Quarta-feira, 4 de Setembro de 2019
Equívocos de «Lógica Elementar» de Desidério Murcho

 

O recente livro de Desidério Murcho (18 de Maio de 1965-) «Lógica Elementar», das Edições 70,  espelha os equívocos desta pseudo ciência que é a lógica proposicional tornada obrigatória para todos os alunos dos cursos científicos e humanísticos do  ensino secundário em Portugal. 

 

A SUPRESSÃO DA DISTINÇÃO ENTRE DISJUNÇÃO EXCLUSIVA E DISJUNÇÃO INCLUSIVA, UM PASSO EM FRENTE

 

Em todos os manuais de filosofia do ensino secundário em Portugal, inclusive no de Desidério Murcho e Aires Almeida, se postula que na lógica proposicional há disjunção inclusiva e disjunção exclusiva. Publiquei há um ano, a 5 de Setembro, neste blog o artigo «Equívocos da Lógica Proposicional: disjunção inclusiva e disjunção exclusiva» que desmistifica esta falácia, artigo que afirma o seguinte:

 

Um dos equívocos da lógica proposicional é a falaciosa distinção entre disjunção inclusiva e disjunção exclusiva. No Manual Essencial  Filosofia 11º em voga em muitas escolas do ensino secundário em Portugal lê-se: 

 

«A disjunção inclusiva é representada por V.

«A disjunção exclusiva é representada por W.

Por exemplo: 

«Os livros estão escritos em prosa ou em poesia».

 

                                      PVQ

«Os livros estão escritos ou em prosa ou em poesia».

 

                                      PWQ

 

Neste último sentido, é claro que uma alternativa exclui por si só a outra».

 

(Amândio Fontoura, Mafalda Afonso e Maria de Fátima Vasconcelos, Essencial Filosofia 11º, Santillana, pág 71).

 

Esta distinção é uma falácia. Dizer, por exemplo, «Vou ao Porto ou vou a Lisboa» (disjunção inclusiva segundo esta lógica) é o mesmo que dizer «Ou vou ao Porto ou vou a Lisboa» (disjunção exclusiva segundo esta lógica proposicional). A disjunção é exclusiva em ambos os casos: ir ao Porto exclui, no mesmo instante, ir a Lisboa. O «ou..ou» é apenas uma forma mais enfática de dizer «ou». Na substância, não há diferença alguma entre estas «duas» disjunções.» (Francisco Limpo Queiroz, 5 de Setembro de 2018, in Filosofia e Epistemologia)

 

Neste livro «Lógica Elementar» de Agosto de 2019 que estamos a analisar, Desidério Murcho adopta a nossa tese sem qualquer autocrítica, fala apenas em disjunção,  e, claro, sem referir o nome Francisco Limpo Queiroz, cujas publicações estão no Index de Desidério e da Lekton, site da web que recusou difundir a existência do nosso «Dicionário de Filosofia e Ontologia, dialética e equívocos dos filósofos» - uma atitude de fascismo epistémico praticada pelos senhores da universidade. Já Schopenhauer dizia que é incompatível ser filósofo e ser professor universitário de filosofia, visto que este último alinha com a maioria que lhe dá sustento e prestígio institucional e não admite estar errado para brilhar ante os alunos...

 

O SUJEITO DE UMA PROPOSIÇÃO SÓ PODE SER UM ENTE INDIVIDUAL? NÃO PODE SER UM ENTE COLECTIVO?

 

Em uma tentativa de derrubar a lógica aristotélica, Desidério escreve:

 

«Uma deficiência capital da lógica de Aristóteles é encarar a frase "Todo o grego é europeu» como se resultasse de se acrescentar um quantificador a uma frase que tem a mesma estrutura lógica de "Sócrates é europeu", o que é falso. Nesta última frase, atribui-se um predicado a "Sócrates" , que é um sujeito genuíno; mas na primeira "grego"  não é realmente o sujeito da frase.  (...) Dizer que todo o grego é europeu não é atribuir o predicado "europeu" ao sujeito "grego" mas antes atribuir os predicados "ser grego" e "ser europeu"a particulares: todo o predicado que tem o primeiro predicado tem também o segundo. Para desenvolver a lógica de Aristóteles diz-se então que "grego", naquela frase, é o termo sujeito; mas é da máxima importância não confundir termos sujeitos com sujeitos, pois os primeiros na verdade são predicados que estão num lugar sintático que noutras frases, ilusoriamente vistos como análogos é ocupado por sujeitos genuínos»

(Desidério Murcho, Lógica Elementar, Edições 70, pág. 297; o bold é colocado por nós).

 

Segundo Murcho, o sujeito de uma proposição não pode ser um ente colectivo, uma multidão: é obrigatório que seja um ente individual. Assim, por exemplo, na proposição «Os benfiquistas celebram o emblema da águia na camisa vermelha" o termo "os benfiquistas" não seria sujeito genuíno, mas sim predicado, Esquece que "os benfiquistas celebram.." é decomponível nas proposições «Rui Vitória celebra o emblema da águia na camisa vermelha»,  «Bruno Lage celebra o emblema da águia na camisa vermelha», «Luís Filipe Vieira celebra o emblema da águia na camisa vermelha», «Manuel Alegre celebra o emblema da águia na camisa vermelha», «Francisco Louçã celebra o emblema da águia na camisa vermelha», etc, etc. Como é possível que só o ente individual seja sujeito e que no colectivo desapareça o carácter de sujeito? E o termo Portugal? Não passaria a ser um predicado na proposição «Portugal é um país europeu» visto que se compõe de muitas cidades e concelhos como Lisboa, Porto, Beja, Braga, Coimbra, Évora, Faro, etc.?

 

Esta negação do sujeito universal trata-se de uma subversão falhada, nominalista, da lógica aristotélica. Desidério, como anti dialético pensador (de segunda classe) que é, elimina o termo intermédio. O termo "grego" funciona ora como sujeito ora como predicado consoante o contexto - isto é dialética - mas Murcho não o entende ou finge não entender, na ânsia de inovar no campo da lógica. 

 

MURCHO ACEITA AS ERRÓNEAS LEIS DE MORGAN

 

Este manual de D.Murcho aceita como válidas as leis de Morgan, um erro colossal que demonstra o carácter enganador desta lógica. A primeira lei de Morgan enuncia-se assim:

 

«1ª Negação de uma conjunção:

A negação de uma conjunção é equivalente à disjunção das negações das suas proposições ou argumentos.»

 

Formalizemos:

                                                                   ¬ (P∧ Q) ↔  (¬ P ∨ ¬ Q)
 
 
Basta considerar exemplos - o que Desidério Murcho, João Branquinho, João Sáagua, Ricardo Santos, Manuel Maria Carrilho e mais, Fregge, Bertrand Russel e Wittgenstein não foram ou não são capazes de fazer-  para pôr a nu a inconsistência desta lei.
 
 
Segundo a primeira lei de Morgan,  a frase «Não é primo o número dois e não é ímpar o número dois»  equivale à frase «Não é primo o número dois ou não é ímpar o número dois». Ora, a equivalência não existe, pois a disjunção destrói a indissociabilidade das duas propriedades referentes ao número dois que não se podem colocar em alternativa pois não são contrárias mas colaterais.
 
 
E somos obrigados nós, professores de filosofia do ensino secundário, a exigir que os nossos alunos decorem estas patranhas pseudo lógicas da "lógica proposicional"? A filosofia decaiu muito nas últimas décadas ao subordinar-se a esta disciplina anti científica dita "lógica contemporânea", esta gramática do "pensar". Degradou-se com a universidade progressivamente ocupada por anti filósofos, mestres ou doutorados.
 

 

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Sexta-feira, 16 de Agosto de 2013
A morte de um bombeiro na Covilhã, em 15 de Agosto de 2013, foi causada pela conjuntura planetária

 

A análise objectiva dos dados astronómicos dá credibilidade sólida à hipótese de que a morte do bombeiro Pedro Rodrigues em Coutada, no concelho da Covilhã, a combater um incêndio florestal, em 15 de Agosto de 2013, estava predestinada. Alguns acidentes na Covilhã e arredores resultam da conjugação de planetas nas áreas 21º-23º  de Caranguejo e 26º-28º de Virgem no mesmo dia.

 

ACIDENTES NA COVILHàCOM MARTE EM 22º DE CARANGUEJO E OUTRO PLANETA EM 26º-28º DE VIRGEM

 

Eis exemplos desta lei:

 

Em 3 de Outubro de 2009, com Marte em 22º 49´/ 23º 32´ de Caranguejo, Saturno em 26º 53´ / 27º 0´ de Virgem, um avião despenha-se durante um festival aéreo na Covilhã e os dois tripulantes do avião, o piloto e uma jornalista, sofrem ferimentos ligeiros; em 15 de Agosto de 2013, com Marte em 21º 33´/ 22º 12´ de Caranguejo, Vénus em 28º 2´/ 29º 14´ de Virgem, Pedro Rodrigues, bombeiro da Covilhã, morre cercado pelas chamas no combate a um fogo florestal, em Coutada, no concelho da Covilhã.

 

Note-se que, em regra, Marte só passa no grau 22 de Caranguejo uma vez em cada dois anos. Contra factos, não há argumentos.

 

A PRESENÇA DE UM PLANETA OU NODO DA LUA NO PONTO 28º 0´/ 28º5´  DE QUALQUER SIGNO

 

Outra lei que concorre para as mortes de bombeiros portugueses em incêndios é a seguinte: a passagem de um planeta, do Sol ou nodo da Lua no ponto 28º 0´/ 28º 5´ de qualquer signo do Zodíaco contribui para a ocorrência de morte de bombeiro em combate a um fogo. Eis alguns exemplos.

 

Em 9 de Julho de 2006, com Nodo Norte da Lua em 28º 14´/ 28º 3´ de Peixes, após as 14.00 horas, uma rotação do vento envolve em labaredas e mata 6 bombeiros, entre os quais 5 sapadores chilenos e um português, que combatiam um fogo florestal em Famalicão da Serra, Guarda, na zona da serra da Estrela; em 30 de Janeiro de 2007, com Plutão em 28º 0´/ 28º 2´ de Sagitário, Nuno Marques, bombeiro, de 25 anos, morre ao combater o fogo numa barraca em Camarate, no bairro da Torre, por explosão de uma botija de gás; em 15 de Agosto de 2013, com Vénus em 28º 3´/ 29º 14´ de Virgem, o bombeiro da Covilhã Pedro Rodrigues morre, cercado pelas chamas, ao combater um incêndio florestal em Coutada, concelho da Covilhã.

 

De acordo, com esta lei são dias de alto risco para a vida dos bombeiros, nos tempos mais próximos, os seguintes dias: 22 de Agosto de 2013 (Mercúrio em 26º 7´/ 28º 7´ de Leão), 24 e 25 de Agosto de 2013 (Marte em 27º 22´/ 28º 1´/ 28º 40´ de Caranguejo); 8 de Setembro de 2013 ( Mercúrio em 27º 49´/ 29º 30´  de Virgem)  e 9 de Setembro de 2013 (Vénus em 27º 23´/ 28º 32´ de Balança), 20 de Setembro de 2013 (Sol em 27º11´/ 28º 10´ de Virgem)

 

Nem Descartes, nem Hegel, nem Heidegger, nem Bertrand Russel, nem John Rawls, nem José Gil, nem José Mattoso, nem Manuel Maria Carrilho nem Eduardo Lourenço, nem Vasco Pulido Valente, conheciam ou conhecem estas leis planetárias. Nem, ao menos, discerniam ou discernem o princípio da correlação sistemática e concreta dos factos biológicos e técnico-sociais com os graus do Zodíaco, doutrina científica que os deuses, misericordiosamente, me concederam desvendar -a mim, pobre criatura, que procuro salvar a minha alma deste mundo satânico da matéria, da avidez do dinheiro e da mentira generalizada.


Convenhamos que estes cálculos astronómicos de acidentes historicamente identificados são muito mais interessantes e ricos em saber do que as aborrecidas e vácuas dissertações dos filósofos analíticos e outros lógicos de vistas curtas. As universidades, em particular , são dominadas por catedráticos dotados de um cretinismo atrozmente anti astrologia histórica. Esses ignorantes, com títulos de doutorados, mandam na televisão, nas revistas, nas editoras e congressos de filosofia, no mundo político-cultural institucional. A corrupção intelectual é geral, os sages ou sábios autênticos são marginalizados e censurados.

 

PS- Se é professor ou estudante de filosofia, história, astrologia ou demais ciências, porque não começa a compreender os movimentos planetários e a astrologia histórico-social e libertar-se da crucial ignorância a que o votaram nessa matéria? Adquira na nossa loja online www.astrologyandaccidents.com as nossas obras «Álvaro Cunhal e Antifascismo na Astrologia Histórica», recentemente lançada, «Os acidentes em Lisboa na Astronomia-Astrologia» e outras que lhe fornecem conhecimentos que em nenhum outro lado pode encontrar. É tempo de ser culto e profundo! Pense por si, sem receio dos clichés dominantes.


 

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Quarta-feira, 16 de Janeiro de 2013
A wrong conception of truth in Bertrand Russel

Bertrand Russel wrote:

 

«1. Our theory of truth must be such as to admit of its opposite, falsehood. A good many philosophers have failed to adequately to satisfy this  condition: they have constructed theories according to which all our thinking ought to have been true, and have then had great difficulties in finding a place for falsehood. In this respect our  theory of belief must differ from our theory of acquaintance, since in the case of acquaintance it was not necessary to take account of any opositte.»

"2. It seems fairly evident clear that if there were no beliefs there could be no falsehood, and no truth either, in the sense in which truth is correlative to falsehood. If we imagine a world of mere matter, there would be no room for falsehood in such a world, and although it would contain what may be  called "facts", it would not contain any truths, in the sense in which thruths are things of the same kind of falsehoods. In fact,  truth and falsehood are properties of beliefs and statements: hence  a world of mere matter, since it would contain no beliefs or statements, would also contain no  truth or falsehood. "

"3. But  as against what we have just said it is to be observed that the true and falsehood of a belief depends upon something which lies outside the belief itself. " (Bertrand Russel, The problems of philosophy, page 70, Oxford University Press, second edition, 1998; the bold is put by be).

 

There is some confusion on Bertrand Russell on this topic. The true and false are not only properties of  the beliefs and statements. The truth is not restricted to the judgment, to the statement, to the affirmation or to negation of something. The truth is already contained, in an original or embryonary form , in intellectual intuitions or concepts that make up the statement. And truth is exterior reality of matter, too. The brighten of truth will be the judgment - definition of a concept, assertion linking two or more concepts- and the reasoning - logic and inferential articulation of two or more judgments.

 

But there is one twilight or a «night» of truth before the judgement, with some light (truth) like the stars, which consists of the essences of things or the things themselves, which are truths in themselves before any statement. For example: number two is a concept - or a Platonic archetype - automatically true, without giving way to falsity, even before building the judgement «Two added of three make five». If I say "Today there are clouds in the sky 'there are "grains" of truth in the concepts of "cloud"  "sky" and "today" considered separately- and these" grains "do not admit any falsehood in themselves - even if the statement is false, in historical context. In this case, the falsehood is the opposition between sentence-essence and real situation-existence.

 

If we identify the term truth with reality and  the term falsehood with  unreality, it is obvious that there is no third way, ie,  there are not things that are not true nor false. The principle of excluded middle is insurmountable!

 

The suspension of existence judgment is a suspension of the knowledge of the truth, but is not, in eidological plan, being outside of true-false dichotomy. In essences level, stable or quiet forms  outside of existence, by position or by abstraction, there is no falsehood: the matter is as real as antimatter; egalitarian communism bearer of individual freedoms is ideally eidetically, real, but is false in existential level, because that is impossible to put it into practice. Put another way: there are ideas that are truths in the optimal plan, and lies,  unrealities,in the existential physical and social plane,

 

 The truth suffers distinct levels of opposition:

A) In terms of ideal essence, as truth-essence or eidetic, truth is always true, although possessing contraries that coexist with it (example: the beautiful ideal is real in this plan, is not annulled by ugly ideal and vice versa). It is the realm of the unchanging, everlasting.

B) In the plane of existence or essence materialized, as existential and ontological, the  truth is in short periods, or even every moment denied, altered or otherwise falsified by his eidetic-ontological contrary (for example: the incorruptible politician cedes to pressure from lobby of money, that is, is no longer incorruptible; health gives rise to disease, etc.).

 

But Russel did not make the distinction of these two levels of truth: essence and existence. And he violated the principle of the excluded middle on saying that there are things neither true nor false. It is an usual error of analytical philosophy.

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Sexta-feira, 1 de Junho de 2012
Equívocos de Ludwig Wittgenstein no Tratactus Logico-Philosophicus

 

O Tratactus Logico-philosophicus de Ludwig Wittgenstein apresenta diversas incoerências, disfarçadas na atomização "fatiada" das teses que parecem construir uma escadaria indestrutível de pensamentos. Mas há incoerências, degraus de mármore fracturados, fissuras. Wittgenstein escreveu:

 

«1. O mundo é tudo o que é o caso.

«1.1 O mundo é a totalidade dos factos, não das coisas.»

(Ludwig Wittgenstein, Tratado Lógico-Filosófico , Investigações Filosóficas, pag. 29, Fundação Calouste Gulbenkian; o bold é posto por mim).

 

Isto está em contradição com o seguinte pensamento:

 

«2.024  A substância é o que permanece independente daquilo que é o caso». 

 

(ibid, pag.33; o bold é posto por mim).

 

Ora aquilo que é o caso é o mundo. Assim a substância permaneceria independente do mundo. De novo, isto contradiz o seguinte:

 

«2.021 Os objectos formam a substância do mundo. Por isso, não podem ser compostos.»

 

Afinal há a substância do mundo... Mas acima dizia-se que a substância estava independente do mundo, isto é, daquilo que é o caso. É uma incoerência visível.

 

 

O TEMPO É FORMA FIXA OU É CONFIGURAÇÃO INSTÁVEL DOS OBJETOS?

 

Wittgenstein identifica o termo coisas com o conceito de objectos e define o mundo como múltiplos estados de coisas. Escreve ainda:

 

«2.01  O estado de coisas é uma conexão entre objectos (coisas).

«2.012  Se posso pensar num objecto em conexão com um estado de coisas então não posso pensá-lo fora dessa possibilidade desta conexão.»

2.0251  Espaço, tempo e cor (coloração) são as formas dos objetos.

2.027    Só havendo objetos pode haver uma forma firme do mundo.

2.0271  O objecto é o firme, o subsistente; a configuração o mutável, o insubsistente.»

2.072    A configuração dos objetos forma o estado de coisas.

2.032     O modo e a maneira como os objetos estão em conexão num estado de coisas, é a estrutura do estado de coisas.

2.033    A forma é a possibilidade da estrutura.»

(Ludwig Wittgenstein, ibid, páginas 30-34; o bold é colocado por mim)

 

 

Ao dizer que o espaço é uma forma dos objetos (2.0251), Witgenstein é ambíguo: há espaço além dos objectos, que não é forma destes.

Por outro lado, ao distinguir , como Aristóteles na "Metafísica" entre a configuração (morfé) ou forma em devir, mudando a cada instante, e a forma firme, estável (o eidos, essência), Wittgenstein contradiz-se, ao menos aparentemente: admite uma forma firme do mundo ( totalidade dos estados de coisas) devida aos objectos (2.026) mas diz que a instável configuração dos objectos forma cada estado de coisas (2.0271). É como dizer que a soma de todas as instabilidades, que são cada estado de coisas, originasse o mundo estável. Mas esta estabilidade do mundo seria meramente uma abstração, a menos que Wittgenstein se desviasse para o platonismo e considerasse existirem objetos imóveis e eternos, imateriais...

 

Dizer que «o tempo é uma forma dos objectos» é equívoco neste contexto, neste «jogo de linguagem»: devia antes  dizer que o tempo é configuração, um modo absolutamente transitório de os objetos serem.

A ideia de a forma conter todas as possibilidades da configuração e da estrutura do estado de coisas é claramente hegeliana: a essência contèm em germe, em potência, a totalidade dos momentos da forma que posteriormente serão extrinsecados ou postos fora de si.

 

 

HÁ UMA REALIDADE EXTRA MUNDO MAS... «A REALIDADE TOTAL É O MUNDO»

 

Wittgenstein escreveu:

 

«2.04  A totalidade dos estados de coisas que existem é o mundo.

2.06    A existência e a não existência de estados de coisas é a realidade.

2.063  A realidade total é o mundo.»

 

É evidente a inconsistência mútua destes pensamentos.No primeiro, o mundo é definido como a totalidade dos estados de coisas que existem mas não dos que não existem. Estes últimos, tal como o mundo, incorporam-se na realidade, que é o reservatório maior que tudo engloba, o mundo e o não mundo, de acordo com o pensamento 2.06. Por último Wittgenstein contradiz-se flagrantemente ao identificar o mundo com a realidade total (2063). 

Jogo de palavras, sofística - este é um traço da filosofia analítica a que o próprio Wittgenstein não escapou. Não possui conceitos firmes, isentos de anfibologia.

 

RUSSEL TAMBÉM PENSAVA DE FORMA ILÓGICA

 

Se um dos fundadores da filosofia analítica no século XX apresenta estas incoerências, não podemos esperar que os seus herdeiros e os epígonos estejam isentos da incoerência.  Bertrand Russel, outro fundador da filosofia analítica, postulou, erroneamente, que há classes que são membros de si mesmas, como a classe dos objectos abstractos (refutei este pseudo paradoxo em artigo neste blog, de 22 de Fevereiro de 2012).

 

Os catedráticos de filosofia analítica e de outras correntes não detectaram estas falhas lógicas numa filosofia que pretende ser a primeira na lógica. É por isso que não acredito na filosofia das universidades, no saber da cátedra. Esta é uma mistura de vaidades pessoais com reprodução de pensamentos  de filósofos consagrados e alguma rara inovação, às vezes para pior (caso da classificação de "consequencialismo" aplicada à teoria de Mill). Quanto ao processo de cooptação de novos catedráticos universitários, está, desde há séculos, inquinado: sendo a grande maioria dos catedráticos de inteligência mediana ou mediano-elevada, inimiga da inteligência superior, holística, que apenas existe em um ou outro, a regra é que os que ascendem à cátedra sejam pensadores de segunda categoria, razoavelmente confusos.

 

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Quarta-feira, 28 de Março de 2012
Heidegger acusou, sem base, Kant de encobrir o «ser no mundo» do sujeito

 

«O Ser e o Tempo», essa "bíblia" da fenomenologia, escrita por Heidegger, é um livro de dupla face: nele, ideias e raciocínios brilhantes juntam-se a paralogismos e equívocos de que o grande público, e mesmos os especialistas em Heidegger, não se dão conta. Escreveu Heidegger:

 

« Antes de tudo, há que advertir que Kant usa o termo "existência" para designar a forma de ser que na presente investigação se chama "ser diante dos olhos". (...)

«O simples facto de que Kant peça uma prova da "existência das coisas fora de mim" mostra que põe o ponto de apoio do problema no sujeito, no "em mim". Consequentemente, desenvolve-se a própria prova partindo da mudança dada empíricamente em mim. »

«Pois só em mim é experimentado o tempo que suporta a prova. O tempo é quem dá o apoio para o salto demonstrativo do "fora de mim". (...)

«O que prova Kant - concedida a legitimidade da prova e da sua base - é o necessário "ser diante dos olhos juntamente" um ente mutável e um ente permanente. Mas a coordenação dos entes "diante dos olhos" nem sequer quer dizer já "o ser diante dos olhos juntamente" um sujeito e um objeto. E uma vez provado isto, continuaria encoberto o ontologicamente decisivo: a estrutura fundamental do "sujeito", do "ser aí"  como "ser no mundo". O "ser diante dos olhos juntamente" o físico e o psíquico é ôntica e ontologicamente em toda a linha distinto do fenómeno do "ser no mundo"».

(Heidegger, El Ser y el tiempo, pag. 224-225, Fondo de Cultura Económica) 

 

Contrariamente ao que Heidegger afirma, Kant não ocultou a estrutura do sujeito como "ser no mundo". Kant sustentou que o sujeito é o criador ou co-criador do mundo fenoménico, das paisagens terrestres e celestes e seus objetos materiais, e que não existe um dualismo ontológico rigoroso entre sujeito e objeto fenoménico:

 

«Esta hipótese de união entre duas substâncias, a pensante e a extensa, tem por fundamento um dualismo grosseiro e transforma estas substâncias, que são meras representações do sujeito pensante, em coisas subsistindo por si. Pode-se, pois, demolir a falsa concepção da influência física, mostrando que o fundamento da sua prova é nulo e fictício.»

«O famoso problema do que pensa e do que é extenso acabaria assim, se fizermos abstração de tudo o que é imaginário, simplesmente em saber como é possível num sujeito pensante em geral, uma intuição externa, ou seja, a intuição do espaço ( do que o preenche, a figura e o movimento). A esta questão não é possível a homem algum encontrar uma resposta e nunca se poderá preencher essa lacuna do nosso saber, mas somente indicar que se atribuem os fenómenos externos a um objeto transcendental...» (Kant, Crítica da Razão Pura, páginas 367-368, nota de rodapé, Fundação Calouste Gulbenkian; o destaque a negrito é posto por mim).

 

Como este excerto denota, Kant não considerou o sujeito como um espectador do mundo entendido como "ser diante dos olhos" (concepção realista, dualista) mas antes como um criador do mundo, um "ser no mundo" em sentido heideggeriano.

 

Também não parece que a existência da mudança - da sucessão e dos seus correlatos duração e da simultaneidade, características do tempo, segundo Kant - constituissem, para Kant, meios de prova de um mundo exterior, como sustenta Heidegger. O facto de, na concepção de Kant, o tempo ser o sentido interno e o espaço o sentido externo não faz com que o tempo seja o trampolim de prova do "mundo exterior". Este, como mundo exterior ao corpo físico - distinção que Heidegger, Russel e outros não fazem, o que prova a  inépcia destes ao estudar a gnosiologia de Kant - está dado automaticamente na intuição pura de espaço e não carece de prova. Quanto ao verdadeiro mundo exterior ao espaço e ao espírito humano em geral, é impossível de demonstrar a sua existência ainda que a razão o idealize composto de númenos (Deus, alma imortal, mundo como totalidade).

 

Heidegger nunca compreendeu integralmente Kant, tal como a generalidade dos filósofos contemporâneos. Excetuarei Hegel e Schopenhauer e algum outro. Nem Heidegger, nem Bertrand Russel, nem Witgenstein, nem os catedráticos que hoje lecionam nas universidades mais prestigiadas entenderam, a fundo, o pensamento kantiano. Nenhum destes, nem mesmo Heidegger, clarificou o duplo sentido que Kant atribui às expressões análogas "fora de nós"  e "mundo exterior":

 

1) O espaço está fora do nosso corpo mas dentro do nosso espírito, do vasto sector deste denominado sensibilidade, um «salão» imenso onde cabe a natureza visível, audível e palpável, feita de montanhas, céus, árvores, corpos de animais e humanos, isto é, fenómenos.

 

2) Os númenos ou coisas em si estão, presumivelmente, fora do nosso corpo e do nosso espírito envolvente e constituem o verdadeiro mundo exterior. ,

 

O «Ser e o Tempo» de Heidegger é, por conseguinte, um livro com erros importantes no plano da ontognosiologia, em especial da ontognosiologia de Kant, mas o estilo retórico e emaranhado de Heidegger, sem embargo da originalidade intelectual deste, subjuga o público vulgar e os académicos, que, mais ou menos acríticos,  fingem compreender os paralogismos do grande filósofo alemão do século XX. Sou, presumivelmente, um dos únicos a gritar:«O rei (Heidegger), supostamente vestido com um fato invisível (de sapiência retórica), vai nú!».

   

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Segunda-feira, 20 de Fevereiro de 2012
O pseudo paradoxo do barbeiro - (fragilidades da filosofia analítica anglo-saxónica- 1)

 

O "paradoxo do barbeiro" é uma das jóias da filosofia analítica anglo-saxónica. Eis como Blackburn o enuncia, no seu dicionário onde impera a ideologia da filosofia analítica:

 

«Há um barbeiro numa aldeia que faz a barba a todas as pessoas que não se barbeiam a si próprias e apenas a essas. Quem faz a barba ao barbeiro?  Se ele se barbeia a si próprio, então não se barbeia a si próprio, mas se não se barbeia a si próprio, então barbeia-se a si próprio. O paradoxo é de facto apenas a demonstração de que não existe tal barbeiro, ou por outras palavras, de que a condição é inconsistente.» (Simon Blackburn, Dicionário de Filosofia, pag 320, Gradiva, 2007).

 

 

 De facto, não é paradoxo nenhum. Se o barbeiro só barbeia as pessoas que não se barbeiam a si mesmas não pode, por definição, barbear-se a si mesmo, logo deixará crescer a barba: o barbéiro barbeará todos os que não fazem a barba a si mesmos sem nunca se barbear a si mesmo.  Não há paradoxo nenhum nisto. Um tal barbeiro, ao contrário do que diz Blackburn, pode existir.

Se o barbeiro se autobarbeia, rompe com a condição inicial de fazer a barba apenas aos que não se autobarbeiam e, portanto, instaura um quadro diferente. Não há nenhum paradoxo nisto, mas apenas uma mudança da condição inicial. O que espanta é ver como Bertrand Russell, Simon Blackburn e a maioria dos académicos seguidores da filosofia analítica foram ou são tão néscios que consideraram ou consideram um paradoxo aquilo que é um pseudoparadoxo...Mas é esta gente, pseudo raciocinante, que impera nos meios editoriais e universitários da filosofia hoje.

 

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Sábado, 30 de Abril de 2011
Sobre a concepção de verdade em Bertrand Russel

 

Em «Os problemas da filosofia», Bertrand Russel escreveu:

 

«1. A teoria da verdade deve ser tal que admita o seu contrário, a falsidade. Alguns filósofos, e não poucos, deixaram de satisfazer adequadamente a esta primeira condição: construiram teorias segundo as quais todo o nosso pensar deveria ser verídico, o que os pôs nas maiores dificuldades para arranjar um lugar para a falsidade. A este respeito, deve diferir a teoria da crença da teoria da intimidade, já que no caso da intimidade não é necessário tomar em conta a existência de um contrário. » 

 

«2. Evidente parece que se não houvesse crença, nada poderia haver que fosse falso, nem tão-pouco haver verdade, no sentido em que a verdade é correlativa da falsidade. Se imaginarmos um mundo só de matéria, não haverá nele lugar para o falso; e, embora se contivessem nesse mundo aquilo a que podemos chamar "factos", não haveria nele verdade alguma, no sentido da palavra "verdade" em que esta última designa coisas da mesma espécie que as falsidades. O verdadeiro e o falso são, de facto, propriedades das crenças e das asserções; e, por isso, um mundo de pura matéria, não contendo crenças nem asserções, não teria verdades nem falsidades

 

«3. Cumpre, porém, observar em contraposição ao que acabamos de dizer aí que o verdadeiro e o falso de qualquer crença depende de algo exterior à crença

 (Bertrand Russell, Os problemas da filosofia, pag 186-187,Arménio Amado, Editor Sucessor, Coimbra, 1974; o negrito é colocado )

 

Há alguma confusão em Bertrand Russell sobre este tema. O verdadeiro e o falso não são apenas propriedade das crenças e das asserções. A verdade não se restringe ao juízo, à asserção, à afirmação ou negação de algo. A verdade está já contida, de forma originária ou embrionária, nas intuições intelectuais ou conceitos que compõem o juízo. O clarear da verdade será o juízo - definição de um conceito, asserção ligando dois ou mais conceitos- ou o raciocínio - articulação lógica e inferencial de dois ou mais juízos.

 

Mas há um anoitecer ou uma noite da verdade, anterior ao juízo,  que é as essências das coisas ou as próprias coisas,que são verdades em si mesmas, intuíveis. Exemplo: o número dois é um conceito - ou um arquétipo para os platónicos - automaticamente verdadeiro, sem dar lugar a falsidade. Se digo «Hoje há nuvens no céu» já há «grãos» de verdade nos conceitos de nuvem, céu e hoje, - e esses «grãos» não admitem nenhuma falsidade em si mesmos - mesmo que a afirmação seja falsa, no contexto histórico. Neste caso, a falsidade está na oposição entre a essência-frase e a existência-referente/ situação real.

 

Se identificarmos o termo verdade com realidade e o termo falsidade com irrealidade, é óbvio que não há terceira via, isto é, não há coisas que não são verdadeiras nem falsas.

 

A suspensão do juízo de existência é uma suspensão do conhecimento da verdade, mas não é, no plano eidológico, estar fora da dicotomia verdade-falsidade. No plano das essências, formas estáveis ou imóveis desligadas da existência, por posição ou por abstracção, não há falsidade: a matéria é tão real como a anti-matéria; o comunismo igualitário e portador de liberdades individuais é idealmente, eidéticamente, real, ainda que seja falso no plano existencial, isto é, impossível de colocar em prática. Dito de outro modo: há ideias que são verdades no plano ideal e mentiras, irrealidades, no plano existencial, físico-social.

 

A  verdade sofre  níveis  distintos de oposição:

 

A) No plano da essência ideal, como verdade-essência ou eidética, é sempre verdade, apesar de possuir contrários que não a anulam mas que com ela coexistem (exemplo: o belo ideal é real nesse plano, não é anulado pelo feio ideal, e vice-versa). É o reino do imutável, perene. 

 

B) No plano da existência ou essência materializada, como verdade ontológica, existencial, é em curtos períodos, ou mesmo a cada instante negada, alterada, ou falsificada pelo seu contrário eidético-ontológico ( exemplo: o político incorruptível cede a pressões de um lobby, isto é, deixa de ser incorruptível; a saúde dá lugar à doença, etc).

 

AS SENSAÇÕES ESTÃO FORA DO BINÓMIO VERDADE-FALSIDADE, COMO SUSTENTOU RUSSELL?
A noção de verdade não é unívoca, ainda que numerosos pensadores a tenham como tal.
Russell escreveu:

«Os dados-dos-sentidos reais não são verdadeiros nem falsos. Uma mancha de cor que eu vejo tão somente existe; não pertence à espécie daquelas coisas que são verdadeiras ou que são falsas. É verdade que essa mancha existe; verdade que tem uma certa forma, certo grau de luminosidade; verdade, ainda, que está cercada de certas outras cores. A própria mancha, porèm, como todas as outras coisas que pertencem ao mundo dos sentidos, é de natureza radicalmente diversa do que é verdadeiro e do que é falso, e por isso é a rigor impróprio o dizermos dela que é verdadeira. Assim, quaisquer verdades evidentes de si que possamos obter pelos sentidos devem ser diferentes dos dados sensíveis através dos quais as alcançamos.» (Bertrand Russel, Os problemas da filosofia, página 178; o destaque a negrito é da minha autoria).

Há aqui um erro: a mancha de cor, e os dados dos sentidos (sense data) em geral, são verdadeiros na tela da psique, isto é, na sua existência. Podem ser falsos na relação com outras essências, imersas na existência exterior, não psíquica, isto é, por exemplo: pode a côr vermelha da rosa ser apenas uma impressão psíquica e não haver vermelho “lá fora” no objecto físico rosa, desprovido de cores.

Se dissermos que a mancha de cor não é verdadeira, negamos a intuição sensorial, fonte primordial da verdade.Portanto, os dados dos sentidos são verdadeiros em si mesmos, podendo ser falsos na sua relação com o todo que os transcende. Ou seja: a verdade depende do contexto (mente, mundo dos objectos físicos, etc) em que se insere. A verdade não implica necessariamente a correspondência da percepção sensorial ou do pensamento com o mundo físico exterior: pode ser interna à própria crença, identificar-se com esta, especialmente ao tratar-se de crença empírica ou sensorial. Verdade e crença coincidem praticamente ao nível sensorial.

Há, portanto, três fontes de verdade:
1) Os orgãos dos sentidos.
2) A razão (incluindo a linguagem, o discurso).
3) O mundo exterior –independente, na concepção realista, do sujeito percipiente.A verdade como aletheia – desocultação - é simultaneamente dada pela coerência (empírico-racional) e pela correspondência entre a percepção e o pensamento, por um lado, e o (suposto) mundo exterior por outro.

Russell escreveu:

«Assim, embora a verdade e a falsidade sejam propriedades das nossas crenças, são não obstante propriedades extrínsecas, em um certo sentido; porque a condição de verdade da crença é algo que não envolve quaisquer crenças, ou (em geral) qualquer espírito, mas tão somente os objectos da crença. Um espírito que crê, crê veridicamente quando há um todo complexo correspondente, todo que não envolve o dito espírito mas unicamente os seus objectos. Esta correspondência garante a verdade; a sua ausência, pelo contrário, redunda em falsidade.Deste modo explicamos simultaneamente que as crenças: (a) dependam dos espíritos para a sua existência; (b) não dependam dos espíritos para a sua verdade.» (…)
«Assim uma crença é verdadeira quando há um facto correspondente à crença; e falsa, pelo contrário, quando não há facto correspondente.»«Comprovam-se por aí que os espíritos não criam a verdade ou a falsidade. Eles criam as crenças; porém, criadas as crenças, não está na alçada do espírito o fazê-las falsas ou verdadeiras, excepto no caso especial em que se referem a coisas porvindouras que estão no poder de realização da pessoa que nelas crê, como seja por exemplo, o fazer uma viagem. O que dá verdade à crença é sempre um facto, facto que não envolve de maneira alguma (excepto em casos especiais) o espírito da pessoa que tem a crença.»(Bertrand Russel, Os problemas da filosofia, página 198-199).
O que é um facto? É um dado consistente dos sentidos, adicionado ou não de uma interpretação teórica, justificado ou não racionalmente. Uma árvore diante de mim é um facto, mas uma ideia de árvore é um conceito, uma idealização do facto sensorial-corporal que é a árvore. O facto científico já não é um facto puro mas um facto-conceito, um facto teorizado. Neste texto, Russell distingue crença de facto mas, na realidade, o facto nem sequer é crença ou é uma crença sensorial ou racional-sensorial de tal forma sólida que parece destituído do carácter falível de qualquer crença.
A verdade é sempre a estrutura e a consistência existencial das coisas ou das ideias e teorias. Verdade significa existência: no plano puramente subjectivo ou no plano objectivo e físico. Uma verdade no plano subjectivo pode ser mentira no plano objectivo porque as leis de correspondência interior-psíquico / exterior-físico não funcionam neste ou naquele caso. Há assim a verdade-conceito e a verdade-imagem, subjectivas, a verdade-facto, independentemente de haver humanidade. ou verdade-percepção empírica sólida, objectiva. Assim, a verdade objectiva é dupla, reforçada: supõe, ou não, a existência de uma verdade subjectiva (ideia, teoria) e de uma verdade objectiva (que engloba o objecto físico ou facto exterior e os fios de correspondência com a verdade subjectiva).

Quando dizemos que uma coisa não é verdadeira nem falsa cometemos um paralogismo: não existe nada fora do valor verdadeiro/ falso; uma coisa só «não é» verdadeira nem falsa quando a tratamos de um ponto de vista sectorial, isto é, quando a circunscrevemos ao domínio em que é possível dizer, no imediato, se é verdade ou falsidade. Assim o fez o positivismo lógico ao postular que a metafísica, em particular juízos como “Deus existe e é o criador do universo e da vida” e “a reencarnação é um fenómeno metafísico generalizado e obedece à lei do carma”, não é verdadeira nem falsa mas “sem sentido”. Porém, de facto, a metafísica tem de ser verdadeira ou não verdadeira (falsa): o positivismo lógico não fez mais do que adiar a decisão, pô-la entre paréntesis, ao restringir o campo da verdade-falsidade à experiência possível.

Também Aristóteles ao garantir que a verdade se encontra no juízo e não no conceito, erra parcialmente. Aquilo que está “fora da dialéctica verdade-falsidade” é, para Aristóteles, as essências (eidos) ou formas comuns (exemplo: cavalo, nuvem, homem). Mas estas são, em si mesmas, a nosso ver, verdade –e segundo Aristóteles, são, sem ter como contrário a falsidade. Mera aparência.

 

As essências encontrar-se-iam, supostamente, fora do ringue onde se defrontam a verdade e a falsidade num lugar onde, aparentemente, não podem ser contestadas pela falsidade. De facto podem, porque é possível, por exemplo, imaginar a essência homem com um corpo exterior de homem e, por dentro, vasos sanguíneos e tecidos não de carne e ossos mas de palha e metal, e imaginar a essência nuvem como nuvem na aparência exterior e sala de um restaurante no interior. Portanto, até o conceito é lugar de verdade.

Verdade é realidade existencial subjectiva (irrealidade) ou objectiva. Devem ser, pois, distinguidas as duas faces da moeda da verdade: a interna e a externa, tendo esta , em princípio, um poder de sobreposição em relação à outra.

Se Russell diz que a côr verde não é verdadeira nem falsa por ser um dado dos sentidos, erra: para garantir a verdade não é necessária justificação racional, basta o testemunho indelével dos sentidos. É óbvio que, no caso das ciências, que se adentram na «gruta» metafísica do universo, das espécies biológicas, da composição invisível da matéria, etc, o testemunho dos sentidos é insuficiente para determinar a verdade e a construção racional-imaginária é indispensável. Temos, pois, a verdade a brotar de duas fontes: os sentidos e a razão-imaginação, conexionados como as duas pontas de um compasso por um ponto referencial que designamos de mundo exterior.

É possível extrinsecar a verdade da crença: nem toda a verdade, do ponto de vista humano, transubjectivo, é crença ( união do objectivo exterior ou do objectivo interior/ideal com o subjectivo) – por exemplo, não é crença a verdade do que foi o planeta Terra há 5 milhões de anos, verdade em si mesma, sem observador humano - mas numerosas crenças não são verdades objectivas.

A verdade objectiva, absolutamente independente da humanidade e dos sujeitos percipientes individuais, isto é, a verdade como não crença, é, pois, possível. Quando se descreve a Terra, ou os números como arquétipos em si, antes do aparecimento do homem está-se, talvez, a pressupor, inconscientemente, uma mente pré-humana, cósmica, no acto de apreender a paisagem da Terra com dinossauros ou glaciares muito extensos e sem seres humanos. Mas é legítimo sustentar que a verdade não pressupõe sempre a relação do pólo objectivo, exterior, físico e vital, com subjectividades ou com uma transubjectividade oculta.

 

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Sábado, 3 de Julho de 2010
Bertrand Russel: uma incompleta noção de «universal» em filosofia

Bertrand Russel possuía uma noção incompleta do que em filosofia se chama «universal» - ou pelo menos, a sua escrita exprimiu essa incompletude. A propósito dos universais, Russel escreveu:

 

«Acharemos que nos será conveniente o só falarmos de coisas existentes quando essas coisas estão no tempo, isto é, quando se pode indicar um tempo em que existem (não excluindo a possibilidade de elas existirem em todos os tempos). Assim, os pensamentos e os sentimentos, os espíritos e os objectos físicos existem. Os universais, porém, não existem nesse mesmo sentido; diremos que subsistem ou têm ser, onde «ser» se opõe a «existência» como fora do tempo ou intemporal. O mundo dos universais, por consequência, poderá ser definido como o mundo do ser. O mundo do ser é inalterável, rígido, exacto; é o deleitoso para o matemático, o lógico, o metafísico construtor de sistemas, para os que mais que o amor à vida têm o amor à perfeição. O mundo do existir é fugidio e vago, sem limites determinados, sem plano ou disposição que se veja a claro...»(Bertrand Russel, Os problemas da filosofia, Arménio Amado-editor, Coimbra, 1974, pag 1599.)

 

Russel coloca os universais como arquétipos imóveis e eternos. Mas escapa-lhe a dimensão do universal, que não é ser eterno, mas ser uma essência geral, que engloba numerosos casos particulares. Um microorganismo, digamos de modelo A, pode ter apenas dez segundos de vida e não deixa de ser um universal porque se traduz em biliões de exemplares vivos que duram dez segundos cada um. É a lei da multiplicação de cópias que faz uma coisa ou conceito ser universal e não a sua eternidade. Portanto, Russel não contempla o conceito de universal instântaneo ou efémero que deve integrar a noção de universal. Há universais intemporais e universais temporais.

 

Ademais, é preciso ver que em Platão as ideias só são universais de forma derivada: em si mesma, cada ideia é singular e distinta de tudo o resto. Mas como um iman atrai a limalha de ferro, a ideia faz com que a matéria e a substância intermédia se estruturem como cópias do modelo ideal. É o demiurgo ou Deus artesão que imprime na matéria eterna, na chorá ou espaço informe, as cópias do arquétipo de Estrela ou Planeta  ou na matéria quaternária (fogo, ar, terra, água) as cópias dos arquétipos de Árvore, Cavalo, Rio, Montanha, Vale.

 

 

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Sexta-feira, 23 de Maio de 2008
Filosofia viva contra Filósofos mortos, uma falsa questão de Desidério Murcho

Em artigo no jornal português "Público", escreveu Desidério Murcho, este semifilósofo  do regime capitalista neoliberal, construído, em parte, pelos favores dos media:

 

«Confunde-se muitas vezes a filosofia com discursos pretensamente inspiradores. Transfigura-se a filosofia e não se trata de discutir ideias livre e cuidadosamente, mas antes de usar a autoridade ilusória dos filósofos mortos para alimentar as aspirações mais palermas. Descobriu-se que não estamos no centro do universo e que o Deus bíblico não fez o mundo em sete dias? Ah, mas a marca de Deus está nas nossas aspirações humanas indeléveis, de suprema importância lógica. Aceitamos que Deus morreu? Ah, mas substitui-se isso pelo Ser e desatamos a perorar contra a lógica e a racionalidade, as culpadas de todos os males da humanidade.» ( Desidério Murcho, Filosofia e aspiradores, Público de 20 de Maio de 2008).

 

Duas falácias são empregues por Murcho na sua argumentação: 1. A de que é irracional admitir a existência de Deus ou Deuses; 2. A de que a filosofia deve derrubar as teorias dos filósofos mortos porque estas abusam da autoridade.

 

NÃO É IRRACIONAL ADMITIR A EXISTÊNCIA DE DEUSES, AO CONTRÁRIO DO QUE MURCHO SUSTENTA

 

O obscurantismo não é apenas o da Inquisição medieval ou de cultos religiosos sádicos e punitivos em alto grau: assume, numa das suas vertentes modernas, o carácter de ateísmo totalitário. Vimo-lo historicamente em regimes marxistas-leninistas, como a Albânia, em que as igrejas foram fechadas e transformadas em armazéns. Na guerra civil de Espanha de 1936-1939, os meus "camaradas" anarquistas cometeram, por força das circunstâncias é certo, actos de totalitarismo anti-religioso tradicional como a violação de freiras, queima de templos e exumação de cadáveres, etc.

É certo que um filósofo pode e deve proclamar-se ateu, se o entender. Mas é apenas uma visão metafísica particular. O problema de Deus ou dos deuses permanecerá sempre em aberto como um espaço residual para a reflexão filosófica. Na verdade, quem pode demonstrar que é palermice, irrealidade, a existência de Deus? O ateísmo de Desidério é uma petição de princípio (falácia): Deus não existe porque não se vê ou não se manifesta físicamente. Mas o mesmo sucede com certos tipos de átomos, ou com as partículas sub-atómicas, nas quais Desidério, supostamente crê, por força do condicionamento mental a que se submeteu.

 

É possível demonstrar a irracionalidade, a assistematicidade da divisão que Desidério Murcho fez, com os seus amigos (Aires Almeida, Pedro Madeira, Célia Teixeira, Paula Mateus, etc) das correntes sobre livre-arbítrio e determinismo no manual de 10º ano de Filosofia "A arte de pensar", imitando Simon Blackburn : determinismo radical, determinismo moderado ou compatibilismo, indeterminismo, libertarianismo. Já em artigo deste blog mostramos o magma de confusão do pensamento destes autores. Onde está aqui na "Arte de Pensar" a racionalidade que Desidério invoca? Não existe, ou existe mutilada. Um filósofo ateu pode ser estúpido e confuso, em certa medida; e um filósofo agnóstico ou mesmo um filósofo crente nos deuses pode ser inteligente superiormente, racional, luminoso. A crença ou não em Deus não é a pedra de toque da verdadeira racionalidade filosófica.

Não é possível provar a inexistência de Deus ou deuses. Aliás, Aristóteles e os cabalistas foram tão inteligentes na teorização de um Deus além de tudo, que o conceberam como pensamento puro, sem qualquer interferência no mundo material em que vivemos.

 

A FALSA QUESTÃO DOS FILÓSOFOS VIVOS CONTRA OS FILÓSOFOS MORTOS

 

A outra falácia de Desidério é dizer que combate a autoridade ilusória dos filósofos mortos, como se isso fosse a verdadeira filosofia. Mas Montesquieu, Rousseau ou Alexis de Tocqueville, teóricos da democracia liberal e da soberania popular, estão mortos. É isso motivo para condenar este regime?  E Bertrand Russell, criador do atomismo lógico, da lógica proposicional que Desidério faz tanta questão de promover como a pedra de toque da verdade - lógica que tem vários erros formais, diga-se - está morto. Desidério defende portanto filósofos mortos - Bertrand Russel, McTagart, etc - contra outros filósofos mortos - Hegel, Platão, Heidegger, etc- mas esconde o facto.

 

É uma falsa questão opor os filósofos vivos aos filósofos mortos, porque as ideias filosóficas são perenes, reactualizáveis em qualquer época. Lembra os vendedores de aspiradores que proclamam que o modelo mais recente é melhor do que o modelo de há 2 anos ou de há 5 anos. No fundo, Desidério Murcho é um vendedor de "aspiradores teóricos": a sua teoria da preponderância da lógica interproposicional é uma aspiração metafísica, uma religião logicizada. Proclamando subversiva a filosofia, Desidério muito pouco tem de subversivo: o seu conservadorismo lógico, o seu desesperado agarrar-se à bíblia russel-fregiana da lógica, é expressão da insegurança de quem pensa pouco e, muitas vezes, mal, na galáxia da filosofia.

 

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