Domingo, 27 de Novembro de 2016
Teste de filosofia do 11º ano de escolaridade (Novembro de 2016)

 

 

 

Além da lógica aristotélica, é abordada neste teste a dialética, lógica do movimento. Muito poucos professores de filosofia conhecem as leis da dialética, que não são mencionadas em nenhum manual de filosofia para o ensino secundário do 10º e 11º anos de escolaridade em Portugal, o que evidencia duas coisas: a ignorância dos autores de manuais nesta matéria; o domínio avassalador nas universidades da filosofia analítica, corrente que, de um modo geral, ignora a dialética e exprime indirectamente a ideologia dos imperialismos norte-americano e britânico no ensino de massas e na cultura mundial, interessados em omitir a metafísica cristã e o debate político com o socialismo reformista, o socialismo marxista, o estalinismo, o anarquismo.

 

Agrupamento de Escolas nº1 de Beja

 

Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja

TESTE DE FILOSOFIA, 11º ANO TURMA B

25 de Novembro de 2016. Professor: Francisco Queiroz

I

“Alguns médicos são adeptos da vacinação.

Os laboratórios farmacêuticos são adeptos da vacinação.

Os laboratórios farmacêuticos não são médicos.”

1-A) Indique, concretamente, três regras do silogismo formalmente válido que foram infringidas na construção deste silogismo.

1-B) Indique o modo e a figura deste silogismo.

                                                                        II

“Um só caminho nos fica – o Ser é! Existem milhares de sinais de sinais demonstrativos de que o Ser é incriado, imperceptível, perfeito, imóvel, eterno, não sendo lícito afirmar que o Ser foi ou que será, porque é Ser a todo o instante, uno e contínuo…(Parménides de Eleia)

2-A) Explique o que é o Ser segundo Parménides, com base no texto e em outras fontes, e relacione Ser com realismo, idealismo e fenomenologia.

2-B) Diga em que se diferencia a noção de ser em Parménides da noção de ser em Hegel. Justifique

 

3) Relacione, justificando:

 

3-A) Falácia depois de por causa de, falácia da composição e Indução amplificante.

 3.B) Lei do Salto Qualitativo e Três formas de Estado ou Três Mundos na fase da humanidade, em Hegel

3-C) Lógica Formal, Lógica Material e Argumentação.

 

CORREÇÃO DO TESTE COM A COTAÇÃO TOTAL DE 20 VALORES

 

I

A) Três regras infringidas da validade do silogismo acima foram: de duas permissas afirmativas não se pode extrair uma conclusão negativa; nenhum termo pode ter maior extensão na conclusão do que nas premissas (alguns médicos na permissa maior/ nenhuns médicos, na conclusão); o termo médio (adeptos da vacinação ) tem de ser tomado pelo menos uma vez universalmente e está tomado apenas no sentido de «alguns» e não de «todos». (VALE TRÊS VALORES).

 

1-B) O modo do silogismo é IAE, a figura é PP (predicado e predicado refere-se à  posição do termo médio nas premissas) ou 2ª figura.(VALE UM VALOR).

 

2)  A ontologia de Parménides de Eleia diz que a única realidade é o ser, um ente uno, imóvel, imutável, esférico, invisível, imperceptível, eterno, que não foi nem será porque é eternamente o mesmo e diz que «ser e pensar são um e o mesmo». A mudança das cores, o nascimento, o crescimento, o decrescimento e a morte, a sucessão das estações do ano e todas as mudanças são aparências, ainda que o ser possa estar subjacente a elas, escondido atrás delas. A interpretação realista desta  frase «ser e pensar são um e o mesmo». é: o pensamento é idêntico ao ser, é espelho do ser material ( e aqui podemos «ler» o ser como realismo, doutrina que sustenta que o mundo de matéria é real em si mesmo). A interpretação idealista da mesma frase é: o ser é pensamento, nada existe fora da ideia absoluta que é o ser, e o mundo de matéria, com a mudança das estações do ano, o nascimento e a morte não passa de ilusão (idealismo é a teoria que afirma que o mundo material é irreal é como um sonho dentro da minha ou das nossas imensas mentes). A fenomenologia é a doutrina céptica no seu fundo que afirma que a mente humana e a matéria são correlatas não se sabendo se o mundo material existe em si mesmo ou não. (VALE QUATRO VALORES)

 

2-B) Para Parménides, o ser é invisível, imóvel, imutável, exclui as aparências empíricas. Para Hegel, o ser é invisível e visível consoante as épocas, é mutável, inclui as aparências empíricas (o verde das árvores, o calor do sol, etc) e   desdobra-se em três fases, segundo a lei da tríade: fase lógica, Deus sozinho antes de criar o universo o espaço e o tempo (é a tese ou afirmação, o primeiro momento da tríade); fase da natureza, na qual Deus se aliena ou separa de si mesmo ao transformar-se em espaço, tempo, astros, pedras, montanhas, rios, plantas e deixa de pensar (é a antítese ou negação, o segundo momento da tríade); fase da humanidade ou do espírito, em que a ideia absoluta/Deus emerge com a aparição da espécie humana, que é Deus encarnado evoluindo em direção a si mesmo, por sucessivas formas de estado, desde o despótico mundo oriental até ao mundo cristão da Reforma protestante onde todos os homens são livres (é a síntese ou negação da negação) (VALE TRÊS VALORES).

 

3-A) A falácia depois de por causa de é o erro de raciocínio  que atribui uma relação necessária de causa efeito a dois fenómenos vizinhos por acaso (exemplo: «Há 10 dias vi um gato preto e caí da bicicleta, há 5 dias vi outro gato preto e perdi a carteira, ontem vi um gato preto e o meu telemóvel avariou, logo ver gatos pretos dá-me azar). A falácia da composição é aquela que faz uma generalização errónea, passa abusivamente de um ou poucos exemplos para uma conclusão geral (exemplo: «Cristiano Ronaldo é um dos dez melhores futebolistas do mundo, Cristiano é do Real Madrid, logo a equipa do Real inclui os dez melhores futebolistas do mundo») é uma indução precipitada, ao contrário da indução amplificante ou científica que é a generalização, segundo uma lei necessária, de numerosos exemplos empíricos particulares (exemplo: «fizemos milhares de experiências juntando um ácido e uma base e deu sempre um sal, neutro, mais água, logo induzimos que a mistura de um ácido e uma base gera um sal e água»).  O que todas têm em comum é que generalizam, mal ou bem, a partir de um ou alguns casos particulares.  (TRÊS VALORES).

 

3.B) A lei do salto qualitativo postula que a acumulação lenta e gradual em quantidade de um dado aspecto de um fenómeno leva a um salto brusco ou nítido de qualidade nesse fenómeno.O progresso da humanidade na terceira fase do ser, segundo Hegel, exprime-se através de três formas de estado sucessivas- no início, o despotismo oriental, em que só um homem é livre, o imperador de direito divino ou o faraó,  séculos depois o estado greco-romano, em que só alguns homens são livres e servos e escravos não são livres e por último o estado do cristianismo reformado por Lutero em que todos os homens são livres de examinar a Bíblia sem a manipulação do clero católico romano, completado em 1789-1799 pela revolução francesa que implantou a democracia baseada na liberdade, igualdade e fraternidade. 

Dentro de cada fase/estado vai havendo, lentamente, uma mudança quantitativa lenta até que num dado instante se produz um salto grande. Exemplo: na Idade Média, ainda pertencente ao mundo greco-romano sob o domínio do catolicismo na Europa, crescem as heresias que se opõem aqui e ali ao papado romano que não deixa livres os camponeses e outras classes. A reforma de Lutero é o salto brusco de qualidade que cria um centro religioso  oposto a Roma, inaugurando a fase do estado cristão reformado. (VALE QUATRO VALORES). 

 

3-C) Lógica formal é a ciência do pensamento formalmente correcto ou válido, independentemente do seu conteudo concreto. Lógica material é a aplicação da lógica formal à natureza biofísica e às ideias concretas (exemplo: tem lógica material dizer a abelha comeu mel mas não tem lógica informal dizer o mel comeu a abelha). A argumentação ou arte de encadear juízos e raciocínios, com certa dose de subjetividade ou intersubjectividade (ideologia), visando convencer um auditório, implica lógica material e lógica formal. (VALE DOIS VALORES).

 

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Sábado, 19 de Março de 2016
Teste de Filosofia do 10º ano, turma B (Março de 2016)

 

Eis um teste de filosofia fora do estereótipo dos testes que os autores dos manuais escolares da Porto Editora, Leya, Santillana, Areal Editores, etc, divulgam. E sem questões de escolha múltipla que, frequentemente, são incorrectamente concebidas por quem não domína o método dialético e desliza para a horizontalidade da filosofia analítica vulgar.

 

 

Agrupamento de Escolas nº1 de Beja

Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja

TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA B

3 de Março de 2016. Professor: Francisco Queiroz.

 I

  “A lei do salto de qualidade está presente no comportamento do mítico Adão Kadmon. A luta entre Yang e Yin exprime, a cada momento, a lei dos dois aspetos da contradição. A democracia parlamentar parece coadunar-se com a moral utilitarista de Stuart Mill, num certo aspeto, e com o imperativo categórico de Kant, sob outro aspeto.”

1) Explique, concretamente este texto.

 

2)Escolha e caracterize (qualidade, número, cor, planeta) cada uma de cinco esferas da árvore dos Sefirós e distribua-as segundo a lei da contradição principal, enunciando esta

 

3) Construa um diálogo sobre a propriedade e a gestão das empresas e sobre a democracia parlamentar entre um anarquista, um comunista leninista, um socialista democrático, um liberal, um conservador e um fascista.

 

 

4) Relacione, justificando

A) Valores ético-políticos de esquerda e valores ético-políticos de direita.

B)  Sensação, percepção empírica, conceito empírico e intuição inteligível.

C)Pragmatismo, cepticismo e metafísica

 

CORREÇÃO DO TESTE COTADO PARA 20 VALORES

 

1) A lei do salto qualitativo postula que a acumulação lenta e gradual em quantidade de um dado aspecto de um fenómeno leva a um salto brusco ou nítido de qualidade nesse fenómeno. Adão Kadmon, metade homem e metade mulher (Sofia, a sua parte espiritual), vivia no Paraíso e pouco a pouco (acumulação quantitativa) deixou-se seduzir pelos apelos de Lúcifer, o anjo proscrito nos Infernos, e saíu do Paraíso (salto qualitativo), perdendo Sofia, a sua esposa espiritual e ficando com um corpo material. (VALE DOIS VALORES). A luta entre Yang (fogo, luz, expansão, masculino, alto, crescimento) e Yin (água, escuridão, contração, feminino, baixo, diminuição) exprime a lei que diz que numa contradição há dois aspectos em regra  desigualmente desenvolvidos, o dominante e o dominado, que trocam de posição (exemplo: de dia o Yang domina sobre o Yin e de noite o Yin prevalece sobre o Yang) (VALE DOIS VALORES). A democracia parlamentar é o regime de liberdade de imprensa, greve, religião, associação política e sindical em que o governo do país é escolhido por um parlamento nacional eleito por sufrágio livre e universal e coaduna-se com a filosofia da Stuart Mill porque este defende que se deve agir em função de proporcionar a felicidade à maioria das pessoas e a democracia é um regime de maiorias, em princípio. Também se coaduna com o imperativo categórico de Kant porque este diz «Age de modo a considerares cada pessoa como um fim em si e não um meio» e a democracia parlamentar dá a todos os cidadãos, encarados como fins em si, o direito de votar escolhendo os governantes e a política estatal. (VALE TRÊS VALORES)

 

2) A lei da contradição principal diz que um sistema de múltiplas contradições pode ser reduzido a uma só, organizando-as em dois blocos. Ora ao contemplarmos a árvore das 10 sefirós da Cabala podemos agrupar duas esferas do pilar direito - Chesed (Misericórdia, Júpiter, cor azul e número 4) e Netzac ( Vitória-Emoção, Vénus, cor verde e número 7) num bloco oposto a duas esferas do pilar esquerdo- Gueburah (Justiça, Marte, cor vermelha, número 5) e Hod (Intelecto, Mercúrio, cor laranja e número 8), ficando Thiphetet (Sol) na zona neutra, fora de ambos os blocos. (VALE TRÊS VALORES)

 

3) Anarquista: «A propriedade das fábricas e de todas as empresas deve ser dos trabalhadores. Instituímos a autogestão, isto é, a assembleia geral de todos os operários, engenheiros e contabilistas toma decisões sobre salários, investimentos, vendas, etc. O patrão desaparece e desaparece o Estado de democracia parlamentar que não é mais que ditadura disfarçada dos capitalistas.»

Comunista: «A propriedade de todas ou quase todas as fábricas deve ser do Estado, dirigido por um partido marxista-leninista, que impedirá os patrões de extorquirem a mais valia à classe operária. A democracia burguesa, que actualmente apoiamos, concorrendo às eleições e usando as liberdades de greve e manifestação de rua, deve ser substituída pela ditadura do proletariado onde não há eleições livres nem imprensa livre como no capitalismo liberal».

 

Socialista democrático/ social-democrata: «A propriedade da grande maioria das empresas deve ser privada, isto é, estar na mão dos patrões que, em certos casos, devem aceitar a cogestão. Mas há empresas de sectores fundamentais - siderurgia, electricidade, televisão, etc - que devem estar na mão do Estado democrático. Este deve impor impostos progressivos aos capitalistas de modo a ter serviço nacional de saúde e escolaridade pública gratuita até ao final do curso universitário. Defendemos a democracia parlamentar e o Estado social».

 

Liberal: «A propriedade das empresas deve ser privada pois os empresários são os criadores de emprego os motores primeiros da economia. Os subsídios de desemprego e o rendimento social de inserção deviam acabar ou ser reduzidos para estimular o mercado de trabalho. Defendo as privatizações, democracia parlamentar, a liberdade de imprensa, o capitalismo puro e duro.»

 

Conservador: «A propriedade das empresas deve ser privada pois os empresários são os criadores de emprego os motores primeiros da economia. Os subsídios de desemprego e o rendimento social de inserção deviam acabar ou ser reduzidos para estimular o mercado de trabalho. Defendo as privatizações, a democracia parlamentar, a liberdade de imprensa. Mas a democracia não deve permitir o aborto livre, o casamento de gays e lésbicas, a eutanásia: deve ser guiada por bons princípios religiosos, cristãos.»

Fascista: «As empresas devem ser de patrões nacionais e do Estado fascista e corporativo que, através da polícia política e da censura à imprensa impedirá a luta de classes, o sindicalismo livre, a imoralidade sexual. Não deve haver democracia parlamentar mas ditadura nacionalista que expulse a generalidade dos imigrantes e tenha por princípios «Deus, pátria, família» como princípios fundamentais». (VALE QUATRO VALORES).

4-A) Os valores políticos de esquerda são: o predomínio do interesse público sobre o privado, o fortalecimento dos sindicatos e do poder da classe operária e das classes médias, havendo ou não a supressão dos patrões privados enquanto classe social, o ateísmo, o agnosticismo e a dissidência religiosa, a defesa da democracia parlamentar contra o fascismo. Os valores políticos da direita são: o predomínio do interesse privado sobre o interesse público, o fortalecimento do poder dos empresários, com aumento das privatizações e da liberdade de despedir empregados, o combate ao comunismo e ao anarquismo, a defesa da igreja católica ou de igrejas protestantes e de valores religiosos e tradicionais, a manutenção ou não (neste último caso: a extrema direita fascista) da democracia parlamentar. (VALE UM VALOR).

 

4-B) A percepção empírica é a captação visual, auditiva, táctil, olfativa daquilo que está diante de nós (a visão da árvore e da planície onde estou agora, a audição do canto dos pássaros, etc). A sensação é um fragmento da percepção empírica. Exemplo: a cor verde da erva, o som do pássaro. O conceito empírico é a ideia de uma coisa ou classe de coisas obtida por abstração de percepções empíricas similares. Exemplo: «Vi cem planícies alentejanas semelhantes a esta, fecho os olhos e tenho o conceito-imagem de planície alentejana». Intuição inteligível é a captação intelectual e a-racional de algo metafísico. Exemplo: «Sinto que há Deus ou deuses». (VALE TRÊS VALORES).

 

4-C) Pragmatismo é a teoria que diz que devemos lidar, de forma útil, com os factos empíricos palpáveis e devemos pôr de parte a metafísica, os grandes princípios morais ou políticos inaplicáveis de momento. O cepticismo é a corrente que põe tudo ou uma parte das coisas em dúvida e é usado pelo pragmatismo. (VALE DOIS VALORES).

 

                  

 

 

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Domingo, 17 de Janeiro de 2016
Teste de filosofia do 11º ano turma C (Dezembro de 2015)

Eis um teste de filosofia numa perspectiva que ultrapassa o modelo de testes dos manuais escolares da chamada «filosofia analítica» que se limita quase só à análise lógica da linguagem e à ética, ignorando quase todos os grandes  problemas da ontologia e da metafísica.

 

Agrupamento de Escolas nº1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 11º ANO TURMA C
3 de Dezembro de 2015.

Professor: Francisco
Queiroz

I

 

 

«A doutrina do ser na história universal, de Hegel, exprime a lei da tríade e comporta o conceito de alienação. Parménides sustentou que «o ser não foi nem será porque é ser, a cada instante» e a sua doutrina pode ter duas interpretações, uma realista e a outra idealista ontológica. O raciocínio de analogia pode dispensar o ethos e o pathos da retórica mas talvez não dispense a percepção empírica nem a intuição inteligível.»

 

1)Explique, concretamente este texto.

 .

2)Exponha e classifique gnoseologicamente os quatro passos do raciocínio de Descartes a partir da dúvida absoluta até à certeza do mundo exterior.

 

3)Defina as leis dialéticas das causas internas e causas externas e do salto    qualitativo.

 

4) Defina e construa um exemplo de:
A) Falácia depois de por causa de.
B) Petição de princípio.
C) Falácia ad hominem.
D) Falácia ad ignorantiam.
E) Falácia do homem de palha.
F) Convencionalismo.

 

CORREÇÃO DO TESTE COTADO PARA UM MÁXIMO DE 20 VALORES

 

1) A doutrina de Hegel define o ser como a ideia absoluta, o pensamento criador, extra humano, que está no princípio de tudo . Este ser desdobra-se em três fases, segundo a lei da tríade: fase lógica, Deus sozinho antes de criar o universo o espaço e o tempo (é a tese ou afirmação, o primeiro momento da tríade); fase da natureza, na qual Deus se aliena ou separa de si mesmo ao transformar-se em espaço, tempo, astros, pedras, montanhas, rios, plantas e deixa de pensar (é a antítese ou negação, o segundo momento da tríade); fase da humanidade ou do espírito, em que a ideia absoluta/Deus emerge com a aparição da espécie humana, que é Deus encarnado evoluindo em direção a si mesmo, por sucessivas formas de estado, desde o despótico mundo oriental até ao mundo cristão da Reforma protestante onde todos os homens são livres (é a síntese ou negação da negação) (VALE TRÊS VALORES). A ontologia de Parménides de Eleia diz que a única realidade é o ser uno, imóvel, imutável, esférico, invisível, imperceptível, eterno, que não foi nem será porque é eternamente o mesmo e diz que «ser e pensar são um e o mesmo». A interpretação realista desta última frase é: o pensamento é idêntico ao ser, é espelho do ser material (realismo é doutrina que sustenta que o mundo de matéria é real em si mesmo). A interpretação idealista da mesma frase é: o ser é pensamento, nada existe fora da ideia absoluta que é o ser, e o mundo de matéria, com a mudança das estações do ano, o nascimento e a morte não passa de ilusão. (VALE TRÊS VALORES) O raciocínio de analogia é o que, usando a imaginação, estabelece semelhanças de forma ou de função entre entes de natureza muito diferente (exemplos: homem e árvore; ) e de facto não precisa do ethos (carácter do orador na retórica) nem do pathos (sentimento de paixão colocado no discurso) mas não dispensa a percepção empírica (ver,tocar, ouvir, cheirar algo) nem a intuição inteligível (captar algo que não se vê nem toca). (VALE TRÊS VALORES).

 

.2) A radicalidade filosófica consiste no poder de a filosofia ir à raíz dos problemas, destruindo certezas do senso comum e inventando hipóteses e teses incomuns, especulativas. Os quatro passos do raciocínio de Descartes são pautados pelo racionalismo, doutrina que afirma que a verdade procede do raciocínio, das ideias da razão e não dos sentidos, racionalismo esse que é uma forma de radicalidade filosófica:

 

Dúvida hiperbólica ou Cepticismo Absoluto( «Uma vez que quando sonho tudo me parece real, como se estivesse acordado, e afinal os sentidos me enganam, duvido da existência do mundo, das verdades da ciência, de Deus e até de mim mesmo »).

 

Idealismo solipsista («No meio deste oceano de dúvidas, atinjo uma certeza fundamental: «Penso, logo existo» como mente, ainda que o meu corpo e todo o resto do mundo sejam falsos»).

 

3º Idealismo não solipsista («Se penso tem de haver alguém mais perfeito que eu que me deu a perfeição do pensar, logo Deus existe).

 

Realismo crítico («Se Deus existe, não consentirá que eu me engane em tudo o que vejo, sinto e ouço, logo o mundo de matéria, feito só de qualidades primárias, objetivas, isto é, de figuras, tamanhos, números, movimentos, existe fora de mim»). Realismo crítico é a teoria gnosiológica segundo a qual há um mundo de matéria exterior ao espírito humano e este não capta esse mundo como é. Descartes, realista crítico, sustentava que as qualidades secundárias, subjectivas, isto é, as cores, os cheiros, os sons, sabores, o quente e o frio só existem no interior da mente, do organismo do sujeito, pois resultam de movimentos vibratórios exteriores e que o mundo exterior é apenas composto de formas, movimentos e tamanhos e uma matéria indeterminada. (VALE QUATRO VALORES).

 

3) A lei das causas internas e externas sustenta que um fenómeno ou ente possui dois tipos de causas, as internas, determinantes na morfologia e desenvolvimento desse fenómeno ou ente, e as externas, indispensáveis, que actuam por meio das causas internas. Exemplo: o terreno orgânico (causa interna) é tudo, o micróbio vindo de fora (causa externa) é nada. A lei do salto qualitativo postula que a acumulação lenta e gradual em quantidade de um dado aspecto de um fenómeno leva a um salto brusco ou nítido de qualidade nesse fenómeno (exemplo: muitas greves económicas e políticas acumulam-se, gota a gota, e um dia desencadeiam a queda do governo). (VALE UM VALOR).

 

4) a)A falácia depois de por causa de é a que atribui uma relação necessária de causa efeito a dois fenómenos vizinhos por acaso (exemplo: «Há 10 dias vi um gato preto e caí da bicicleta, há 5 dias vi outro gato preto e perdi a carteira, logo ver gatos pretos dá-me azar).  (VALE UM VALOR)

 

4) b A petição de princípio é uma falácia em que a conclusão se limita a repetir uma das premissas ou ambas (exemplo: «Ela venceu o concurso de a mulher mais bela, porque é a mais bela»). (VALE UM VALOR)

 

4) c) A falácia ad hominem é aquela que desvia a argumentação racional para o campo do ataque pessoal ao adversário (exemplo: «Ele´ganhou o concurso para gestor de empresas, mas é gay, vamos impedi-lo de subir a gestor da empresa»).(VALE UM VALOR)

 

4) d) A falácia do apelo à ignorância é a que raciocina sobre um fundo desconhecido e o usa de forma tendenciosa, sustentando que uma tese fica demonstrada se a não se conseguiu demonstrar a sua contrária (exemplo: «Nunca ninguém demonstrou que Deus existe, logo Deus não existe).(VALE UM VALOR)

 

4) e) A falácia  do homem de palha é o vício de argumentação que consiste ao atribuir ao interlocutor posições que ele não defende (exemplo a respeito de um teórico que quer introduzir a acupunctura e a naturopatia nos hospitais públicos: «Ele quer acabar com os hospitais e a classe médica que receita químicos e faz cirurgias»). (VALE UM VALOR)

4.f)  Convencionalismo é a teoria que sustenta que a verdade não existe em si mesma ou é desconhecida e que o se intitula verdade é apenas uma convenção (exemplo: convencionou.se que o número atómico do hidrogénio é um, na realidade ninguém pode ver um electrão de hidrogéneo»). (VALE UM VALOR)

 

 

 

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Sexta-feira, 5 de Dezembro de 2014
Teste de Filosofia do 10º B (Dezembro de 2014)

 

 

.Mais um teste de Filosofia do 10º ano da escolaridade, em final do primeiro período lectivo do ensino secundário em Portugal. As leis da lógica dialética, que figuram neste teste,  são ignoradas pela generalidade dos autores de manuais escolares e, no entanto, estão contidas, virtualmente, no ponto 1.2 do programa de filosofia do 10º ano «Quais são as questões da filosofia?» e no ponto 1.3 «A dimensão discursiva do trabalho filosófico».  Por que razão a grande maioria dos docentes lecionam aos alunos os princípios da lógica formal (identidade, não contradição e terceiro excluído)  e não leccionam as leis da lógica dialética (uno, devir, contradição principal, etc) geradas no taoísmo, em Heráclito, Hegel, Marx, Althusser?  Porque não sabem lógica dialéctica, deixando-se submergir, no seu limitadíssimo saber, pela maré sectária da chamada filosofia analítica com a sua lógica proposicional .

Agrupamento de Escolas nº 1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia , Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA B
5 de Dezembro de 2014.            Professor: Francisco

 

I

«Realismo axiológico não é exactamente o mesmo que objectivismo axiológico visto que este último também se pode incluir no irrealismo axiológico. Nas cosmologias de Heráclito e de Platão múltiplas aparências empíricas correspondem a uma mesma essência e em ambas se verifica a lei do salto qualitativo.»

1) Explique, concretamente, este texto.

 

2) Defina determinismo com livre-arbítrio («moderado»), determinismo sem livre-arbítrio («radical»), indeterminismo (biofísico) com livre-arbítrio e fatalismo determinista e aplique a estas quatro correntes a lei da contradição principal, lei que deve também definir.

 

3) Defina e aplique a lei dialéctica da síntese à sua vida pessoal. como estudante adolescente em Beja, e às matérias da Biologia, da Química, da História Social e Política, do Desporto.

 

4) Relacione, justificando:

A) Filosofia, Dogmatismo, Cepticismo, Subjectivismo.

 B) Esfera dos valores espirituais na teoria de Max Scheler, por um lado, e Reminiscência em Platão e Eidos em Aristóteles

 

CORRECÇÃO DO TESTE, CUJA COTAÇÃO MÁXIMA DO TOTAL DAS RESPOSTAS É 20 VALORES

 

1) O realismo axiológico é a doutrina que sustenta que os valores éticos, estéticos, científicos, etc, são qualidades que existem em si e por si mesmas antes de haver humanidade ou independentemente desta. É o caso da doutrina de Platão que é também um objectivismo axiológico porque sustenta que cada valor - o Bem, o Belo, o Justo, etc - é o mesmo para todas as pessoas. Mas realismo (ontologia) não é o mesmo que objectivismo (sociologia, consenso entre todos ou quase todos). Os números 1,2,3,4,5 e as operações como 1+5= 6 ou 28: 7=4 , por exemplo,  são fenómenos objectivos mas podem ser reais (fora de nós) ou irreais (frutos da nossa imaginação). O irrealismo axiológico defende que os valores são invenções das mentes humanas não existem fora destas mas podem ser objectivos isto é comuns a todos como os números que são valores matemáticos, os mesmos para todas as mentes humanas  (VALE TRÊS VALORES). Na doutrina de Heráclito, múltiplas aparências empíricas como nuvem, montanha, cão, árvore, homem, etc, são uma única essência oculta, isto é, o fogo ou arquê. O salto qualitativo nesta doutrina opera-se segundo a lei da transformação da quantidade em qualidade: a acumulação lenta de formas no seio do caos original que é fogo puro, origina (salto de qualidade) o cosmos, universo hierarquizado com céu, terra, montanhas, animais, etc. Na doutrina de Platão, cada arquétipo ou essencia invisivel e inteligível corresponde a múltiplas aparencias empíricas, como por exemplo: o arquétipo árvore está, de certo modo oculto, por milhões de árvores do mundo sensível da matéria. A lei do salto qualitativo na doutrina de Platão verfifica-se em vários aspectos: a prática da ascese ou ascensão da alma ao mundo inteligível, estando vivo o corpo, faz-se através da filosofia - meditamos sobre o Bem ou o Belo presente nas leis, nas acções e nas pessoas -  até se operar um salto qualitativo - apreendemos o arquétipo de Bem e de Belo, com a noese. (VALE TRÊS VALORES).

 

2) Determinismo com livre-arbítrio (vulgo: determinismo moderado) é a teoria segundo a qual, na natureza, as mesmas causas produzem sempre os mesmos efeitos e o homem dispõe de liberdade racional de escolha (livre-arbítrio). Exemplo: um homem decide, racionalmente, atirar-se do alto de um avião em páraquedas, sabendo que se sujeita ao determinismo na lei da gravidade, que o faz cair para a Terra. Determinismo sem livre-arbítrio (vulgo: determinismo radical) é a teoria segundo a qual, na natureza, as mesmas causas produzem sempre os mesmos efeitos e o homem não dispõe de liberdade racional de escolha (livre-arbítrio). Exemplo: movido por uma força irracional, sem liberdade de escolha,  um homem atira-se do alto de um arranha-céus, sujeitando-se determinismo na lei da gravidade, que o faz cair para a Terra e morrer esmagado. Indeterminismo com livre-arbítrio  é a teoria segundo a qual, na natureza, as mesmas causas não produzem sempre os mesmos efeitos e o homem não dispõe de liberdade racional de escolha (livre-arbítrio). Exemplo: beber água nem sempre faz funcionar os rins, às vezes paralisa-os (indeterminismo) e um grupo de pessoas ingere água por motivo de uma sede abrasadora, por  decisão livre e meditada. Fatalismo determinista é a teoria segundo a qual tudo na vida está predestinado segundo leis fixas, infalíveis, de causa efeito, como os movimentos dos planetas no Zodíaco escrevendo o destino de cada um e os homens não dispõem de livre-arbítrio. Exemplo: tudo estava e está predestinado, incluindo que Hitler escapasse com vida no atentado à bomba de 20 de Julho de 1944 e em outros e  há explicação racional, determinista, nos astros, para esses «acasos» predestinados. A lei da contradição principal estabelece que um sistema de múltiplas contradições (em rigor deveria dizer-se: contrariedades; exemplo: a contrariedade entre a URSS e os EUA, a contrariedade entre a França e a Espanha, etc.) pode ser reduzido a uma só grande contradição, formada por dois grandes blocos ou pólos, denominada contradição principal. Assim, no caso das quatro correntes acima definidas a contradição principal pode ser a que opõe as correntes deterministas (determinismos com e sem livre-arbítrio, fatalismo determinista) às correntes indeterministas (indeterminismo com livre-arbítrio) (VALE CINCO VALORES).

 

3) A lei da tríade diz que um processo dialéctico se divide em três momentos: a tese ou afirmação, a antítese ou negação e a síntese ou negação da negação, sendo a síntese não a soma das duas anteriores mas um resumo, um termo intermédio e convertendo-se em tese de um novo processo. Na minha vida de estudante, a tese é o assistir às aulas e concentrar-me no estudo, a antítese o ir à praia tomar banho ou tocar viola com o meu grupo de amigos, a síntese é o viajar na internet entre sites de ciência ou filosofia escolar e conversações lúdicas em chats. Na Química, a tese é o protão, a antítese o electrão e a síntese o protão ou ainda a tese é o ácido, a antítese é a base (alcalí) e a síntese o sal (neutro). Na História Social e Política, a burguesia é a tese, a classe operária é a antítese, e os produtores independentes ou os sindicatos a síntese. No Desporto o avançado ou atacante é a tese, o defesa é a antítese e o médio é a síntese. (VALE TRÊS VALORES)

 

4) A)  A filosofia é o conjunto das interpretações livres, reflexivas e especulativas ( metafísicas) sobre o mundo, a vida, o homem. É simultaneamente afirmação e interrogação, acto e  fruto de meditação. Há dogmatismo, isto é, doutrina que sustenta haver certezas, terreno seguro de conhecimento, na generalidade das filosofias: na de Platão, é dogma a afirmação de que há mundo inteligível dos arquétipos e reminiscências na alma; na de Hegel, é dogma a lei da tríade. Há algum grau de cepticismo em grande parte das filosofias, sendo cepticismo a corrente que duvida de tudo o que é invisível, impalpável, especulativo(duvida dos átomos, dos deuses, do Big Bang, da teoria de Darwin, etc.). Há em diversas filosofias, como por exemplo no existencialismo, subjectivismo, isto é, corrente que sustenta que a verdade e os valores variam de pessoa a pessoa, conforme a subjectividade ou gosto íntimo de cada um. (VALE TRÊS VALORES).

 

4) B) A esfera dos valores espirituais em Max Scheler engloba os valores éticos (bem, mal, justo, injusto), estéticos (belo, feio), filosóficos (verdade, falsidade) e os valores de referência das ciências empíricas (verdade e falsidade utilitárias) e do direito (legal, ilegal, etc.). Parte destes valores existem, na teoria de Platão, no Mundo Inteligível de Platão como arquétipos ou essências perfeitas e imóveis: o Bem, o Belo, o Justo, o Triângulo, o Círculo, o Número - e reproduzem-se nas reminiscências, que são as vagas  recordações que as almas trazem desse mundo superior do Mesmo para o Mundo da Matéria ou do Outro. O eidos em Aristóteles é a forma comum ou essência de entes. Os valores filosóficos de verdade e erro dizem respeito a essências (eidos) como Deus, mundo, alma, bem, belo e os valores científicos de verdade e erro dizem respeito a essências (eidos) como número, ar, água, ferro, cobre, fogo, etc, (VALE TRÊS VALORES).

 

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Sábado, 9 de Junho de 2012
Teste de filosofia do 11º ano de escolaridade ( 3º período)

 

Eis um teste de filosofia do 11º ano em Portugal, centrado nas unidades IV (O conhecimento e a racionalidade científica e tecnológica) e V ( Unidade final- Desafios e Horizontes da Filosofia) do programa da disciplina. Este teste evita as perguntas de escolha múltipla que, na maioria dos casos, são mal concebidas pelos professores de filosofia, autores de provas de exame nacional ou autores de testes em cada escola, prisioneiros da visão compartimentada da chamada «filosofia analítica». As perguntas de escolha múltipla não permitem aos alunos desenvolver livremente os seus raciocínios e explanar conteúdos e conduzem a inúmeras injustiças na avaliação cognitiva dos alunos.

 

Perguntemo-nos que razões levaram a classe dominante, desde há uma década, a insubstancializar a filosofia, retirando conteúdos de cariz metafísico e ideológico-político do programa escolar (exemplo: as teorias de Platão, Hegel, Nietzschze, Marx, Freud, Kierkegaard, etc) e substituindo-os por regras lógicas vazias, formais, e por retórica. A resposta mais plausível é: a burguesia mundialista promove a estupidificação filosófica dos adolescentes para os tornar em tecnocratas ou operários dóceis e para evitar as revoltas, como a do Maio de 1968 em França,  em que os estudantes estavam muito politizados e liam Bakounine, Marx, Mao, Guy Débord, Marcuse.

Vejamos o teste.

 

Escola Secundária Diogo de Gouveia com 3º Ciclo, Beja

 

TESTE DE FILOSOFIA, 11º ANO TURMA A

 

4 de Junho de 2012            Professor: Francisco Queiroz   

 

I

 

«Tanto a teoria da relatividade geral como a teoria da relatividade especial de Einstein podem ser classificadas de realismo crítico. A teoria de Imre Lakatos sobre os programas de investigação científica distingue três regiões dentro de cada ciência e, segundo alguns, é compatível com a teoria das revoluções científicas de Thomas Kuhn. O anarquismo epistemológico de Paul Feyerabend não implica necessariamente o grau de cepticismo contido na teoria de Popper sobre as ciências.  juízos sintéticos e juízos analíticos, sustentou Kant.»

 

 

 

1) Explique, concretamente, cada uma das frases deste texto, em especial os conceitos e afirmações em destaque.

 

II

 

 

 

2) Relacione, justificando:

 

 

 

A) Existencialismo (incluindo 3 estádios) em Kierkegaard e Astúcia da razão universal em Hegel.

 

B) Fenómenos, formas a priori da sensibilidade, formas a priori do entendimento e razão, em Kant.

 

C) Materialismo dialético e doutrina de Hegel.

 

D)“Relógio químico” e leis dos dois aspectos da contradição e do salto qualitativo.

 

E)  Vitalismo/ mecanicismo e teoria cosmológica de Aristóteles.

 

III

 

3)     Disserte livremente sobre o seguinte tema:

 

«Racionalismo, empirismo, misticismo e intuicionismo no carácter alentejano e na vida quotidiana na cidade e no distrito de Beja»

 

  

 

CORREÇÃO DO TESTE (COTADO PARA 20 VALORES).

 

I-1) O realismo crítico é toda a doutrina  que reconhece a existência de um mundo material exterior às mentes humanas e independente delas mas sustenta que estas não captam o mundo como ele é, mas sim de forma distorcida. A teoria geral da relatividade  de Einstein que trata essencialmente do espaço geométrico e da gravitação, da forma do universo, é um realismo crítico: o espaço que parece, aos sentidos, ser formado de planos e linhas rectas infinitas, é ondulatório, encurva, tal como os raios de luz encurvam, na proximidade de grandes massas, e o universo é fechado, esférico. A teoria da relatividade especial ou restrita trata, sobretudo, da velocidade e do tempo (não esquecendo que Einstein fala do espaço-tempo), é um realismo crítico na medida em que admite que  há diversos tempos simultâneos e que, contra o que os sentidos nos sugerem, um observador que viaje a velocidades próximas da velocidade da luz ( 300 000 quilómetros por segundo) quase não avança no tempo e fica mais jovem do que nós. É também realismo crítico por sustentar que quanto mais alta for a velocidade a que um corpo viaja mais aumenta a sua massa. (estas frases acima valem dois valores). A teoria das revoluções científicas de Thomas Kuhn estabelece que o desenvolvimento de uma ciência ao longo da história comporta dois ritmos: a um longo período de um paradigma científico estável dito «ciência normal»- o paradigma é um modelo teórico dotado de metodologias práticas - segue-se um curto período de anomalias em que desponta um paradigma de oposição, chamado «ciência extraordinária», que, após ser aceite pela comunidade científica da época, se transforma na nova «ciência normal».  Imre Lakatos, epistemólogo, distingue três regiões em cada ciência: o núcleo duro (hard core), conjunto das teses indiscutíveis, imutáveis, que pode relacionar-se com a ciência normal dada a estabilidade; o cinto protetor (protective belt), conjunto das teses revisíveis, que pode relacionar-se com a ciência extraordinária dado o carácter de mutação; a heurística, conjunto de regras de investigação a usar (heurística positiva) e das regras a não empregar (heurística negativa). (Estas frases valem dois valores no seu conjunto). O anarquismo epistemológico de Paul Feyerabend contesta o conjunto das ciências dominantes nas universidades e na vida social - a medicina alopática, as tecnociências de efeitos agressivos, a historiografia anti-astrológica, etc - dizendo que servem os interesses de alguns poucos - cientistas e políticos muito bem pagos, industriais e comerciantes farmacêuticos e outros - e eliminam antigas ciências como a medicina natural, a astrologia e práticas mágicas eficazes como a dança da chuva e outras. Ao contrário de Popper, um verdadeiro céptico probabilista que não aceita a astrologia e considera que todas as ciências empírico-formais são conjuntos de conjecturas, sujeitas ao princípio da falsificabilidade, que exige a testabilidade e a revisibilidade das teses, Feyerabend é um dogmático crítico, aceita a certeza da verdade das ciências alternativas, com métodos heterodoxos, desde que ofereçam resultados práticos incontestáveis. ( Estas frases valem dois valores no seu conjunto). Os juízos sintéticos, que podem ser a priori ou a posteriori, são aqueles em que o predicado acrescenta algo de novo ao sujeito, os juízos analíticos são aqueles em que o predicado não acrescenta nada ao sujeito. (Esta frase vale um valor).

 

2) A) O existencialismo de Kierkegaard é a filosofia que defende que a existência humana é imprevisível e coloca a cada instante a pessoa na alternativa, na iminência de decidir, livremente, esta ou aquela atitude. O filósofo dinamarquês diz que há três estádios da existência humana: o estádio estético, personificado pelo Don Juan, o conquistador que salta de mulher em mulher, na procura do prazer do instante; o estádio ético, personificado no homem casado, fiel à esposa e aos seus deveres familiares e sociais; o estádio religioso, personificado em Abraão que se dispunha a matar o seu próprio filho Isaac, rompendo com a ética, por Deus lhe ter solicitado esse sacrifício. A astúcia da razão em Hegel é a manipulação pela razão universal (Deus) da vontade e das acções dos grandes homens de modo a que realizem o plano da razão universal para o seu povo ou a sua época. Há várias correlações possíveis: a astúcia da razão manipula o homem nos três estádios da existência, levando a ser esteta, depois etico e por último religioso místico; a astúcia da razão só manipula o homem nos dois estádios iniciais, estético e ético, mas não no estádio religioso em que o homem é livre de escolher salvar ou perder a alma; a astúcia da razão só manipula o homem no estádio religioso... (a resposta vale dois valores).

 

2)B)  Em Kant, os fenómenos são objectos aparentemente reais, como árvores, animais, rios, que se formam na sensibilidade externa ou espaço, dentro do espírito humano, por ação dos númenos, objectos reais incognoscíveis. O caos sensorial que estes geram, desde o exterior, é moldado pela formas a priori da sensibilidade que são o espaço ( extensão e figuras geométricas) e o tempo (duração, sucessão, simultaneidade). As imagens dos fenómenos são levadas, pela imaginação, às categorias do entendimento (unidade, pluralidade, totalidade, realidade, limitação, negação, etc) que, junto com a tábua de juízos puros,  são as formas a priori do entendimento que sintetizam, reduzem à unidade, o diverso da intuição empírica. A razão não pensa os fenómenos, está desligada do mundo empírico, só pensa os númenos (metafísica) e as categorias e juízos puros do entendimento (lógica). (a resposta vale dois valores)

 

2) C) O materialismo dialético é a filosofia que sustenta que a matéria é eterna, incriada, e está em perpétuo devir e que não há deuses nem Deus. Ao contrário, a doutrina de Hegel sustenta que o eterno é o espírito, a ideia absoluta ou Deus, que atravessa três fases na história: ser em si ou Deus antes de criar o universo, o espaço e o tempo; ser fora de si, ou Deus que se aliena em natureza biofísica, em astros, montanhas, vegetais, aninais, e deixa de pensar; ser para si, ou Deus encarnado em humanidade que através de diversas e sucessivas formas de estado (mundo oriental, um só homem livre; mundo greco-romano, alguns homens livres; mundo do cristianismo reformado a partir do sécilo XVI, todos os homens são livres) se vai elevando no sentido da liberdade e regressando à fase do ser em si. Hegel é espiritualista dialético. (a resposta vale dois valores)

 

2) D) O "relógio químico" é um fenómeno de ordem a partir do caos que consiste no seguinte: as moléculas de um gás, suponhamos vermelhas e azuis, em vez de se misturarem e darem uma tonalidade heterogénea, num estado de caos, movendo-se ao acaso, alternam entre dois tipos de estado, um em que todo o gás adquire a coloração azul e o outro em que todo o gás adquire a cor vermelha. Isto demonstra a lei dos dois aspectos da contradição que afirma que esta se compõe de dois aspectos, raramente em equilíbrio, sendo um o dominante e o outro o dominado, que invertem posições: o aspecto dominante do gás ora é azul, ora é vermelho. A lei do salto qualitativo afirma que a acumulação lenta e gradual de um aspecto de um fenómeno origina um brusco salto de qualidade nesse fenómeno: a multiplicação de colisões de moléculas do gás faz, num dado instante, a tonalidade do gás mudar bruscamente de azul para vermelha (salto qualitativo) e uma ulterior acumulação gradual de colisões faz que todas as moléculas mudem de repente de vermelho para azul. (A resposta vale dois valores).

 

2)E) Vitalismo é a corrente que afirma que a vida não nasce da matéria mas que, vinda de uma região superior, se aloja na matéria. Defende igualmente que os processos vitais são inteligentes, obedecem a finalidades inteligentes. Na cosmologia de Aristóteles, há vitalismo no facto de as estrelas e os planetas serem entidades inteligentes que começaram a girar em círculo presos às respectivas esferas de cristal com a finalidade de alcançar Deus, o pensamento puro, imóvel, exterior ao cosmos. Mecanicismo é a corrente que afirma que a vida nasce de movimentos mecânicos ( e químicos) da matéria e que o universo é como uma grande máquina regida por leis deterministas.(A resposta vale dois valores).

 

3) A resposta é livre. (A resposta vale dois valores).

 

Nota para a correção: nas perguntas de relacionação entre dois ou mais conceitos, a cotação para cada resposta dada deve obedecer a um princípio de premiar o aluno que estuda e sabe as definições separadamente: assim deverá receber 50% a 60% da cotação da pergunta desde que defina correctamente os conceitos, embora não consiga interligá-los

 

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