Quinta-feira, 8 de Setembro de 2011
Um desenvolvimento na dialéctica: diferenças intermédias e colaterais

 

São quatro os tipos de oposição delineados por Aristóteles : a contradição, a contrariedade, a relação (os termos relativos) e a privação-possessão.

 

Julgo que há quatro tipos de oposição: a contrariedade (exemplo: fogo versus terra),  a diferença intermédia (exemplo: homem é uma diferença intermédia entre dois contrários, espírito e animalidade), a diferença colateral ( exemplo: automóvel é uma diferença colateral ao casal que nele se encontra a conversar, o acidente do lugar, segundo Aristóteles; o número cinco tem uma diferença colateral com os números quatro e seis) e a contradição ( exemplo: ser /não ser, uma coisa ou é amarela ou não amarela). Talvez a concepção que neste artigo se expõe seja um pequeno contributo algo inovador para a consolidação da ciência dialéctica de que Aristóteles foi, na Antiguidade, um grande impulsionador. A «Metafísica» de Aristóteles é uma obra chave no pensamento dialéctico, ainda que não seja perfeita e contenha equívocos anti dialécticos..

 

DIFERENÇA INTERMÉDIA E DIFERENÇA COLATERAL

 

 

O que distingue a diferença intermédia da diferença colateral?

A primeira abarca no mesmo género ou intersecta no mesmo ente individual duas espécies ou géneros diferentes. Exemplo:  homem é um misto do género animal e do género racional, possui uma diferença intermédia com animal e uma diferença intermédia com racional, isto é, inclui-se em cada um desses géneros, como espécie ou como substância individual.

 

A segunda, isto é, a diferença colateral ou mínima,  engloba lado a lado entes de espécies diferentes ou espécies de géneros diferentes. Exemplo: há uma diferença colateral entre realismo e pragmatismo, porque pode ser-se, em simultâneo, realista e pragmático. A diferença colateral não significa mais do que uma oposição secundária, comporta ausência de intersecção ou pertença mútua entre os dois termos.   

 

A contradição é a mais extensa de todas as diferenças porque abarca as outras três. A mais intensa de todas é a contrariedade porque é feita de polos opostos que se atraem e repelem reciprocamente. A mais ténue ou menos intensa de todas é a diferença colateral - que está por assim dizer «encostada», contígua, ao ente de que se trata como ponto de referência.

 

TODAS AS DIFERENÇAS PERTENCEM AO SUPRA-GÉNERO RELATIVO

 

 

Estas diferenças são todas relativas, isto é, pertencem todas ao supra-género relativo.  Dois ou mais entes podem, num certo sentido (perspectiva), apresentar uma diferença colateral - estarem em géneros diferentes, como por exemplo, idealismo, no género ontognoseologia, e pragmatismo, no género  ergológico/praxiológico - e em outro sentido (perspectiva) formar uma contrariedade ou diferença extrema - estarem no mesmo género, como por exemplo, idealismo e realismo, ambos no género ontognoseológico. Nesta minha classificação, elimino o relativo teorizado por Aristóteles como um tipo particular de oposição, porque a relação, característica inerente à multiplicidade, impregna todas as formas de oposição, isto é, todos os tipos de diferença.

 

A contrariedade nasce, pois, da proximidade que torna incompatíveis dois entes, ou é anterior e externa a essa proximidade.

 

Se falassemos em termos de ângulos astronómico-astrológicos, dir-se-ia que a contrariedade ou oposição de contrários é o ângulo de 180º; a diferença intermédia é o quadrado ou ângulo de 90º , a diferença colateral os ângulos de 30º (semi-sextil ) e 45º (semi quadrado). A contradição é a diferença em toda a sua extensão - desde o ângulo de 1º até ao ângulo de 180º, em termos de amplitude do círculo.

 

Encontramos assim os quatro tipos de oposição em cada situação: a mais intensa, por isso mais próxima emocional ou electromagneticamente, é a contrariedade (exemplo: a contrariedade entre a Alemanha e a Grã-Bretanha entre 1940 e 1945, na guerra mundial, eram inimigos encarniçados, destruiam mutuamente as cidades, fábricas e forças militares); a moderada, é a diferença intermédia (exemplo: a posição de Portugal na segunda guerra mundial, neutral, por ter no governo de  Salazar anglófilos e germanófilos e por vender volfrâmio, quer à Alemanha, quer à Grã-Bretanha); a externa e indiferente ao conflito, isenta de qualquer um dos contrários, é a diferença colateral (exemplo: a Lua e os planetas do sistema solar ou zonas inóspitas de África onde o conflito não se fez sentir); a mais extensa, que nada deixa de fora mas abarca as diferenças nos seus diferentes graus, é a contradição (exemplo: a Alemanha nazi em guerra, de um lado, e a Inglaterra, os EUA, Portugal, o planeta inteiro, a galáxia e tudo o resto, do outro lado).

 

Em termos figurativos podemos ainda esboçar a seguinte imagem: a contrariedade e a diferença intermédia são simbolizáveis no globo terrestre, sendo a contrariedade consubstanciada na oposição entre as zonas dos polos norte e sul e a diferença intermédia nas zonas média e equatorial do globo, a diferença complementar no resto do universo que envolve a Terra e a contradição, consubstanciada no todo dividido arbitrariamente em duas metades desiguais como por exemplo, o polo norte e tudo o que não é polo norte, ou a Terra e tudo o que não é a Terra. 

 

 

 

www.filosofar.blogs.sapo.pt
f.limpo.queiroz@sapo.pt

 

© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)



publicado por Francisco Limpo Queiroz às 14:16
link do post | comentar | favorito

mais sobre mim
pesquisar
 
Janeiro 2024
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4
5
6

7
8
9
10
11
12
13

14
15
16
17
18
19
20

21
22
23
24
25
26
27

28
29
30
31


posts recentes

Um desenvolvimento na dia...

arquivos

Janeiro 2024

Dezembro 2023

Novembro 2023

Outubro 2023

Setembro 2023

Agosto 2023

Julho 2023

Junho 2023

Maio 2023

Abril 2023

Março 2023

Fevereiro 2023

Janeiro 2023

Dezembro 2022

Novembro 2022

Outubro 2022

Setembro 2022

Agosto 2022

Julho 2022

Junho 2022

Maio 2022

Abril 2022

Março 2022

Fevereiro 2022

Janeiro 2022

Dezembro 2021

Novembro 2021

Outubro 2021

Setembro 2021

Agosto 2021

Julho 2021

Junho 2021

Maio 2021

Abril 2021

Março 2021

Fevereiro 2021

Janeiro 2021

Dezembro 2020

Novembro 2020

Outubro 2020

Setembro 2020

Agosto 2020

Julho 2020

Junho 2020

Maio 2020

Abril 2020

Março 2020

Fevereiro 2020

Janeiro 2020

Dezembro 2019

Novembro 2019

Outubro 2019

Setembro 2019

Agosto 2019

Julho 2019

Junho 2019

Maio 2019

Abril 2019

Março 2019

Fevereiro 2019

Janeiro 2019

Dezembro 2018

Novembro 2018

Outubro 2018

Setembro 2018

Agosto 2018

Julho 2018

Junho 2018

Maio 2018

Abril 2018

Março 2018

Fevereiro 2018

Janeiro 2018

Dezembro 2017

Novembro 2017

Outubro 2017

Setembro 2017

Agosto 2017

Julho 2017

Junho 2017

Maio 2017

Abril 2017

Março 2017

Fevereiro 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Novembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Julho 2008

Junho 2008

Maio 2008

Abril 2008

Março 2008

Fevereiro 2008

Janeiro 2008

Dezembro 2007

Novembro 2007

Outubro 2007

Setembro 2007

Agosto 2007

Julho 2007

Junho 2007

Maio 2007

Abril 2007

Março 2007

Fevereiro 2007

Janeiro 2007

Dezembro 2006

Novembro 2006

Setembro 2006

Agosto 2006

Julho 2006

Maio 2006

Abril 2006

Março 2006

Fevereiro 2006

tags

todas as tags

favoritos

Teste de filosofia do 11º...

Suicídios de pilotos de a...

David Icke: a sexualidade...

links
blogs SAPO
subscrever feeds