de Outubro de 2013
Algo de fascizante em teses de Wittgenstein

 

O célebre Ludwig Wittgenstein estabeleceu as teses do empirismo lógico e da filosofia analítica em geral com um carácter não isento de incoerência. Escreveu:

 

«4.112 O objectivo da filosofia é a clarificação lógica dos pensamentos.»

 

«A filosofia não é uma doutrina, mas uma actividade.»

 

« Um trabalho filosófico consiste essencialmente em elucidações.»

 

«O resultado da Filosofia não é «proposições filosóficas», mas o esclarecimento de proposições.»

 

«A filosofia deve tornar claros e delimitar rigorosamente os pensamentos, que doutro modo são como que turvos e vagos.»

 

(Ludwig Wittgenstein, Tratado Lógico-Filosófico; Ed. Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1995. 4.112, pp. 62-63).

 

Nestas teses, Wittgenstein afirma o valor lógico da filosofia mas nega o seu valor metafísico. Ou seja, amputa a filosofia, negando que haja «proposições filosóficas»  e a correspondente doutrina. Reduz a filosofia à lógica e à epistemologia .Ora, há que não esquecê-lo, antes do mais a filosofia é, por sua própria natureza, a arquitectura do invisível concebida em cada mente humana, o ir além do que os sentidos directamente nos oferecem, o uso da imaginação ou da intuição inteligível sob o controlo da racionalidade lógica.

 

O revisionismo filosófico de Wittgenstein lembra o revisionismo das teses de Marx operado por Bernstein: «O movimento é tudo, o objectivo é nada». Para Bernstein, o objectivo do movimento operário socialista não seria a tomada do poder de Estado aos capitalistas e a construção de uma nova sociedade mas apenas a correção de algumas injustiças, mediante pequenas conquistas como aumentos de salário e melhoria das condições de trabalho. É o mobilismo permanente. Wittgenstein defende que a filosofia só pode corrigir, clarificar o discurso do senso comum ou de ciências, mas não pode assumir teses próprias. A filosofia seria o pagem, o escudeiro do cavaleiro das ciências empíricas. O seu lugar seria subalterno.

 

Mas indagar e não chegar a conclusão nenhuma em nenhum campo, excepto o dos sentidos aqui e agora, negando validade à actividade de especular, que, além de clarificar é um postular original, é uma incoerência. É o cepticismo moderado.

 

Por conseguinte, segundo Wittgenstein, Aristóteles não teria legitimidade para filosofar sobre um Deus que é pensamento puro (theoría) e estaria imóvel além da última esfera de estrelas, não intervindo no mundo. E Leibniz não teria legitimidade para defender que as mónadas, unidades elementares da percepção, são a fonte de todas as coisas do mundo. E Kant não poderia teorizar filosoficamente que espaço e tempo são formas a priori do conhecimento anteriores aos objectos físicos. E Marx não poderia postular que o comunismo é a etapa final da história humana uma vez que isso é uma doutrina metafísica. Aristóteles, Leibniz, Kant, Marx e milhares de outros colocar-se-iam fora do terreno que Wittgenstein delimitou para a filosofia...

 

qualquer coisa de fascizante no pragmatismo das teses de Wittgenstein mas não digo isto  pelo facto de ele ter nascido na Austria, onde também nasceu Adolf Hitler, em 26 de de Abril de 1889, seis dias após o nascimento de Adolf Hitler e dois dias antes do nascimento de António Oliveira Salazar, em Portugal. É o carácter de doutrinas, com maior ou menor lastro metafísico,  que as várias filosofias apresentam que torna possível a confrontação de ideias, a abertura de um campo de opções políticas, religiosas, sociais e económicas vertebradoras da democracia e do progresso das ideias.

 

 

 

www.filosofar.blogs.sapo.pt

f.limpo.queiroz@sapo.pt

 

 

 

© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)

 

 

 

 



publicado por Francisco Limpo Queiroz às 04:36
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