Quinta-feira, 4 de Abril de 2019
Uri Gordon e a história do movimento anarquista

 

Uri Gordon, nascido em 30 de Agosto de 1976, teórico anarquista israelita, professor na universidade de Durham, descreve assim o percurso do anarquismo nos séculos XIX, XX e XXI:

 

«E de facto, os períodos nos quais o movimento anarquista esteve maior e mais activo foram aqueles de escalada da luta social. Os anos entre 1848 e 1914 ferveram com actividade revolucionária, e deram à luta anarquista o seu dinamismo e senso de urgência. Porém, após duas Guerras Mundiais, aconteceu de tudo com o anarquismo menos desaparecer da cena. A eliminação física da maioria do movimento anarquista europeu pelas ditaduras bolchevique e fascista, e a repressão e deportação durante a Ameaça Vermelha norte-americana entre 1918 e 1921, arruinaram o movimento internacional. Alguns orgãos e publicações anarquistas europeias foram relançadas depois de 1945,  e em países latino-americanos como Argentina e Uruguai onde, a despeito de ditaduras e dos desaparecimentos, a cultura e tradição anarquistas conheceram menos rupturas, o início dos anos 1950 foi o pico dos movimentos trabalhistas e estudantis anarquistas. Mas acima de tudo, é justo dizer que a presença anarquista na paisagem política depois da Segunda Guerra Mundial foi apenas uma pálida sombra do que tinha sido 50 anos antes. O boom económico pós-guerra na Europa ocidental e nos Estados Unidos viu o Estado de bem-estar social domesticar boa parte da luta social, enquanto a Guerra Fria colocou o capitalismo ocidental contra o comunismo oriental num sistema internacional bipolar, criando um imaginário político no qual a opção anarquista "nem Wahington nem Moscovo" se tornou invisível. No Sul Global, as lutas anticoloniais foram, em grande parte, nacionalistas ou marxistas, embora tenha havido claras influencias anarquistas em líderes como Mohandas Gandhi e Julius Nyerere (Marshall 1992: 422-7, Mbah and Igariwey 2001, Adams 2002b).»

 

«Nos anos 1960, entretanto, a linha que teceria a forma da nova onda anarquista começou a ficar mais grossa. A partir de 1964, encontros de jovens anarquistas foram realizados na Europa, com estudantes franceses e italianos, o Provos holandês e exilados da Espanha. Logo depois, novos movimentos sociais começaram independentemente a promover valores e táticas anarquistas, especialmente na França com o movimento estudantil e operário de Maio de 1968, e nos Estados Unidos com o movimento contra a guerra do Vietname e a contracultura.» (...)

 

«Os anos 1980 viram um aumento na diversificação dos movimentos sociais pelos direitos gays tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, com organizações lésbicas e bissexuais amarrando as pautas feministas e gays, e reclamando o seu lugar num campo até àquele momento predominantemente masculino (Taylor e Whittier 1992, Martel 1999, Armstrong 2002). (...) Estas dinâmicas foram levadas adiante sob o guarda-chuva da Nação Queer, fundada no Verão de 1990, que enfatizava a diversidade e a inclusão de todas as minorias sexuais. Em meados dos anos 1990, mulheres e homens negros queer fundaram as suas próprias organizações e os movimentos radicais desenvolveram uma crítica holística ao racismo, ao heterossexismo, ao patriarcado e à classe.» (...)

 

«O anarquismo contemporâneo está assim enraízado nessas convergências das lutas radicais do feminismo, ambientalismo, antirracismo e queer, que finalmente se fundiram no final dos anos 90 com a onda de protestos contra as políticas e instituições da globalização neoliberal. Isso levou o anarquismo, na sua reaparição, a ligar-se a um discurso mais generalizado de resistência, gravitando em torno do conceito de dominação. A palavra dominação ocupa hoje um lugar central na linguagem política anarquista, designando o paradigma que governa tanto as relações políticas micro quanto macro».

 

(Uri Gordon, Anarquia Viva! Política Antiautoritária, Da Prática para a Teoria Vol 1/2, Respigações Ali Ferri Corti, pp. 26-27; o destaque a bold é posto por nós).

 

Há, porventura, uma diferença essencial entre o anarquismo proletário da Catalunha e Aragão, vivo na guerra civil de Espanha em 1936-1937, que agia no sentido do povo em armas e da tomada do poder de Estado à burguesia, e o anarquismo interclassista de hoje que engloba operários, estudantes, minorias sexuais, okupas de casas e fábricas vazias, e que me parece, em alguma medida,  compatível com o capitalismo social-democrata, constituindo uma bolsa de oposição no seio deste.

 

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Domingo, 25 de Março de 2018
2 a 4 de Abril de 2018: aspectos astronómicos similares ao da morte de Francisco Sá Carneiro

De 2 a 4 de Abril de 2018, o Nodo Norte da Lua estará em 13º 10´/ 12º 42´do signo de Leão e Marte estará em 8º-9º de Capricórnio. Isto tem alguma semelhança astronómica com o dia do assassinato do primeiro-ministro Francisco Sá Carneiro, da sua companheira Snu Abecassis e do ministro da Defesa Adelino Amaro da Costa, 4 de Dezembro de 1980, em atentado aéreo.

 

Em 4 de Dezembro de 1980, com Nodo Norte da Lua em 13º 4´/ 12º 53´ do signo de Leão e Marte em 9º 5´/ 9º 51´do signo de Capricórnio, uma bomba, colocada por Sinan Lee Rodrigues horas antes, faz explodir no ar um  pequeno avião Cessna que descolara do aeroporto da Portela de Sacavém e cai sobre uma casa em Camarate, morrendo os 7 ocupantes, entre eles Sá Carneiro e Amaro da Costa.

 

Em 20 de Fevereiro de 2005, com Marte em 9º 23´/ 10º 5´ de Capricórnio, o PS de José Sócrates vence pela primeira vez com maioria absoluta de deputados, 121 em um total de 230, as eleições legislativas em Portugal, reduzindo o PSD do primeiro ministro Santana Lopes de 105 para 75 deputados e o CDS/PP de 14 para 12 deputados.

 

Que irá acontecer ao PSD de 2 a 4 de Abril de 2018? Um acidente vitimando um dos seus maiores dirigentes? A eclosão de um escândalo ferindo a imagem pública do partido? Ou haverá apenas uma queda de avião sem relação com figuras partidárias portuguesas?

 

Ou será um atentado contra o primeiro-ministro Rajoy ou o rei de Espanha?

 

Em 31 de Maio de 1906, com Nodo Norte da Lua em 13º 58´ do signo de Leão, o anarquista Mateo Morral arremessa, desde a varanda de uma pensão em que se hospeda, uma bomba de fabricação caseira oculta num ramo de flores contra a carruagem em que viajam o rei Alfonso XIII e Victoria Eugenia, no dia da sua boda, morrendo 28 pessoas, na calle Mayor de Madrid, escapando o casal real.

 

Aguardemos este início de Abril de 2018.

 

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Segunda-feira, 27 de Março de 2017
Teste de filosofia do 10º ano turma C (17 de Março de 2017)

 

 

Sem perguntas de escolha múltipla que, em muitos casos, unilateralizam a percepção filosófica, eis um teste de filosofia concebido no Baixo Alentejo, Portugal, região de planícies pensantes.

 

Agrupamento de Escolas nº1 de Beja

Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja

TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA C

17 de Março de 2017. Professor: Francisco Queiroz

I

“Os totalitarismos de direita e o totalitarismo de esquerda rejeitam o Estado de direito democrático, invocando diferentes argumentos. O realismo crítico é uma modalidade dentro do racionalismo. O contratualismo de Thomas Hobbes é diferente do contratualismo de John Locke.”

                                                                                                         

1)Explique, concretamente este texto.

 

2)Construa um diálogo sobre a propriedade das empresas e o tipo de Estado ideal e a liberdade de aborto voluntário e de casamento de gays e lésbicas, entre um anarquista, um socialista democrático e um conservador.

 

3)Relacione, justificando:

A) Alegoria da caverna de Platão, metafísica e estética

B) Multiculturalismo e imperativo categórico em Kant.

C) As quatro causas aristotélicas de um ente e a teleologia no movimento de estrelas e planetas no cosmos de Aristóteles.

 

CORREÇÃO DO TESTE COM COTAÇÃO MÁXIMA DE 20 VALORES

 

1)  O totalitarismo, de direita (caso da ditaduras de Hitler e Mussolini, assentes no grande patronato e no partido) ou de esquerda (ditadura de Estaline ou de Kim Il Sung na Coreia do Norte, assentes na burocracia colectivista) é todo o regime que suprime a autogestão e a democracia parlamentar, regime de liberdade de imprensa, greve, religião, associação política e sindical e impõe uma ditadura brutal de partido único, baseado na ideia de que «o Estado é tudo, o indivíduo é nada». Detenção arbitrária e por longos períodos de cidadãos sem culpa formada, assassínios e torturas cometidos pelas polícias políticas são o pão nosso de cada dia dos regimes totalitários, que podem ser teocráticos ou não (VALE TRÊS VALORES). Realismo crítico é a teoria segundo a qual a matéria é real e exterior às nossas mentes mas estas não espelham como ela é. O realismo crítico de Descartes é a teoria qiue sustenta que há um mundo real de matéria exterior às mentes humanas composto de uma matéria indeterminada, sem peso nem dureza/moleza, apenas formado de figuras geométricas, movimento, números (qualidades primárias, objetivas), sendo subjectivas, isto é exclusivamente mentais, as cores, os cheiros, os sabores, as sensações do tacto, o calor e frio (qualidades secundárias, subjectivas). O realismo crítico na medida em que  despreza parte das intuições empíricas (cores, sons, etc.) a favor da razão abstracta é uma corrente dentro do racionalismo, doutrina que afirma que a razão é o principal orgão de conhecimento dissipando ou subalternizando as impressões sensoriais (VALE TRÊS VALORES). Contratualismo é a filosofia geral que postula que o Estado se constitui mediante um contrato entre diferentes classes e segmentos sociais de uma nação. O contratualismo de Thomas Hobbes que considera que «o homem é o lobo do homem» no estado de natureza, estipula que deve haver um poder arbitral, o do rei, e por isso uma monarquia absolutista antiparlamentar. O contratualismo de John Locke estabelece que deve haver um sistema parlamentar baseado em eleições livres pluripartidárias e liberdade de imprensa e associação e que o governo deve sair do parlamento, isto é, assentar na «soberania popular». (VALE DOIS VALORES).

 

2) Anarquista: «A propriedade das fábricas e de todas as empresas deve ser dos trabalhadores. Instituímos a autogestão, isto é, a assembleia geral de todos os operários, engenheiros e contabilistas toma decisões sobre salários, investimentos, vendas, etc. O patrão desaparece e desaparece o Estado de democracia parlamentar que não é mais que ditadura disfarçada dos capitalistas. Defendo o casamento livre de gays e lésbicas e o direito a abortar livremente para as mulheres».

 

Socialista democrático/ social-democrata: «A propriedade da grande maioria das empresas deve ser privada, isto é, estar na mão dos patrões que, em certos casos, devem aceitar a cogestão. Mas há empresas de sectores fundamentais - siderurgia, electricidade, televisão, etc - que devem estar na mão do Estado democrático. Este deve impor impostos progressivos aos capitalistas de modo a ter serviço nacional de saúde e escolaridade pública gratuita até ao final do curso universitário. Defendo a democracia parlamentar e o casamento de gays e lésbicas e a liberdade de aborto sem punição».

 

 Conservador: «A propriedade das empresas deve ser privada pois os empresários são os criadores de emprego os motores primeiros da economia. Os subsídios de desemprego e o rendimento social de inserção deviam acabar ou ser reduzidos para estimular o mercado de trabalho. Defendo as privatizações, a democracia parlamentar, a liberdade de imprensa. Mas a democracia não deve permitir o aborto livre, o casamento de gays e lésbicas, a eutanásia: deve ser guiada por bons princípios religiosos, cristãos.» (VALE QUATRO VALORES).

 

3-A) A alegoria da caverna, criada por Platão para explicar a dualidade do conhecimento humano, estabelece que havia um grupo de prisioneiros presos desde a nascença no interior de uma caverna que só podiam ver sombras de pessoas e objectos projectadas no fundo da parede da caverna e ignoravam a existência do mundo exterior (doxa ou opinião, conhecimento das aparências). Um dia, um dos presos liberta-se das correntes e ascende o exterior da caverna e fica deslumbrado ao ver os prados verdes, o céu azul, as flores multicolores, etc. Volta à caverna e conta aos companheiros presos o que viu mas estes não acreditam e ameaçam-no. Este mundo exterior simboliza a Metafísica que é o reino, real ou imaginário, de entidades invisíveis, incognoscíveis ou sobrenaturais como, por exemplo, deuses, demónios, almas humanas no «além», paraíso, infernos, buracos negros ou singularidades onde o espaço-tempo desaparece, etc. A beleza da paisagem exterior é, subjectivamente, um sentimento estético, sendo estética a ciência do belo e do feio, do sublime e do horrível (VALE TRÊS VALORES).

 

3.B) Multiculturalismo é a filosofia que sustenta a absoluta igualdade ou equidade das diferentes etnias religiosas, raciais, culturais, no seio de uma mesma sociedade. Por exemplo, os chineses, os árabes, os negros africanos a viver em Portugal devem poder realizar livremente as suas festas tradicionais, ter direitos e deveres idênticos aos dos portugueses autóctones, e poder ascender a qualquer cargo político, ir de burka para a escola (no caso de alunas islâmicas), etc. Ora o imperativo categórico é a verdadeira lei moral para Kant baseada na equidade: «age como se quisesses que a tua ação fosse lei universal da natureza». (VALE DOIS VALORES).

 

3-C) As quatro causas de um ente segundo Aristóteles são: causa formal, a forma, que coincide con o to tí essencial (no caso da estátua: a forma); causa material, ou matéria de que é feita que, de forma imperfeita, corresponde ao tó on ou existência (no caso da estátua, o mármore); causa eficiente, o agente que gerou esse ente (no caso da estátua, o escultor); causa final, a finalidade desse ente, para que serve (no caso da estátua, a ornamentação de um jardim ou de uma praça, o relembrar de uma personagem).No cosmos de Aristóteles há dois mundos, o mundo sublunar, composto de quatro esferas concêntricas, a Terra (imóvel no centro) e as esferas de água,ar e fogo, no qual o movimento dos corpos não é circular e é teleológico, obedece a finalidades inteligentes, isto é, os corpos desejam voltar à origem do seu constituinte principal (exemplo: a pedra largada no ar cai porque o seu télos, finalidade, é voltar à «mãe», a Terra); o mundo celeste, composto de 54 esferas de cristal incorruptíveis com astros incrustados, 7 delas de planetas (Lua, Mercúrio, etc) e 47 de estrelas, que giram circularmente de modo teleológico, finalista,  já que estrelas e planetas, seres inteligentes, desejam alcançar, fora do cosmos, Deus, o pensamento puro, que se pensa a si mesmo e não se importa com o cosmos. Deus não é a causa formal (o modelo) do cosmos nem a causa eficiente (o construtor) do cosmos, mas apenas a causa final, o télos, do movimento dos astros inteligentes e das respectivas esferas. Ele nada faz mas suscita e atrai o movimento das estrelas.  Das quatro causas a que melhor se relaciona com a teleologia dos movimentos celestes é a causa final.(VALE TRÊS VALORES). 

 

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Sábado, 19 de Março de 2016
Teste de Filosofia do 10º ano, turma A (Março de 2016)

 

Eis um teste de filosofia fora do estereótipo dos testes que os autores dos manuais escolares da Porto Editora, Leya, Santillana, Areal Editores, etc, divulgam. E sem questões de escolha múltipla que, frequentemente, são incorrectamente concebidas por quem não domína o método dialético e desliza para a horizontalidade da filosofia analítica vulgar.

 

 

Agrupamento de Escolas nº1 de Beja

Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja

TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA A

3 de Março de 2016. Professor: Francisco Queiroz.

 I

  “A lei do salto de qualidade está presente na passagem da percepção empírica ao respectivo conceito empírico. O mítico Adão Kadmon possui na essência a luta entre Yang e Yin. O totaliratismo, de direita ou de esquerda, parece coadunar-se com a moral utilitarista de Stuart Mill, num certo aspeto, e com o imperativo categórico de Kant, sob outro aspeto.”

 

1) Explique, concretamente este texto.

 

2)Escolha e caracterize (qualidade, número, cor, planeta) cada uma de cinco esferas da árvore dos Sefirós e distribua-as segundo a lei da contradição principal, enunciando esta.

 

3) Construa um diálogo sobre a propriedade e a gestão das empresas e sobre a democracia parlamentar entre um anarquista, um comunista leninista, um socialista democrático, um liberal, um conservador e um fascista.

 

4) Relacione, justificando:

A) Temura, Gematria e Metafísica.

B) Realismo natural realismo crítico e idealismo.

C)  Pragmatismo e cepticismo.

 

CORREÇÃO DO TESTE COTADO PARA 20 VALORES

 

1) A lei do salto qualitativo postula que a acumulação lenta e gradual em quantidade de um dado aspecto de um fenómeno leva a um salto brusco ou nítido de qualidade nesse fenómeno. Acumulando percepções empíricas similares (ver um cavalo baio, ver um cavalo branco, ver um cavalo negro) chega-se a um salto qualitativo que é a formação da ideia ou conceito empírico de cavalo no intelecto  (VALE DOIS VALORES). O Adão Kadmon, mítico antepassado da humanidade, era andrógino, a sua metade direita era masculina e a metade esquerda feminina, por isso a sua essência é uma  luta entre Yang (fogo, luz, expansão, masculino, alto, crescimento) e Yin (água, escuridão, contração, feminino, baixo, diminuição)  (VALE DOIS VALORES). O totalitarismo, de direita (caso da ditaduras de Hitler e Mussolini) ou de esquerda (ditadura de Estaline ou de Kim Il Sung na Coreia do Norte) é todo o regime que suprime a autogestão e a democracia parlamentar, regime de liberdade de imprensa, greve, religião, associação política e sindical e impõe uma ditadura brutal de partido único, e não se coaduna com a filosofia da Stuart Mill porque este defendia que se deve agir visando proporcionar a felicidade à maioria das pessoas e a democracia é um regime de maiorias, em princípio, ao passo que o totalitarismo favorece a felicidade da elite ditatorial, uma minoria opressora da maioria. Também não se coaduna com o imperativo categórico de Kant porque este diz «Age de modo a considerares cada pessoa como um fim em si e não um meio» e o totalitarismo não respeita a individualidade de cada  um, não deixa falar e votar livremente(VALE TRÊS VALORES).

 

2) A lei da contradição principal diz que um sistema de múltiplas contradições pode ser reduzido a uma só, organizando-as em dois blocos, podendo haver uma ou outra contradição na zona neutra. Ora ao contemplarmos a árvore das 10 sefirós da Cabala podemos agrupar duas esferas do pilar direito - Chesed (Misericórdia, Júpiter, cor azul e número 4) e Netzac ( Vitória-Emoção, Vénus, cor verde e número 7) num bloco oposto a duas esferas do pilar esquerdo- Gueburah (Justiça, Marte, cor vermelha, número 5) e Hod (Intelecto, Mercúrio, cor laranja e número 8), ficando Thiphetet (Sol) na zona neutra, fora de ambos os blocos. (VALE TRÊS VALORES).

 

3) Anarquista: «A propriedade das fábricas e de todas as empresas deve ser dos trabalhadores. Instituímos a autogestão, isto é, a assembleia geral de todos os operários, engenheiros e contabilistas toma decisões sobre salários, investimentos, vendas, etc. O patrão desaparece e desaparece o Estado de democracia parlamentar que não é mais que ditadura disfarçada dos capitalistas.»

Comunista: «A propriedade de todas ou quase todas as fábricas deve ser do Estado, dirigido por um partido marxista-leninista, que impedirá os patrões de extorquirem a mais valia à classe operária. A democracia burguesa que actualmente apoiamos, concorrendo às eleições e usando as liberdades, deve ser substituída pela ditadura do proletariado onde não há eleições livres nem imprensa livre como no capitalismo liberal».

 

Socialista democrático/ social-democrata: «A propriedade da grande maioria das empresas deve ser privada, isto é, estar na mão dos patrões que, em certos casos, devem aceitar a cogestão. Mas há empresas de sectores fundamentais - siderurgia, electricidade, televisão, etc - que devem estar na mão do Estado democrático. Este deve impor impostos progressivos aos capitalistas de modo a ter serviço nacional de saúde e escolaridade pública gratuita até ao final do curso universitário. Defendo a democracia parlamentar».

 

Liberal: «A propriedade das empresas deve ser privada pois os empresários são os criadores de emprego os motores primeiros da economia. Os subsídios de desemprego e o rendimento social de inserção deviam acabar ou ser reduzidos para estimular o mercado de trabalho. Defendo as privatizações, democracia parlamentar, a liberdade de imprensa, o capitalismo puro e duro.»

 

Conservador: «A propriedade das empresas deve ser privada pois os empresários são os criadores de emprego os motores primeiros da economia. Os subsídios de desemprego e o rendimento social de inserção deviam acabar ou ser reduzidos para estimular o mercado de trabalho. Defendo as privatizações, a democracia parlamentar, a liberdade de imprensa. Mas a democracia não deve permitir o aborto livre, o casamento de gays e lésbicas, a eutanásia: deve ser guiada por bons princípios religiosos, cristãos.»

 

Fascista: «As empresas devem ser de patrões nacionais e do Estado fascista e corporativo que, através da polícia política e da censura à imprensa impedirá a luta de classes, o sindicalismo livre, a imoralidade sexual. Não deve haver democracia parlamentar mas ditadura nacionalista que expulse a generalidade dos imigrantes e tenha por princípios «Deus, pátria, família» como princípios fundamentais». (VALE QUATRO VALORES).

 

4-A) A temura é a disciplina ou método da Kaballah (ensinamento secreto de itelectuais judeus) que estabelece correspondências de ideias entre palavras diferentes alterando a posição das letras e por vezes substituindo uma ou outra dessas letras ou abolindo-a. Exemplo: ROMA equivale a AMOR; BEJA equivale a IAVE porque se transforma em JABE e depois em IABE. A gematria é a disciplina da Kaballah que estabelece a correspondência entre cada letra e um número (exemplo: A=1, B=2, C=3, D=4, E=5, F=6, G=7, H=8, I,J,Y=9, K=10, L=20, M=30, N, ~ =40) de modo a obter o número que traduz a essência de cada palavra. BEJA (B=2, E=5, J=9 e A=1) vale 2+5+9+1=17, isto é DEZASSETE. Ambas estas disciplinas, temura e gematria, são metafísicas na medida em que ultrapassam a ciência experimental e trabalham com teses especulativas, de uma racionalidade holística discutível, a raiar a mística.(VALE UM VALOR)

             

2-B)- O realismo natural é a teoria segundo a qual a matéria é real e exterior às nossas mentes e estas espelham-na como ela é (exemplo: a erva é verde, o céu é azul). Realismo crítico é a teoria segundo a qual a matéria é real e exterior às nossas mentes mas estas não espelham como ela é. O realismo crítico de Descartes é a teoria qiue sustenta que há um mundo real de matéria exterior às mentes humanas composto de uma matéria indeterminada, sem peso nem dureza/moleza, apenas formado de figuras geométricas, movimento, números (qualidades primárias, objetivas), sendo subjectivas, isto é exclusivamente mentais, as cores, os cheiros, os sabores, as sensações do tacto, o calor e frio (qualidades secundárias, subjectivas).  O idealismo é a corrente que afirma que o universo material não é real em si mesmo mas está dentro da nossa mente, como imagens e ideias.  (VALE TRÊS VALORES)

 

2.C) Pragmatismo é a teoria que diz que devemos lidar, de forma útil, com os factos empíricos palpáveis e devemos pôr de parte a metafísica, os grandes princípios morais ou políticos inaplicáveis de momento. O cepticismo é a corrente que põe tudo ou uma parte das coisas em dúvida e é usado pelo pragmatismo. (VALE DOIS VALORES)

 

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Terça-feira, 24 de Março de 2015
Teste de filosofia do 10º C (Março de 2015)

 

 

 

 

Eis um teste de filosofia do 10º ano de  escolaridade em Portugal, evitando as perguntas de escolha múltipla em que o aluno coloca um X na hipótese que supõe estar certa e fica dispensado de explanar as suas ideias num corpo discursivo coerente.

 

Agrupamento de Escolas nº1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA C
11 de Março de 2015. Professor: Francisco Queiroz

 

I

“A autogestão nas empresas, a cogestão e a nacionalização de empresas são valores ético-políticos e económicos aceites ou rejeitados como valores supremos por uma ou outra de três correntes como o comunismo leninista, o anarquismo e o socialismo reformista, sendo uma destas correntes classificada, por alguns, de totalitária. A figura andrógina do Adão Kadmon, da filosofia hermética, obedece de certo modo à lei da tríade e ao dualismo Yang-Yin»

I

1) Explique, concretamente este texto. 

 

2) Relacione, justificando:

A) As quatro fases do processo alquímico e respectivas aves- símbolos, por um lado, e quatro correntes ético-políticas (três de direita e uma do centro).

B) O imperativo categórico em Kant, por um lado, multiculturalismo e valores ético-políticos fascistas, por outro lado.

C) Gematria, princípio holístico macrocosmos-microcosmos e lei dialética do uno.. 

 

 

CORRECÇÃO DO TESTE ESCRITO (COTADO PARA 20 VALORES)

1)«A autogestão nas empresas é o regime em que as fábricas, as explorações agrícolas, os hipermercados, as empresas de transportes são propriedade dos trabalhadores e não do Estado nem de patrões ou sociedades privadas: semanal ou mensalmente reune a assembleia de todos os operátrios, engenheiros e técnicos de contas da empresa e decide democraticamente os investimentos a fazer, a escala de salários, a repartição dos lucros, os horários de trabalho, etc. A autogestão é um valor central da doutrina anarquista que é contra o capitalismo privado e contra o capitalismo de estado marxista~leninista, anarquismo que defende a extinção do Estado, do exército profissional e das polícias e que promove a luta de rua (acção directa) e a greve geral revolucionária contra a democracia parlamentar ou burguesa. A cogestão nas empresas é o regime em que estas são propriedade privada de patrões mas estes incluem um representante da comissão de trabalhadores ou do sindicato na gestão da empresa concertando com estes os ritmos de trabalho, a escala de salários, etc. A cogestão é um valor central da doutrina da social-democracia ou socialismo reformista, isto é do capitalismo de centro-esquerda, corrente que defende a democracia parlamentar, os impostos progressivos sobre os ricos, o rendimento mínimo garantido e o subsídio de desemprego para todos os necessitados, o ensino secundário e universitário público gratuitos, o serviço nacional de saúde. O socialismo tem forte componente maçónica e defende uma economia de mercado, uma economia capitalista. A nacionalização é um valor central da doutrina comunista marxista-leninista que defende uma revolução política e social em que as fábricas e terras são nacionalizadas, isto é, passam das mãos de capitalistas privadas para o Estado gerido pelo partido comunista em nome do povo (ditadura do proletariado, sem eleições livres porque estas trariam o capitalismo de volta). Em democracia parlamentar, os comunistas concorrem às eleições, apesar de considerarem que os partidos vencedores - socialistas, liberais ou conservadores - ganham por serem subsidiados pela alta finança e grandes industriais, já que no parlamento apresentarão propostas de lei contra o fascismo clássico e a favor da classe operária. O mundo ocidental designa de totalitária a corrente marxista-leninista porque nos países em que se erigiu em poder de Estado acabou com a democracia liberal, impôs a censura à imprensa, proibiu a greve operária e tudo controla através de um partido único que se confunde com o Estado (VALE SEIS VALORES). O Adão Kadmon era, segundo relatos alquímicos, da filosofia hermética, - isto é, esotérica, inacessível às massas -  o Adão primitivo, dotado de um corpo astral, que atravessava as pedras e a matéria, andrógino, hermafrodita - metade mulher (Sofia), metade homem (Adão), com duas cabeças em algumas representações, correspondente ao arcano XXI do Tarot - que viveria no Paraíso Terrestre, no limite entre o Pleroma (Mundo da Luz divina) e o Kenoma (Mundo do Vazio, das trevas exteriores). A lei da tríade diz que um processo dialético se divide em três fases: a tese ou afirmação, a antítese ou negação e a síntese ou negação da negação. Aplicando esta lei a Adão: a tese é a metade masculina do Adão, a antítese a sua metade feminina (Sofia)e a síntese o Adão-Sofia na sua totalidade. O dualismo Yang-Yin do taoísmo- Yang é o masculino, a luz, o calor, o dia, o movimento, a dilatação; Yin é o feminino, a sombra, o frio, o  repouso, a contração - é patente no facto de a parte masculina de Adão ser yang e a parte feminina, Sofia, ser Yin (VALE TRÊS VALORES).

 

2) A)  As quatro fases da Grande Obra alquímica são: nigredo, albedo, citredo e rubedo. As três correntes de direita política, são liberais, conservadores e fascistas/monárquicos absolutistas. Há várias maneiras de relacionar as fases alquímicas e as correntes políticas  e mostrarei apenas uma dessas maneiras. Os fascistas - que faço corresponder à fase do nigredo ou da putrefação, sendo a ave símbolo o corvo - querem um Estado nacional, uma ditadura de partido único, defensor de um capitalismo controlado, sem direito às greves, à imprensa livre e ao lock-out, um Estado defensor dos valores tradicionais (masculinidade do homem, feminilidade e espírito de dona de casa na mulher; perseguição e punição de gays e lésbicas; respeito às igrejas católica, protestante ou islâmica e proibição do divórcio nos casamentos religiosos), profundamente anticomunista, antimaçónico e antiberal, xenófobo, isto é, expulsando imigrantes estrangeiros.

Menos à direita estão os conservadores - que faço corresponder à fase do albedo, da cor branca, com o cisne como ave-símbolo - em que há a separação das substâncias impuras; por exemplo, os conservadores como Churchill afastam-se dos fascistas como Hitler - defendem uma democracia parlamentar (regime de eleições livres de parlamentos, com muitos partidos a concorrer), liberdade sindical, de imprensa e de greve mas opõem-se a impostos progressivos sobre os ricos, ao casamento de gays e lésbicas, à legalização das drogas leves. Os conservadores defendem os valores tradicionais da família, do respeito a Deus e são contra o aborto livre.

 

À esquerda dos conservadores, mas ainda no campo da direita, estão os liberais, - que faço  corresponder à fase do citredo, da cor amarela, e da policromia, cuja ave símbolo é o pavão - que defendem o capitalismo privado puro, poucos ou nenhuns impostos sobre os capitalistas, o fim do serviço nacional de saúde e do ensino universitário gratuitos, a privatização de quase todas as empresas públicas (correios, comboios, aviação, minas, siderurgia, etc), o quase desaparecimento do subsídio de desemprego e do rendimento mínimo garantido, a liberdade de os patrões despedirem os empregados sem os indemnizar. Os liberais, também com grande influência da maçonaria no seu seio, defendem a globalização da economia e a sinarquia, o governo mundial único numa base pluralista.

 

Ao centro, figuram os centristas, também defensores da democracia parlamentar ou burguesa - que faço corresponder à fase do rubedo  ou fase vermelha, cujo ave símbolo é o pelicano, fase em que se acaba de produzir o lapis ou pedra filosofal capaz de dar ao homem um corpo adâmico, imaterial- com mais preocupações sociais, que se opõem ao capitalismo selvagem de liberais e conservadores e também ao comunismo, ao anarquismo e ao socialismo reformista embora sejam vizinhos deste último. Ao contrário dos liberais e conservadores, os centristas já defendem o Estado social, um Estado capitalista que confere protecção básica aos mais pobres, dando-lhes saúde gratuita nos hospistais, refeições gratuitas e outros apoios. John Rawls foi, nos EUA, o teórico desta corrente. Advogava que as leis deviam ser debatidas e votadas por grandes comunidades segundo uma democracia de base a coberto de um véu de ignorância, na posição original. (VALE CINCO VALORES).

 

2) B) O imperativo categórico de Kant é uma lei moral autónoma, formal, abstracta, variável de pessoa a pessoa, formulada no eu numénico ou racional, mas com equidade universal, sem interesses egoístas: «Age de modo que a tua acção seja como uma lei universal da natureza», isto é, faz o bem sem olhar a quem e nem mesmo a ti mesmo ou pune a todos, por espírito justo, sem olhar a quem. O multiculturalismo é a posição que diz que num país todas as comunidades - os nacionais de origem, os emigrantes africanos, latino-americanos, do leste, etc - devem estar em pé de igualdade ante o Estado e a lei: nas escolas devem ensinar-se as diversas línguas e culturas, qualquer imigrante se pode candidatar a presidente da república, deputado nacional ou autarca local, as diferentes religiões e o ateísmo devem ter direitos iguais, etc. Os valores ético-políticos do fascismo , ideologia de extrema-direita anticomunista que diz que o Estado nacional é tudo e o indivíduo é nada e deve haver uma ditadura de partido único sem eleições livres nem imprensa livre e perseguição a gays e lésbicas assumidos- são contra o multiculturalismo porque defende a expulsão de imigrantes e a subalternização das culturas minoritárias.(VALE TRÊS VALORES).

 

2)C) A gematria é a vertente da Cabala judaica que faz corresponder a cada letra do alfabeto um número (A=1, B=2, C=3, D=4, E=5, F=6, G=7, H=8, I, J, Y=9, K=10, L=20, M=30, N=40, etc.) e isso exprime a lei dialética do uno que diz que no universo tudo se relaciona e nada está isolado: as letras correspondem a números, os planetas a partes do corpo humano, etc. Também a gematria exprime o princípio holístico macrocosmo-microcosmo que diz que o grande universo se espelha no pequeno universo, em qualquer pequena coisa do mundo inferior: assim cada número existente no mundo dos arquétipos ou no universo inteiro se liga ou reflecte em cada letra dos livros, jornais e papéis quotidianamene escritos ou lidos por seres humanos (VALE TRÊS VALORES).

 

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Quinta-feira, 6 de Fevereiro de 2014
Teste de filosofia do 10ºB, Fevereiro de 2014

 

Eis um teste de filosofia, o primeiro do segundo período lectivo. A temática da filosofia hermética e do simbolismo das catedrais/ geometria sagrada  justifica-se porque serve de base à visita de estudo a monumentos de Sevilha e enquadra-se nos pontos do programa do 10º ano de filosofia em Portugal «O que é a filosofia»,  «Valores Estéticos/ Artísticos» e «Valores Religiosos».

 

Agrupamento de Escolas nº1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia com 3º Ciclo, Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA B
6 de Fevereiro de 2014.            Professor: Francisco Queiroz

 

"A filosofia hermética é holística e baseava-se no princípio das correspondências macrocosmos-microcosmos, de que a catedral medieval é um exemplo de aplicação prática. A essência, segundo Platão, não está no mesmo nível que a essência segundo Aristóteles. A lei do devir encaixa-se na lei do salto de qualidade.”

 

1) Explique, concretamente, cada uma destas frases.

 

2) Construa um diálogo de valores ético-políticos ( mínimo: 12 linhas) entre um anarquista, um comunista leninista, um socialista democrático, um liberal, um fascista, de modo a que no diálogo explicite as definições dos conceitos de «nacionalização de empresas», «privatização de empresas», «autogestão», «cogestão»,  «estado de direito democrático», «ditadura do proletariado», «totalitarismo».

 

 

3) Relacione, justificando:

 

A) Imperativo categórico em Kant e princípio da ética de Stuart Mill.
B)  Contratualismo de Hobbes  e de John Locke.
C) Etnocentrismo absolutista, multiculturalismo, subjectivismo.   

 

 

CORRECÇÃO DO TESTE DE FILOSOFIA (COTADO PARA 20 VALORES)

 

1) A filosofia hermética, nascida na Antiguidade e atribuída ao mítico Hermes Trimegistus, é holística porque considera as coisas integradas numa totalidade (holo) cósmica em que tudo se relaciona. Baseia-se na fórmula «o que está em baixo é como o que está em cima, o microcosmo é um espelho do macrocosmo». Exemplo: a catedral medieval é um microcosmo, na medida em que a sua planta reproduz em pedra, o corpo cósmico de Cristo, gigantesco (macrocosmo) que atravessa o universo. A abside equivale à cabeça de Cristo, o transpeto aos braços,  o altar ao coração, as naves ao tronco e pernas. (VALE TRÊS VALORES). A essência, em Platão, é o arquétipo (de Belo, Bem, Homem, Árvore, etc) e encontra-se no mundo supraceleste, inteligível, mas em Aristóteles as essências, formas eternas,estão nos próprios objectos materiais («O Belo só está na rosa e nas coisas belas», «a essência rosa não está fora de cada rosa existente no real físico») e não há mundo inteligível separado. (VALE DOIS VALORES) A lei do devir defende que tudo está em mudança, a cada instante, e está incluída na lei do salto qualitativo porque esta diz que a acumulação lenta e gradual, em quantidade, (devir) de um aspecto num fenómeno leva a uma mudança qualitativa nesse fenómeno (VALE DOIS VALORES).

 

 

2) Anarquista: «Sou contra o capitalismo e todas as formas de Estado. Defendo a autogestão, isto é, as fábricas, hipermercados, empresas agrícolas, de transportes, pescas, deixam de ter patrões e passam a ser geridas por assembleias de trabalhadores (operários, economistas, engenheiros), nivelando-se os salários.»

Comunista: «Sou contra o capitalismo mas, ao contrário dos anarquistas, defendo a nacionalização, isto é, a passagem para as mãos do Estado das grandes e médias empresas ou mesmo de todas. Defendo a ditadura do proletariado: desaparecem as eleições livres porque os partidos da direita ou centro-esquerda as ganham graças ao financiamento dos ricos, só o partido marxista concorre e domina o Estado.»

Socialista democrático: «Não sou contra o capitalismo, porque permitre criar riqueza em grande quantidade, sou contra o capitalismo selvagem que não protege os operários. Defendo a cogestão, isto é, a empresa é propriedade dos patrões mas o conselho de administração inclui um representante dos trabalhadores ou do sindicato. Defendo as eleições livres, base do estado de direito democrático.»

Liberal: «Sou a favor do capitalismo, da privatização das empresas, isto é, de estas passarem a pertencer a patrões (privados), sou apoiante da livre concorrência entre as empresas, da liberdade de o patrão despedir operários. Sou contra o comunismo que é um totalitarismo de esquerda, isto é, um estado de partido único com censura à imprensa,  e contra o fascismo que é um totalitarismo de direita. Defendo o Estado de direito democrático ou democracia pluralista.»

Fascista: «Sou a favor do capitalismo nacional sob uma ditadura de extrema-direita tradicional na qual o povo inteiro obedece ao chefe de Estado e ao partido único, não há liberdade de greve e manifestação de rua, os imigrantes são expulsos do país, a censura é estabelecida na televisão, na imprensa e no ensino, gays e lésbicas são perseguidos e neutralizados. Sou contra o Estado de direito democrático, criação da maçonaria liberal e socialista.» (VALE SEIS VALORES).

 

Nota: Este diálogo pode ser estruturado de outras maneiras.

 

3) A) O imperativo categórico é a verdadeira lei moral em Kant: age como se quisesses que a tua acção fosse uma lei universal da natureza. Por outras palavras: ou comem (ou pagam) todos por igual ou não há moralidade. O princípio da maior felicidade, base da ética de Start Mill, defende que se deve preferir a felicidade da maioria dos envolvidos numa situação à felicidade da minoria  e que os prazeres superiores (filosofia, literatura, ciência, amizade, solidariedade, etc) são preferíveis aos prazeres inferiores (comer, beber, possuir oiro ou dinheiro, etc). Kant e Mill opõem-se, em certa medida. Se um barco com 150 passageiros naufraga e só se podem salvar 30 vidas em salva-vidas, o imperativo de Kant é, aparentemente, impraticável mas não o utilitarismo de Stuart Mill:  salvam-se as mulheres e as crianças (estas são potencialmente, as portadoras de maior felicidade porque têm um largo futuro diante de si) e ficam para morrer os homens e o capitão (VALE DOIS VALORES).

 

3)B) O contratualismo é a filosofia que justifica o Estado como resultado de um contrato social. No caso do filósofo inglês Hobbes, este defendeu um contratualismo base da monarquia absoluta ou ditadura do rei: os cidadãos entregam os seus direitos e liberdades nas mãos de um monarca absoluto que lhes garante a propriedade privada dos seus bens e o direito à vida reprimindo as revoluções, o banditismo, o roubo, etc. No caso do filósofo inglês do século XVIII John Locke, este sustentou que o Estado brota de um contrato social entre os proprietários livres para superar o "estado de natureza" (país sem lei) e reveste a forma de Estado liberal, baseado na livre eleição de um parlamento multipartidário de onde sai o governo e baseado na liberdade de imprensa e na separação tripartida de poderes. (VALE DOIS VALORES).

 

3) C) O etnocentismo absolutista é a corrente e a atitude que sustenta que uma dada etnia, nação ou raça é, genetica e culturalmente, superior a outros povos e raças e por isso tem o direito de humilhar, escravizar ou eliminar estas. Exemplo: os colonizadores portugueses e espanhóis nos séculos XV e XVII , escravizando os negros de África ou os índios da América do Sul e Central, impondo-lhes a religião católica, o vestuário europeu, etc. O multiculturalismo é a corrente e a atitude que sustenta que todas as etnias, raças ou povos são iguais, devem conviver na mesma sociedade sem que nenhuma se superiorize a outra. Exemplo: a democracia portuguesa não deve ser de influência cristã nem dar a hegemonia à raça branca mas acolher o laicismo e todas as pessoas imigrantes (brasileiros, cabo-verdianos, ingleses, indianos, etc) dando direitos iguais a todos. É subjectivo ser etnocentrista absolutista ou multiculturalista, isto é, o acto de optar varia de pessoa a pessoa. Subjectivismo é a corrente que sustenta que a verdade, os valores, são íntimos a cada um, variam de pessoa a pessoa. (VALE TRÊS VALORES).

 

 

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Quarta-feira, 14 de Março de 2012
Dois testes de filosofia do 10º ano de escolaridade em Portugal (final do 2º período)

 

Eis dois testes de filosofia do 10º ano de escolaridade em Portugal, nos moldes que preconizo para desenvolver a capacidade filosófica dos alunos, fazer deles seres cultos e raciocinantes. Não tem perguntas de resposta quádrupla em cruz que, normalmente, abundam nos testes dos professores de filosofia de nível mediano ou medíocre que se recusam a pensar ou são incapazes de pôr os seus alunos a pensar em profundidade. Respostas de cruz a perguntas de escolha múltipla em testes de filosofia é sinal de anti-filosofia ou pseudofilosofia, unidimensionalidade do pensamento, em regra.

 

 Escola Secundária com 3º ciclo Diogo de Gouveia, Beja

 

TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA D

 

Março de 2012,   Professor: Francisco Queiroz              

 

I

 

“A filosofia hermética dos construtores aplicava, na construção das catedrais da idade média, o princípio do microcosmos- macrocosmos que é, de certo modo, um princípio metafísico. A ascese em Platão, a noese e a dianóia ligam-se ao racionalismo mas a epithimia liga-se ao empirismo. A epochê dos estóicos visa atingir a ataraxia e tem semelhanças com a ética do taoísmo. Thomas Hobbes tinha uma visão do estado de natureza diferente daquela que tinha John Locke, e por isso o contratualismo de Hobbes é distinto do de John Locke e um destes dois liga-se ao iluminismo».

 

 

 

1) Explique, concretamente, cada uma destas frases.

 

 

 

2) Relacione, justificando:

 

 

 

A) Valores ético-políticos das esquerdas e das direitas, liberdade e igualdade económica.

 

B) Determinismo com livre-arbítrio e fatalismo.

 

C) Princípio da maior felicidade em Stuart Mill e empirismo.

 

D) Propriedade privada das empresas e autogestão operária, por um lado, e liberalismo, comunismo leninista e anarquismo, por outro lado.

 

E) Imperativo categórico e imperativo hipotético em Kant e dualismo antropológico no estoicismo.

 

F) Uno e múltiplo, por um lado, conceito e percepção empírica, por outro.

 

  

 

CORREÇÃO DO TESTE ( COTADO PARA 20 VALORES)

 

1) A filosofia hermética, isto é, esotérica, inspirada em princípios metafísicos secretos atribuídos a Hermes Trimegistus, dos arquitetos das catedrais medievais incluía o princípio de que o microcosmos (pequeno universo; por exemplo, uma montanha, uma igreja) era o espelho do macrocosmos (grande universo: o céu com as estrelas, as galáxias). Assim, os templários erguiam os seus castelos de modo a que a planta arquitetónica destes imitasse o desenho da constelação do Boeiro ou de outras constelações celestes. A catedral medieval - como vimos na visita de estudo a Sevilha - é um microcosmos que imita o imaginário corpo cósmico de Cristo de braços abertos: a abside representava a cabeça de Cristo e deveria estar voltada a Oriente, onde nasce o Sol, símbolo de Cristo; o transepto representava os braços abertos de Cristo e o altar o coração; as naves, central e lateral, o tronco e as pernas de Cristo. O princípio da correspondência entre o superior e o inferior é metafísico porque se apreende por intuição noética, não pelos orgãos sensoriais (ESTAS QUATRO FRASES ANTERIORES VALEM DOIS VALORES). A ascese em Platão, ou seja, ascensão da alma racional ao inteligível, mediante a filosofia, a matemática e a música, desligando-se da matéria, a noese ou apreensão direta dos arquétipos de Bem, Belo e outros e a dianóia ou raciocínio demonstrativo são formas de racionalismo, doutrina que diz que a razão e os seus raciocínios é a fonte do conhecimento e da verdade, negando ou desvalorizando as sensações, ao passo que a epithimia ou parte inferior da alma localizada no ventre e baixo-ventre (desejos de comer, beber, possuir riquezas materiais, etc) se liga ao empirismo, doutrina que afirma que a grande fonte dos nossos conhecimentos é a experiência sensorial, o que vemos, cheiramos, saboreamos e tocamos (VALE DOIS VALORES). A epochê dos estóicos é a suspensão do juízo de valor ( exemplo: «Dizem-te que a tua casa ardeu, faz epochê, não consideres isso uma tragédia») e visa atingir a ataraxia, isto é, a calma absoluta e é semelhante à ética quietista do taoísmo porque esta preconiza «não ter ambições, não agir, não procurar desvendar os segredos do Estado». (VALE DOIS VALORES). Thomas Hobbes achava que o estado de natureza, isto é, a sociedade sem leis, nem Estado, era perigosa e nela «o homem é o lobo do homem» e preconizava um contratualismo absolutista, ou seja, um acordo de milhares ou milhões de homens para, a troco da sua segurança, entregar o poder a um rei absoluto, um ditador ao passo que John Locke via aspetos positivos no estado de natureza e sustentava o contratualismo liberal, ou seja, o acordo de milhões de homens para a criação de um Estado liberal, que garantisse a propriedade privada e liberdades individuais políticas, dotado de um parlamento livremente eleito, residindo a soberania no povo. É Locke quem se inspira nos princípios iluministas consagrados depois dele: liberdade, igualdade e fraternidade, os homens nascem livres e iguais por direito natural e devem pensar e agir autonomamente, de forma racional (VALE DOIS VALORES).

 

2) A) Os valores ético-políticos das esquerdas (anarquistas, comunistas leninistas, socialistas ou sociais-democratas) são: limitar ou aniquilar o poder dos muitos ricos, da alta burguesia, e promover uma moderada ou radical igualdade económica ( os socialistas, através de impostos progressivos sobre as grandes fortunas, os comunistas nacionalizando estas, os anarquistas impondo a autogestão operária nas empresas), dando liberdade aos sindicatos e correntes de esquerda (excetuando as ditaduras comunistas neoestalinistas onde a liberdade é letra morta). Os valores ético-políticos das direitas (liberais e neoliberais, conservadores e fascistas) são: fazer crescer o poder dos ricos e dos muito ricos, privatizar muitas empresas estatais, na convição de que o capitalismo de concorrência é o melhor sistema possível que dá emprego a quase toda a gente, combatendo o igualitarismo económico dos comunistas e anarquistas e defendendo a democracia liberal capitalista (exceção feita aos fascistas, que desejam uma ditadura direitista). (VALE DOIS VALORES)

 

2) B) Determinismo com livre-arbítrio, chamado no manuais determinismo moderado, é a corrente segundo a qual a natureza se compõe de leis necessárias, infalíveis ( nas mesmas circunstâncias, as mesmas causas produzem sempre os mesmos efeitos) e o homem dispõe da capacidade de escolher,livremente, mediante a reflexão, esta ou aquela cadeia determinista, realizar ou não certo ato, certo valor. O fatalismo é diferente uma vez que sustenta que tudo está predestinado e não há livre-arbítrio humano. (VALE DOIS VALORES)

 

2) C)  O princípio da maior felicidade de Stuart Mill sustenta que a acção moral deve ser altruísta, visar a felicidade de uma maioria das pessoas envolvidas, ainda que com prejuízo de uma minoria de pessoas ou do próprio agente da ação. O empirismo sustenta que quase todas as nossas ideias derivam das sensações, das perceções sensoriais. Assim, por exemplo, a noção de maior felicidade para os alunos de uma dada escola no ultimo dia de aulas exige uma visão empírica ou empirista: se a maioria dos alunos se acumula com prazer no ginásio grande da escola a ouvir música dos «Feedback Line», dos «Contraluz» ou de outro grupo musical adolescente aí está a prova da ligação entre a felicidade da maioria e a apreensão empírica dela. (VALE DOIS VALORES)

 

2) D) A propriedade privada das empresas é o facto de as fábricas, lojas, supermercados, herdades agrícolas, transportadoras aéreas, fluviais ou terrestres, etc, serem, juridicamente, pertença de um ou vários capitalistas ( os acionistas). É defendida pelo liberalismo como sendo a base do progresso e da liberdade mas é combatida por comunistas leninistas - que numa fase inicial defendem as pequenas empresas - e por anarquistas. Estes últimos são os grandes defensores da autogestão operária, isto é, a doutrina da expropriação e expulsão dos patrões das empresas que ficam a funcionar sob o comando da assembleia geral de todos os operários, engenheiros e contabilistas. Os marxistas-leninistas apoiam algumas empresas em autogestão mas preferem as empresas nacionalizadas sob governo comunista porque isso lhes permite centralizar a economia e dirigi-la. ( VALE DOIS VALORES)

 

2) E) O imperativo categórico em Kant é a verdadeira lei moral que se enuncia assim: «Age como se quisesses que a tua ação fosse a lei universal da natureza, aplicando a tua máxima a todos por igual, sem distinções e sem egoísmo.» Brota do eu numénico ou racional. Corresponde às máximas estóicas do tipo «Actua com benevolência em relação a todos os seres humanos, mesmo em relação aos que te ofendem, porque a razão universal é uma só e uma só é a tua linhagem, a espécie humana»  geradas no eu interior ou racional. O imperativo hipotético em Kant, lei amoral ou de falsa moral, diz o seguinte: «Age por interesse egoísta, de modo a beneficiares primeiro que tudo a ti mesmo ou a ti e aos teus familiares e amigos, prejudicando ou desprezando outras pessoas ou a humanidade em geral». Brota do eu fenoménico ou empírico e corresponde, no estoicismo, ao "eu exterior" ou corpo físico de cada um. Assim se correspondem os dois dualismos, sendo designados de dualismo antropológico porque dividem o homem em dois pólos, o racional e o físico-empírico. (VALE DOIS VALORES)

 

2) F) Uno é o Um e múltiplo é o dois, três, quatro e assim infinitamente. O conceito parece ser uno em relação às percepções empíricas similares que são múltiplas. Exemplo:o conceito ou ideia de sobreiro é um só e corresponde às muitas imagens (percepções empíricas) de sobreiros que estou, neste momento, a ver neste campo do Alentejo. (VALE DOIS VALORES) .

 

Nota para a correção: nas perguntas de relacionação entre dois ou mais conceitos, a cotação para cada resposta dada deve obedecer a um princípio de premiar o aluno que estuda e sabe as definições separadamente: assim deverá receber 50% a 60% da cotação da pergunta desde que defina correctamente os conceitos, embora não consiga interligá-los.

 

Vejamos um segundo teste de filosofia.

 

NOTA: A esmagadora maioria dos professores de filosofia, centrados na lógica proposicional clássica - que, no 11º ano mergulha os alunos nos inspetores de circunstâncias, nos operadores verofuncionais, nos silogismos disjuntivos, hipotéticos e dilemas, na «avaliação de argumentos», na negação do condicional, do bicondicional, das leis de Morgan, conhecimentos de lógica inúteis para o verdadeiro filosofare centrados em conteúdos mais ou menos confusos, infetados pelo desprezo da ontologia dos clássicos (Platão, Aristóteles. Leibniz, Hegel, etc), desprezo que os manuais de 10º ano editados veiculam, não pode nem sabe dar testes da qualidade dos que aqui apresento: dá testes superficiais, sem amplitude filosófica autêntica, insubstanciais. E, no entanto, quanta arrogância nesta geração de licenciados, mestres e doutorandos (entre os 25 e os 50 anos de idade) de faculdades de filosofia! Estas estão instrumentalizadas por catedráticos destituídos de visão holística que, entre outras asneiras, declaram que «a astrologia histórica é uma superstição anticientífica» sem, como é óbvio, terem investigado minimamente o assunto! Nenhum dos famosos "vinte e cinco melhores pensadores do mundo" segundo o «Nouvel Observateur», entre eles José Gil, consegue conceber que o destino das pessoas e sociedades é determinado pelas movimentações do Sol, da Lua e dos planetas no Zodíaco. São, cosmologicamente, néscios. A filosofia universitária bloqueia, a partir das cátedras, a aletheia, a desocultação da verdade.

 

 Escola Secundária com 3º ciclo Diogo de Gouveia, Beja

 

TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA A

 

 Março de 2012         Professor: Francisco Queiroz           

 

I

 

“A filosofia hermética dos construtores aplicava, na arquitectura das catedrais da idade média, o princípio do microcosmos- macrocosmos que é, de certo modo, um princípio metafísico. A substituição do Estado social pelo Estado liberal é uma expressão da luta entre as direitas e as esquerdas no quadro do capitalismo e do Estado de direito democrático inspirado no iluminismo. Thomas Hobbes tinha uma visão diferente da de Rousseau sobre o estado de natureza e, por isso, preconizava um contratualismo diferente do de John Locke e do de John Rawls, o último dos quais se opunha explicitamente ao socialismo autoritário.”

 

 

 

1) Explique, concretamente, cada uma destas frases.

 

                                                        II

 

2) Relacione, justificando:

 

 

 

A) Princípio da maior felicidade em Stuart Mill e imperativo categórico em Kant.

 

B) Essência, acidente e reminiscência em Platão.

 

C) Realismo ontológico, idealismo ontológico e objetividade.

 

D) Ética do taoísmo e ética do estoicismo.

 

E) Relativismo e teoria do acto e da potência em Aristóteles.

 

F) Indeterminismo biofísico  com livre-arbítrio (libertismo) e fatalismo.

 

 

 

CORREÇÃO DO TESTE (COTADO PARA 20 VALORES)

 

1) A filosofia hermética, isto é, esotérica, inspirada em princípios metafísicos secretos atribuídos a Hermes Trimegistus, dos arquitetos das catedrais medievais incluía o princípio de que o microcosmos (pequeno universo; por exemplo, uma montanha, uma igreja) era o espelho do macrocosmos (grande universo: o céu com as estrelas, as galáxias). Assim, os templários erguiam os seus castelos de modo a que a planta arquitetónica destes imitasse o desenho da constelação do Boeiro ou de outras constelações celestes. A catedral medieval - como vimos na visita de estudo a Sevilha - é um microcosmos que imita o imaginário corpo cósmico de Cristo de braços abertos: a abside representava a cabeça de Cristo e deveria estar voltada a Oriente, onde nasce o Sol, símbolo de Cristo; o transepto representava os braços abertos de Cristo e o altar o coração; as naves, central e lateral, o tronco e as pernas de Cristo. O princípio da correspondência entre o superior e o inferior é metafísico porque se apreende por intuição noética, não pelos orgãos sensoriais (ESTAS QUATRO FRASES ANTERIORES VALEM DOIS VALORES). A substituição do Estado social, isto é, do Estado social-democrata, - um Estado capitalista de centro-esquerda, que oferece saúde e ensino gratuitos ou quase gratuitos a toda a população, subsídio de desemprego, rendimento de inserção social e pensões diversas aos desfavorecidos à custa de impostos progressivos sobre os ricos - pelo Estado liberal - um Estado mínimo capitalista, que reduziu ou aboliu a gratuidade do ensino e dós cuidados de saúde, reduziu ao mínimo a segurança social, deixando milhões de desempregados entregues à sorte -  reflete a luta entre a direita (liberais, conservadores e fascistas), adepta das privatizações de empresas,  e as esquerdas (socialistas ou sociais-democratas, comunistas e anarquistas) adeptas da nacionalização de empresas estratégicas ou mesmo da autogestão operária. As esquerdas querem manter, no imediato, o Estado social e as direitas fazem-no emagrecer transformando-o em Estado liberal, não intervencionista na economia, quase reduzido só aos corpos militares e policiais, fiscais, judiciais e político-parlamentares. Ambos - Estado Social e Estado Liberal - são formas do Estado de direito democrático, isto é, um Estado baseado numa constituição que consagra a tripartição de poderes (legislativo, executivo e judicial) e que consiste numa democracia multipartidária, com eleições periódicas de um parlamento nacional e parlamentos locais, liberdade de imprensa, greve operária, propriedade privada de empresas, manifestação de rua e reunião, associação sindical e política, culto religioso e ateísmo, etc, de acordo com os princípios do iluminismo, filosofia da liberdade, igualdade e fraternidade entre todos os homens, que nascem livre e iguais em direitos e deveres e devem pensar e agir autonomamente, de forma racional. (ESTAS FRASES ANTERIORES VALEM TRÊS VALORES NO CONJUNTO). Thomas Hobbes achava que o estado de natureza, isto é, a sociedade sem leis, nem Estado, era perigosa e nela «o homem é o lobo do homem» e preconizava um contratualismo absolutista, ou seja, um acordo de milhares ou milhões de homens para, a troco da sua segurança, entregar o poder a um rei absoluto, um ditador ao passo que Rousseau via o estado de natureza de forma positiva, uma sociedade de homens livres em estado selvagem, cada um alimentando-se dos frutos de árvores à sua disposição, sem impor escravidão ou servidão a outros (doutrina do bom selvagem). John Locke,  e mais tarde, no século XX, John Rawls, sustentavam o contratualismo liberal-democrático, ou seja, o acordo de milhões de homens para a criação de um Estado liberal, que garantisse a propriedade privada e liberdades individuais políticas, dotado de um parlamento livremente eleito, residindo a soberania no povo. Rawls defendia que os cidadãos deveriam votar as leis a coberto de um véu de ignorância sobre a riqueza e o poder de cada um e rejeitava o socialismo autoritário, isto é, a ditadura comunista marxista-leninista que expropria a burguesia tradicional (VALE DOIS VALORES). 

 

2) O princípio da maior felicidade de Stuart Mill sustenta que a acção moral deve ser altruísta, visar a felicidade de uma maioria das pessoas envolvidas, ainda que com prejuízo de uma minoria de pessoas ou do próprio agente da ação.  O imperativo categórico em Kant, a verdadeira lei moral segundo este,  enuncia-se assim: «Age como se quisesses que a tua ação fosse a lei universal da natureza, aplicando a tua máxima a todos por igual, sem distinções e sem egoísmo e trata cada ser humano como um fim em si e não um meio .» Brota do eu numénico ou racional. Stuart Mill contenta-se com a felicidade de uma maioria mas Kant deseja a felicidade ou a infelicidade de todos, uma vez que o seu objetivo é a equidade universal da ação emanada de um mesmo sujeito. (VALE DOIS VALORES).

 

2- B) Em Platão, as essências são os arquétipos do mundo inteligível, as formas imóveis e eternas do Bem, do Belo, do Justo, do Dois, do Quatro, etc. A reminiscência é a lembrança vaga desses arquétipos que a alma na sua descida ao mundo material ou sensível conserva, depois de quase tudo esquecer no rio Letes. O acidente é um traço ou acontecimento fortuito que não existe no arquétipo em si mas no modo como a alma se comporta ante ele: há almas que não contemplam o arquétipo de Justo ou de Sábio e isso é por acidente. (VALE DOIS VALORES).

 

2-C) Realismo ontológico: o mundo material subsiste por si mesmo, fora das mentes humanas. Idealismo ontológico: o mundo material está dentro da imensa mente humana de cada um. Objetividade é o caráter de objeto, coisa ou situação visível para todos ou compreensível para todos mediante uma razão comum. Aparentemente, o realismo ontológico é «mais objetivo» que o idealismo. Mas... (VALE DOIS VALORES).

 

2-D) A ética do taoísmo preconiza o não agir, o refrear os desejos, aceitar uma vida calma e trabalhosa como a de um camponês sedentário, desconfiado dos estudos e dos políticos, astuto, que estuda o seu inimigo elogiando-o, até um dia o poder derrubar. A ética do estoicismo preconiza a aceitação do destino, o autodomínio obtido mediante o eu racional, o «guia interior», a benevolência face a todos os seres humanos, a epoché ou suspensão do juízo de valor («Falam mal de ti? Não consideres isso mau nem bom. Suspende o juízo») visando a ataraxia ou impassibilidade da alma. Tanto o taoísmo como o estoicismo recomendam contenção dos desejos, autodomínio. (VALE DOIS VALORES)

 

2-E) Relativismo é a doutrina segundo a qual as coisas e suas propriedades, os valores, mudam conforme o tempo, o lugar, as sociedades, as culturas. Ato é a realidade presente de algo, potência é a capacidade de esse algo se transformar no futuro e o resultado previsível dessa transformação. Exemplo: a semente é semente em ato e árvore em potência. O relativismo exprime-se na dualidade ato potência: as coisas são algo em ato e são algo diferente em potência, o seu ser é relativo ao tempo em que se encontra. (VALE DOIS VALORES)

 

2-F) Indeterminismo biofísico com livre-arbítrio é a doutrina segundo a qual não há leis fixas, necessárias, de causa-efeito na natureza (exemplo: nem todos os seres humanos envelhecem, nem todos se alimentam de sólidos e sobrevivem) e há livre-arbítrio, possibilidade de deliberar racionalmente sobre as ações. Fatalismo é o oposto, sob certo aspeto: não há livre-arbítrio, todos os acontecimentos estão rigorosamente predestinados. (VALE DOIS VALORES). 

 

 

Nota para a correção: nas perguntas de relacionação entre dois ou mais conceitos, a cotação para cada resposta dada deve obedecer a um princípio de premiar o aluno que estuda e sabe as definições separadamente: assim deverá receber 50% a 60% da cotação da pergunta desde que defina correctamente os conceitos, embora não consiga interligá-los.

 

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Domingo, 12 de Fevereiro de 2012
Testes de filosofia do 10º ano de escolaridade em Portugal (segundo período lectivo)

 

Eis dois testes de filosofia para o 10º ano de escolaridade, a meio do segundo período lectivo, possíveis de ser dado só dentro de uma cultura de exigência e ensino filosófico autêntico. Os alunos dos professores populistas e facilitistas que ensinam pouco, e dão altas classificações sobreavaliadas a muitos desses alunos, não conseguem, presumivelmente, responder com êxito a este teste.

 

 

Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja

 

TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA A

 

Fevereiro de 2012        Professor: Francisco Queiroz            

 

I

 

“O imperativo categórico em Kant tem analogia com a democracia liberal e é formal e autónomo. O livre-arbítrio, incompatível com o fatalismo mas compatível com o determinismo, parece corresponder às causas eficiente e final de certos actos. A concepção de Estado marxista-leninista é diferente da concepção de Estado fascista.”

 

 

 

1) Explique, concretamente, cada uma destas frase

 

II

 

2) Construa um diálogo entre um anarquista, um liberal e um social-democrata sobre a natureza do Estado de democracia liberal e o valor das eleições, a propriedade privada das empresas e a economia, os impostos, os direitos à greve, ao aborto voluntário, o ensino, o sistema de saúde, o rendimento mínimo garantido.

 

III

 

«Aquele que se dedica ao estudo cresce de dia para dia, aquele que se dedica ao Tao diminui de dia para dia. Vai diminuindo sempre até chegar ao não agir. Pelo não agir, nada há que se não faça.» (Lao Tse)

 

 

IV

 

4) Relacione, justificando:

 

A) Arquétipo, em Platão, e Tó Tí e Tó On.

 

B) Hermenêutica, ideologia e juízo de valor.

 

C) Empirismo/ Racionalismo e doutrinas éticas de Kant e Stuart Mill.

 

D) Realismo Ontológico/ Idealismo Ontológico e Sujetividade/Objetividade.

 

  

5)Disserte sobre os temas seguintes:

 

«A essência, a lei da tríade e o princípio do terceiro excluído na minha escola e na minha cidade.»

 

 

 

 CORREÇÃO DO TESTE (COTADO EM 20 VALORES)

 

 Respostas: 

 

1) O imperativo categórico, em Kant, é a verdadeira lei moral que preconiza «Age como se quisesses que a tua máxima fosse lei universal da natureza», isto é, um princípio igualmente aplicável a todos os homens, incluindo a ti mesmo, princípio de equidade e não de prazer egoísta. Isto tem semelhança com a democracia liberal (regime político-social de eleições livres, liberdade de associação empresarial, sindical e política, liberdade de greve e manifestação de rua, de religião ou ateísmo, liberdade de criação artística, etc) já que essa democracia deriva do seguinte imperativo categórico existente em milhões de pessoas;. «Age politicamente e vive como se quisesses que a tua ação expandisse a toda a humanidade os princípios da liberdade individual concretizados nas regras de de «a cada um homem, um voto», em eleições livres e periódicas aos parlamentos nacionais, regionais e locais, em liberdade de imprensa, de manifestação de rua, de organização e acção livre de sindicatos, empresas privadas e partidos políticos, etc». O caráter formal do imperativo categórico é o facto de ser abstrato, sem conteúdo, e o caráter autónomo é o facto de variar de pessoa a pessoa, ser criação desta. ( A RESPOSTA A ESTA PRIMEIRA FRASE DO TEXTO VALE DOIS VALORES). 

 

O livre-arbítrio, isto é, capacidade de deliberar, livre e racionalmente, sobre atitudes a adotar ou valores a escolher harmoniza-se com o determinismo - princípio segundo o qual nas mesmas circunstâncias as mesmas causas produzem sempre os mesmos efeitos - mas não pode coexistir com o fatalismo, uma vez que este é a teoria segundo a qual todos os acontecimentos estão predestinados ou escritos antes de se materializarem e, portanto, o livre-arbítrio é nele uma ilusão, os seres humanos são marionetas nas mãos do destino. O livre-arbítrio na medida em que exige «ver» intelectualmente a finalidade das nossas decisões e actos corresponde à causa final de algo (exemplo: decido jejuar 24 horas porque "vejo" o resultado final dessa acção, o meu corpo purificado de um excesso de colesterol e ácidos) e na medida em que desencadeia a acção do sujeito corresponde à causa eficiente, isto é, ao agente que faz ou fabrica algo (exemplo: a minha vontade de manter o jejum desvia-me da comida e da bebida). (A RESPOSTA À SEGUNDA FRASE DO TEXTO VALE DOIS VALORES) 

 

A concepção de Estado marxista-leninista é a seguinte: o Estado deve ser um instrumento do poder da classe operária e do seu partido comunista, por isso deve centralizar a economia (nacionalizar todas ou quase todas as empresas e dar emprego a toda a gente), suprimir as eleições "livres" porque estas possibilitam aos partidos da burguesia (conservadores, liberais, centristas e socialistas) fazer propaganda contra o Estado socialista leninista, suprimir o pluripartidarismo, a liberdade de imprensa, de greve e manifestação, eliminar os opositores de esquerda (anarquistas, trotskistas, etc). A concepção de Estado fascista é diferente, embora igualmente ditatorial: o Estado deve ser um instrumento de poder da nação e do seu partido fascista, que regulará a economia deixando coexistir o capitalismo privado e o capitalismo de estado, não permitirá eleições livres e partidos políticos, nem imprensa e televisão livre, impedirá a luta de classes (as greves, as manifestações de rua, etc) e a entrada de emigrantes, fará prender através da polícia política os ativistas de esquerda, centro ou direita liberal que sejam antifascistas perigosos. (A RESPOSTA À TERCEIRA FRASE VALE DOIS VALORES).

 

II

 

2) ANARQUISTA: Não deve haver Estado. O Estado, seja uma ditadura fascista ou monárquica, ou uma democracia liberal ou uma ditadura marxista-leninista, é sempre uma máquina burocrática, uma ditadura sobre a classe operária e os trabalhadores. A propriedade privada das fábricas, terras, bancos e supermercados, empresas de pesca e transportes e comunicações,  é imoral, assenta na exploração dos trabalhadores pela burguesia e deve ser abolida. Sou pela extinção do capitalismo através da autogestão: as fábricas aos operários, as terras aos jornaleiros agrícolas, as escolas aos alunos e professores! O poder aos operários nas fábricas, reunidos em assembleias de base! O poder à assembleia de moradores em cada bairro! O rendimento mínimo garantido é uma concessão dos capitalistas para calar os mais pobres, uma reforma, uma esmola, mas queremos mais, queremos a revolução social, o socialismo autogestionário, a economia colectivista e descentralizada. Apoiamos o direito ao aborto e à greve. 

 

SOCIAL-DEMOCRATA: Tem de haver Estado, um estado de direito democrático, que permita organizar a vida de um povo. A anarquia ou ausência de Estado é uma utopia, um ideal impraticável. Sou contra os Estados totalitários, dominados por um só partido político ou por um presidente ditatorial: o Estado marxista-leninista, à esquerda, e o Estado fascista, à direita, que coincidem ao eliminar as liberdades individuais e as eleições livres, em nome da "classe" ou da "nação". A economia, embora capitalista, deve ter um sector estatizado (metropolitano, carris, águas, electricidade, um canal de televisão, sistema nacional de saúde e ensino, etc) onde o serviço ao público, com preços e taxas baixos se deve sobrepor à busca do lucro. Favoreço o direito à greve, ao aborto livre e impostos progressivos sobre os ricos.O rendimento mínimo garantido e o subsídio de desemprego de longa duração são criações da social-democracia que evitam as situações de pobreza extrema.

 

LIBERAL: O Estado é imprescindível e deve ser uma democracia pluripartidária com eleições livres mas precisamos de menos Estado, isto é, muitas empresas estatais (águas, eletricidade, caminhos de ferro, hospitais e centros de saúde, o sistema prisional ou parte dele, etc) podem e devem ser privatizadas de modo a que desçam os impostos sobre os cidadãos e se atraiam os capitais dos muito ricos, nacionais ou estrangeiros. O capitalismo privado é o grande motor da economia e o modelo justo de sociedade. Sou contra os anarquistas, defensores de um comunismo libertário, de base, e sou contra o socialismo democrático com a sua tendência estatizadora de empresas e o seu rendimento mínimo garantido que desencoraja pessoas válidas a procurar emprego. Sou pela privatização das universidades e dos hospitais, ou de muitos deles, e de parte ou todo o ensino secundário que custam muitos milhões em impostos aos contribuintes. Admito o direito ao aborto livre e à greve. (VALE TRÊS VALORES, NO CONJUNTO DO DIÁLOGO).

 

3)  O Tao é o ritmo do universo, a mãe do Universo, o fundo oculto de onde brotam o ser e o não ser. É uma onda que se desdobra em Yang (calor, convexidade, expansão) e Yin (frio, concavidade, contração). Ver nascer o sol no campo integra-se no Tao mas estar a essa hora numa discoteca a dançar freneticamente ao som de batidas rápidas não é conforme ao Tao. Estudar horas e horas diárias opõe-se ao Tao porque exige um esforço artificial e o estudo não produz os alimentos simples da vida, como o pão, os frutos, as hortaliças. O camponês que cuida do gado e das árvores, esse, sim, dedica-se ao Tao (o ritmo das estações do ano, o crescer e amadurecer das plantas, etc) e vai diminuindo em prestígio até chegar ao não agir, isto é, a não intervir social e politicamente, a apagar-se em importância. E quando não se age, isto é, quando se deixa correr o ritmo natural das coisas, tudo se consegue obter, como no caso daquele que, sentido-se indisposto, jejua dois dias seguidos e com o jejum (não agir) dá repouso ao fígado e permite à força vital corporal eliminar ácido úrico, gorduras de modo a reencontrar a saúde. (VALE DOIS VALORES).

 

4) A)  Arquétipo é uma forma eterna, imutável, do mundo inteligível, incorruptível e perfeita que possui um tó tí, uma determinação ou forma (exemplo: Belo é um to tí diferente de Justo e de Número Dois e todos estes são arquétipos) e possui também um tó ón, uma existência sem forma comum a todos os arquétipos. (VALE DOIS VALORES)

 

4) B) Hermenêutica é a arte de (bem) interpretar os textos e os símbolos em geral, a interpretação supõe juízos de valor isto é afirmações ou negações mais ou menos subjectivos - exemplo: « os líderes políticos e artísticos que saudam fazendo cornos com o dedo indicador e o dedo mínimo estão a transmitir uma mensagem subliminar iluminatti» - e supõe uma ou várias ideologias, isto é, sistemas de valores e ideias correspondentes a grupos sociais, classes sociais, nações, civilizações. (VALE DOIS VALORES).

 

4) C) Empirismo é a doutrina que afirma que a fonte quase exclusiva das nossas ideias é o campo das percepções empíricas e que as ideias são cópias descoloridas dessas percepções. Racionalismo é a doutrina que afirma que a fonte quase exclusiva das nossas ideias é o campo das intuições inteligíveis e dos raciocínios que negam, com frequência, as percepções empíricas. Aparentemente pelo menos, a doutrina de Kant é a mais racionalista, pois formula o imperativo categórico, que despreza o eu empírico e brota do eu racional, que concebe o dever. E a doutrina de Mill é mais empirista, pois maximizar o prazer (sensual ou empírico, antes de mais) implica conhecer bem o terreno, o número de pessoas envolvidos, os resultados práticos - tudo condições empíricas. (VALE DOIS VALORES). 

 

4) D) Realismo ontológico é a doutrina segundo a qual o mundo material é real em si mesmo, fora dos espíritos humanos.Liga-se à objetividade pois considera-se a matéria objetiva, isto é, exterior a nós, visível e palpável a todos. Idealismo ontológico é a doutrina segundo a qual o mundo de matéria não é real fora de nós mas dentro do nosso espírito, em forma de ideias e sensações. Isto parece ligar-se a subjetividade ou seja interioridade psíquica variável de pessoa a pessoa. (VALE DOIS VALORES).

 

5) A essência é a forma fundamental de algo. Na minha escola, a essência é dupla: o edifício, com salas de aula, ginásio, biblioteca, etc, (essência física); o processo de aprendizagem intelectual e manual que aí se realiza todos os dias, envolvendo professores e alunos. Na minha cidade, a essência é a forma geral arquitectónica e a população que nela vive.

A lei da tríade afirma que um processo dialético se compõe de três partes: a tese ou afirmação, a antítese ou negação e a síntese, ou negação da negação, representando esta última um regresso à tese. Na escola, a aula é a síntese, o resultado do confronto intelectual entre os professor (tese, aquele que põe uma matéria) e os alunos (antítese, aqueles que negam ou ignoram, de início, essa matéria). Na cidade, o centro histórico é a tese, os bairros modernos da segunda metade do século XX e XXI é a antítese, as ruas ou praças em que confluem é a síntese.

O princípio do terceiro excluído afirma que uma coisa ou qualidade ou é tal ou não é tal, ou seja, ou pertence ao grupo A ou ao grupo não A, não havendo a terceira hipótese. Na escola, as salas ou são de aulas ou não são de aulas, não havendo a terceira hipótese. Na cidade, cada casa está classificada como património de interesse municipal ou não está classificada como património de interesse municipal. (VALE DOIS VALORES).  

 

 

Nota para a correção: nas perguntas de relacionação entre dois ou mais conceitos, a cotação para cada resposta dada deve obedecer a um princípio de premiar o aluno que estuda e sabe as definições separadamente: assim deverá receber 50% a 60% da cotação da pergunta desde que defina correctamente os conceitos, embora não consiga interligá-los.

 

Analisemos agora outro teste.

 

Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja

 

TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA D

 

Fevereiro de 2012            Professor: Francisco Queiroz

 

I

“O princípio da máxima felicidade em Stuart Mill tem analogia com a democracia liberal e o imperativo categórico em Kant é formal e autónomo. Nas quatro causas de um ente teorizadas por Aristóteles, duas parecem ter íntima ligação com o livre-arbítrio, e duas parecem ter maior ligação com o determinismo. A concepção de Estado social-democrata é diferente da concepção de Estado fascista.”

 

1) Explique, concretamente, cada uma destas frases.

                                                        II

2) Construa um diálogo entre um anarquista, um comunista leninista e um conservador sobre a natureza do Estado de democracia liberal e o valor das eleições, a propriedade privada das empresas e a economia, os impostos, os direitos à greve, ao aborto voluntário, o ensino, o sistema de saúde, o rendimento mínimo garantido.

III

«.A virtude suprema é sem virtude, é por isso que ela é a virtude. A virtude inferior não se afasta das virtudes, é por isso que não é a virtude. O Tao que se procura alcançar não é o próprio Tao. Pelo não-ser, atinjamos o seu segredo; pelo ser, abordemos o seu acesso. »(Lao Tse)

 

3)  Explique este poema de Lao Tse.

IV

4) Relacione, justificando:

A) Os três mundos em Platão , em Platão, percepção empírica e conceito.

B) Hedonismo cirenaísta, ideologia e mais-valia.

C) Empirismo/ Racionalismo e Metafísica/Pragmatismo.

D) Realismo Ontológico/ Idealismo Ontológico e Dogmatismo/Ceticismo.

 

5)Disserte sobre os temas seguintes:

«A essência e o acidente (interno e externo), e a lei da luta de contrários na minha escola e na minha cidade.»

 

 

CORREÇÃO DO TESTE (COTADO EM 20 VALORES)

 

1) O princípio da máxima felicidade, segundo Stuart Mill, é o que prescreve proporcionar a felicidade à maioria das pessoas envolvidas numa dada situação mesmo que isso implique sacrificar o prazer de quem realiza a ação ou da minoria de pessoas envolvida nessa situação. Sendo a democracia liberal o regime baseado em eleições livres e periódicas por sufrágio universal, com liberdade de imprensa e ação dos partidos políticos, sindicatos, igrejas, etc, regime que forma o seu governo a partir de maiorias de votos da população e dos deputados eleitos por esta, obedece ao princípio da felicidade para o maior número. (VALE UM VALOR) O imperativo categórico de Kant é formal, visto que é vazio de indicações concretas, e autónomo, visto que se baseia no juízo livre de cada pessoa e varia de pessoa a pessoa (VALE UM VALOR).

 

Das quatro causas de um ente, em Aristóteles, as duas que parecem estar mais ligadas ao livre-arbítrio, isto é,à liberdade consciente de escolha são a causa eficiente ( o agente que fabrica o ente; exemplo, os operários que fazem uma casa) e a causa final (a finalidade do ente; exemplo, a casa servir para habitação), ao passo que as causas mais ligadas aparentemente ao determinismo, princípio segundo o qual nas mesmas circunstâncias as mesmas causas produzem sempre os mesmos efeitos, são a causa formal (a forma do ente; exemplo, a forma da casa, com 2 pisos, 5 quartos, etc) e a causa material (a matéria segunda de que o ente é feito; exemplo, os tijolos, o cimento, o ferro, a tinta da casa) (VALE DOIS VALORES; NOTA: HÁ OUTRAS RESPOSTAS VÁLIDAS).

 

A concepção ou seja a ideia fundamental do Estado social-democrata é: o Estado deve garantir direitos iguais a todos os cidadãos, logo deve ser uma democracia multipartidária e parlamentar, permitindo as liberdades de greve, manifestação de rua, imprensa, associação e ação política e sindical, aborto, e deve favorecer a economia capitalista, de livre concorrência e propriedade privada das empresas, mas deve regular essa economia de modo a evitar oligarquias e, portanto, manterá algumas empresas estratégicas em seu poder (exemplo: eletricidade, águas, um canal de televisão, etc) aplicará impostos progressivos aos ricos, de modo a que haja um sistema nacional de saúde e de ensino gratuitos, uma segurança social que estenda o subsídio a todos os desempregados, incluindo o rendimento mínimo. Este Estado democrático de tonalidade social-democrata difere muito do Estado fascista, que é anti parlamentar e tem um caráter policial repressivo de extrema direita, da oposição e das massas populares, impondo a censura à imprensa escrita e televisão, proibindo eleições livres, sindicatos e partidos políticos, favorecendo as igrejas conservadoras que atacam a liberdade de abortar, as uniões de gays e lésbicas, limitando ou impedindo de todo as entradas de imigrantes estrangeiros no país em nome da "unidade da raça, da pátria, da família, de Deus", intervindo na economia de modo a limitar a plena expansão do capitalismo, admitindo os patrões mas proibindo-lhes despedir operários e proibindo a estes a greve e o sindicalismo livre. (VALE DOIS VALORES).

 

2) Anarquista: O capitalismo é um mau regime. Não deve haver Estado. O Estado, seja uma ditadura fascista ou monárquica, ou uma democracia liberal ou uma ditadura marxista-leninista, é sempre uma máquina burocrática, uma ditadura sobre a classe operária e os trabalhadores. A propriedade privada das fábricas, terras, bancos e supermercados, empresas de pesca e transportes e comunicações,  é imoral, assenta na exploração dos trabalhadores pela burguesia e deve ser abolida. Sou pela extinção do capitalismo através da autogestão: as fábricas aos operários, as terras aos jornaleiros agrícolas, as escolas aos alunos e professores! O poder aos operários nas fábricas, reunidos em assembleias de base! O poder à assembleia de moradores em cada bairro! O rendimento mínimo garantido é uma concessão dos capitalistas para calar os mais pobres, uma reforma, uma esmola, mas queremos mais, queremos a revolução social, o socialismo autogestionário, a economia colectivista e descentralizada. Apoiamos o direito ao aborto e à greve. 

 

Comunista leninista: O capitalismo é sem dúvida um mau regime. Assenta na extração de mais valia pelos patrões aos operários assalariados: se, por exemplo, o operário gera um valor de 80 euros diários, o patrão só lhe paga 30 euros, sendo a mais valia equivalente a 50 euros. O anarquismo, de extrema esquerda, é utópico porque faz desaparecer o Estado e permite que a restauração da ordem pública seja levada a cabo pelas forças de direita. A autogestão generalizada não resulta. É necessário um Estado centralizado, forte, a ditadura do proletariado sobre a burguesia, que nacionalize quase todas as empresas, substuindo o patrão por um gestor público comunista. O partido leninista e os sindicatos e sovietes serão a ossatura do novo Estado socialista operário que acabará com as chamadas "eleições livres" da democracia liberal, onde os vencedores são sempre os partidos que a burguesia financia: conservadores, liberais, centristas, socialistas. No Estado leninista, ensino e cuidados de saúde são gratuitos, não há desemprego, são proibidas as greves, há um partido único, o comunista e são proibidos os partidos políticos burgueses e os grupos anarquistas e trotskistas, da extrema-esquerda sectária e irrealista. No entanto, dentro das democracias liberais, nós comunistas concorremos às eleições, promovemos greves, manifestações de rua, acções sindicais e políticas variadas.

 

Conservador: O capitalismo é o melhor regime possível. O Estado é imprescindível e deve ser uma democracia pluripartidária com eleições livres mas precisamos de menos Estado na economia, isto é, muitas empresas estatais (águas, eletricidade, caminhos de ferro, hospitais e centros de saúde, o sistema prisional ou parte dele, etc) podem e devem ser privatizadas de modo a que desçam os impostos sobre os cidadãos e se atraiam os capitais dos muito ricos, nacionais ou estrangeiros. O capitalismo privado é o grande motor da economia e o modelo justo de sociedade. Sou contra os anarquistas, defensores de um comunismo libertário, de base, e sou contra o comunismo leninista, estatizador e totalitário, e contra socialismo democrático com a sua tendência estatizadora de empresas e o seu rendimento mínimo garantido que desencoraja pessoas válidas a procurar emprego. Sou pela privatização das universidades e dos hospitais, ou de muitos deles, e de parte ou todo o ensino secundário que custam muitos milhões em impostos aos contribuintes. Não admito o direito ao aborto livre e ao casamento de gays e lésbicas. Favoreço a moral religiosa tradicional, apoiando igrejas como a católica ou as protestantes, de modo a que não reine a ausência de valores éticos.  (VALE TRÊS VALORES NO SEU CONJUNTO).

 

3) «A virtude suprema é sem virtude» significa: a virtude superior, como por exemplo, a sabedoria, é interior, discreta, não se apresenta com sinais exteriores de virtude (o sábio pode ir dar uma conferência em mangas de camisa, sem gravata e outros adereços exteriores ligados à imagem de "cientista ou professor universitário"). «A virtude inferior não se afasta das virtudes, é por isso que não é a virtude» significa: a virtude inferior, como por exemplo, saber pôr o dinheiro a render em depósitos de juros altos, coisa que toda a gente faz se puder, não é virtude, é esperteza prática. «O Tao que se procura alcançar não é o próprio Tao» pode significar: o Tao ou ritmo ondulatório do universo e fonte de todos os seres é inatingível e não pode ser alterado, é composto de oscilações «Yang» (luz, dilatação, vermelho) e Yin (escuridão, contração, azul) e não é o Tao pessoal que rege a nossa vida (exemplo:o meu Tao é levantar-me às oito da manhã, trabalhar até ao meio dia, almoçar, fazer uma sesta das duas às três, voltar ao trabalho...)«Pelo não ser atinjamos o seu segredo» significa: através do vazio, do não agir, do não desejar nada (não desejar construir um hotel ou um restaurante num lindíssimo campo de oliveiras do Alentejo, por exemplo) entendemos o segredo do Tao, o ritmo do universo. «Pelo ser, abordemos o seu acesso» significa: como o ser é visível e palpável, ao contrário do não ser, é através do ser natural, físico, que acedemos ao Tao (exemplo: o agricultor observa que em tal dia é lua cheia - ser visível- e sabe que dias depois iniciará uma dada sementeira, conforme ao ciclo natural ou Tao). (VALE DOIS VALORES).

 

4) A) Os três mundos em Platão são: o mundo do Mesmo ou Inteligível, povoado de essências eternas, imóveis e imateriais, como o Bem, o Belo, o Justo, o Igual, o Sábio, o Jústo, o Número Um, o Número Dez, mundo que a mente humana só pode alcançar através do conceito, nunca através da perceção empírica ou visão, audição, tato, gosto, gerada nos orgãos sensoriais; o mundo do Semelhante ou do Céu Visível, onde os astros incorruptíveis giram e geram o tempo, «imagem móvel da eternidade», e na medida em que são vistos estão ao alcance da perceção empírica, mundo que é também o das operações matemáticas e nessa medida é alcançado pelo conceito ou ideia que geramos; o mundo do Outro ou Sensível, onde vivemos fisicamente e onde os "seres" nascem, crescem, declinam e morrem e que está ao alcançe da percepção sensível e do conceito. (VALE DOIS VALORES)

 

4) B) O hedonismo cirenaísta ou sensualista identifica o maior bem com os prazeres físicos (comer, beber, nadar ou correr por gosto, etc) e o maior mal com os sofrimentos físicos (dores corporais, fome, sede, etc) e constitui em si uma ideologia - sistema de ideias e valores próprios de um dado grupo social ou de uma civilização - e a mais valia, ou fruto do trabalho operário ilicitamente apropriado pelo capitalista, manifesta o hedonismo cirenaísta deste último («Vou pagar mal aos meus operários para extrair grande mais valia deles e ter jantares de caviar e faisão com as minhas amantes ou acompanhantes»). (VALE UM VALOR).

 

4)C) O empirismo, corrente que sustenta que quase todas as nossas ideias são cópias pálidas das perceções empíricas, liga-se, aparentemente, ao pragmatismo, corrente que centra o conhecimento nas coisas (pragnata) visíveis e sensíveis, e na utilidade delas, pondo entre parêntesis a metafísica, ou reino das entidades invisíveis, inaudíveis, impalpáveis cuja existência é dificil ou impossível de demonstrar. A metafísica liga-se ao racionalismo se este é definido como a corrente que sustenta que as nossas ideias fundamentais são provenientes não dos orgãos dos sentidos mas da razão ou de um mundo racional-ideal que transcende cada pessoa. (VALE DOIS VALORES)

 

4)D) O realismo ontológico diz que o mundo material é real em si mesmo, independente das consciências humanas. Na medida em que não duvida da exterioridade da matéria, é um dogmatismo. O idealismo ontológico diz que um mundo material é ilusório em si mesmo, é um filme montado no salão vastíssimo da nossa consciência. Na medida em que duvida da realidade exterior da matéria, é um cetismo. (VALE DOIS VALORES).

 

5) Essência é a forma fundamental e estável de algo. Exemplo: O edifício da escola, a comunidade alunos em aprendizagem e professores em transmissão dos saberes e avaliação quotidiana.  Acidente interno é um aspeto interior à essência que se manifesta só às vezes. Exemplo: A campainha da escola que toca em cada 45 minutos, aproximadamente. Acidente externo é o que não pertence à essência mas lhe sobrevém. Exemplo: a vinda da equipa médica hospitalar à escola num determinado dia. A lei da luta de contrários estipula que em cada coisa há uma luta de contrários que constitui a essência e o motor de desenvolvimento dessa coisa. Exemplo: na cidade, a luta política entre a burguesia (os ricos, os agricultores abastados, os grandes comerciantes) e o proletariado e semiproletariado (os operários agrícolas, os pequenos funcionários, os empregados de armazém, as cozinheiras, os varredores, etc) (VALE DOIS VALORES).

 

Nota para a correção: nas perguntas de relacionação entre dois ou mais conceitos, a cotação para cada resposta dada deve obedecer a um princípio de premiar o aluno que estuda e sabe as definições separadamente: assim deverá receber 50% a 60% da cotação da pergunta desde que defina correctamente os conceitos, embora não consiga interligá-los.

 

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Domingo, 5 de Fevereiro de 2012
Valerie Solanas: «o homem é uma fêmea incompleta, um ser egocêntrico incapaz de amar»

 

Valerie Solanas (9 de Abril de 1936, Ventnor, New Jersey- 25 de Abril de 1988, São Francisco) foi uma escritora norte-americana, feminista radical, que teorizou a superioridade genética, psicofísica e intelectual, da mulher face ao homem. Celebrizou-se por ferir a tiro Andy Wharol, em 3 de Junho de 1968, a quem acusava de a controlar demais e de roubar o seu trabalho. Ela foi, de certo modo, a "extrema-esquerda" do feminismo, atacando «a sociedade norte-americana, totalitária e demagógica» no dizer de Joëlle Gazharian. No «Manifesto da Scum», sigla - Scum quer dizer «Escumalha»- de Society for Cutting-Up Men (Associação para destroçar os Homens), escreveu:

 

«O homem é um acidente biológico. O gene Y (masculino) é um gene X (feminino) incompleto, quer dizer, é um conjunto imperfeito de cromossomas. Por outras palavras, o homem é uma fêmea incompleta, um aborto com pernas, falhado na fase do gene. Ser homem é ser deficiente, emocionalmente limitado; a masculinidade é uma doença e os homens são seres emocionalmente estropiados.»

«O homem é um ser egocêntrico, fechado em si próprio, incapaz de desenvolver afinidades, de se identificar com os outros, de amar, de sentir amizade, afeição ou ternura. É uma célula completamente isolada incapaz de se relacionar.» (Valerie Solanas, Manifesto da Scum, página 7, Fenda; o destaque a negrito é posto por mim).

 

«A inabilidade para se relacionar com os outros, ou com as coisas, torna a vida do homem tão falha de sentido e tão insípida (o princípio fundamental do pensamento masculino é que a vida é absurda) que ele inventou a filosofia e a religião. Sem nada dentro de si, olha para o exterior, não apenas para orientação e controle, mas também para salvalção e sentido para a vida. Na impossibilidade de ser feliz nesta terra, criou o Céu.» (Manifesto da Scum, pag 19; o destaque a negrito é posto por mim).

 

«O segredo mais profundo de todos os homens é o medo de se vir a descobrir que ele não é uma mulher, mas sim um homem, um ser sub-humano.» (ibid, pag 27)

 

«A DESCONFIANÇA - Incapaz de desenvolver afinidades ou sentimentos de afeição ou lealdade, vivendo exclusivamente para si próprio, o homem não tem o sentido da honestidade; de forma cobarde, necessita constantemente de "engraxar" a mulher para conseguir a sua aprovação sem a qual não é ninguém; sempre no fio da navalha, temendo que sejam descobertas a sua animalidade, a sua masculinidade, sempre a encobrir, sempre a mentir; vazio, o homem não tem honra nem integridade; não conhece o significado destas palavras. Em resumo, o homem é traiçoeiro, e a única atitude apropriada, numa "sociedade" masculina, é o cinismo e a desconfiança.»

 

«A FEALDADE - Dominado totalmente pelo sexo, incapaz de reagir de forma cerebral ou estética, materialista e ambicioso, o homem para além de impor ao mundo a sua "Grande Arte", também criou cidades sem paisagem, com edifícios feios (por dentro e por fora), decorações feias, painéis publicitários, auto-estradas, carros, camiões de lixo e, acima de tudo, a sua pútrida pessoa.» (VS, ibid, pag 28; o destaque a negrito é posto por mim).

 

«ÓDIO E VIOLÊNCIA - O homem é roído pela tensão, pela frustração de não ser mulher, de nunca conseguir alcançar satisfação ou prazer; é devorado pelo ódio, não um ódio racional dirigido a quem calunia ou insulta, mas um ódio indiscriminado e irracional, um ódio, no fundo, à sua própria e inútil pessoa.»

«A violência gratuita, para além de demonstrar que ele é um "Homem", serve como tubo de escape para o seu ódio; considerando que o homem reage apenas de forma sexual e que tem necessidade de estímulos realmente fortes para excitar a sua natureza meio morta, a violência gratuita dá-lhe oportunidade para uma pequena sensação sexual» (VS, ibid, 28-29).

 

O PROJETO DE SOCIEDADE DOMINADA PELAS MULHERES E O COMBATE ÀS MENINAS DO PAPÁ

 

O projeto ideológico de Valerie Solanas é o de uma sociedade igualitária para as mulheres em que os homens são uma casta subserviente, inferior. E, como é habitual na dialética revolucionária, identifica, no campo dos oprimidos, um segmento colaboracionista com os opressores, o segmento das meninas do Papá. Paradoxalmente, ou não, as SCUM, mulheres que enfrentam a «escumalha masculina» assumem-se como egoístas e violentas para impor a sua ditadura:

 

«Numa sociedade sadia, o homem trotaria obedientemente atrás da mulher. O homem é dócil, conduz-se facilmente e facilmente se submete ao domínio de uma mulher que o queira dominar. O homem, na realidade, deseja desesperadamente ser conduzido pelas mulheres, quer que a Mamã assuma a responsabilidade, quer entregar-se aos seus cuidados. Mas esta não é uma sociedade sadia e a maioria das mulheres não tem a menor ideia do ponto em que está em relação aos homens.»

«O conflito, portanto, não é entre mulheres e homens, mas entre as SCUM - mulheres dominantes, seguras, confiantes, terríveis, violentas, egoístas, independentes, orgulhosas, aventureiras, desembaraçadas, arrogantes, que se consideram prontas a governar o universo, que soltaram as suas amarras para fora dos limites desta "sociedade" e estão prontas a deixar-se ir para além do que ela tem para oferecer - e as meninas do Papá, amáveis, passivas, "cultas", educadas, dignas, subjugadas, dependentes, receosas, cabeças no ar, inseguras, carentes de aprovação, que não conseguem enfrentar o desconhecido, que querem continuar agarradas aos macacos, que só se sentem seguras com o Papá ao lado, com um homem grande e forte para se encostarem, que precisam de um rosto gordo e peludo na Casa Branca, que são demasiado cobardes para enfrentar a medonha realidade que um homem é, que o Papá é,  que partilham com os porcos o seu destino, que se adaptaram ao animalismo, sentindo-se superficialmente bem e não conhecem outra forma de "vida", que rebaixaram as mentes, pensamentos e opiniões ao nível masculino, que com falta de percepção, imaginação e humor, apenas conseguem ser valorizadas numa "sociedade" masculina, que só conseguem um lugar ao sol, ou melhor, no lodo, como afagadoras e impulsionadoras do ego masculino, como embaladoras e procriadoras, que são rejeitadas como inconsequentes pelas outras mulheres, que projetam as suas deficiências, a sua masculinidade, em todas as mulheres e as vêem como vermes

«Mas a SCUM está demasiado impaciente para esperar pela deslavagem ao cérebro de milhões de caras de cú.»

 

(Valerie Solanas, ibid, pag 33; o destaque a negrito é posto por mim).

 

O ANTI TRABALHO E A ELIMINAÇÃO DOS HOMENS QUE RESISTAM ÀS MULHERES DA SCUM

 

O antitrabalho na sociedade industrial, capitalista privada (EUA, Canadá, Grã-Bretanha, etc) ou capitalista de estado (URSS, RDA até 1989, China Popular, etc) , tema dos internacionais situacionistas, anarquistas clássicos e hippies, é preconizado por Valerie Solanas. A finalidade é destruir o sistema do trabalho-dinheiro o que implicará a automatização total da produção de bens:

 

«A SCUM tornar-se-á membro dos grupos antitrabalho, dos grupos do arrebenta; arranjarão os mais variados empregos e porão em prática o antitrabalho. Por exemplo, as vendedoras da SCUM não aceitarão o pagamento das mercadorias; as operadoras telefónicas não exigirão o pagamento das chamadas; as trabalhadoras SCUM de escritórios e fábricas, para além de foderem o trabalho, destruirão secretamente o equipamento. A SCUM fará anti trabalho até ser despedida; depois arranjará um novo emprego onde prosseguirá o antitrabalho».

«As SCUM forçarão  os condutores de autocarro, taxistas e vendedores de bilhetes de Metro a abandonar os seus postos; de seguida conduzirão os autocarros e táxis e distribuirão gratuitamente os bilhetes ao público.» (...)

 

 

Mas onde o projeto anarco-feminista de Valerie Solanas adquire uma configuração que se poderia classificar de ginocrático-fascista, um reino de Amazonas implacáveis, transparece nestas passagens marcadamente utópicas que falam da aliança entre os gays, que enfraquecem o campo masculino, e as lésbicas da SCUM. Isso implicaria, decerto, um genocídio na forma de androcídio:

 

«A SCUM intrometer-se-á entre os casais mistos (homem-mulher) prendendo-os

«A SCUM liquidará todos os homens que não façam parte do Auxiliar Masculino da SCUM. Os homens do Auxiliar Masculino são aqueles homens que trabalham diligentemente para a própria eliminação, homens que, independentemente dos seus motivos, fazem o bem; homens que são camaradas da SCUM. Exemplos de homens do Auxiliar Masculino: homens que matam homens; biólogos que trabalham em  programas construtivos e não em prol da guerra biológica; jornalistas, escritores, editores que disseminam e promovem ideias conduzindo à realização dos objetivos da SCUM; bichas que, com o seu estilo flamejante, encorajam outros homens a desmasculinizarem-se e a tornarem-se assim relativamente inofensivos; homens que dão coisas: dinheiro, serviços; homens que contam as coisas como elas são (até agora nunca nenhum o fez) que se mostram corretos com as mulheres, que revelam a verdade àcerca de si próprios, que dão às desmioladas mulheres-homem frases corretas para elas papaguearem, que lhes dizem que o objetivo principal na vida de uma mulher devia ser esborrachar o sexo masculino (para ajudar os homens nesta diligência, a SCUM organizará Sessões do Cagalhão, nas quais todos os homens presentes farão um discurso que começa assim: «Eu sou um cagalhão, um vil e ajeto cagalhão», elaborando depois uma lista de todos os pontos em que o são.»(VS, ibid, pag. 34-35; o destaque a negrito é posto por mim).

 

E no seu terrível diagnóstico social escreve:

 

«Todas as mulheres têm em maior ou menor grau um sinal de loucura, mas isso resulta de uma longa vivência entre os homens. Eliminem-se os homens e as mulheres hão-de recuperar a forma. As mulheres têm possibilidades de melhorar, os homens não; é o comportamento destes que pode melhorar. Quando a SCUM lhes apertar os calos, eles hão-de entrar rapidamente na ordem.»

 (Valerie Solanas, ibid,pag. 36).

«A SCUM pretende destruir o sistema, não pretende alcançar alguns direitos dentro do sistema. A SCUM sempre egoisticamente e de cabeça fria, evitará ser detida e condenada. A SCUM agirá sempre de forma furtiva, dissimulada e clandestinamente (no entanto,os assassinatos das SCUM serão sempre reconhecidos).»

«Os assassinatos e destruições serão seletivos. A SCUM opõe-se aos tumultos desorientados, sem discernimento, sem objetivos claros, em que muitos dos próprios apoiantes são apanhados. » (VS, ibid, pag 38). 

 

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Sexta-feira, 27 de Janeiro de 2012
Valores ético-políticos: uma síntese de sete correntes para estudantes de filosofia do secundário

 

Coloquemos sete correntes políticas em análise: três de esquerda (anarquistas, comunistas, sociais-democratas), uma de centro (centristas), três de direita (liberais, conservadores e fascistas/ absolutistas monárquicos). Como caraterizar, de forma sumária, a diferença entre esquerdas e direitas? 
 
As esquerdas desconfiam dos muito ricos e dos ricos e pretendem limitá-los e reduzi-los com elevados impostos (caso da esquerda social-democrata ou socialista reformista) ou eliminá-los enquanto classe social (caso dos comunistas marxistas-leninistas, dos trotskistas e dos anarquistas) visto que entendem que quanto mais ricos houver mais pobres haverá. As direitas apoiam os muito ricos e os ricos e defendem o direito a cada um enriquecer através do trabalho próprio e alheio, dizendo que os capitalistas são o motor da economia próspera e da sociedade livre e plural já que dão emprego a milhões de trabalhadores e promovem a diversidade (a direita fascista exerce um controlo estatal sobre os capitalistas não permitindo o livre funcionamento do mercado de capitais e bens em toda a sua extensão). 
 
ANARQUISMO (EXTREMA-ESQUERDA)
 
Ideia geral: O capitalismo (existência de empresários e assalariados, com os primeiros a apropriarem-se da MAIS-VALIA ou MAIS-VALOR que os operários criam) é um mau regime e o Estado, mesmo que tenha eleições livres e multipartidarismo (caso do Estado de direito democrático), é uma ditadura dos capitalistas ou dos aristocratas ou dos burocratas estalinistas sobre os trabalhadores, que são explorados. No capitalismo social-democrata (PS) ou neoliberal (PSD) e conservador (CDS), o parlamento e as eleições multipartidárias são uma farsa: ganham os partidos que gastam milhões na propaganda escrita e televisiva , nos comícios e campanhas de rua e depois os deputados eleitos não prestam contas ao povo e vivem como burgueses ricos. O marxismo-leninismo é uma má ideologia porque faz os operários cair sob a ditadura comunista-estalinista (Cuba, Coreia do Norte, etc).  Os anarquistas defendem a AÇÂO DIRETA – a luta de rua com a polícia que defende a burguesia – e alguns defendem o ATENTADO TERRORISTA SELETIVO. Há que suprimir o Estado (exército, polícia, tribunais, parlamento, etc) e instaurar a AUTOGESTÃO ou DEMOCRACIA DE BASE SEM PATRÕES anticapitalista: cada fábrica é gerida pela assembleia de operários e engenheiros, cada bairrro por uma assembleia de todos os moradores, as terras são geridas por cooperativas de trabalhadores, etc.. A economia é coletivista e pode haver pequenos negócios individuais (se um barbeiro não quer juntar-se à cooperativa local exerce sozinho, sem empregados): o povo governa e tem armas em casa (milícia popular), o aborto é livre, não há vacinas obrigatórias, gays e lésbicas são livres, a prostituição é proibida («o amor não se compra»), o ensino é gratuito e as escolas fazem os seus programas, as prisões quase não existem, há liberdade de viajar pelo mundo inteiro, as pessoas ganham mais ou menos o mesmo, não há desemprego.
 
 COMUNISMO MARXISTA-LENINISTA (VULGO: ESTALINISMO, ESQUERDA AUTORITÁRIA)
  
Ideia geral: O Estado, no capitalismo (regime da propriedade privada dos meios de produção – fábricas, terras, mar – e troca – hipermercados, bancos, etc) é uma ditadura da classe burguesa sobre o proletariado. Por isso os comunistas estão nos sindicatos, nas fábricas, nas ruas incentivando lutas contra a descida dos salários e a alta de preços nos transportes, na alimentação, etc. No capitalismo europeu e outro, os comunistas concorrem às eleições livres para eleger deputados no parlamento – ao contrário dos anarquistas – mas dizem que as eleições não são isentas porque os muito ricos financiam os partidos maiores, da burguesia, (PSD, CDS e PS, no caso português) e enganam ou alienam os trabalhadores. Quando o partido leninista se apoderar do Estado este passará a ser um instrumento dos trabalhadores. A economia «comunista» é coletivista e centralizada: as minas, a eletricidade, hipermercados, siderurgia, fábricas em geral são nacionalizadas, dirigidas pelo partido comunista, que não permite despedimentos e não autoriza greves nas suas empresas e na sociedade que ele domina. O aborto é permitido, os partidos de direita e centro-esquerda (socialistas) e os grupos anarquistas e trotskistas de extrema-esquerda são proibidos, a televisão e os jornais sofrem a censura (caso de Cuba, China e Coreia do Norte), as eleições são de lista única, em princípio. O estalinismo é a ditadura comunista incarnada num chefe (Estaline na URSS de 1922 a 1953) venerado e temido como um semi-deus. O objetivo último do comunismo é a sociedade sem classes à escala mundial, desaparecendo teoricamente os aparelhos de Estado (governo, parlamento, forças armadas, etc).
 
 
SOCIALISMO REFORMISTA OU SOCIAL-DEMOCRACIA (ESQUERDA CAPITALISTA-SOCIAL)
 
Ideia geral: uma vez que a anarquia é utópica e o comunismo leninista é uma ditadura sufocante, há que criar um capitalismo vincadamente social, dito de esquerda reformista, uma social-democracia, em que ao lado das empresas privadas, - cujos capitalistas pagam grandes impostos a fim de financiar o subsídio de desemprego universal, o ensino público gratuito, o sistema de saúde gratuito – existem as cooperativas e empresas em cogestão ( patrões e operários dividem lucros e direção da empresa) . Sustenta que nem tudo deve ser privatizado, algumas empresas estratégicas devem ficar na mão do Estado que faz preços mais baixos que os privados: a siderurgia, o transporte ferroviário, os autocarros urbanos, a rede nacional de eletricidade, um canal de televisão, os correios, etc. São permitidas as liberdades de imprensa, greve, manifestação de rua, sexual (uniões de gays e lésbicas), religião e ateísmo, aborto, eutanásia, ensino, ação de partidos políticos e sindicatos – tudo isto ideais da maçonaria que tem muitos políticos e intelectuais socialistas. A social-democracia defende a união europeia e a globalização capitalista mas põe reservas à desregulamentação desta. Deixa entrar na Europa os imigrantes vindos da Ásia, América Latina, África. Em Portugal, o PS e a ala direita do BE representam o socialismo reformista ou democrático.
 
 CENTRISMO SOCIAL-LIBERAL (JOHN RAWLS) OU CRISTÃO-DEMOCRATA
 
Ideia geral: o socialismo em qualquer uma das formas (anarquista, comunista leninista ou socialista democrático) é paralisante da economia porque tem demasiado coletivismo ou demasiado Estado na economia, o liberalismo, o conservadorismo e o fascismo são políticas que servem o egoísmo dos muito ricos e criam injustiça social. Assim há que lançar um meio termo: o centro social-liberal ou democrata-cristão. Não exige nacionalizar empresas – ao contrário das esquerdas – mas impõe impostos progressivos sobre os capitalistas (os destes que ganharem 1 milhão de euros ao mês pagarão, por exemplo, 50% de imposto). Defende a subsidiaridade (apoios aos mais pobres). Em Portugal, a ala direita do PS (Sócrates, etc) e ala esquerda do PSD e CDS representam o centrismo.
 
 
LIBERALISMO E NEOLIBERALISMO (DIREITA CAPITALISTA)
 
Ideia geral: o socialismo em qualquer uma das formas (anarquista, comunista leninista ou socialista democrático) é paralisante da economia porque tem demasiado coletivismo ou demasiado Estado na economia, assim o motor desta devem ser as empresas privadas porque os patrões é que sabem desenvolver investimentos e lucros e dar emprego. São permitidas as liberdades de imprensa, greve, manifestação de rua, sexual (uniões de gays e lésbicas), religião e ateísmo, aborto, eutanásia, ensino, ação de partidos políticos e sindicatos – tudo isto ideais da maçonaria que tem muitos políticos e intelectuais liberais e neoliberais . Os despedimentos devem ser fáceis, com pequenas ou nenhumas indemnizações aos operários, a liberdade económica (liberalismo) deve imperar, hospitais, serviços de eletricidade e águas municipais, escolas podem ser privatizados e o Estado deve emagrecer. Deixe-se enriquecer os muitos ricos, que paguem poucos ou nenhuns impostos, porque são eles que movimentam a economia, compram os automóveis, jóias e vestuário de luxo, etc. Os capitais devem circular livremente, apoia-se a União Europeia e a globalização. Em Portugal, o PSD representa esta corrente, ainda que haja uma minoria de centristas e sociais-democratas no PSD.

 
CONSERVADORISMO (DIREITA CAPITALISTA)
 
Ideia geral: o capitalismo (existência de patrões e assalariados) é o melhor regime possível, as esquerdas são negativas porque ameaçam os donos do capital privado, os poderes do Estado e da polícia devem ser fortes para reprimir os extremistas de esquerda e os desordeiros dos sindicatos, as igrejas (protestante ou católica ou outra) devem ser apoiadas porque são contra o aborto livre, o adultério e a promiscuidade sexual, e contra os casamentos de gays e lésbicas, o consumo livre de certas drogas, etc. Defende as privatizações das empresas estatais – a eletricidade, as águas, os transportes públicos urbanos, muitos hospitais e escolas devem sair das mãos do Estado e ser vendidos a capitalistas e acionistas privados- e a extinção do rendimento mínimo garantido a fim de obrigar «os que não trabalham a procurar emprego». O conservadorismo apoia uma certa democracia pluralista (o parlamento, as eleições livres) mas, é fortemente anticomunista e antianarquista e, em certos casos, pode exigir a ilegalização dos partidos comunistas. Quer alguma distância face ao federalismo europeu. Em Portugal, o CDS é o partido conservador.
 
FASCISMO OU ABSOLUTISMO MONÁRQUICO (EXTREMA-DIREITA)
 Ideia geral: O anarquismo e o comunismo são o mal maior porque suprimem a iniciativa privada, mas a social-democracia (centro-esquerda) e o liberalismo e conservadorismo (direitas) são más políticas porque promovem a democracia liberal ou parlamentar, governo dos muito ricos e da imoralidade. Há que expulsar imigrantes e manter a raça portuguesa livre de “contaminação”, fazendo Portugal sair da União Europeia. Há que proibir a pornografia na televisão e cinema, desenvolver as ideias de «Deus, pátria, família e honra militar», perseguir ou neutralizar gays e lésbicas, proibir os partidos políticos e as eleições livres, acabar com os sindicatos, as greves e manifestações de protesto, militarizar a sociedade e estabelecer uma paz autoritária em que as pessoas obedeçam ao chefe sem contestar. Nas escolas, deve haver separação de sexos. Haverá restrições ao uso da internet e a polícia política poderá prender a qualquer momento os subversivos. Ditadura de um partido único anticomunista e tradicionalista é a solução. Há que promover um capitalismo nacional, fortemente controlado pelo Estado, baseado no corporativismo que impede a luta de classes: os patrões ficam proibidos de despedir operários e estes impedidos de fazer greve e propaganda política contra o Estado Nacional.
 
ALGUMAS QUESTÕES PARA ESTUDANTES
 
 
1) Destas 7 correntes políticas há 4 que aceitam a democracia parlamentar/ liberal como um fim em si mesma, como o regime mais perfeito. Quais são?
 
Resposta: São os socialistas reformistas ou sociais-democratas, os centristas, os liberais e neoliberais e os conservadores.
 
2) Destas 7 correntes há 3 que, embora usando o Estado de direito democrático, o querem substituir a longo prazo. Quais são? Quais os seus argumentos?
 
Resposta: As três correntes que desdenham da democracia liberal capitalista e pretendem substitui-la são: anarquistas, comunistas leninistas e fascistas. Os anarquistas dizem que todo o Estado, inclusive o de regime parlamentar democrático, é uma ditadura da burguesia sobre o proletariado e, por isso, não concorrem sequer às eleições legislativas, querem a revolução social. Os comunistas leninistas também consideram o Estado capitalista democrático um orgão de opressão dos trabalhadores e advogam a instauração de um Estado operário comunista centralizado em que suprimem as liberdades burguesas de formação de partidos políticos, de imprensa, etc. Os fascistas dizem que a democracia liberal coloca os plutocratas, os muito ricos, e a imoralidade no poder e desnacionaliza a pátria, pelo que defendem a ditadura nacionalista de direita.
 
 
3) Onde há maior participação dos trabalhadores: na empresa nacionalizada, na empresa em autogestão ou na empresa privada?
 
Resposta: Teoricamente, a maior participação dos trabalhadores é na empresa em autogestão visto que nesta há assembleias deliberativas de todos os trabalhadores, operários, engenheiros, contabilistas.
 
4) Em que medida reflete a democracia liberal ou parlamentar as éticas de Kant e de Stuart Mill?
 
Resposta: A ética de Kant com o imperativo categórico obriga a estender universalmente a todos os indivíduos aquilo que achamos justo fazer e desfrutar. Assim se eu desejo influenciar o poder político, desejo o mesmo para todas as pessoas - e daí surge o direito universal ao voto, a exprimir-se livremente nas ruas, a formar partidos políticos, sindicatos, empresas, etc.
A ética de Mill defende a maximização do prazer, isto é, estendê-lo à maioria das pessoas. Ora a democracia liberal manda que governe o partido da maioria.
 
5) Há três correntes que se reclamam do “socialismo”. Distinga esses três conceitos de socialismo.
 
Resposta: O socialismo reformista é um capitalismo social, reformado, uma combinação entre o capitalismo de estado (exemplo: as grandes empresas de transportes, a siderurgia, a rede elétrica, a universidade, os grandes hospitais, etc, ficam na mão do Estado) e o capitalismo privado, de tal modo que a sociedade capitalista fica um pouco «socializada» com o serviço nacional de saúde e o ensino gratuitos, o rendimento social de inserção, os impostos progressivos,etc. Respeita os patrões e acha-os necessários.
O socialismo marxista-leninista é um capitalismo de estado, ou seja, coloca a economia toda ou quase toda nas mãos do Estado dirigido pelo partido comunista que garante emprego a todos e reduzidas diferenças salariais, ainda que coarctando as liberdades individuais e de classe ( Estado totalitário de esquerda),
O socialismo anarquista é o poder directo dos proletários sobre os meios de produção (fábricas, terras, etc) e implica a desaparição do Estado central, do exército e da polícia e do parlamentarismo.

 

 

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f.limpo.queiroz@sapo.pt

 

© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)



publicado por Francisco Limpo Queiroz às 17:15
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