Sexta-feira, 21 de Maio de 2021
Equívocos do manual «O Espanto,10º ano de filosofia» da Didáctica Editora (Crítica de Manuais Escolares - LXVII)

 

O manual «O Espanto, 10º ano de Filosofia», da Didáctica editora, da autoria de Aires Almeida e Desidério Murcho,  contém alguns sérios erros conceptuais.

 

CONFUSÕES SOBRE DETERMINISMO RADICAL, LIBERTISMO E  DETERMINISMO MODERADO

 

Lê-se no manual: 

«Determinismo radical: a hipótese de que não há livre-arbítrio porque todos os acontecimentos (o que inclui as ações humanas) são efeitos de causas anteriores.»

«Libertismo: a hipótese de que há livre-arbítrio e por isso nem todos os acontecimentosnte  são efeitos de causas anteriores (nomeadamente as ações humanas).»

«Determinismo moderado: a hipótese de que há livre-arbítrio, apesar de todos os acontecimentos ( o que inclui as ações humanas) serem efeitos de causas anteriores.»

(Aires Almeida, Desidério Murcho «O Espanto, 10º ano de Filosofia»,  Didáctica editora, Pág. 122).

 

Estes autores, veículos de uma medíocre filosofia analítica anglo/ norte-americana, mergulham, como já nos habituaram desde há pelo menos duas décadas, no magma da confusão.

Em primeiro lugar, o determinismo radical não pode sustentar que todos os acontecimentos são efeitos de causas anteriores.  Só falíveis  pensadores como John Searle, Ricardo Santos, João Branquinho, Desidério Murcho e Aires Almeida postulam isto. Então e a escolha irracional, instintiva, que ocorre a cada momento nos seres humanos sem uso de livre-arbítrio? A escolha da criança entre comer um gelado ou uma banana neste momento não é determinada por causas anteriores - isso seria fatalismo - mas sim por forças motrizes actuais, mais ou menos imprevisíveis. O determinismo sem livre-arbítrio não conduz o mundo em uma só direção predestinada, o acaso e a escolha irracional dos humanos a cada momento inflectem o «destino».

 

Em segundo lugar, é absurdo definir o determinismo moderado como «postulando que todos os acontecimentos ( o que inclui as ações humanas) são efeitos de causas anteriores e que isso é compatível com o livre-arbítrio», que supostamente existiria. É uma irracionalidade. Se todos os acontecimentos derivam de causas anteriores onde fica o livre-arbítrio? Isto sim, é um incompatibilismo.

 

Em terceiro lugar, o libertismo não passa de determinismo moderado pois admite que há acontecimentos livremente criados ou desencadeados pelo livre-arbítrio, não resultantes de causas anteriores mas fruto de deliberações racionais do momento presente. Há portanto nestes autores uma duplicação do mesmo conceito, do mesmo modo que esta «dupla visão» mental faz supor que existem disjunção inclusiva e disjunção exclusiva - a disjunção é uma só, exclusiva.

 

Libertismo, ou existência e exercício de livre-arbítrio, não constitui uma corrente autónoma mas sim uma propriedade comum a duas correntes: o determinismo biofísico com livre arbítrio, vulgo determinismo moderado( exemplo: delibero tomar sumo de laranja diariamente porque sei do efeito sempre benéfico  -determinismo- deste alimento sobre o organismo humano); o indeterminismo biofísico com livre arbítrio, vulgo indeterminismo moderado (exemplo: delibero, racionalmente, não tomar a vacina porque sei que esta produz, frequentemente, trombos nas veias, avc ´s, não gera sempre o mesmo efeito -indeterminismo - no corpo humano).

 

O RELATIVISMO ESTÁ IMPEDIDO DE CRITICAR OS COSTUMES E VALORES DE OUTRAS SOCIEDADES?

 

Sobre o relativismo, doutrina que o manual define incompletamente, ao ocultar que há relativismo, isto é, variação de valores de grupo a grupo social no seio de uma mesma sociedade (exemplo: os adeptos do crescimento industrial, os ecologistas anti indústrias, os anti homossexuais e os homossexuais e trangéneros, etc.), lemos:

«Há quem pense que é preciso ser relativista para promover a tolerância e combater a discriminação de pessoas que têm costumes diferentes dos nossos. Mas a ideia de que as pessoas de culturas diferentes da nossa não devem ser discriminadas é um juízo moral. Ora, quem é relativista e vive numa sociedade que defende a intolerância e a discriminação das mulheres, dos negros e dos judeus está obrigado a concordar que nada há de moralmente errado nessas práticas - porque são essas, precisamente, as práticas da sua sociedade. Por isso, essa pessoa não tem como combater a intolerância e a discriminação.»

 

(Aires Almeida, Desidério Murcho «O Espanto, 10º ano de Filosofia»,  Didáctica editora, Pág. 155).

 

Interpretar relativismo como igualitarismo de valores e cepticismo é um erro destes autores. Hegel e a igreja católica romana pós concílio Vaticano II (1962-1965) eram ou são relativistas em matéria de religião: ambos defendiam que a verdade religiosa é a soma de todas as religiões particulares mas entre estas o cristianismo - luterano, na visão de Hegel; católico, na visão de Roma - possuía maior grau de verdade do que qualquer outra, seguido do judaísmo, do islamismo, etc. 

 

UM JUÍZO RELATIVO NÃO É VERDADEIRO NEM FALSO?  QUANDO UM JUÍZO É RELATIVO NENHUMA SOCIEDADE/CULTURA ESTÁ ENGANADA?

 

No caderno de atividades do professor, lêem-se, entre muitos outros,  os seguintes erros conceptuais:

«1)a) Um juízo é relativo quando não é verdadeiro em falso.

1) b) Quando um juízo é relativo, nenhuma sociedade/cultura está enganada.»

(Aires Almeida, Desidério Murcho «O Espanto, 10º ano de Filosofia»,  Caderno de Atividades, professor» Didáctica editora, Pág. 102)

 

Refutemos o ponto 1)a): eis um exemplo de um juízo relativo verdadeiro: «Na Europa, vigoram democracias liberais, com liberdade de imprensa, de comportamento sexual e de vestuário feminino ousado, na Arábia Saudita e no Irão não».  Não há juízos que sejam ao mesmo tempo nem verdadeiros nem falsos, como sustentou o positivismo lógico do Círculo de Viena: ou são verdadeiros ou falsos. Exemplo de outro juízo relativo verdadeiro: «A gravidade terrestre é relativa à distância de um objecto no ar em relação à superfície terrestre, essa força gravitacional cessa acima dos 500 quilómetros de altitude, no caso das naves espaciais, verifica-se esta cessação em órbitas terrestres circulares situadas a uma altitude de 500 km, em que este estado não gravitacional é permanente.»

Refutemos o ponto 1)b): o juízo «a democracia liberal com direito à objeção de consciência é o melhor regime do mundo» é condenado pelas sociedades totalitárias como a China comunista e a Arábia Saudita que sobre ele estão enganadas e enganam os respectivos povos.

 

NENHUM TEMA VERDADEIRAMENTE FRACTURANTE COMO SERIA EXIGÍVEL EM FILOSOFIA

 

Estes manual e estes autores são meros instrumentos de propaganda da redutora filosofia oficial: a filosofia analítica, com a sua errónea lógica proposicional (só mentes confusas dizem que «Vou ao Porto ou vou a Lisboa» é diferente na estrutura lógica de «Ou vou ao Porto ou vou a Lisboa»). Fazem o discurso politicamente correcto, longe dos "extremismos", se exceptuarmos a dúvida hiperbólica cartesiana ou a teoria das conjecturas e refutações de Karl Popper. Não são filósofos mas funcionários de uma medíocre filosofia com a qual moldam a mente de alunos inteligentes.

 

Nenhum texto sobre astrologia histórica e não falta assunto filosófico neste tema : se o Partido Socialista venceu as eleições legislativas de 25 de Abril de 1983, com Júpiter em 9º do signo de Sagitário, e venceu as eleições legislativas de 1 de Outubro de 1995, com Júpiter em 10º do signo de Sagitário, e venceu as eleições de 6 de Outubro de 2019, com Júpiter em 18º-19º do signo de Sagitário, poderá dizer-se que Júpiter no signo de Sagitário (arco de 240º a 270º do Zodíaco) gera necessariamente vitórias do PS?

 

Nenhum texto questionando a vacinação e é tão oportuno fazê-lo.David Icke escreveu. «O processo de fabricação de vacinas inclui o uso de macacos, embriões de frangos e fetos humanos, além de estabilizadores como a estreptomicina, o cloreto de sódio, o hidróxido de sódio, o alumínio, o cloridrato, o sorbitol, a gelatina hidrolisada, o formaldeído,e um derivado do mercúrio chamado timerosal ...» (David Icke, «La conspiración mundial y como acabar con ella», Ediciones Obelisco, Barcelona, pag 819).

 

Os autores deste manual, como bons servos das multinacionais de farmácia, não contrapõem nada à teoria oficial.

 

Nenhum texto de Fernando Pessoa, poeta e filósofo da fenomenologia ou de outros pensadores portugueses metafísicos. Os autores deste manual de filosofia são estrangeirados, no mau sentido do termo. Não se dá importância ao que Pessoa escreveu:

«Não é possível uma futura civilização espanhola, nem uma futura civilização portuguesa. O que é possível é uma futura civilização ibérica formada pelos esforços da Espanha e de Portugal.»

«Todas as forças que se oponham a uma aliança, a um entendimento entre Portugal e Espanha devem ser desde já condenadas como inimigas. Essas forças são: os conservadores, sobretudo os católicos, e a Igreja Católica acima de tudo, que têm por ânsia íntima a união ibérica; a maçonaria, que é também estrangeira de origem, e é agora um organismo estranho metido na carne da Ibéria; a França, que com a sua cultura especial, tem envenenado, por excesso, a alma, ou as almas da Ibéria. A Inglaterra que politicamente tem espezinhado os países ibéricos.» (...)

«Para a criação da civilização ibérica é preciso a rigorosa independência das nações componentes dessa civilização. É um erro crasso supor que a fusão imperialista facilita a actividade civilizacional.»

 

(Fernando Pessoa, «Obra em prosa, Páginas de Pensamento Político-1, 1910-1919», Livros de Bolso Europa-América, páginas 135-136).

 

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Domingo, 21 de Fevereiro de 2021
Equívocos no manual «Preparar o exame nacional de filosofia 11º» (Crítica de Manuais Escolares LX)

 

O manual da Areal «Preparar para o exame nacional Filosofia 11º» de Lina Moreira e Idalina Dias alberga, a par de muitas definições correctas e úteis, vários erros relevantes

 

UMA ERRÓNEA DISTINÇÃO ENTRE DETERMINISMO MODERADO E LIBERTISMO

 

As autoras perfilham a confusão teórica da filosofia analítica em voga separando libertismo de determinismo moderado, sem perceberem que o libertismo é género onde cabem duas espécies: o determinismo moderado pelo livre-arbítrio e o indeterminismo moderado pelo livre-arbítrio. Em ambas estas o livre-arbítrio impera sobre as leis ou acasos da natureza. 

 

Escrevem as autoras: 

«O libertismo é uma das teorias filosóficas que afirma a existência e o primado do do livre-arbítrio na ação humana. Neste sentido, considera que, face às mesmas circunstâncias, o ser humano escolhe livremente entre as várias possibilidades que tem diante de si, o que significa, recuperando o exemplo, que poderíamos ter saído pela janela ou escolhido agir de outra forma. Tal significa o reconhecimento de que, perante a mesma circunstância, havia mais do que uma ação possível, que o agente escolheu uma de várias possibilidades». 

LINA MOREIRA e IDALINA DIAS, «Preparar para o exame nacional Filosofia 11º» , Areal Editores,página 69.

 

Esta definição é exatamente a mesma de determinismo moderado, doutrina segundo a qual o universo é regido por leis biofísicas invariáveis (nascimento, crescimento, estado adulto jovem, envelhecimento e morte dos seres vivos; translação da Terra em torno do Sol em 365 dias, etc.) mas o ser humano dispõe de livre arbítrio, capacidade de escolha racional entre as alternativas de ação a cada momento.

 

O erro das autoras e de todos os manuais de filosofia do ensino secundário e de John Searle e Simon Blackburn está em supor que o determinismo moderado, pelo facto de admitir que há leis biofísicas necessárias, infalíveis, reduz o grau de livre arbítrio nos seres humanos quando é exatamente o contrário que sucede: Sartre escreveu que «nunca fomos tão livres como sob a ocupação alemã», de 1940 a 1944, porque cada francês podia escolher a resistência ou a colaboração com o nazismo.  A pressão das leis físicas infalíveis (determinismo) não reduz, aumenta o livre-arbítrio, que é uma deliberação racional (libertismo). Há maior liberdade no determinismo biofísico com livre arbítrio (determinismo moderado) - porque se escolhe conhecendo as leis da natureza física - do que no indeterminismo biofísico (inexistência de leis necessárias, imprevisibilidade) com livre arbítrio que as autoras, Simon Blackburn e as universidades confusamente batizam de libertismo.

 

O libertismo, segundo o conceito em voga dos manuais, é a tendência de livre escolha sem levar em conta as cadeias do determinismo biofísico em que estamos imersos (estado do corpo: fome, frio, saciedade; situação económica: salário ou outro rendimento, carreira profissional, bens imóveis e móveis; situação política: sociedade aberta ou totalitarismo, etc.) Mas essa tendência libertista não é livre-arbítrio porque lhe falta a racionalidade que só existe quando se observa e leva em conta a situação concreta, o mundo físico e as suas condicionantes. Como diria Hegel «a liberdade é a consciência da necessidade», não é o impulso do louco que se julga livre e age irracionalmente. Já Aristóteles notara a diferença entre livre escolha ditada pelo instinto animal e livre-arbítrio.

 

A CONFUSA NOÇÃO DE INCOMPATIBILISMO E A CONFUSÃO DE DETERMINISMO RADICAL COM FATALISMO

 

Escrevem as autoras:

«A resposta à questão "Será o ser humano efetivamente livre na sua ação?" não é consensual entre os filósofos. Uns consideram que o livre-arbítrio não é compatível com o determinismo - incompatibilismo - outros afirmam o contrário -compatibilismo

«Tanto o libertismo como o determinismo radical são teorias incompatibilistas.»

LINA MOREIRA e IDALINA DIAS, «Preparar para o exame nacional Filosofia 11º» , Areal Editores,páginas 68 e 69.

 

É evidente que o determinismo moderado compatibiliza o livre-arbítrio com o determinismo. Ambos existem no mesmo ser humano adulto. ´Por que razão o libertismo seria um incompatibilismo se há compatibilidade entre o livre-arbítrio e o indeterminismo biofísico (exemplo: surge um dia de queda de neve em pleno verão de Julho no Alentejo e este libertismo da natureza é compatível com o meu livre-arbítrio pois posso escolher entre ficar na praia a receber a neve ou refugiar-me dentro de uma habitação)? É uma tolice dizer que, no seu todo, o libertismo é uma teoria incompatibilista quando ele engloba o determinismo moderado que é, em si mesmo, compatibilismo e o indeterminismo biofísico com livre-arbítrio que é também, em si mesmo, compatibilismo.

 

O libertismo, como género de duas correntes e não na errónea noção deste manual,  é incompatível com o fatalismo - doutrina segundo a qual tudo está predestinado e não há livre-arbítrio real e que não é o mesmo que determinismo radical, coisa de que este e os outros manuais não se apercebem -  com o determinismo radical (exclusão do livre arbítrio, leis biofísicas necessárias compatíveis com um certo grau de acaso) e com o indeterminismo radical (exclusão do livre arbítrio, inexistência de  biofísicas necessárias, pura arbitariedade no mundo natural) .

 

Se há determinismo radical deveria também postular-se que há indeterminismo radical ou indeterminismo biofísico sem livre-arbítrio mas a inteligência dos filósofos analíticos não chega a tanto. No seu «Dicionário Oxford de Filosofia» Simon Blackburn divide confusamente esta temática em 4 correntes - determinismo radical, determinismo moderado, libertismo, indeterminismo - sem perceber que fatalismo se distingue de determinismo radical , que determinismo moderado se inclui no libertismo tal como o indeterminismo moderado com livre-arbítrio. Blackburn nem sequer conceptualiza que há dois tipos de indeterminismo: moderado (com livre-arbítrio) e radical (sem livre-arbítrio).Só tipos confusos, pensadores de segunda classe como este, com doutoramentos (!) em filosofia universitária,  são editados e promovidos pelos media como sendo os filósofos actuais...

 

NO SUBJECTIVISMO AXIOLÓGICO UMA OPINIÃO VALE O MESMO QUE A SUA CONTRÁRIA?

 

Escrevem as autoras:

«Para o subjectivismo, não existe um conceito universal de bem e de mal, mas tantos quantos os indivíduos. Se assim é, uma opinião vale o mesmo que a sua contrária.»

Lina Moreira e Idalina Dias, «Preparar para o exame nacional Filosofia 11º» , Areal Editores,página 84.

 

Isto não é correto. Para cada subjetivista, a sua opinião vale mais que as contrárias, ainda que possa admitir ou não algum grau de verdade nestas. É aquilo que Nietzsche designa de perspectivismo: vemos o mundo, a paisagem de uma dada maneira, a partir de um ponto de observação, e a visão seria outra se mudassemos o lugar de onde observamos. Tome-se como exemplo a opinião sobre a eutanásia. Um cristão adverso a esta prática dirá: «É subjectivo saber quem tem razão, há argumentos a favor e contra, a minha intuição diz-me que eutanásia é um assassinato legal, ofende a Deus, que deseja cuidados paliativos nos hospitais e não extinção provocada da vida humana».

 

As definições erróneas contidas neste manual e nos outros estão presentes sempre, ano a ano, no exame nacional de filosofia do 11º ano do ensino secundário em Portugal. O lóbi da filosofia analítica (Manuel Maria Carrilho, João Branquinho, Guido Imaguirre, Ricardo Santos, Desidério Murcho, João Sáagua, Pedro Galvão, Rolando Alneida, António Pedro Mesquita, Domingos Faria, Célia Teixeira, Aires Almeida, etc.) devia ser afastado da autoria dos exames nacionais porque pensa, avalia e ensina mal, promove como «ciência» uma ridícula lógica proposicional que defende que o juízo «Sou português ou sou espanhol» merece uma tabela de verdade diferente do juízo «Ou sou português ou sou espanhol» quando dizem exactamente o mesmo, são o mesmo no conteúdo. Estamos, na área da filosofia, sob uma ditadura da filosofia analítica norte-americana e britânica mantida por pensadores de segunda e terceira classe.

 

 

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Quarta-feira, 4 de Setembro de 2019
Equívocos de «Lógica Elementar» de Desidério Murcho

 

O recente livro de Desidério Murcho (18 de Maio de 1965-) «Lógica Elementar», das Edições 70,  espelha os equívocos desta pseudo ciência que é a lógica proposicional tornada obrigatória para todos os alunos dos cursos científicos e humanísticos do  ensino secundário em Portugal. 

 

A SUPRESSÃO DA DISTINÇÃO ENTRE DISJUNÇÃO EXCLUSIVA E DISJUNÇÃO INCLUSIVA, UM PASSO EM FRENTE

 

Em todos os manuais de filosofia do ensino secundário em Portugal, inclusive no de Desidério Murcho e Aires Almeida, se postula que na lógica proposicional há disjunção inclusiva e disjunção exclusiva. Publiquei há um ano, a 5 de Setembro, neste blog o artigo «Equívocos da Lógica Proposicional: disjunção inclusiva e disjunção exclusiva» que desmistifica esta falácia, artigo que afirma o seguinte:

 

Um dos equívocos da lógica proposicional é a falaciosa distinção entre disjunção inclusiva e disjunção exclusiva. No Manual Essencial  Filosofia 11º em voga em muitas escolas do ensino secundário em Portugal lê-se: 

 

«A disjunção inclusiva é representada por V.

«A disjunção exclusiva é representada por W.

Por exemplo: 

«Os livros estão escritos em prosa ou em poesia».

 

                                      PVQ

«Os livros estão escritos ou em prosa ou em poesia».

 

                                      PWQ

 

Neste último sentido, é claro que uma alternativa exclui por si só a outra».

 

(Amândio Fontoura, Mafalda Afonso e Maria de Fátima Vasconcelos, Essencial Filosofia 11º, Santillana, pág 71).

 

Esta distinção é uma falácia. Dizer, por exemplo, «Vou ao Porto ou vou a Lisboa» (disjunção inclusiva segundo esta lógica) é o mesmo que dizer «Ou vou ao Porto ou vou a Lisboa» (disjunção exclusiva segundo esta lógica proposicional). A disjunção é exclusiva em ambos os casos: ir ao Porto exclui, no mesmo instante, ir a Lisboa. O «ou..ou» é apenas uma forma mais enfática de dizer «ou». Na substância, não há diferença alguma entre estas «duas» disjunções.» (Francisco Limpo Queiroz, 5 de Setembro de 2018, in Filosofia e Epistemologia)

 

Neste livro «Lógica Elementar» de Agosto de 2019 que estamos a analisar, Desidério Murcho adopta a nossa tese sem qualquer autocrítica, fala apenas em disjunção,  e, claro, sem referir o nome Francisco Limpo Queiroz, cujas publicações estão no Index de Desidério e da Lekton, site da web que recusou difundir a existência do nosso «Dicionário de Filosofia e Ontologia, dialética e equívocos dos filósofos» - uma atitude de fascismo epistémico praticada pelos senhores da universidade. Já Schopenhauer dizia que é incompatível ser filósofo e ser professor universitário de filosofia, visto que este último alinha com a maioria que lhe dá sustento e prestígio institucional e não admite estar errado para brilhar ante os alunos...

 

O SUJEITO DE UMA PROPOSIÇÃO SÓ PODE SER UM ENTE INDIVIDUAL? NÃO PODE SER UM ENTE COLECTIVO?

 

Em uma tentativa de derrubar a lógica aristotélica, Desidério escreve:

 

«Uma deficiência capital da lógica de Aristóteles é encarar a frase "Todo o grego é europeu» como se resultasse de se acrescentar um quantificador a uma frase que tem a mesma estrutura lógica de "Sócrates é europeu", o que é falso. Nesta última frase, atribui-se um predicado a "Sócrates" , que é um sujeito genuíno; mas na primeira "grego"  não é realmente o sujeito da frase.  (...) Dizer que todo o grego é europeu não é atribuir o predicado "europeu" ao sujeito "grego" mas antes atribuir os predicados "ser grego" e "ser europeu"a particulares: todo o predicado que tem o primeiro predicado tem também o segundo. Para desenvolver a lógica de Aristóteles diz-se então que "grego", naquela frase, é o termo sujeito; mas é da máxima importância não confundir termos sujeitos com sujeitos, pois os primeiros na verdade são predicados que estão num lugar sintático que noutras frases, ilusoriamente vistos como análogos é ocupado por sujeitos genuínos»

(Desidério Murcho, Lógica Elementar, Edições 70, pág. 297; o bold é colocado por nós).

 

Segundo Murcho, o sujeito de uma proposição não pode ser um ente colectivo, uma multidão: é obrigatório que seja um ente individual. Assim, por exemplo, na proposição «Os benfiquistas celebram o emblema da águia na camisa vermelha" o termo "os benfiquistas" não seria sujeito genuíno, mas sim predicado, Esquece que "os benfiquistas celebram.." é decomponível nas proposições «Rui Vitória celebra o emblema da águia na camisa vermelha»,  «Bruno Lage celebra o emblema da águia na camisa vermelha», «Luís Filipe Vieira celebra o emblema da águia na camisa vermelha», «Manuel Alegre celebra o emblema da águia na camisa vermelha», «Francisco Louçã celebra o emblema da águia na camisa vermelha», etc, etc. Como é possível que só o ente individual seja sujeito e que no colectivo desapareça o carácter de sujeito? E o termo Portugal? Não passaria a ser um predicado na proposição «Portugal é um país europeu» visto que se compõe de muitas cidades e concelhos como Lisboa, Porto, Beja, Braga, Coimbra, Évora, Faro, etc.?

 

Esta negação do sujeito universal trata-se de uma subversão falhada, nominalista, da lógica aristotélica. Desidério, como anti dialético pensador (de segunda classe) que é, elimina o termo intermédio. O termo "grego" funciona ora como sujeito ora como predicado consoante o contexto - isto é dialética - mas Murcho não o entende ou finge não entender, na ânsia de inovar no campo da lógica. 

 

MURCHO ACEITA AS ERRÓNEAS LEIS DE MORGAN

 

Este manual de D.Murcho aceita como válidas as leis de Morgan, um erro colossal que demonstra o carácter enganador desta lógica. A primeira lei de Morgan enuncia-se assim:

 

«1ª Negação de uma conjunção:

A negação de uma conjunção é equivalente à disjunção das negações das suas proposições ou argumentos.»

 

Formalizemos:

                                                                   ¬ (P∧ Q) ↔  (¬ P ∨ ¬ Q)
 
 
Basta considerar exemplos - o que Desidério Murcho, João Branquinho, João Sáagua, Ricardo Santos, Manuel Maria Carrilho e mais, Fregge, Bertrand Russel e Wittgenstein não foram ou não são capazes de fazer-  para pôr a nu a inconsistência desta lei.
 
 
Segundo a primeira lei de Morgan,  a frase «Não é primo o número dois e não é ímpar o número dois»  equivale à frase «Não é primo o número dois ou não é ímpar o número dois». Ora, a equivalência não existe, pois a disjunção destrói a indissociabilidade das duas propriedades referentes ao número dois que não se podem colocar em alternativa pois não são contrárias mas colaterais.
 
 
E somos obrigados nós, professores de filosofia do ensino secundário, a exigir que os nossos alunos decorem estas patranhas pseudo lógicas da "lógica proposicional"? A filosofia decaiu muito nas últimas décadas ao subordinar-se a esta disciplina anti científica dita "lógica contemporânea", esta gramática do "pensar". Degradou-se com a universidade progressivamente ocupada por anti filósofos, mestres ou doutorados.
 

 

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        www.filosofar.blogs.sapo.pt

          f.limpo.queiroz@sapo.pt

 

© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)

 

 



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Domingo, 30 de Setembro de 2018
Equívocos nos manuais da Didáctica «50 lições de filosofia, 10º e 11º ano » - (Crítica de Manuais Escolares-LVII)

 

 

 

Alguns equívocos subsistem nos manuais do professor «50 lições de filosofia, 11º ano» e «50 lições de filosofia, 10º ano» da Didáctica Editora, de Aires Almeida, Célia Teixeira e Desidério Murcho.

 

HÁ CONHECIMENTO SEM CRENÇA , AO CONTRÁRIO DO QUE SUSTENTA O MANUAL DO 11º

 

Sobre a definição da filosofia analítica àcerca do conhecimento como «crença verdadeira justificada» diz o manual:

 

«A crença é condição necessária do conhecimento.»

 

«Acreditar é um estado mental ou psicológico de convicção ou de adesão a algo. A crença ocorre, portanto, na mente de alguém. Mesmo que as crenças sejam acerca de objectos exteriores, nem por isso elas deixam de se encontrar apenas na mente do sujeito que acredita. Se digo que acredito que o Benfica será campeão no próximo ano, estou apenas a exprimir o que vai na minha cabeça, até porque aquilo que o Benfica conseguirá no próximo ano é algo que ainda nem sequer aconteceu.» (Aires Almeida e Desidério Murcho, «50 lições de filosofia, 11º ano » Didáctica Editora, pág. 108). .

 

Há conhecimento sem crença, ao contrário do que afirmam Aires Almeida e Desidério Murcho: o conhecimento sensorial, por exemplo. O cão, tal como o homem, conhece o calor do verão ou o frio do inverno sem acreditar - sente apenas. A crença pressupõe um pensamento ou um princípio de pensamento - disto não se apercebem os filósofos analíticos e a grande massa amorfa dos docentes que os seguem. Kant cometeu grossa asneira ao sustentar que o conhecimento só existe no entendimento, em resultado da união deste com a sensibilidade. Intelectualizou o conhecimento, o que é uma visão parcelar.

 

Ora os dois tipos extremos de conhecimento que se tocam no fechar do círculo - a sensação e a intuição inteligível - não pressupõem nenhuma crença, são involuntários, irracionais, ocorrem simplesmente. Excluem a crença: ambos são certeza «totalitária». Não preciso de crença no vermelho do sol poente que neste momento desfruto: sinto-o na minha retina. Não tenho crença na bondade dos vírus das vacinas a «prevenir» doenças: sei, por intuição inteligível, que são nocivos ao corpo humano.

 

A crença implica pensamento, um certo distanciamento entre o sujeito e o objecto - daí o «ver para crer» - ao passo que o conhecimento pleno é a pura adesão do sujeito ao objecto, acto no qual a crença se dissipa.

 

Em Platão, a crença é a pistis, que faz parte da doxa ou opinião. Ao nível da episteme (raciocínio científico) ou da noese (apreensão intuitiva do arquétipo) não há crença, há certeza. A certeza é inimiga da crença. Crer em Deus é não ter a certeza absoluta da Sua existência ou dos Seus predicados. Conhecer é estar com as coisas sem crença, é ter intimidade intelectual ou sensorial com essas coisas, materiais ou espirituais, sem duvidar, sem o biombo da crença.

 

Quando se diz que o conhecimento é crença verdadeira comete-se um erro de paralaxe filosófica.

 

UMA NOÇÃO CONFUSA DE ESSENCIALISMO

 

Sobre essencialismo, lê-se no manual do 11º ano:

 

«Essencialismo contemporâneo

 

«Poderia Kant não ter sido um filósofo? É natural pensar que sim, pois ele poderia ter-se dedicado à pintura, por exemplo, ou a qualquer outra actividade. Mas poderia Kant ter sido mais do que ele mesmo? A resposta, também natural, é que não, pois isso viola as leis da lógica.»

 

«O que dizer, contudo, da hipótese de Kant não ter sido humano? Se defendermos que as únicas verdades necessárias são as verdades que podemos conhecer a priori, estamos obrigados a dizer que não é uma verdade necessária que Kant era humano,ou seja, estamos obrigados a dizer que ele poderia não ter sido humano.Porquê? Porque não podemos saber a priori que ele era realmente humano:só a posteriori podemos saber disso.»

 

«Os filósofos essencialistas contemporâneos consideram que do facto de não podermos saber a priori que Kant não poderia não ter sido humano não se conclui correctamente que ele poderia não tê-lo sido. De modo  que precisamos de outras razões a favor da ideia de que poderia tê-lo sido. Os essencialistas defendem que não há bons argumentos a favor dessa ideia e que é mais natural pensar que ele não poderia não ter sido humano. E esse será outro exemplo de uma verdade necessária a posteriori.»(Aires Almeida, Célia Teixeira e Desidério Murcho, «50 lições de filosofia, 11º ano » Didáctica Editora, pág. 244). .

 

Eis um texto extraordinariamente confuso: não se define essência, nem essencialismo.  Não se sabe o que os autores entendem por filósofos essencialistas. O exemplo é razoavelmente obscuro. Aires Almeida e Desidério Murcho revelam-se aqui  obscurantistas.  É uma insensatez dizer que Kant poderia ser não humano se, à partida, ligamos o nome de Kant a famílias, a um cidadão prussiano do século XVIII. É uma contradição nos termos: Kant, nome humano, suscitaria a suspeita de que a pessoa que o usa é não humana. É confundir o terminológico, a ordem da linguagem, com o ontológico, a ordem do ser - um velho truque dessa sofística contemporânea que dá pelo nome de filosofia analítica...

 

É similar a dizer: «O quartzo poderá ser um não mineral» ou «a galinha poderá não ser um animal». São «habilidades» retóricas,  argumentação vazia, dissociando artificialmente o significante do significado, do referente Só a Kaballah estabelece a ligação necessária entre o nome e a coisa, ao contrário da linguística de Saussure que postula o «laço arbitrário», casual, entre significante e significado.

 

Os autores do manual exaltam a «descoberta» de Saul Kripke segundo a qual há verdades necessárias a posteriori e alegam que «Hume concluía que as verdades científicas eram contingentes só porque eram conhecidas a posteriori.» ( 50 lições de Filosofia, 11º ano Filosofia, pag 243). Ora isto não é verdade em toda a sua extensão: Hume considerava a matemática como um conjunto de verdades científicas, não contingentes, necessárias, a posteriori. O número ou proporção de quantidade,´que fundamenta a matemática, é uma das sete relações filosóficas - poderíamos dizer: categorias - inscritas na mente do sujeito, segundo Hume. Ora, não há contingência nas operações matemáticas, em geral.

 

Hume escreveu, reafirmando o carácter necessário das verdades da álgebra e da aritmética:

 

«Restam portanto a álgebra e a aritmética como as únicas ciências das quais podemos levar uma cadeia de raciocínios até um certo grau de complicação, conservando contudo uma perfeita exactidão e certeza. Estamos de posse de um critério preciso que nos permite ajuizar da igualdade e proporção dos números; e, conforme estes correspondem ou não ao critério, determinamos-lhes as relações sem qualquer possibilidade de erro» (David Hume, Tratado da Natureza Humana, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, pág. 105; o destaque a negrito é posto por mim).

 

Não foi, pois, Saul Kripke o primeiro a posttular verdades científicas universais e necessárias a posteriori. Hume já o fizera. E muitos outros, como por exemplo, os materialistas dialéticos vinculados ao empirismo. Acontece que Desidério Murcho e Aires Almeida não abordam nos seus manuais as filosofias de esquerda como o marxismo, o anarquismo, o socialismo revolucionário - só vêem o lado pragmático norte-americano e britânico da filosofia institucional, filosofias «apolíticas» de direita ou centro,  e nem tudo vêem- e não conhecem as posições ontognosiológicas de outras correntes. Por isso não admira que errem ao escrever que Saul Kripke foi o primeiro a teorizar as verdades universais a posteriori...

 

OS SUBJECTIVISTAS NEGAM QUE A BELEZA ESTEJA NOS PRÓPRIOS OBJECTOS?

 

Sobre subjectivismo e objectivismo, diz o manual do 11º ano:

 

«Chama-se subjectivistas àqueles que respondem que apenas conta o que cada sujeiro sente: a justificação dos juízos estéticos tem um carácter subjectivo. Quando perguntam a um subjectivista: «Por que razão dizes que aquele objecto é bonito?» ele responde «Digo que aquele objecto é bonito porque eu sinto prazer a olhar para ele».

«Por sua vez, chamam-se objectivistas aos que respondem que tudo o que conta são as características dos próprios objectos: afirmamos que um objecto é bonito ou feio porque tem certas propriedades que o tornam realmente bonito ou que o tornam realmente feio.» (50 lições de Filosofia, 11º ano Filosofia, pag 125). 

 

Os subjectivistas negam que a beleza esteja nos objectos? Não, necessariamente. Apenas afirmam que cada mente possui uma forma única, singular de captar a beleza objectiva dos objectos. Portanto, para os subjectivistas a beleza pode estar simultaneanente no objecto exterior e na mente humana que o apreende. Não é isto o que os autores deste manual afirmam.

 

UMA TAUTOLOGIA NA DEFINIÇÃO DE OBJETIVISMO

 

Este manual do 10º ano define objetivismo do seguinte modo: `

« A tese central da teoria objetivista é que alguns juízos de valor são objetivos. Isto significa que quando uma pessoa ou uma sociedade condena ou aceita um dado juízo de valor pode estar enganada, tal como acontece com os juízos de facto. » (...)

«Por exemplo, nos finais do século XIX, na Europa, discutia-se se as mulheres tinham o direito de votar. Mas hoje acreditamos que o juízo de valor de que as mulheres devem ter o direito de votar é objectivamente verdadeiro»

(Aires Almeida, Célia Teixeira e Desidério Murcho, «50 lições de filosofia, 10º ano » Manual do Professor, Didáctica Editora,  pág. 57).

 

Objetivismo é alguns juízos de valor serem objetivos? Isto é uma tautologia. O que significa serem objetivos? Desidério, Aires e Célia não sabem explicar. Objectivo significa duas coisas: que está fora das mentes humanas e é visível ou patente a todas ou quase todas (exemplo: as mulheres votam em eleições gerais em quase todos os países no século XXI, o rio Tejo separa Lisboa de Almada e do Barreiro); que está dentro das mentes humanas mas é compreendido de igual modo por todas ou quase todas (exemplo: É objectivo que 7 adicionado de 5 tem como resultado 12).

 

A AUSÊNCIA DO CONCEITO DE INTERSUBJECTIVISMO

 

Para os autores, as correntes de valores têm dois níveis de verdade: subjectivismo e objectivismo. Como não introduzem o conceito de intersubjectivismo deslizam para o pensamento imperfeito. Diz o manual:

 

«A segunda objeção põe em causa a ideia de que se um juízo não for subjectivo, não há discordância. Pelo contrário, há muitos casos en que estamos perante juízos que não são subjectivos e no entanto há discordância. Por exemplo, há quem pense que os seres humanos foram directamente criados por Deus como é descrito na Bíblia e quem pense que os seres humanos surgiram de outras espécies por meio de processos naturais. Contudo, não se trata de juízos subjectivos. Acontece apenas que as pessoas não conseguem chegar a um consenso».

(Aires Almeida, Célia Teixeira e Desidério Murcho, «50 lições de filosofia, 10º ano » Manual do Professor, Didáctica Editora,  pág. 52).

 

Se não são juízos subjectivos, o que são? Juízos intersubjectivos, isto é, comuns a uma grande quantidade de pessoas. Mas o manual carece deste conceito. A intersubjectividade é um degrau intermédio entre a subjectividade, a consciência isolada, e a objectividade, isto é, a realidade em si ou a opinião unânime de toda a humanidade.

 

 

 

 

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Domingo, 16 de Setembro de 2018
Equívocos nas Aprendizagens Essenciais de filosofia do 11º ano: teorias essencialistas versus teorias não essencialistas

A arrumação intelectual das teorias da arte no programa e nos manuais de filosofia em Portugal é confusa. Por exemplo, nas Aprendizagens Essenciais programa de Filosofia do 11º ano, que alguns atribuem a Aires Almeida da SPF,  lê-se como conteúdo a lecionar aos alunos:

 

O problema da definição da arte.

Teorias essencialistas: a arte como representação, a arte como expressão a arte como forma.

Teorias não essencialistas: a teoria institucional e a teoria histórica.

(11º Ano Filosofia, Aprendizagens Essenciais/ Articulação com o Perfil dos Alunos, página 10).

 

Há aqui a confusão de vários níveis: ontológico, sociológico, psicológico. A arte como expressão de emoções- nível psicológico ou psicopoiético- não pode ser posta em concorrência (no mesmo nível) que a arte como imitação da natureza/representação (nível ontológico: relação arte com a realidade exterior): a Mona Lisa de Leonardo da Vinci é simultaneamente arte como representação e arte como expressão de emoções do artista. A arte como expressão de emoções - género psicopoiético - devia emparelhar com a arte como inteleção, isto é, a gestação da obra de arte pelo intelecto mas este conceito é esquecido.

 

A arte como representação é um conceito vago: deveria dizer-se a arte como imitação da natureza e a arte como transfiguração da natureza (neste último caso cabem as grandes correntes artísticas da intura do sécuo XX como o dadaísmo, o surrealismo, o cubismo, o abstracionismo, a concret art, etc.).

 

Aceitemos que tanto a arte como imitação como a arte como transfiguração do real são correntes essencialistas porque assentam em formas imutáveis ou quase imutáveis - as essências. Por exemplo, o surrealismo pode ser considerado essencialista porque, na pintura, desconecta partes de corpos ou objectos reais e combina-os ou refaz aqueles de modo surreal, onírico (exemplo: um quadro representando um corpo de mulher de modo naturalista mas em que a cabeça é substituída por uma maçã ou por uma árvore).

 

a arte como expressão de emoções e sentimentos tanto pode ser essencialista - imaginemos a pintura religiosa de Cristos sofredores de Bartolomé de Las Casas, transmitindo um persistente sentimento de dor e sacrifício - como pode ser existencialista - uma performance improvisada de teatro ou vídeo, entregue ao acaso, à flutuação do momento é arte não essencialista, existencialista, se por existencialismo entendemos a teoria da liberdade e da imprevisivibilidade da vida. Arte existencialista é, por exemplo, a de Christo (13 de Junho de 1935-31 de Maio de 2020) , artista plástico búlgaro do Nouveau Realisme que envolvia o exterior de edifícios com  gigantescas capas  que produziam formas efémeras que duravam uma ou mais semanas ou meses.

 

No que respeita à teoria da arte como forma - refere-se à teoria da forma significante (combinação de formas, cores ou sons, etc.) que, segundo Clive Bell, caracteriza a obra de arte - tanto pode ser classificada como essencialista, na medida em que engloba a teoria da arte como transfiguração da natureza, o neo-impressionismo, o cubismo, o surrealismo, etc., como pode ser classificada de não essencialista uma vez que o subjectivismo existe na atribuição, por cada pessoa, de forma significante a uma pintura abstrata (um diz« Parece-me um cavalo esta forma esfumada», outro diz «A mim parece-me o mapa da Península Ibérica», outra diz «Julgo que representa um orgão genital», etc). Ademais, não tem lógica opor a arte como representação à arte como forma como acima se faz (Teorias essencialistas: a arte como representação, a arte como expressão a arte como forma) uma vez que a arte como representação é uma arte de formas, naturalistas ou surreais.

 

A teoria institucional da arte é assim definida por alguns autores:

«Esta crítica às teorias essencialistas abriu o caminho à teoria da arte como instituição que faz depender o estatuto da obra de arte de factores extrínsecos à própria obra, estabelecendo que é o mundo da arte, artistas, críticos, historiadores da arte, galeristas, etc., quem confere tal estatuto». (Adília Maia Gaspar, António Manzarra, Filosofia 10º, Caderno de Atividades, Raíz Editora, pág. 62).

 

Por que razão a teoria institucional da arte é não essencialista, segundo a estrutura do programa de 11º ano? Não nos explicam. Pelo contrário: é uma teoria essencialista sociológica, situa a essência da arte no consenso social e na sua consagração, expansão e visibilidade ante o público e os críticos e negociantes.

 

Voltando aos conteúdos programáticos do início deste artigo: por que razão a teoria da história da arte é não essencialista se ela engloba os diversos essencialismos que se foram manifestando ao longo da história (o realismo natural da pintura clássica e renascentista, o impressionismo, o expressionismo, o surrealismo, etc.)?  

 

Quem estruturou esta divisão acima entre teorias essencialistas e existencialistas da arte não pensa dialeticamente mas caoticamente, como é próprio da filosofia analítica em voga que justapõe no mesmo nível definições de diferentes níveis ou regiões. E essa confusão vai recair sobre os estudantes nas provas de exame nacional de filosofia concebidas por mentes «analíticas» que querem dividir a meio um fio de cabelo e estabelecem divisões e uniões arbitrárias. Acresce o facto de que estas «Aprendizagens essenciais...» são um documento ilegal pois constituem uma alteração do programa instituído por decreto e que só por decreto pode ser alterado.

 

Senhor Ministro da Educação, destrua a influência nos exames nacionais de filosofia do lobby dos pseudo-filósofos da lógica proposicional e da filosofia analítica - João Branquinho, M.S. Lourenço, Fernando Ferreira,  Teresa Marques,  Célia Teixeira. Ricardo Santos, Elia Zardini, Guido Imaguirre, Aires Almeida, Pedro Galvão, Desidério Murcho, Rolando Almeida, Domingos Faria, Manuel Maria Carrilho, João Sáagua, Alexandre Franco de Sá, etc. - que com as suas definições autoritárias, de vincada falta de racionalidade, representam o protofascismo epistémico que abafa o ensino livre da filosofia.

 

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Terça-feira, 16 de Janeiro de 2018
A perversa reforma do programa de filosofia do 10º e 11º ano em Portugal ou Bilderberg no ensino

A reforma do programa de filosofia, que se prevê entrar em vigor em Setembro de 2018, elimina a lógica aristotélica do programa de filosofia e coloca a lógica proposicional como obrigatória e única modalidade lógica na primeira parte do programa de filosofia do 10º ano de escolaridade em Portugal. O resto do programa de 10º ano limitar-se-á à ética, passando a estética e a religião para o programa de 11º ano que deixará de ter a lógica aristotélica e a lógica proposicional em alternativa uma à outra. É mais uma manobra dos pseudo filósofos analíticos - a corrente em que militam João Branquinho, Ricardo Santos, Guido Imaguire, Pedro Galvão, Desidério Murcho, Alexandre Franco de Sá, Sara Bizarro, Aires Almeida, etc. - para afunilar o ensino da filosofia, para o tornar aborrecido, sem horizontes metafísicos, aos olhos dos alunos. O formalismo da lógica proposicional é uma lógica deficiente porque, por exemplo, distingue erroneamente disjunção inclusiva de disjunção exclusiva (na verdade, dizer Vou a Londres ou vou a Paris («d. inclusiva», dizem) é o mesmo que dizer Ou vou a Londres ou vou a Paris («d. exclusiva», dizem), é a mesma disjunção). Outro exemplo: segundo esta lógica a disjunção inclusiva de duas proposições verdadeiras (PVQ) é verdadeira, ora o exemplo «Somos portugueses ou somos europeus» (PVQ) prova que redunda em uma falsa disjunção inclusiva porque portugueses não pode extrinsecar-se de europeus.  Esse formalismo pretensamente científico reflecte a ausência de ideias dos novos doutorados e mestres em filosofia da universidade portuguesa. Como podem as universidades ter chegado a este estado de indigência intelectual de instituir regras lógico-formais erradas e propagá-las no ensino da filosofia?  É matéria para uma análise sociológica profunda. Schopenhauer já no século XIX denunciava a incompatibilidade de ser filósofo e professor universitário de filosofia, este último movido pelas preocupações de subir e brilhar profissionalmente, mesmo sendo incompetente, não perder a autoridade sobre os alunos mostrando que «sabe tudo» e obter apoios entre os colegas.

 

Os autores da reforma argumentam que é preciso interdisciplinaridade com a matemática. Mas que interdisciplinaridade há nas turmas de humanísticas e artes com a matemática no 10º e 11º ano de escolaridade? Praticamente, nenhuma. O exame nacional de filosofia, instituído há anos, visou apenas uniformizar, controlar os professores de filosofia, que são perigosos para o sistema político quando são criativos e livres porque rompem a censura existente nas televisões, jornais e nos manuais escolares.

 

Nada disto é inocente. Estas mudanças de programas obedecem à estratégia do neofascismo «democrático» do clube de Bilderberg que quer expulsar do ensino de massas a filosofia livre e a história social e política crítica: ocupando os alunos com inúteis exercícios de lógica, impede-se estes de conhecer as ideologias marxista, anarquista, teoovniológica, as teorias da conspiração, o taoísmo, o platonismo, o aristotelismo, etc. E o peso da ética (leia-se: a ideologia federalista dos illuminati) cresce imenso no 10º ano. É o doutrinarismo do Estado Novo de Salazar vertido em doutrinarismo do Estado da Nova Ordem Mundial. São os inimigos da liberdade de filosofar quem está a alterar os programas de filosofia do ensino secundário em Portugal. Eles temem os professores mais cultos e amplos no pensar!

 

Na nova proposta de programa de 10º ano, na abordagem introdutória à filosofia e ao filosofar ignora-se a definição de filosofia como livre interpretação metafísica do universo, da vida e do homem e limita-se a descrevê-la como actividade crítica (apêndice da ciência, como defendia o círculo de Viena fundado em 1929):

 

«O que é a filosofia?

«Caracterizar a filosofia como actividade conceptual crítica.»

«As questões da filosofia»

«Clarificar a natureza dos problemas filosóficos».

 

Evita-se falar em grandes temas da filosofia porque isso poderia inclinar os professores a explanar em síntese as doutrinas de Heráclito, Lao Tse, Platão, Aristóteles, etc., que os novos doutorados em filosofia ignoram, de um modo geral, e que tentam suprimir do ensino dado conterem metafísica.

 

Alerta, professores de filosofia! Mal fomos consultados sobre este afunilamento do programa, sobre este  obscurecimento do item grandes temas da filosofia do programa de 10º ano ainda em vigor. Os antifilósofos da lógica proposicional, seres de pensamento robótico, uma minora influente dentro das universidades, decidem amputar os programas à revelia dos milhares de professores de filosofia do ensino secundário em Portugal, à boa maneira dos eurocratas  a quem a democracia de base intimida.

 

É lamentável que sejam governos do Partido Socialista Português a limitar o campo do ensino público livre da filosofia: ligado através de António Costa, de Manuel Maria Carrilho, de Maria de Lurdes Rodrigues, de Porfírio Silva, de António José Seguro ao clube mundialista de Bilderberg, de Henry Kissinger, das famílias Rotschild e Rockfeller, de Pinto Balsemão e Ricardo Salgado, o PS português transforma-se, subtil e gradualmente, num partido social-fascista no campo do ensino  da filosofia ao suprimir programaticamente a vastidão dos grandes temas da filosofia, a liberdade de cada professor escolher temas e ensinar à sua maneira. Que medo à individualidade radical tem a burguesia portuguesa e os seus homens de mão socialistas! E Tiago Brandão Rodrigues está ou não consciente desta manobra ditatorial? Ele é, formalmente, o responsável desta reforma de fechamento do horizonte filosófico nas escolas. Protestemos, massivamente, junto do ministro da Educação, do governo, das estações de televisão, das rádios, dos jornais. Vamos à luta contra os neofascistas do pensamento «analítico», os novos inquisidores do século XXI.

 

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Quarta-feira, 6 de Julho de 2016
Vénus predestina que, em 10 de Julho de 2016, Fernando Santos sinta grande alegria

 

 

 

.A vitória de Portugal sobre a Polónia no campeonato Europeu de Futebol, em 30 de Junho de 2016, não me surpreendeu. Está predestinado, de acordo com a teoria da astrologia histórica que utilizo e desenvolvo, que, em 10 de Julho de 2016, o selecionador de Portugal Fernando Santos experimentará uma grande alegria.  Nesse dia, Vénus passará em 27º do signo de Caranguejo sobre o Júpiter de nascimento de Fernando Santos, em 27º de Caranguejo, em 10 de Outubro de 1954. Ora Vénus sobre Júpiter é ouro sobre azul...é fonte de expansão, alegria.

 

Não se pode garantir infalivelmente que tal signifique o triunfo de Portugal na final do Europeu... 

 

O combate, feito de silenciamento censório e críticas mordazes e pueris, movido por toda a comunidade «científica» contra a astrologia científica, combate desigual levado a cabo pelas televisões, as editoras de ciência como a Gradiva e a Fundação Francisco Manuel dos Santos os respetivos filósofos de pacotilha (Carlos Fiolhais, David Marçal, Desidério Murcho, Aires Almeida, etc.) é uma manobra obscurantista que visa impedir o conhecimento pelo público da teoria da predestinação de matriz planetária que nós, e muito poucos no mundo, desenvolvemos.

 

Eles, tal como Popper, dizem representar a ciência contra a «pseudo ciência da astrologia» mas Daniel Benett, filósofo norte-americano, nascido em 27 de Março de 1942, apologista do construtivismo social (a ciência é uma construção, não uma verdade objetiva como a paisagem de árvores diante de nós) escreveu:

 

«Os cientistas às vezes tentam iludir-se, achando que as ideias filosóficas são apenas, na melhor das hipóteses, ornamentos ou comentários parasitas sobre os difíceis e objetivos triunfos da ciência, e que eles mesmos estão imunes às confusões às quais os filósofos dedicam as suas vidas, tentando resolvê-las. Mas não existe ciência livre de filosofia; existe apenas ciência cuja bagagem filosófica é embarcada sem passar pela vistoria». (A perigosa ideia de Darwin).

 

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Quinta-feira, 1 de Janeiro de 2015
Aires Almeida e Desidério Murcho: janelas para a confusão

 

 Em «Janelas para a filosofia», Aires Almeida e Desidério Murcho, autores de manuais escolares do 10º e 11º ano de escolaridade em Portugal, membros influentes do «lobby» da filosofia analítica que inclui Ricardo Santos, João Branquinho, Pedro Galvão, Sara Bizarro e outros académicos, ensaiam uma exposição sobre os problemas centrais da filosofia. Acontece que as janelas que aqueles dois autores abriram dão para o pátio da sofística e, acidentalmente, para a planície vasta da filosofia, olhada de viés, neste livro.

 

UMA EQUÍVOCA DEFINIÇÃO DE RELATIVISMO

 

Um dos erros teóricos de Almeida e Murcho patentes neste livro, seguindo aliás o célebre Peter Singer, é o seu conceito de relativismo. Escrevem:

 

«1. Relativismo

«O relativismo defende que os juízos de valor são relativos às sociedades. Quando uma sociedade condena ou aceita um dado juízo de valor não pode estar enganada. Isto contrasta com os juízos de facto...» (Aires Almeida, Desidério Murcho, Janelas para a Filosofia, Gradiva, Novembro de 2014, pág. 40; o destaque a negrito é colocado por mim).

 

Esta definição é parcialmente incorrecta: diz que os juízos de valor variam de sociedade para sociedade, o que é verdade, em princípio, mas oculta ou escamoteia o facto de relativismo ser a variação de valores no interior de uma mesma sociedade, segundo as classes sociais, os grupos políticos, religiosos e artísticos.  É relativismo haver em Portugal uma lei que consagra o casamento de gays e lésbicas e uma maioria social que condena este tipo de casamento, é relativismo haver dentro da mesma sociedade portuguesa defensores dos valores de esquerda e defensores dos valores de direita, religiosos católicos, islâmicos, budistas, agnósticos e ateus,etc.

 

A frase «Quando uma sociedade condena ou aceita um dado juízo de valor não pode estar enganada», incluída na definição de relativismo, é um verdadeiro absurdo. É apresentar relativismo como um dogmatismo absolutista e prova a debilidade do pensamento de Aires Almeida e Desidério Murcho, pseudo-filósofos que fazem «copy paste» de Simon Blackburn, de Peter Singer e outros. Eles não pensam: dizem coisas sem nexo como, por exemplo, que "segundo o relativismo, uma sociedade não pode estar enganada ao condenar ou aceitar algo"...

 

A PSEUDO-REFUTAÇÃO DA DEFINIÇÃO DE CONHECIMENTO COMO «CRENÇA VERDADEIRA JUSTIFICADA»

 

Edmund Gettier refutou, aparentemente, a definição clássica de conhecimento como «crença verdadeira justificada». Almeida e Murcho dão razão a Gettier e escrevem:

 

« Vejamos um exemplo diferente do de Gettier mas que estabelece o mesmo resultado filosófico. A Rita é apreciadora de carros antigos e tem reparado no Citroen boca-de-sapo estacionado num dos lugares reservado à administração, na garagem do edifício da empresa onde trabalha. Ela forma a crença de que um dos administradores da empresa tem um boca-de-sapo. Algum tempo depois, a Rita veio a descobrir, com grande surpresa, que o boca-de-sapo que viu era afinal de um morador daquela zona que se aproveitava para estacionar discretamente ali o seu estimado carro. O morador oportunista só tinha conseguido estacionar ali o seu cargo simplesmente porque o segurança julgava ser o boca-de-sapo de colecção que, por coincidência, a administradora Paula possuía. Até ter sido apanhado».

«O que mostra esta história? Em primeiro lugar, mostra-nos que a Rita formou uma crença verdadeira: que um dos administradores tem um boca-de-sapo. Em segundo lugar, que a Rita tem uma justificação razoável para esta crença: ela própria viu um boca-de-sapo vários dias estacionado num lugar onde apenas podem ser estacionados veículos dos administradores.(...) Parece, pois, que a Rita tem uma crença verdadeira justificada mas não tem conhecimento. Isto parece mostrar que não basta que uma crença verdadeira esteja justificada para haver conhecimento.»(Aires Almeida, Desidério Murcho, Janelas para a Filosofia, Gradiva, Novembro de 2014, pág. 180-181; o destaque a negrito é colocado por mim).

 

Qual é o erro de raciocínio de Gettier, de Almeida e Murcho relativo a este exemplo da Rita?

 

É o facto de considerarem que a Rita tinha uma crença verdadeira justificada ao saber que uma administradora tinha um Citroen boca-de-sapo e que um destes automóveis estava estacionado no lugar reservado junto ao edifício da administração da empresa. Pobres Gettier, Almeida e Murcho!  A Rita não tinha uma crença verdadeira justificada porque não conhecia a matrícula do boca-de-sapo da administradora Paula e, portanto, não podia garantir, com segurança que o boca-de-sapo, afinal pertença de um vizinho, pertencesse à administradora. Portanto, o argumento de Gettier/ Aires/ Desidério  é uma pseudo-refutação da tese de que o conhecimento  é crença verdadeira justificada: o conhecimento da Rita é insuficiente, não está justificado.

 

 

FALTA DE CLAREZA SOBRE O QUE SÃO OBJECTIVISMO E VALORES OBJECTIVOS

 

Escrevem Almeida e Murcho:

«Valores objectivos

«O objectivismo defende que alguns valores são objectivos (e não que todos o são). Isto significa que quando uma pessoa ou uma sociedade condena ou aceita um dado juízo de valor pode estar enganada, tal como acontece com os juízos de facto.» (Aires Almeida, Desidério Murcho, Janelas para a Filosofia, Gradiva, Novembro de 2014, pág. 44; o destaque a negrito é posto por mim).

 

O facto de ser falível  a condenação por uma pessoa de um juízo de valor, isto é, o facto de uma pessoa se poder enganar nesse juízo, não acarreta que este juízo seja objectivo. A definição de objectivismo dada por estes autores é obscura. Afirmar que objectivismo é o facto de que« quando uma pessoa ou uma sociedade condena ou aceita um dado juízo de valor pode estar enganada» é um absurdo. Desidério Murcho e Aires Almeida são incapazes de fornecer uma definição clara de objectivismo dos valores: metem-se por vielas escuras e obscuras do pensamento, onde não há a luz da clareza racional. Não sabem distinguir objectivismo intra-anima ( por exemplo: o número 7 só existe nas mentes humanas mas é objectivo por ser comum a quase todas as mentes) de objectivismo extra-anima (por exemplo: o Mosteiro dos Jerónimos existe em Belém, como edifício de pedra, e é fisicamente objectivo).

 

Escrevem ainda no mesmo estilo retorcido de contornar as definições claras:

 

 

«Para compreender melhor o objectivista, temos de compreender melhor o próprio conceito de objectividade. Há várias concepções de objectividade, mas a mais relevante no que respeita à natureza dos valores considera que a imparcialidade é uma condição necessária da objectividade. O que isto significa é que os juízos de valor que são objectivos são imparciais. Por exemplo, imaginemos que a Daniela defende o juízo de valor de que quem tem olhos azuis deve ter mais direitos do que os outros. Quando lhe perguntamos porquê, responde, com toda a honestidade, que tem olhos azuis, e por isso essa medida iria beneficiá-la. É óbvio que a justificação do seu  juízo de valor não é imparcial»

(Aires Almeida, Desidério Murcho, Janelas para a Filosofia, Gradiva, Novembro de 2014, pág. 44; o destaque a negrito é posto por mim).

 

Há aqui incoerências: Desidério e Aires falam em haver vários conceitos de objectividade, mas não explicitam mais que um, a imparcialidade, e isto é vaguismo; os juízos de valor objectivos não são imparciais, porque são juízos de valor, mas estes dois autores proclamam a sua imparcialidade; o exemplo da Daniela e do seu juízo parcial de favorecer quem tem olhos azuis está envolto numa nuvem de ambiguidade, não se percebe, com clareza, se ilustra o objectivismo ou o subjectivismo dos valores. 

 

Almeida e Murcho não pensam dialecticamente, escarnecem da autêntica filosofia: escrevem de forma elíptica, rodeando o cerne dos assuntos, à maneira dos filósofos analíticos actuais. São o exemplo da anti-filosofia entronizada nas universidades portuguesas e brasileiras e nas grandes editoras que as secundam. Que leva a Gradiva de Guilherme Valente a editar estes frágeis pensadores?  Ah, pois: o professor Aires Almeida é o responsável da secção de filosofia da editora Gradiva...Pode ser um pensador medíocre, mas tem poder editorial.

 

Se querem mergulhar na confusão e citar definições erróneas, no todo ou em parte, assimilem e citem acriticamente o conteúdo deste pobre livro «Janelas para a Filosofia».

 

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Sexta-feira, 11 de Julho de 2014
Conhecimento proposicional não contém crença?

 

No Prefácio de « A Ética da Crença» afirma Desidério Murcho:

 

« Todo o conhecimento proposicional - assim como a crença - é uma relação entre uma pessoa que conhece e uma proposição ou verdade conhecida.» (Desidério Murcho in Prefácio de «A ética da crença», Bizâncio, pág 33)

 

Vemos que Murcho separa artificialmente crença de conhecimento proposicional. Ora, muito deste  último inclui a crença, como por exemplo, o seguinte conhecimento proposicional: «Cada molécula de água é composta de dois átomos de hidrogénio e um átomo de oxigénio». Também o conhecimento proposicional «A economia é a força propulsora essencial da história social e política» inclui crença, isto é, conteúdo especulativo, incerto, já que há outras teses sobre a causa determinante da evolução histórico-social.

 

TODO O CONHECIMENTO PROPOSICIONAL É FACTIVO? 

 

Murcho sustenta que tanto o conhecimento proposicional, teórico ou teórico-prátivo, como o conhecimento por contacto, sensorial, são factivos, o que é um erro no que respeita ao primeiro deles:

 

« Dado que tanto o conhecimento proposicional como o conhecimento por contacto são factivos, o mesmo argumento aplica-se a refutar a ideia de que a fé poderia ser conhecimento por contacto.» (Desidério Murcho in Prefácio de «A ética da crença», Bizâncio, pág 49)

 

Ora, há muito conhecimento proposicional que não é factivo, isto é, não está ancorado em factos sólidos da experiência, irrefutáveis. Por exemplo, o seguinte conhecimento proposicional: «A matéria escura constitui 96% da massa do universo. O Big Bang ocorreu há cerca de 15 000 milhões de anos e consistiu na explosão de um pequeno ponto de matéria-energia dando origem ao universo». Nada disto é factual, factivo: não passam de especulações. É um conhecimento especulativo, duvidoso, o que contraria a tese antidialética de Desidério Murcho de que «todo o conhecimento é factivo».

 

A astrofísica actual é profundamente metafísica: e os mesmos que crêem na teoria das cordas e do Big Bang como Carlos Fiolhais, Desidério Murcho, Guilherme Valente e tantos outros são os que, paradoxalmente, duvidam da causalidade planetária dos factos sociais  ou lançam anátemas sobre o determinismo e o fatalismo planetários. É impossível demonstrar que o universo tem 10 ou 30 dimensões mas estas mentes atentas e veneradoras do «saber científico» crêem que se pode demonstrar.  É muito mais fácil demonstrar que a Alemanha é finalista do campeonato do mundo de futebol, em 13 de Julho de 2014 porque Marte está em 23º de Balança e Quirón em 17º de Peixes nesse dia, uma vez que, por analogia, a Alemanha Federal foi campeã mundial em 7 de Julho de 1974 quando Úrano estava em 23º de Balança e Júpiter em 17º de Peixes mas aquelas mentes «iluminadas» (iluminati?) não crêem na factualidade astronómico-histórica.

 

Afinal, acredita-se em fórmulas astrofísicas metafísicas (argumento da autoridade) e rejeita-se os factos empíricos palpáveis...O positivismo lógico e o conjecturalismo de Popper não passam de metafísica do avesso porque negam a ciêmcia da astrologia histórica, empírica e comprovável. Não é qualquer astrologia, claro: somente a astrologia histórico-social desenvolvida neste blog e em livros nossos.

 

NÃO EXISTE ÉTICA DA CRENÇA

 

Aliás, contrariando o título deste livro, importa notar que não existe ética da crença. A crença é um processo de cognição metaético: acontece espontaneamente, de forma «técnica», não ética. Os chamados «filósofos analíticos» metem a ética e a lógica proposicional em todo o seu discurso e no limitado horizonte do seu pensamento porque a inteligência neles é escassa para irem mais longe: o pensar ontológico e gnosiológico profundo é-lhes estranho.

 

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Quinta-feira, 15 de Maio de 2014
A pseudo-objecção de Gettier à definição de conhecimento como «crença verdadeira justificada»

 

Edmund Gettier, filósofo norte-americano nascido em 1927, é muito considerado pelos pequenos pensadores analíticos desde João Branquinho, Ricardo Santos, Desidério Murcho, Manuel Garcia-Carpinteiro, Aires Almeida, António Horta Branco, Bruno Jacinto, Sara Bizarro a Simon Blackburn e Nigel Warburton, que parecem dar-lhe o estatuto de um Descartes do século XX devido ao seu artigo «Is justified true belief knowledge?» de 1963. Eliott Sober, no artigo «O que é o conhecimento?», publicado em «Crítica na rede», explana as objecções de Edmund Gettier e Bertrand Russell à definição de conhecimento como «crença verdadeira justificada»:

 

«Em 1963, o filósofo Edmund Gettier publicou dois contra-exemplos para a teoria CVJ (Crença Verdadeira Justificada). O que é um contra-exemplo? É um exemplo que contradiz o que diz uma teoria geral. Um contra-exemplo contra uma generalização mostra que a generalização é falsa. A teoria CVJ diz que todos os casos de crença verdadeira justificada são casos de conhecimento. Gettier pensa que estes dois exemplos mostram que um indivíduo pode ter uma crença verdadeira justificada mas não ter conhecimento. Se Gettier tiver razão, então as três condições indicadas pela teoria CVJ não são suficientes.
Eis um dos exemplos de Gettier. Smith trabalha num escritório. Ele sabe que alguém será promovido em breve. O patrão, que é uma pessoa em quem se pode confiar, diz a Smith que Jones será promovido. Smith acabou de contar as moedas no bolso de Jones, encontrando aí 10 moedas. Smith tem então boas informações para acreditar na seguinte proposição:

 

a) Jones será promovido e Jones tem 10 moedas no bolso.

 

Smith deduz, então, deste enunciado o seguinte:

 

b) O homem que será promovido tem 10 moedas no bolso.

 

Suponha-se agora que Jones não receberá a promoção, embora Smith não o saiba. Em vez disso, será o próprio Smith a ser promovido. E suponha-se que Smith também tem dez moedas dentro do bolso. Smith acredita em b, e b é verdadeira. Gettier afirma também que Smith acredita justificadamente em b, dado que a deduziu de a. Apesar de a ser falsa, Smith tem excelentes razões para pensar que é verdadeira. Gettier conclui que Smith tem uma crença verdadeira justificada em b, mas que Smith não sabe que b é verdadeira.»

 

«O outro exemplo de Gettier exibe o mesmo padrão. Um sujeito deduz validamente uma proposição verdadeira a partir de uma proposição que está muito bem apoiada por informações, embora esta seja falsa, apesar de o sujeito não o saber. Quero agora descrever um tipo de contra-exemplo à teoria CVJ na qual o sujeito raciocina não dedutivamente.»

 

«O filósofo e matemático britânico Bertrand Russell (1872-1970) refere um relógio muito fiável que está numa praça. Esta manhã olhas para ele para saber que horas são. Como resultado ficas a saber que são 9.55. Tens justificações para acreditar nisso, baseado na suposição correcta de que o relógio tem sido muito fiável no passado. Mas supõe que o relógio parou há exactamente 24 horas, apesar de tu não o saberes. Tens a crença verdadeira justificada de que são 9.55, mas não sabes que esta é a hora correcta.» (Eliott Sober, «O que é o conhecimento?», in «Crítica na rede», tradução de Paula Mateus)

 

O «grande» Gettier erra, "astronomicamente". O erro de Edmund Gettier é fácil de desmontar: Smith não tem conhecimento de algo que ainda não sucedeu e é contingente, apenas alimenta uma expectativa sobre a promoção de Jones. Portanto, não tem crença verdadeira justificada. Tudo o que Smith sabe é conjectural, não se verificou. As 10 moedas que, por coincidência, alberga no bolso, tal como Jones, não são justificação, ponto de apoio seguro, para prever o futuro profissional. A crença de Smith nas declarações do patrão não são crença em uma verdade, mas crença em palavras de outrém. Ora os seres humanos desdizem-se com frequência.

 

A argumentação de Gettier de que «Smith tem crença verdadeira justificada em que Jones será promovido» é estúpida: é do mesmo tipo que dizer que a crença de milhões de apostadores no euromilhões é uma crença verdadeira justificada mas não é conhecimento. Ora, a crença dos apostadores não é justificada cientificamente nem é verdadeira, em geral: é uma intuição subjectiva. Não há justificação racional para que uma pessoa jogue nos números 8,13, 22, 27, 37  no mesmo concurso em que outras apostam nos números 2,3, 30, 35, 48.

 

O erro de Bertrand Russell é muito simples: a sua crença de que são 9.55 horas é verdadeira mas não está justificada porque não leva em conta a possibilidade de o relógio estar avariado e parado, por mero acaso, a indicar aquela hora. O conhecimento de Russell é meramente acidental, resulta de uma coincidência cronológica, de um acaso...Para estar justificado, precisaria de assentar numa lei (funcionamento permanente do relógio marcando a mesma hora que o Big Ben de Londres, etc) e em uma verificação global naquele momento, o que não sucede.

 

Tanto Gettier como Russell argumentam falaciosamente ao considerar justificadas pensamentos e asserções que o não estão. Há uma gradação no termo justificação, há vários degraus de justificação, de que estes pensadores unilaterais não se dão conta.

Ao propagarem a "descoberta" de Gettier como um "avanço filosófico" os filósofos analíticos e a multidão de professores de filosofia acríticos que os seguem revelam-se razoavelmente estúpidos. Só alguém estúpido, desatento às sinuosidades da retórica, pode maravilhar-se ante a falácia de Gettier. Não raciocinam, deixam-se arrastar por uma retórica de aparência lógica. Ao usarem malabarismos de linguagem como os termos «justificado»  «justificação», mal aplicados, os defensores da objecção de Gettier conseguem seduzir os incautos, mas perdem-se em pseudo-raciocinios.

 

Fechem-se as faculdades de filosofia! Estão dominadas por catedráticos que envergonham a grande filosofia, meros prestigiditadores de palavras, inteligências de um mediano cinzentismo, ovelhas do mesmo rebanho "analítico" que manobra a Sociedade Portuguesa de Filosofia e quase todas as editoras portuguesas de manuais ou ensaios filosóficos. Os grandes pensadores clássicos, aristocratas do pensamento (Platão, Aristóteles, Hegel, Max Scheler, Freud, etc) foram substituídos por uma plebe ou «canalha» filosófica com a cultura do «certificado de doutoramento» e das «acções de formação com créditos», herdeira da inquisição medieval dominicana.

 

Os dominicanos, tal como os "analíticos" de hoje, amavam imenso a lógica que os protegia de certas intuições metafísicas, de um pensar inquietante e livre. As mesmas mentes "asininas" que veneram a objecção de Gettier proíbem a investigação de astrologia histórica (astronomia aplicada a factos sociais e históricos), etc. Os medíocres estão no poder, com a armadura dos doutoramentos e o trono das cátedras! Fizeram das universidades - que deviam ser universitas, acolhedoras dos diversos saberes-  igrejas sectárias onde o saber universal está ausente, onde se censuram as posições críticas e antagónicas... O criptofascismo "racionalista", que tudo converte em proposições lógicas com símbolos, reina. É a idade das trevas da filosofia...

 

O conhecimento  falível - não todo o conhecimento - é, de facto, quase sempre, crença, verdadeira justificada e, nalguns casos, é crença subjectiva ao acaso (exemplo: os totalistas do euromilhões) . Mas há o conhecimento infalível, que é a pura apreensão epistémica ou noética da realidade e não é crença mas certeza pura como, por exemplo, "dois é metade de quatro", "o mundo exterior existe contíguo ao meu corpo".  

 

 

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