Domingo, 29 de Setembro de 2013
Hegel: a matéria é um universal, é lei e não coisa

 

Na sua obra fundamental «Fenomenologia do espírito», Hegel define a matéria como um princípio universal, semi indeterminado. A forma seria então o factor de individualização.  

 

Isto parece opor-se a Aristóteles e a Tomás de Aquino que sustentaram ser a matéria o princípio de individuação, aquilo que deforma, ao aplicar-se à matéria, uma mesma essência ou forma específica (eidos) e cria este e aquele indivíduo singular (Sócrates e Heráclito teriam a mesma essência ou forma específica, que é homem, mas a matéria de cada um deles estabeleceu as singularidades, o nariz achatado de Sócrates diferente do de Heráclito, etc).  Escreveu Hegel:


«E assim também a relação entre ácido e base e o seu movimento mútuo constituem uma lei, na qual estas contraposições se manifestam como corpos. Sem embargo, estas coisas separadas não têm nenhuma realidade; a força que as dissocia não pode impedi-las de entrar de novo em um processo, já que não são senão esta relação. Não podem, como um dente ou uma garra, permanecer para si e mostrar-se de este modo. O facto de que a sua essência consista em passar de um modo imediato a um produto neutro é o que faz do seu ser um ser superado em si ou um universal; e o ácido e a base só possuem verdade como universais. Assim, pois, do mesmo modo que o vidro e a resina podem ser tanto electricidade positiva como negativa, o ácido e a base não se acham vinculados como propriedade a esta ou àquela realidade, mas que cada coisa só é ácida ou básica relativamente; o que parece ser decididamente ácido ou base adquire nas chamadas "sinsomatías" a significação contraposta relativamente a outro. Deste modo, o resultado das experiências  supera os momentos ou as animações como propriedades das coisas determinadas e liberta os predicados dos seus sujeitos. Estes predicados devêm, como de verdade o são, encontrados somente como universais; em razão de esta independência recebem, portanto, o nome de matérias, que não são nem corpos nem propriedades, e há que guardar-se muito, com efeito, de chamar corpos ao oxigénio, etc, à electricidade positiva e negativa, ao calor, etc. »

 

«A matéria, pelo contrário,  não é uma coisa que é, mas o ser como universal ou em modo de conceito. A razão que é ainda instinto estabelece esta atinada diferença sem a consciência de que , ao experimentar a lei em todo o ser sensível supera precisamente, assim, o seu ser somente sensível e de que ao apreender os seus momentos, como matérias, a sua essencialidade converte-se para ela em algo universal e enuncia-se, nesta expressão, como algo sensível não sensível, como um ser incorpóreo e, sem embargo, objectivo».

 

(Hegel,Fenomenología del espíritu, pag 155-156, Fondo de Cultura Económica, México; o destaque a negrito é posto por mim).

 

Esta é uma grande passagem de Hegel, de grande profundidade, sobre a dialética: o ser das coisas é transitório e aguenta-se ou firma-se no seu contrário, com o qual dá o salto para um novo estado; a matéria não é uma coisa que é mas o ser como universal, dado que é o substrato de todas as transformações ou mudanças de forma de cada ente concreto. .

 

Cada um dos contrários é susceptível de passar ao outro ou a um estado intermédio: o ácido e a base, que são termos relativos, produzem um sal ou neutro. A matéria é lei e não coisa, com a ressalva de que a lei atravessa a coisa, todas as coisas. E a matéria aparece definida em dois planos: como ser universal, sensível (exemplo: o ar que há por toda a parte, a terra que pisamos e cheiramos) e como conceito (exemplo: o ar concebido como mistura de oxigénio, azoto, hidrogénio, gases raros, etc). Como sempre, a dialética do ser e do conceito ou reflexão do ser.

 

É notável ainda a tese de Hegel de que há um instinto da razão que leva esta, por exemplo, a generalizar que todas as pedras caem para a Terra ao serem largadas no ar, uma vez que nos limitamos a fazer esse tipo de experiências 100, 1000 ou 50 000 vezes e a generalização que daí parte é por instinto ou intuição da razão. Assim a indução (amplificante) não é cem por cento lógica, racional, mas tem a sua quota parte de pressentimento, instinto.

 

Karl Popper e Heidegger, entre outros, atacaram a dialética sem a compreender verdadeiramente: nenhum deles possuía a profundidade de Hegel que foi, talvez, o Aristóteles dos nossos dias.

 

Os filósofos analíticos, com as suas divisões intelectualmente imperfeitas - por exemplo, Simon Blackburn com a sua divisão das correntes metaéticas em determinismo duro/ determinismo moderado/ libertismo/ indeterminismo, sem conseguir encaixar o "libertismo" no determinismo nem no indeterminismo... - também se revelaram incapazes de pensar de forma genuinamente dialetica.  Thomas Nagel, Kripke ou Peter Singer não foram nem são capazes da profundidade e da riqueza conceptual de Hegel.

 

 

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Quarta-feira, 25 de Setembro de 2013
Consciência, autoconsciência e categoria em Hegel

 

Há, em Hegel, uma ressonância gnóstica ou neoplatónica quando fala da materialização do espírito divino, da autoconsciência que desce à matéria que ela mesma produz.

Sobre a categoria, que em Aristóteles é uma substância ou particularidade objectiva (exemplo:cavalo, lugar, tempo, posição em pé ou sentado, etc) e em Kant é estrutura subjectiva (exemplos: unidade, pluralidade, causa-efeito), escreveu Hegel:


«A autoconsciência desventurada alienou a sua independência e pugnou por converter o seu ser para si em coisa. Retornou com isso da autoconsciência à consciência, quer dizer, à consciência para a qual o objecto é um ser, uma coisa; mas isto, o que a coisa é, é autoconsciência, é, portanto, a unidade do eu e do ser, a categoria. Enquanto o objecto é determinado assim para a consciência, ela tem razão. A consciência, do mesmo modo que a autoconsciência, é, em si, propriamente razão; mas somente da consciência para a qual o objecto se determinou como a categoria pode dizer-se que tem razão; mas algo distinto disto é ainda saber o que é razão. A categoria, que é a unidade imediata do ser e do si próprio, tem necessariamente de percorrer ambas as formas e a consciência observadora é precisamente aquela ante a qual a categoria se apresenta em forma de ser.  (...) A pura categoria, que é para a consciência na forma do ser e da imediatez, é o objecto ainda não mediado, somente presente, e a consciência um comportamento, deste modo, não mediado. O momento daquele juízo infinito é o trânsito da imediatez à mediação ou negatividade. Portanto, o objecto presente determina-se como um objecto negativo e a consciência como a autoconsciência relativamente a ele, ou a categoria, que percorreu a forma do ser no observar e põe-se agora na forma do ser para si, a consciencia não quer já encontrar-se de um modo imediato, mas fazer surgir a si mesma através da sua actividade. »

 

 

(Hegel,Fenomenología del espíritu, pag 206, Fondo de Cultura Económica, México; o destaque a negrito é posto por mim).

 

Note-se que a autoconsciência é Deus que, depois, se exterioriza e converte em coisa, objecto material, ser, e mais tarde regressa a si convertendo-se em consciência (humana). O pensar da consciência nega o conhecimento sensorial, o dado imediato, e por isso, é pura negatividade. Exemplo: vejo o tampo da mesa liso e homogéneo, é o ser imediato, mas racionalizo e concebo que se compõe de átomos com núcleos, órbitas electrónicas e espaços vazios, isto é, concebo a essência do tampo da mesa, negando a lisura e homogeneidade do tampo.

 

Por este texto, vemos que a categoria é o modo como o objecto se apresenta à consciência, a relação de dois graus entre o ser material e a subjectividade: como ser, mediante a sensação, - e neste caso é objectiva - e como essência, através da reflexão - e, neste caso, é subjectiva, ou melhor, intersubjectiva. Quem faz a mediação do objecto, isto é, a transcrição do seu ser para a nossa consciência? É  a essência, a reflexão. Porque a essência é reflexão do ser.

 

 

Nota: Este é o post nº 600 deste blog que teve início em Fevereiro de 2006 e que combate, em nome da verdade e do rigor filosóficos, os equívocos de filósofos, catedráticos e professores liceais de filosofia. O blog  combate ainda a relativa ininteligência das universidades e do mundo da cultura oficial na rejeição da astrologia histórica, da medicina holística e naturopática, e de outras doutrinas verdadeiras mas marginalizadas pelos néscios cujos doutoramentos nada valem, no mundo real dos sábios que não é o dos diplomas mas das ideias criativas e profundas.

 

 

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Terça-feira, 24 de Setembro de 2013
A questão da essência no ideal-realismo de Hegel

 

Hegel é, tal como Kant, um filósofo pouco entendido pela grande maioria dos académicos.

 

Sobre a essência, escreveu:

 

«A substância é, de este modo, espírito, unidade autoconsciente do si mesmo e da essência; mas ambos têm também a significação do estranhamento, um relativamente ao outro. O espírito é consciência de uma realidade objectiva para si livre; mas a esta consciência se enfrenta aquela unidade do si mesmo e da essência, à consciência real se enfrenta a consciência pura. Por um lado, mediante a sua alienação a autoconsciência real passa ao mundo real e este retorna àquela; mas, por outro lado, superou-se precisamente esta realidade, tanto a pessoa como a objectividade; estas são puramente universais. Este seu estranhamento  é a pura consciência ou a essência. A presença tem de um modo imediato a sua oposição no seu mais além, que é o seu pensamento e o seu ser pensado, do mesmo modo que este tem a sua oposição no mais aquém, que é sua realidade para ele estranhada.»

«Eis aqui por que este espírito não forma somente um mundo, mas um mundo duplo, separado e contraposto.»

 

(Hegel,Fenomenología del espíritu, pag 287-288, Fondo de Cultura Económica, México; o destaque a negrito é posto por mim).

 

 

Vemos, pois que a substância - por exemplo : um copo - é uma unidade do si mesmo - o copo em si, forma e matéria - e da essência - a forma fundamental do copo, pensada. A essência é a pura consciência, oposta à presença, ao ser. O que quer isto dizer? Que a essência reside no pensamento.

 

Dir-se-ia que Hegel não defende um realismo das essências, como Platão e Aristóteles, doutrina segundo a qual a essência das coisas reside em elas mesmas (Aristóteles) ou num mundo inteligível objectivo acima do céu visível (Platão).  Hegel sustenta o idealismo das essências compaginado com o realismo do ser material.

 

Assim, o espírito divino, a autoconsciência, gerou o ser material, independente das consciências humanas (realismo) e, em simultâneo, gerou a essência, o ser pensado, que é pensamento reflector do ser material. Quantos milhares de estudos sobre Hegel, entre eles teses de doutoramento, passam ao lado desta questão deveras importante!

 

 

 

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Segunda-feira, 23 de Setembro de 2013
Questionar Hegel: a diversidade é inessencial na coisa?

 

Hegel postulou que o ser, entendido como Ideia absoluta, Deus-Espírito, se desdobra em três fases: em si, fora de si e para si. Mas na «Fenomenologia do Espírito» coloca frequentemente os processos do devir em termos de dualidade, de ser em si e para si e ser para outro. Escreve:

 

«A coisa é um uno, reflectido em si; é para si mas também é para outro, e é tanto um outro para sí como é para outro. A coisa é, segundo isto, para si e também para outro, um ser duplicado e diferenciado, mas é também um uno, ainda que o ser um contradiga esta sua diversidade; a consciência deveria, pois, assumir de novo esta unificação, mantendo-a afastada da coisa. Deveria, portamto, dizer que a coisa, enquanto é para si, não é para outro.» (Hegel,Fenomenología del espíritu, pag 78, Fondo de Cultura Económica, México).

 

O que aqui parece estar pensado é o seguinte: a coisa é um, una, no primeiro momento - exemplo:a árvore isolada é uma unidade - e, em um segundo momento,  estalece relações com os outros - exemplo: a árvore liga-se ao solo, às outras árvores, ao vento, ao céu - e é para estes outros, e, num terceiro momento, a consciência capta a coisa e o mundo dos outros que a envolve - no exemplo: a consciência humana vê e pensa a árvore em si e no seu contexto ambiental. Temos aqui a tese, a antítese e a síntese.

 

A DIVERSIDADE OU MULTIPLICIDADE NÃO FAZ PARTE DA ESSÊNCIA DO OBJECTO?

 

Hegel escreveu sobre a determinabilidade ou forma específica/ singular de uma coisa: , o tó ti e o tó tí en einai de Aristóteles:

 

«Esta determinabilidade, que constitui o carácter essencial da coisa e a distingue de todas as outras determina-se agora de modo que a coisa se acha assim em contraposição a outras mas deve manter-se nisso para si. (...)

 

«De facto, a determinação do objecto tal como se tem manifestado não contém nada mais que isto: o dito objecto deve ter uma propriedade essencial, que constitui o seu simples ser para si , mas deve ter também nele, nesta simplicidade, a diversidade, que apesar de não ser necessária, não constitua a determinabilidade essencial. Mas esta é uma distinção que já só reside nas palavras; o não essencial, que deve ser ao mesmo tempo necessário, supera-se a si mesmo ou é aquilo que acaba de ser chamado à negação de si mesmo»(Hegel, Fenomenología del espíritu, paginas 78- 79, Fondo de Cultura Económica, México; o destaque a negrito é colocado por mim).

 

Hegel ilude, nestas passagens, que a essência da coisa é unidade e diversidade interna. E coloca toda a diversidade na rede de relações externas da coisa, o que é insuficiente. Eis um erro de um grande pensador dialético: apresentar a essência da coisa como o Um, o Uno, - o ser para si -  e a relação com os outros, necessária, isto é imprescindível, como o múltiplo, a diversidade.

 

Mas como não perceber que o Um, a essência, se compõe de múltiplas partes, isto é, de diversidade?  Por exemplo, a essência de uma determinada mulher é Una, é Um, mas é diversa, pois inclui lábios carnudos, olhos grandes, seios altos, anca estreita, etc. Aqui a diversidade não é inessencial, mas essencial, ao contrário do que escreveu Hegel.

 

 

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Sábado, 21 de Setembro de 2013
A capitulação de Wittgenstein ante as ciências positivas

 

A última fase de Ludwig Wittgenstein (26 de Abril de 1889, Viena de Austria - 29 de Abril de 1951, Cambridge) caracterizada como quietismo filosófico, é a capitulação completa da filosofia antes as ciências empíricas e a matemática. Wittgenstein anula o poder especulativo da filosofia, a capacidade desta derrubar tal e tal ciência, tal ou tal ideologia, tal ou tal tese:

 

«126. A Filosofia, de facto, apenas apresenta as coisas e nada esclarece nem nada deduz. - E uma vez que tudo está à vista, também nada há a esclarecer. Porque aquilo que está talvez oculto, não nos interessa

«Poder-se-ia também chamar Filosofia a tudo o que é possível antes de todas as novas descobertas e invenções.»

 

«127. O trabalho do filósofo consiste em reunir memórias para um determinado fim.»

 

«128   Se se quisesse estabelecer teses em Filosofia, nunca seria possível discuti-las, porque todos estariam de acordo com elas

 

(Ludwig Wittgenstein, Investigações Filosóficas, pag 263, Fundação Calouste Gulbenkian; o destaque a negrito é posto por mim).

 

O que Wittgemstein nos propõe aqui é a anti-filosofia: desaparece a subjectividade, a aventura especulativa de cada um .Não filosofamos sobre se os medicamentos químicos escondem os sintomas e deixam a doença reprimida no interior do corpo, em vez de curar verdadeiramente, não filosofamos sobre se há Deus ou deuses ou eternidade das almas humanas, não filosofamos sobre se temos ou não livre-arbítrio, nem sobre a inteligência da natureza, biofísica, não filosofamos sobre a lei da tríade estabelecida por Hegel ( ao ser em si sucede o ser for de si e a este o ser para si), etc.

 

A Filosofia desce ao nível do mais rasteiro senso comum, da descrição dos sentidos, do triunfo da opinião da esmagadora maioria, do consenso generalizado. Assim a Filosofia seria apenas história da filosofia (reunião de memórias) e estaria presa nas correntes do observável, do empiricamente testável. O Nous - a inteligência metafísica - seria abandonado a favor da Empeiria, a experiência sensorial.

 

 

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Sexta-feira, 20 de Setembro de 2013
Sincronismos ontofonéticos de 24 de Agosto a 24 de Setembro de 2013

 

Os factos históricos obedecem a sincronismos: no mesmo dia ou em dois ou três dias seguidos, ocorrem factos diversos regidos por palavras parónimas ou que obedecem a uma mesma ideia. Consideremos o período de 24 de Agosto a 24 de Setembro de 2013.

 

Em 24 e 25 de Agosto de 2013, as ideias de ANTÓNIO e PICO ascendem, em foco: no dia 24, lavra um fogo florestal em Santo ANTÓNIO de Monforte, Chaves; no dia 25, morre, de cancro no pâncreas, ANTÓNIO Borges, economista de renome internacional e membro do clube mundialista de Bilderberg, o telejornal da SIC exibe reportagem sobre a vinha da ilha açoriana do PICO, plantada entre rochas de basalto, o telejornal da TVI noticia que arqueólogos descobriram na ilha do PICO artefactos semelhantes aos dos aborígenes africanos.

 

Em 27 de Agosto de 2013, os nomes  DUARTE e PAULO estão em foco: visito, acompanhado de uma mulher especial, as capelas imperfeitas do mosteiro de Santa Maria da Vitória, na Batalha, e detenho-me ante o túmulo do rei D. DUARTE, no interior da catedral mostro a ela o lugar no solo onde uma perfuração da pedra confirmou o cálculo do saudoso geómetra PAULO Guilherme d´Eça Leal de que aí há uma cripta subterrânea secreta, no percurso de automóvel entre Santarém e Coruche sou ultrapassado por um camião cisterna da empresa de transportes PAULO DUARTE, de Torres Vedras.

 

Em 27 e 28 de Agosto de 2013, as ideias de MORCEGO e JORGE elevam-se em foco: no dia 27, visito as capelas imperfeitas no Mosteiro da Batalha e vejo MORCEGOS na abóbada de uma delas, visito o campo de São JORGE, na Batalha; no dia 28, a RTP exibe um filme com Batman , o homem MORCEGO, em que GEORGE Clooney entra.

 

Em 28 de Agosto de 2013, a ideia de BARRA destaca-se : António BARReto (evoca: BARRA), membro do clube de Bilderberg, discursa na universidade de verão do PSD, iniciam-se as festas de BARRAncos (evoca: BARRA), no Alentejo raiano.

 

Em 28 e 29 de Agosto de 2013, as ideias de ALTO DO CÉU e de PESO concentram-se, em foco : no dia 28, o ZÉNIT ( evoca: ALTO DO CÉU, o ZÉNITE é o ponto mais alto do céu acima da nossa cabeça) vence por 4-2 o Paços de Ferreira, em futebol, Sandra Bullock e George Clooney apresentam no festival de Veneza, o filme «GRAVIDADE» (evoca: PESO) em que desempenham o papel de dois astronautas que, no ALTO DO CÉU, sobrevivem à destruição da nave que os transporta; no dia 29, uma bombeira de CARREGAL do Sal (evoca: CARGA, PESO) morre no combate a um fogo na serra do Caramulo

 

Em 29 e 30 de Agosto de 2013, a ideia de MUNA está em foco: no dia 29, Cátia Pereira, de 21 anos, bombeira de Carregal do Sal, morre na serra do Caramulo, em MUNA, a combater um incêndio traiçoeiro; no dia 30, o Bayern de MUNIque (evoca: MUNA) conquista a Supertaça Europeia ao vencer por grandes penalidades: 5-4, após um empate 2-2 em 121 minutos de jogo) o Chelsea de Mourinho.

 

Em 30 de Agosto de 2013, as ideias de ZONA e RIBEIRO estão em foco: a ZON (evoca: ZONA) Optimus informa que o BPI passou a deter menos de 5% do capital social da Zon Optimus e respetivos direitos de voto, depois de ter sido concluído o registo comercial da fusão entre as duas empresas, a concentração de OZONO (evoca: ZONA) ultrapassa, na Lourinhã, o limiar de informação ao público, podendo provocar alguns efeitos na saúde humana, sobretudo em grupos da população mais sensíveis, informa a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR), passam 240 anos exactos sobre a morte, em 1773, do arquitecto italiano Nicolau NaSONI (evoca: ZONA), RIBÉRY (evoca: RIBEIRO) marca um golo na final em futebol da supertaça europeia Chelsea-Bayern de Munique, António RIBEIRO comandante operacional dos bombeiros no Caramulo, fala a um telejornal

 

 

 

Em 31 de Agosto e 1 de Setembro de 2013, as ideias de PEDRA, PINTO e SAL estão em foco: no dia 31, noticia-se que o cardeal Tarcisio Bertone, tido como um corrupto dentro do Vaticano, será substituído a 15 de Outubro por PIETRO (evoca: PEDRA) Parolin no cargo de secretário de Estado do Vaticano, tem lugar o funeral de Cátia Pereira Dias, bombeira de Carregal do SAL que morreu num incêndio; no dia 1, almoço, na companhia de duas mulheres e um homem, no restaurante PEDRA de SAL em Serpa, a propósito da traição conjugal de Fernando Seara, candidato do PSD e CDS à câmara de Lisboa, o «Sol» noticia que o politólogo António Costa PINTO acha que “o impacto do divórcio na campanha de Seara é muito reduzido”, explicando que “numa grande cidade como Lisboa estas questões não são muito valorizadas, ninguém quer saber se o político é casado, divorciado ou se tem uma relação extraconjugal” e diz que mais importante na imagem pública de Fernando Seara será “o facto de ser uma figura altamente mediatizada por causa do futebol” e da sua ligação ao Benfica, Francisco PINTO Balsemão, o dono da SIC e da Impresa, ex líder do PSD e testa de ferro do grupo de Bilderberg em Portugal, completa 76 anos de idade.

 

 

Em 1 e 2 de Setembro de 2013, a ideia de HOLANDA em destaque: no dia 1, vejo um cidadão HOLANDÊS no restaurante «Pedra de Sal», em Serpa; no dia 2, a imprensa noticia que François HOLLANDE, presidente socialista francês, membro do grupo de Bilderberg, enfrenta grandes dificuldades para convencer os franceses da necessidade de atacar militarmente o regime de Damasco, sendo criticado em França pela oposição e também pelos seus aliados ecologistas, que pedem a organização de um debate, com voto, na Assembleia Nacional.

 

Em 5 e 6 de Setembro de 2013, DELGADO, REI e URBANO elevam-se em foco: no dia 5, em conversa com Baraona e outra pessoa fala-se do comunista Miguel URBANO Rodrigues, homem de vasta erudição, viajante dos quatro cantos do mundo que apoiou o general Humberto DELGADO, o estudante bejense Pedro REI canta com viola eléctrica músicas de Pedro Abrunhosa, Zeca Afonso e outros num palco do Largo de S. João, na cidade de Beja, morre o bombeiro Fernando REIS dias após ser ferido num fogo florestal; no dia 6, estreia no teatro Maria Matos, em Lisboa, uma peça de teatro que é uma reflexão sobre o espaço URBANO, alguém faz alusão ao professor DELGADO, em Beja

 

Em 6 de Setembro de 2013, as ideias de RÚSSIA, SÓ e LOURO encontram-se em foco: termina a cimeira do G-20 em S. Petersburgo, na RÚSSIA, sem que o imperialista Obama tenha conseguido obter a adesão da maioria dos países participantes ao seu plano de agressão militar à Síria, o telejornal da TVI exibe o jovem bailarino Frederico LOUREIRO (evoca: LOURO) que estagiou e foi distinguido na Academia BolCHOI (evoca: ), em Moscovo, RÚSSIA, José crates (evoca: ) completa 56 anos de idade, quando vejo o concerto dos The Bufallo na Praça da República de Beja cerca das 23.20 horas a minha amiga J., LOURA, aproxima-se e fala comigo sobre a calma que Beja lhe transmite.

 

Em 6 e 7 de Setembro de 2013, a ideia de CELTA está em foco: no dia 6, em CELA (evoca: CELTA), Alcobaça, um homem a quem ia ser executada uma penhora de bens assassina a tiro de caçadeira o fiscal que se dirigiu a sua casa acompanhado de agentes da GNR; no dia 7, às 18.25 horas desloco-me à Feira Medieval de Portel e aí descubro uma tenda a vender cálices, incenso, e outros objectos de cultura CELTA e falo com M. que me diz: «Os católicos fizeram os seus templos, da sua igreja claramente patriarcal, sobre as ruínas de templos à Deusa Mãe, o Alentejo está cheio de vestígios da civilização celta que são sistematicamente encobertos por historiadores do sistema, alguns arqueólogos desaparecem de tempos a tempos, eliminados fisicamente pelo sistema quando descobrem certas teorias originais que contrariam as verdades oficiais».

 

Em 7 e 8 de Setembro de 2013, as ideias de AVÓ, ROCHA e ÂNGELA elevam-se em destaque: no dia 7, como feijoada com ABÓbora ( evoca: AVÓ) numa mesa da Feira Medieval em Portel, diante de uma AVÓ que cuida de dois netos, leio um comentário agradável da artista de burlesco Manu de la ROCHE; no dia 8, 100 000 pessoas sobem em peregrinação ao santuário de Nossa Senhora da PENHA ( a Penha é um ROCHEDO, ROCHA) em Guimarães, ANGELA Merkel realiza um comício inaugural da sua campanha eleitoral na Alemanha, o LOS ANGELES Time diz que os EUA deverão fazer um bombardeamento aéreo de 3 dias contra o regime sírio de Assad logo que Obama obtenha autorização do Congresso para esse acto imperialista que serve o lóbi da indústria armamentista .

 

Em 8 e 9 de Setembro de 2013, a ideia de GALO está em destaque: no dia 8, encontro Zedd GALrito (evoca: GALO) num supermercado em Beja e ele me diz-me que toca bandolim no grupo Lunae Lumen de música metal, 14 pessoas ficam feridas quando o avião Airbus 330-300 da transportadora aérea Thai Airways, em que seguiam a bordo um total de 287 passageiros e 14 membros da tripulação, sai da pista durante a manobra de aterragem no principal aeroporto de BangueCOQUE ( COQUE, em francês, significa GALO) devido a o eixo das rodas dianteiras se ter partido ao tocar terra, forçando a aeronave a aterrar de nariz; no dia 9, na sala de professores do liceu (ESDG) de Beja está posta, como novidade, a escultura em plástico de um GALO junto a uma planta, o jornal The New York Post noticia que Premila Lal queria fazer uma surpresa ao amigo Nerrek GALLEY (evoca: GALO), de 21 anos, e escondeu-se num armário dentro da sua casa no Colorado, Estados Unidos mas a partida correu mal e o jovem disparou sobre a amiga que acabou por morrer.

 

Em 9 de Setembro de 2013, a ideia de SUICÍDIO encontra-se em foco: o antigo internacional eslovaco Marek Spilar, que alinhou pelos belgas do FC Bruges e por vários clubes eslovacos e checos, SUICIDA-se ao saltar de um quinto andar de um prédio na cidade Presov, leste da Eslováquia, o telejornal da TVI anuncia que o projeto «Mais contigo» de prevenção do SUICÍDIO entre os adolescentes vai ser implementado nas escolas

 

Em 10 de Setembro de 2013, as ideias de VITÓRIA e CARVALHO ascendem, em foco: a RTP exibe José VITORINO (sugere: VITÓRIA), candidato independente à câmara de Faro, que se propõe não receber salário tal como os elementos da sua equipa, se ganhar as eleições, e assim obter 1 milhão de euros em poupanças que beneficiarão os moradores mais pobres, a seleção de Portugal de sub-21 obtém uma VITÓRIA por 6-1 sobre a Polónia, o telejornal da SIC exibe o estudante Tiago de CARVALHO a defender o curso de Conservação e Restauro existente no Politécnico de Tomar, o telejornal da RTP exibe Álvaro de CARVALHO, coordenador nacional de Saúde Mental, a falar do número crescente de pessoas desesperadas por não terem dinheiro para pagar as contas.

 

Em 10 e 11 de Setembro de 2013, as ideias de RESENDE, GALO e MAR estão em foco: no dia 10, o telejornal da SIC noticia que um GALO  de RESENDE, que canta de madrugada, foi alvo de queixa judicial por parte de vizinhos, o telejornal da RTP mostra em sua casa Isabel GALUcho (evoca: GALO), professora há 17 anos que percorreu 24 escolas e expõe como é difícil a vida de docente contratado;  no dia 11, Frederico REZENDE, piloto do Marítimo, sai da Doca do Bom Sucesso, em Lisboa, a conduzir uma moto de água através do MAR com a qual espera chegar ao Funchal em 40 horas, o futebolista NeyMAR marca golos no jogo Brasil 3, Portugal 1, disputado nos EUA;

 

Em 11 de Setembro de 2013, as ideias de BUSTO e OLIVEIRA encontram-se em foco: passam 12 anos sobre o ataque, com bombas colocadas no interior do edifício e dois aviões de passageiros telecomandados, contra as Torres Gémeos em Nova Iorque urdido pelo governo de George W. BUSH (evoca: BUSTO) e a Mossad para justificar posteriores guerras no Afeganistão e Iraque, o 1º ministro Passos Coelho e o ministro Nuno Crato visitam uma escola em BUSTOS, OLIVEIRA do Bairro, e depois a escola secundária Ferreira de Castro, em OLIVEIRA de Azeméis.

 

Em 12 e 13 de Setembro de 2013, as ideias de DEZOITO e AJOELHAR estão em foco: no dia 12, em Lisboa e em outras DEZOITO cidades do mundo decorre o Vogue Fashion ´s night out, um mercado nocturno de roupas, loiças e outros objectos, Jerónimo de Sousa, em comício do PCP em Coimbra, verbera o governo PSD-CDS que quer «fazer AJOELHAR os trabalhadores» da função pública ao cortar-lhes 60% do salário ao fim de um ano na «mobilidade especial»;no dia 13, noticia-se que a sonda espacial norte-americana Voyager 1 está a mais de DEZOITO mil milhões de quilómetros da Terra, noticia-se que um ciclista bielorusso ganhou a etapa número DEZOITO da Volta à Espanha em bicicleta, entro na Sé de Beja, cerca das 18.50 horas, no momento da comunhão de uma missa e vejo dois jovens AJOELHAR ante o padre que lhes distribui a hóstia consagrada, à maneira do ritual da missa tridentina, mais teocêntrica do que a missa de Paulo VI.

 

Em 13 e 14 de Setembro de 2013, as ideias de JÚLIO, VIANA DO CASTELO e CRUZ estão em destaque: no dia 13, no final da reunião de professores do Agrupamento de Escolas nº 1 de Beja, na ESDG, falo com a colega JULIETA Romão (evoca: JÚLIO), o telejornal da SIC noticia que, no dia 12, foi preso o agricultor José JULIÃO (evoca: JÚLIO) por, alegadamente, obrigar a trabalhos escravos na agricultora dois homens na zona de Foz Coa, a ministra Paula Teixeira da CRUZ declara aos media que pedirá que o parlamento aprove uma lei equiparando os crimes contra agentes de execução de dívidas a crimes contra as autoridades do Estado; no dia 14, a igreja católica celebra a festa da Santa CRUZ, lavra um incêndio florestal em Outeiro, VIANA DO CASTELO, desloco-me ao restaurante Vovó Joaquina, em Beja, e à porta deste entabulo uma conversa sobre zonas pedonais do Porto e Santiago de Compostela com o chefe de cozinha JÚLIO Roriz, natural de VIANA DO CASTELO, fotógrafo e culto.

 

Em 14 e 15 de Setembro de 2013, as ideias de ROCHA, CRISTO E COR elevam-se em destaque: no dia 14, um incêndio florestal ameaça a localidade de ROCHA, em Vouzela, à noite os estudantes João ROCHA, Charneca e João Lança encontram-me e conversam comigo num bar do centro de Beja; no dia 15, Portugal vive o seu próprio "Happy Holi", baseado no festival indiano das CORES e Porto e Lisboa transformam-se numa imensa paleta humana de pessoas de caras e corpos pintados, prosseguem as inundações no COLORADO (evoca: COR) havendo 5 mortos e 500 desaparecidos ao fim de 4 dias, CHRIS Horner (evoca: CRISTO) vence a Volta à Espanha em bicicleta, CRISTIANO Ronaldo (evoca: CRISTO) renova o seu contrato como jogador do Real Madrid segundo o qual fica a ganhar 1967 euros por dia, 17 milhões de euros por ano, um salário obsceno, um insulto à classe proletária e aos desempregados.

 

Em 16 de Setembro de 2013, a ideia de CARTEIRA emerge  em foco: centenas de milhar de estudantes portugueses voltam a sentar-se nas CARTEIRAS das salas de aula, no início do novo ano lectivo, o telejornal da TVI exibe reportagem sobre os CARTEIRISTAS que operam nos eléctricos números 15 e 28 de Lisboa, roubando sobretudo os turistas.

 

Em 16 e 17 de Setembro de 2013, as ideias de TOMBAR ,MÃO, ALEX e COLA estão em foco: no dia 16, Aaron ALEXIS entra num quartel da Marinha em Washington e dispara rajadas matando 12 pessoas, noticia-se que, no dia 15, NiCOLÁS Maduro (evoca: COLA) TOMBOU na rua durante uma volta à bicicleta por Caracas, causando assim a queda do pelotão de colaboradores que seguia ao seu lado, Cavaco Silva visita a COLquímica em Valongo, a 7ª maior empresa de COLAS da Europa; no dia 17, o telejornal da SIC noticia que os pais recusam que os seus filhos vão à escola de EsTOMBAR (evoca: TOMBAR) em protesto contra a desigualdade numérica inter turmas e em MONchique (evoca: MÃO) os pais fazem um protesto semelhante, a tempestade tropical MANuel (evoca: MÃO) varre a estancia turística de Acapulco, o Benfica vence o AnderLECHT (evoca: ALEX), é exibido em sessão única no teatro Pax Julia em Beja o filme russo «Nevoeiro» em que uma das personagens centrais é KOLYA (evoca: COLA) um resistente russo à ocupação de parte da URSS, em 1942, pelo exército alemão de Hitler

 

 

Em 17 e 18 de Setembro de 2013, as ideias de HÉLIO e de RIO A VAU estão em foco: no dia 17, o teatro Pax Júlia em Beja exibe o belo filme russo «No nevoeiro» em que uma das cenas marcantes é a passagem de um RIO A VAU por russos que fogem da polícia alemã invasora da URSS, em 1942; no dia 18, um incêndio irrompe e destrói uma cabina de pintura de torres EÓLICAS (sugere: HÉLIO) da fábrica Tegapi, em Gaia, o telejornal da RTP mostra ÉLIO Maia, actual presidente da câmara de Aveiro e agora candidato independente à autarquia e mostra RIBAU ( evoca: RIO A VAU) Esteves, o candidato oficial do PSD e do CDS à câmara de Aveiro

 

Em 18 E 19 de Setembro de 2013, as ideias de FLORENÇA, de OITO, de OLHO e de FERRO estão em destaque: no dia 18, perto de OTAVA (evoca; OITAVO, OITO), Canadá, o choque de um comboio com um autocarro produz 6 mortos e 30 feridos, no dia 19, FLORENTINO Pérez (evoca: FLORENÇA), diz em conferência de imprensa que "Era preciso dar um murro na mesa para acabar com a hegemonia do Barcelona e isso foi conseguido por Mourinho. É um treinador que nos ajudou muito, demos um grande salto qualitativo graças a ele, sobretudo na Europa", o autarca da freguesia de FERRERA de Aves, José Luís Vaz, fala no telejornal da SIC sobre a sua recandidatura, o Paços de FERREIRA (evoca: FERRO) perde, em FLORENÇA, por 0-3 frente ao FIORENTINA, o professor da ESDG José FERRO, de Alvito, completa 52 anos de idade, noticia-se que na FLORIDA um condutor que assassinara uma mãe e a filha morreu a chocar na sua viatura com outra ao fugir da polícia numa alucinante perseguição, o telejornal da RTP noticia a assinatura de um contrato para a instalação de uma fábrica da multinacional russa NGCR em OLEIros ( evoca: OLHO), a SIC noticia que o departamento de OFTALMOLOGIA (evoca: OLHO) da Universidade de Coimbra opera pacientes ao sábado, a SIC diz que há OITO candidatos à câmara de Oeiras e exibe Francisco Moita FLORES e Paulo VISTAS (evoca: OLHO), a RTP exibe OCTÁvio (evoca: OITO) Freitas, um dos 31 chefes de cozinha em evento gastronómico na Madeira

 

Em 20 de Setembro de 2013, as ideias de FIGUEIRA e CONCEIÇÃO destacam-se: abrem ao público as ruínas romanas subterrâneas da Rua da CONCEIÇÃO, em Lisboa, formando-se uma longa fila de visitantes que chega até à praça da FIGUEIRA, Lurdes FIGUEIRAL, presidente da Associação de Professores de Matemática, surge no telejornal da RTP a criticar as alterações recentes ao programa de Matemática do ensino BÁSICO, o telejornal da SIC mostra o motorista Paulo da CONCEIÇÂO apanhado a conduzir em excesso de velocidade na EN 125 e multado em 120 euros pela GNR.

 

Em 20 e 21 de Setembro de 2013, as ideias de ANTÓNIO e ALMEIDA em destaque: no dia 20, na praça Diogo Fernandes em Beja o cantor TOY ( ANTÓNIO) dá um espectáculo musical a favor da candidatura de João Rocha, da CDU, à câmara de Beja, desloco-me ao «Cais da Planície» e ouço música de um trio de jazz e bossa nova e aí ANTÓNIO Santos, dos Adiafa, saúda-me, o telejornal da TVI exibe reportagem sobre a cidade de ALMEIDA, na Beira interior; no dia 21, encontro ANTÓNIO L. e conversando sobre as eleições autárquicas em Beja ele diz-me que em Vale de Poço e outros lugares do concelho de Serpa de que João Rocha foi presidente durante 36 anos, não há água canalizada, o navio oceanográfico ALMEIDA Carvalho é afundado, com explosivos, ao largo do Algarve pela Marinha portuguesa.

 

.Em 21 e 22 de Setembro de 2013, as ideias de ALMA, SÓ e CERVEJA emergem: no dia 21, o navio oceanográfico ALMEIDA Carvalho (evoca: ALMA) é afundado, com explosivos, ao largo do Algarve pela Marinha portuguesa, encontro António João, no centro de Beja, e ele diz-me que muitas vezes precisa de estar para gerar os seus projetos criativos audiovisuais, à noite o teatro Pax Julia em Beja apresenta o espectáculo de burlesco «Cais do SOdré (evoca: ) Cabaret» que enche só meia sala, apesar da beleza das coreografias femininas, cerca de 1500 ciclistas pedalam, numa marcha concertada, desde o Campo Pequeno, em Lisboa, até ALMADA (evoca: ALMA); no dia 22, de madrugada, encontro à porta do castelo de Beja, onde decorre a festa da CERVEJA, o meu amigo Francisco ALMOdovar (evoca: ALMA) e vimos conversando, sobre a observação do céu estrelado nas noites escuras e profundas do campo no Alentejo, até um bar no centro de Beja onde bebo CERVEJA sem álcool, o telejornal da TVI exibe reportagem sobre ALMADA (evoca: ALMA), em particular sobre os bairros sociais e o parque de campismo da Costa da Caparica.

 

 Em 22 e 23 de Setembro de 2013, a ideia de RAMO está em foco: no dia 22, um incêndio florestal na serra de Sicó, Pombal, ameaça a povoação de RAMALHAIS (evoca: RAMOS); no dia 23, morre em Lisboa, vítima de pneumonia, aos 88 anos, António RAMOS Rosa, poeta, ensaísta e tradutor, nascido em Faro, em 1924.

 

Em 23 e 24 de Setembro de 2013, as ideias de MAGO, SALVATERRA DE MAGOS, JOSÉ SARAMAGO e SAM ESTÃO em foco: no dia 23, a RTP-2 exibe um filme sobre o escritor JOSÉ SARAMAGO (evoca: SAM); no dia 24, o telejornal da SIC exibe Jorge Fernandes, até há pouco professor de Biologia e Geologia na Escola Secundária JOSÉ SARAMAGO, em Mafra, relatando que foi colocado a dar aulas a crianças de 8-9 anos de idade, um cavalo puxando uma charrete espanta-se e põe-se a correr quilómetros seguidos na EN 15, em Marinhais, SALVATERRA DE MAGOS, pondo em risco o trânsito automóvel até que um homem salta para a charrete e consegue fazer parar o animal, António José Seguro, líder do PS, discursa em comício em SALVATERRA DE MAGOS, noticia-se que a SAMsung a LG puseram fim a uma guerra de patentes.

 

Ante estas coincidências, colectivas e pessoais, que não são casuais, resta interrogarmo-nos sobre se não há uma vinculação entre os sons e a passagem deste ou daquele planeta neste ou naquele grau do Zodíaco e sobre a perfeita ordem cósmica que nada deixa ao acaso.

 

 

 

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Questionar Eckhart Tolle e a função do "eu" racional

 

O budismo zen está em expansão no Ocidente desde há décadas. Parece ser a solução dos problemas do homem mas, na sociedade post-industrial de hoje é um paliativo para o nível alto de stress.  Eckart Tolle, o filósofo alemão budista zen escreveu:

 

«Sempre que uma morte acontece, sempre que uma forma de vida se extingue, Deus, que não tem forma, nem se manifesta na matéria, brilha através da brecha deixada pelo ser que desaparece. É por isso que a morte é a coisa mais sagrada da vida. É por isso que a paz de Deus pode tocá-lo por meio da contemplação e da aceitação da morte ». (Eckhart Tolle, A voz da serenidade, pag 115, Pergaminho).

 

A objecção a este pensamento é de carácter formal: a morte está fora da vida, logo não pode ser a coisa mais sagrada desta.

 

SÓ A INFELICIDADE NECESSITA DE UM EU?

 

 

O combate ao "eu" que alimenta a mente racional é uma direção estratégica desta filosofia.

 

«A infelicidade necessita de um "eu", construído pela mente, que tenha uma história, uma identidade conceptual. Precisa do tempo - do passado e do futuro. E o que é que sobra quando excluímos o passado e o futuro da nossa infelicidade? Sobra o momento "que é", simplesmente. (Eckhart Tolle, A voz da serenidade, pag 125, Pergaminho).

 

Um dos dogmas desta visão ´do mundo é a de que centrar-se no passado ou no futuro faz as pessoas infelizes, ou por desespero de factos negativos ocorridos ou por ansiedade do futuro. E isto é fruto da mente racional, que tudo quer definir e prever. Objecção: é verdade que a infelicidade necessita de um "eu" com história mas a felicidade também necessita. Pois não dá felicidade a uma pessoa quando ela recorda o que o seu "eu" experimentou e acumulou como bens, uma vida honesta de trabalho que teve, as viagens ao estrangeiro que fez, os amores que teve, o conforto de uma casa que adquiriu? É óbvio que dá.

 

Abandonar o "eu" é possível e pode levar a relaxamento agradável, a ser momentamente feliz, mas o situar-se no "eu" é também fonte de felicidade desde que essa fixação não seja absoluta e doentia. Se uma mãe cuida dos filhos, cuida do seu "eu", ainda que, em simultâneo, possa subalternizá-lo aos "eus"  de cada um dos filhos. O amor à família é um "eu colectivo". E isso é causa de infelicidade ou de felicidade?  De ambas as coisas mas, em condições normais, é mais causa de felicidade do que de infelicidade: é bom ter avòs, pai, mãe,irmão, esposa ou marido, filhos, tios, primos...São, em regra, as pessoas que nos socorrem, com maior probabilidade, em caso de a desgraça económica ou física nos atingir.

 

A MENTE RACIONAL É UM MAL EM SI MESMA?

 

 

 Eckart Tolle opõe a mente racional, estreita e centrada no "eu",  à consciência (cósmica) que tudo abarca e, vivendo em nós, é descentrada. Só esta última permitirá viver plenamente o presente.

 

«Grande parte do sofrimento e da infelicidade surge quando aceita cada pensamento que lhe vem à cabeça como sendo verdadeiro. Não são as situações que o fazem infeliz. Podem causar-lhe dor física mas não o tornam infeliz. São os seus próprios pensamentos que o tornam infeliz. São as interpretações que faz, as histórias que conta a si mesmo» (Eckhart Tolle, A voz da serenidade, pag 126, Pergaminho).

 

«Qual é o erro básico? A identificação com o pensamento racional. » (Eckhart Tolle, A voz da serenidade, pag 29, Pergaminho).

 

 

Objeção: nem todos os pensamentos nos tornam infeliz, nem tudo o que a mente racional gera (exemplo: o estudo da astronomia, da matemática, da química, etc) é mau, a ciência, a cultura em geral  distraem-nos do vazio, do tédio absoluto. A mente racional não é um mal. Mal é a sua hiper-actividade, a sua dominância muito nítida, o seu sobredimensionamento em relação à consciência, ao lado irracional, metafísico-criativo da mente, que repousa na ordem da natureza.

 

«O pensamento que não se fundamenta na consciência torna-se disfuncional e egoísta. A inteligência destituída de sabedoria é extremamente perigosa e destrutiva.» (ibid, pag 32).

 

«Qualquer tipo de preconceito significa identificação com a mente racional. Significa que já não consegue ver o outro ser humano como ele é, mas apenas o seu conceito pessoal desse ser humano. » (ibid, pag 31).

 

Objeção: há preconceitos bons. Os índios dos Estados Unidos da América, depois de verem a civilização do homem branco devastar-lhes as pradarias, liquidar-lhes a caça, difundir as bebidas alcoólicas e as indústrias modernas, formaram o preconceito de que «o homem branco é um predador, destrói os bosques só para ter madeira e construir cidades, não respeita o Grande Espírito da Natureza, o silêncio, a voz dos pássaros».

 

 

OS DOGMAS SÃO PRISÕES DA MENTE E, POR ISSO, SÃO NECESSARIAMENTE MAUS?

 

«Os dogmas - religiosos, políticos ou científicos - surgem da crença errada de que o pensamento pode enclausurar a realidade ou a verdade. Os dogmas são prisões conceptuais colectivas. E o mais estranho é que as pessoas adoram as suas celas, porque elas lhes oferecem uma sensação de segurança e uma falsa impressão de que "sabem". Não há nada que tenha infligido mais sofrimento à humanidade do que os dogmas.» (Eckhart Tolle, ibid, pag 28-29; o destaque a negrito é colocado por mim).

 

Toda a vida humana assenta em dogmas. Por exemplo, centenas de milhões de pessoas acreditam no dogma de que o casamento heterossexual proporciona a felicidade e a estabilidade emocional aos cônjugues e seus descendentes. Seriam mais felizes se abolissem esse dogma? Os casamentos desapareceriam o que, numa certa perspectiva anarquista, libertária, até seria benéfico pois «ninguém é propriedade de ninguém» e «a fidelidade conjugal é uma atitude egoísta». Biliões de pessoas acreditam que há um ou vários deuses, veículos da bondade universal e da salvação, terrena ou não,  de cada indivíduo.

 

Se esses biliões de pessoas deixassem de acreditar e as igrejas, as mesquitas, as sinagogas, os templos budistas e hinduístas ficassem vazios, ao abandono, e as orações às divindades cessassem por todo o mundo, seriam aquelas pessoas mais felizes? Certamente, libertariam das amarras certos desejos corporais: comer de tudo, praticar sexo de forma libertina, não dar esmola, agredir o próximo quando lhes apetecesse, etc. Não, os dogmas não são todos maus. O dogma de que «matar pessoas é, salvo raras excepções, um mal» e o dogma de que «devemos respeitar a liberdade de consciência e de expressão de cada um» são dogmas bons.

 

Quamto aos dogmas políticos como, por exemplo, «a democracia liberal é superior ao fascismo e ao comunismo estalinista, porque preza as liberdades do indivíduo», deverão ser abandonados?

 

O ataque aos dogmas em abstracto é falacioso.

 

 

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Sábado, 14 de Setembro de 2013
Questionar a «nova concepção do tempo» em José Reis

No seu livro «Nova Filosofia», publicado em 1990, José Reis, um catedrático de filosofia da universidade de Coimbra, propõe uma «nova concepção do tempo», que fica bastante aquém do que Aristóteles escreveu sobre o tempo na «Física». Escreveu José Reis:

 

«O tempo é, como já acontece sempre que olhamos para a sucessão das coisas sem qualquer concepção meta-física, essa simples sucessão. »

«Mas,é claro, não basta abstrair - quando efectivamente já abstraímos - das concepções meta-físicas: é preciso destruí-las, vendo por dentro toda a questão. E aqui, no que toca à causalidade, tudo começou pela espacialização do tempo. Porque o imediato é conceber o futuro - o momento temporal que antes de mais nos interessa para a causalidade - como aquilo que ele é no presente, ou seja, como nada, é então esse nada que, na articulação que fazemos entre os momentos temporais, passa ao presente. O presente, porém, é o ser; como se transforma tal nada em ser? Eis que os fenómenos privilegiados da força e do movimento nos trazem a potência; sendo por definição o ser em forma de nada, ela serve-nos à maravilha: as coisas vêm dessa potência. Só que acontece que essa potência é mesmo  nada; e admitindo que fosse alguma coisa, nunca seria suficiente para as coisas. E apenas há as coisas. As coisas, no seu tempo próprio e só nele. As coisas que - não derivando da potência de que eram dotadas as coisas anteriores, potência que por sua vez derivava (bem como as primeiríssimas coisas) duma Potência eterna - são o absoluto. (José Reis, Nova Filosofia, pag 77, Edições Afrontamento, Porto; o destaque a negrito é posto por mim).

 

Comecemos por questionar a definição de tempo como «simples sucessão das coisas». Há a sucessão espacial das coisas - por exemplo, uma fila de peças de dominó encadeadas umas nas outras, em sucessão, mas que eu fotografo no mesmo instante - e a sucessão temporal, em que os momentos se eliminam uns aos outros - por exemplo, as modificações que o meu corpo experimenta dia a dia, mês a mês. José Reis não faz esta distinção, com clareza.

 

 

«O ser é o presente» - eis um erro de José Reis, baseado na confusão entre ser-existência (o presente) e ser-essência (o passado, o presente e o futuro de determinada forma ou essência).   Quando dizemos, por exemplo, que «o ser na doutrina de Nietzsche é a vontade de poder, movendo-se no círculo do eterno retorno» estamos a perspectivar o ser como passado-presente-futuro, não podemos reduzi-lo apenas ao acto presente.

 

Se não investigássemos o passado e prevíssemos o futuro, se não possuissemos a visão holística e histórica do que foi e previsivelmente será (por indução), não poderíamos saber o que é o ser. José Reis é um actualista (só o momento actual é real): o seu combate ao essencialismo, à permanência das essências, assemelha-se ao de David Hume, o pai da moderna filosofia analítica, e ao de Wittgenstein. A pretensão de «destruir a meta-física para ver as coisas por dentro» é uma tarefa inglória: o futuro associa-se sempre a uma certa dose de metafísica e ninguém, em bom juízo, se dissocia de pensar o futuro, a potência da sua vida e das vidas de outros.

 

O passado e o futuro fazem parte da essência do tempo, de qualquer tempo de qualquer ente. A essência do tempo não coincide, pois, com a existência: engloba esta como o momento actual mas engloba também o sido e o porvir, a potência. A essência é o sido, o momento presente, e a potência (o futuro em esboço). Ora o ser é essência: passado, presente, futuro, ainda que destes três momentos só um seja acto (o presente) e outro tenha sido acto (o passado).

 

Quanto à espacialização do tempo que José Reis aponta como um erro do pensar filosófico, gerador da ideia da causalidade, ela é inevitável e não constitui um erro. Einstein falava do espaço-tempo, não do tempo separado do espaço. O tempo não é, na minha óptica, o espaço globalmente considerado mas as mudanças contínuas de posição (kinésis, em grego) ou de forma (aloiósis, em grego: alteração) dos corpos e figuras que ocupam o vasto espaço. Divergindo da minha conceptualização do tempo, Aristóteles não define o tempo como um movimento mas como um acidente intrínseco ao movimento, o número que marca este :

 

«É então evidente que não há tempo sem movimento nem mudança. Logo é evidente que o tempo não é um movimento, mas não há tempo sem movimento.» (Aristóteles, Metafísica, Livro IV, 218 b, 25-30)

 

«Assim pois, quando percebemos o agora como uma unidade, e não como anterior e posterior no movimento, ou como ele mesmo relativamente ao anterior e ao posterior, então não parece que tenha transcorrido algum tempo, já que não houve nenhum movimento. Mas quando percebemos um antes e um depois, então falamos de tempo. Porque o tempo é justamente isto: número do movimento segundo o antes e o depois».(Aristóteles, Metafísica, Livro IV, 219 b, 1-5; o destaque a negrito é da minha autoria).

 

 

Sobre a «refutação da causalidade necessária» realizada por Hume e reafirmada por José Reis, basta dizer que as leis da natureza, as leis da física e da astrofísica demonstram que a causalidade existe. Ninguém, de bom senso, se atreveria a beber amoníaco ou a atirar-se de um avião em voo sem páraquedas porque sabe que tais actos seriam causa de morte ou de gravíssimos danos no seu corpo.

 

A ABOLIÇÃO DO SER ETERNO: PODE PROVAR-SE?

 

No seu ver anti-metafísico, José Reis sustenta que o absoluto não existe como eternidade mas é apenas o ser temporal, finito. Decreta, pois a abolição do ser eterno. Mas como pode José Reis garantir, com fundamento, que não há um ser-essência eterno? O seu ver anti metafísico é muito limitado. É um empirismo rasteiro, de visão curta. Escreve Reis:

 

«O ser temporal é, pois, porque só se pode pensar, durante o tempo em que ele existe, como ser e não como nada, tão absoluto como o ser eterno.»

«E mais: ele não é só tão absoluto como o ser eterno, ele é mesmo o único absoluto. Não havendo causalidade, como agora sabemos, e sendo esse ser eterno exigido apenas como causa do ser temporal, este, longe de ser si mesmo um nada sempre à espera da esmola do ser eterno, é que é até o único absoluto. Por muito que custe aos nossos hábitos, é ele agora a medida de tudo. Há só esse ser temporal, tal como ele é na sua temporalidade, isto é, na sua sucessão - o ser temporal, repitamo-lo, não é temporal porque seja de si mesmo o nada mas só porque é uma sucessão - e é tudo.» (José Reis, Nova Filosofia, páginas 78-79, Edições Afrontamento; o destaque a negrito é posto por mim).

 

O ser temporal é temporal porque é uma sucessão, diz José Reis . Mas o movimento da esfera celeste que acompanha o tempo e de que Aristóteles fala na «Física» é eterno e é sucessão posicional. Eterno não significa necessariamente imóvel, sem sucessão. Por conseguinte, definir o temporal pela sucessão é insuficiente. Há um movimento eterno, intemporal, e movimento é sucessão posicional.

 

Dizer que o ser temporal - com início e fim no tempo - é tão absoluto como o ser eterno é dizer que o finito é tão absoluto quanto o infinito. É certo que o infinito não existe, em acto, segundo Aristóteles. Há um limite em todas as coisas, até no imenso universo. Mas enquanto essências o eterno é o absoluto e o temporal não é o absoluto mas o relativo. Como existência, o presente é o absoluto, como essência o «agora» não é absoluto porque se relaciona com o sido e o porvir.

 

Aristóteles distinguiu bem o ser, do tempo, com clareza superior à de Heidegger e de José Reis:

 

«Todas as coisas se geram e se destroem no tempo. Por isso, enquanto alguns diziam que o tempo era o mais sábio, o pitagórico Paron chamou-o, com clareza, de "o mais néscio", porque no tempo esquecemos. É claro, então, que o tempo tomado em si mesmo é mais precisamente causa de destruição do que de geração, como já se disse antes, porque a mudança é em si mesma, um sair fora de si, e o tempo só indirectamente é causa de geração e de ser.  Um indício suficiente disso está no facto de que nada se gera se não se move e actua, enquanto que algo pode ser destruido sem que se mova, e é, sobretudo, de esta destruição que se diz ser obra do tempo. Mas o tempo não é a causa disto, mas dá-se o caso de que a mudança se produz no tempo» .

( Aristóteles, Física, Livro IV, 222 b, 15-20; o destaque a negrito é posto por mim).

 

O PASSADO SÓ EXISTE ENQUANTO O PENSO AGORA?

 

 

José Reis sustenta que o passado só existe enquanto o pensamos agora. Na linha descontinuísta de David Hume, que combateu as noções de necessidade/ causalidade infalível e de continuidade das coisas em todo o tempo, Reis postula os momentos do tempo como desligados entre si de modo que um nunca é causa do outro. Dando o exemplo de olharmos sucessivamente as seis faces de uma caixa - e cada vez que vemos uma é o ver imediato - escreveu:

 

«Uma vez que só agora o penso, esse passado só agora existe. Supor que a face, porque ela durante esse tempo não foi vista e,uma vez que estava ocupado em ver as outras faces, nem sequer foi pensada, existiu lá em absoluto desligada do pensamento  é precisamente esquecer que ela só existiu lá, e existiu sem ser vista nem pensada, porque agora a penso lá dessa maneira; sem isso pura e simplesmente não haveria lá nada . Por muito que custe aos nossos hábitos, esse passado da face só agora existe, durante o tempo em que o penso. (...) O agora, digamo-lo assim, é só esse passado; mas, se tirarmos o agora, esse passado, seja ele uma duração de segundos ou de milénios, pura e simplesmente desaparece. - É irremediável. Se houvesse causalidade e Deus criasse o mundo, Ele não criaria as coisas que nós depois veríamos de tempos a tempos mas criaria as coisas vistas e vistas durante o tempo e segundo o modo como se vêem: criaria o agora em que a face se vê pela primeira vez, criaria o agora em que ela se vê pela segunda vez e criaria o agora em que ela se pensa no intervalo. Só isso existe.» (José Reis, Nova Filosofia, página 129-130, Edições Afrontamento; o destaque a negrito é posto por mim). )

 

Refutar estas teses idealistas não é difícil: o passado não existe no agora, nem sequer existe, porque já passou; no agora existem apenas a lembrança ou a idealização ou vestígios  físicos do passado, isto é, de uma imensidão de agoras  ab-rogados.

 

José Reis é um exemplo de junção entre filosofia analítica e fenomenologia, ambas nascidas do idealismo de David Hume.  

 

 

 

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Quarta-feira, 11 de Setembro de 2013
Confusões de José Reis sobre ser e ver em Kant, Hegel e Heidegger

No seu livro «Nova Filosofia», publicado em 1990, José Reis, um catedrático de filosofia da universidade de Coimbra, produz um vórtice de confusão sobre o que são ser e ver nas doutrinas de Kant, Hegel, Heidegger e outros filósofos. Aferrando-se ao pressuposto idealista de que o ver do sujeito tem a primazia sobre o ser dos objectos físicos exteriores, Reis revela-se incapaz de perceber, verdadeiramente, o ponto de vista de alguns filósofos consagrados como Kant e Hegel.

 

Uma tese basilar de Reis, de recorte fenomenológico, decalcada de «O ser e o nada» de Sartre, é a de que não há conhecimento.

 

«E agora sim, se não há conhecimento e se, como é óbvio, também não o havia ao princípio, como surgiu ele? Se ao princípio não havia nem sujeito nem objecto, não havia nem o ver de um lado nem o ser para ver do outro, antes só havia o ser já visto (que, por ser já visto, recordemo-lo, dispensa o ver) como surgiram eles? É o problema: o problema da origem do conhecimento, com toda a história subsequente.» (José Reis, Nova Filosofia, pag 169, Edições Afrontamento, Porto).

 

Sustentar que o conhecimento não existe porque não há a dualidade sujeito-objecto é dizer:

A) Que havia ou há o autoconhecimento instintivo,. que não admite dúvida, por intuição.

B) Ou, em alternativa,  que há apenas as coisas, desaparecendo o sujeito. Esta é, explicitamente, a posição de José Reis.

 

É, numa certa interpretação, a tese de Parménides de que «ser e pensar são um e o mesmo», o pensamento é o autoconhecimento do ser. Isto é, no fundo, a tese de Heidegger de que o conhecimento é a desocultação do ser, ser que vive em grande parte dentro do ser-aí ou consciência individual de cada homem. José Reis não parece sublinhar a paternidade heideggeriana desta tese que ele mesmo veicula.

 

Mas enquanto Heidegger mantem como fontes de investigação o passado e o futuro, Reis reduz o ser a uma mera percepção-inteleção actual (nem sequer existe o «eu») e ao respectivo referente visível (as coisas: a casa, o automóvel, etc) no momento presente, suprimindo o «ser para ver», a metafísica, o prescrutar a transcendência ou simplesmente o desconhecido:

 

«O ser é já visto, não só sempre mas também de si mesmo, e, não há, em absoluto, mais ver nenhum. (...) Quando se tiver percebido - justamente através dessa fórmula - que não havendo mais nenhum ser para ver (quer no tempo, quer de si mesmo) também não há mais ver nenhum, será claro que tudo o que há é tão-simplesmente o ser e que podemos, que podemos, que devemos, pura e simplesmente varrer o ver do nosso vocabulário.  Se se quiser, e entretanto, substitua-se o ver por haver; embora nem sempre dê frases particularmente elegantes (sobretudo se se mantèm o sujeito do ver: eu vejo a porta= eu há a porta), poderá ajudar-nos a compreender o que há.

«Não desapareceu tudo portanto. Só desapareceu o para ver e consequentemente o ver, do ser para ver.» (José Reis, Nova filosofia, pag 128, Edições Afrontamento; o destaque a negrito é posto por mim).

 

Temos, pois, uma ontologia instantaneísta actualista: tudo o que existe está no agora, visível e palpável. Nem Deus cabe nisto. Nem a consciência humana geradora do mundo material, como no idealismo de Berkeley, Kant e outros, subsiste. É o materialismo do instante presente.

 

 

 

UMA INCOMPREENSÃO SOBRE A REVOLUÇÃO KANTIANA NA GNOSIOLOGIA

 

Sobre Kant, José Reis escreveu, após distinguir, sem exemplificar, númenos de fenómenos:

 

«A representação foi pois, historicamente, o grande problema do conhecimento. Já que este último, no seu essencial, isto é, no ver e no ser para ver, é uma impossibilidade que em si nada tem a ver com a representação, poderia sem dúvida chegar-se à sua destruição sem se passar por esta representação. Mas isso é o reino dos possíveis, não é o real; o que é facto é que foi pela representação que tal aconteceu: foi por ela que em Descartes se descobriu o ver e foi por ela que em Kant se descobriu o ser como o absolutamente outro.» (...)

«E então o nosso problema agora é este: onde está a revolução kantiana? Já o dissemos. Em ter descoberto o ser como o absolutamente outro.» (José Reis, Nova Filosofia, páginas 203-204, Edições Afrontamento; o destaque a negrito é posto por mim).

 

 

Tomemos o ser no seu sentido mais plenamente usado em filosofia: essência permanente, principial e eterna. Note-se que Reis fala no "ser" sem o definir claramente. Chama-se a isto vagueza, imprecisão conceptual.

 

 É um erro dizer que «a revolução kantiana consiste em ter descoberto o ser como absolutamente outro». É justamente o inverso que sucedeu: a revolução gnosiológica de Kant consistiu em reduzir o universo das coisas materiais a mera criação da mente humana, a um conjunto de fenómenos (montanhas, mesas, rios, animais, corpos humanos, etc) interiores à vastíssima mente humana. O ser permanente e eterno para Kant é dual: por um lado, é os númenos; e por outro lado, é o espírito de cada homem composto de sensibilidade (onde se formam os fenómenos materiais), de entendimento (onde se formam os conceitos e juízos de base empírica como, por exemplo, o conceito de casa, ou de base matemática a priori, como, por exemplo, o juízo "Dois mais sete é igual a nove") e de razão transcendental (onde se formam as ideias de Deus, liberdade, alma imortal e de outros númenos).

 

Por conseguinte,  Kant descobriu e postulou, na linha do idealista George Berkeley, o homem como inventor e criador, dentro da sua imensa mente, da matéria, do mundo material - idealismo. Logo, o ser para Kant não é absolutamente outro: se exceptuarmos os númenos, o ser para Kant é o sujeito cognoscente em si mesmo, pois não é posto ou criado por Deus, mas é autosubsistente e nele, no seu campo perceptivo chamado sensibilidade, se geram as paisagens urbanas e rurais ou marítimas e os entes visíveis.

 

NA TEORIA DE KANT, O HOMEM CRIA OS FENÓMENOS, NÃO OS RECEBE

 

José Reis supõe erroneamente que, na doutrina de Kant, o homem recebe os fenómenos, como imagem distorcida, dos númenos. Escreve:

 

«A substância, em Kant, não é como ainda em Locke, uma coisa criada por Deus à imagem e semelhança da Sua ideia, uma coisa exterior à ideia que dela tem Deus, mas, ao contrário, há só a ideia. Criar, com efeito, é ver originariamente.  Por isso, a substância pelo seu lado positivo (nós só a pensamos de forma vazia) se chama númeno. E por isso o que nós conhecemos se chama fenómeno, aquilo que nos aparece: nós, ao contrário de Deus, cujo ver cria as coisas, só as recebemos.  Para Deus, não pode haver coisas: aquilo que, aparecendo-lhe, lhe seria transcendente.»(José Reis, Nova Filosofia, pag 201)

 

Ao contrário do que sustenta José Reis, para Kant, não há só a ideia, não há só uma ideia: Deus. Há vários númenos ou ideias reais, objectivas mas incognoscíveis: Deus, almas racionais, liberdade, mundo como um todo. Reis atribui a Kant a tese de que «o ver de Deus cria as coisas». É um erro. Para Kant, que nisto é distinto de Hegel e de Berkeley, Deus não criou as coisas, os céus, os mares, as árvores, os animais, o corpo do homem. Estas coisas são criações do sujeito cognoscente, de cada espírito humano, dotado de formas a priori da sensibilidade (espaço e tempo),  de fornas a priori do entendimento (categorias e juízos puros),  e de ideias da razão, metafísicas, livres.

Sobre o espaço, por exemplo, Kant sustentou que ele é criação subjectiva do sujeito homem e não de Deus:

 

«a. O espaço não representa qualquer propriedade das coisas em si, nem essas coisas nas suas relações recíprocas; quer dizer que não é nenhuma determinação das coisas inerentes aos próprios objectos e que permaneça mesmo abstraindo de todas as condições subjectivas da intuição. (...)

« b. o espaço não é mais do que a forma de todos os fenómenos dos sentidos externos, isto é, a condição subjectiva da sensibilidade, única que permite a intuição externa.» (Kant, Crítica da Razão Pura, pag 67, Fundação Calouste Gulbenkian)

 

 

Ademais, o texto de Reis acima sofre de incoerência: Deus «cria as coisas ao ver originariamente», mas para Ele, «não há coisas porque lhe seriam transcendentes. 

 

KANT ERA REALISTA?

 

José Reis considera erroneamente Kant um realista:

 

«Significa, em primeiro lugar, que Kant continua um realista, e um realista que não vê nada do problema cartesiano, porque nem a absoluta alteridade do ser (para além da sua simples transcendência) o leva a duvidar da sua existência.» (José Reis, Nova Filosofia, pag. 204, Afrontamento; o destaque a negrito é posto por mim).

 

Um realista postula que a matéria é exterior aos espíritos humanos e subsistente por si mesma, seja criada por deuses ou não. Kant, que se intitulou «realista empírico» que é o mesmo que «idealista transcendental»,  negou a realidade da matéria em si mesma:

 

«Deve, portanto, haver certamente algo fora de nós a que corresponde esse fenómeno a que chamamos matéria. Porém, na qualidade de fenómeno, não está fora de nós, mas simplesmente em nós, como um pensamento» (Kant, Crítica ds Razão Pura, pagina 362, Fundação Calouste Gulbenkian; o negrito é posto por mim).

 

Kant é idealista: a matéria é como pensamento, isto é mera sensação. Kant duvida do ser material como duvida do ser espiritual transcendente, o númeno. Foi, portanto, mais longe que Descartes. Este colocou a res extensa - a forma espacial, sem cor, nem peso, nem cheiro, nem densidade - fora da mente do sujeito ou res cogitans e, nessa medida ainda figura no campo do realismo, quase idealista, mas Kant colocou dentro da res cogitans a res extensa. Reis é que não percebeu, deveras, a ontognosiologia idealista de Kant.

 

 

HEGEL DESTRUIU O SER ABSOLUTAMENTE OUTRO?

 

José Reis escreveu ainda sobre a doutrina de Hegel:


 

«§ 71  Hegel


 

«E estamos em Hegel. Que levando a sério o ser absolutamente outro de Kant, o destruiu. E o destruiu, sem dúvida, em nome do ver: é porque ele é nada para nós que ele é nada. Mas, precisamente, esse ver é só suposto, não é tematizado e em consequência problematizado. O problema em Hegel, tal como em Kant, é só o da recepção-alteração do ser. É porque esse ser, ao ser recebido em nós, se altera radicalmente, que ele é nada. (...) O ser não se destrói pois porque pura e simplesmente não se vê - o ver nem se tematiza -  mas porque, tendo de ser recebido, é em absoluto alterado. (...)»

 

«Hegel, como pós-kantiano que é, passa pois também completamente ao lado do verdadeiro problema do conhecimento. O seu sistema, por mais monumental que seja, continua a ser um desvio. Se Hegel não se desviasse, se tematizasse o vere prestasse atenção ao que efectivamente se vê (para só nos referirmos ao problema do conhecimento) nem sequer daria o primeiro passo.» (José Reis, Nova Filosofia, pag. 205, Edições Afrontamento; o destaque a negrito é posto por mim).

 

Há diversos erros capitais neste texto de Reis. Começa por não definir o que é para Hegel, o ser.

 

Ora este termo tem dois sentidos para o grande filósofo alemão: ser-existência que na sua pureza absoluta é igual ao nada, porque apenas é, sem qualidades nenhumas; ser-essência universal ou ideia absoluta em Hegel -ou Eu Absoluto, não humano - que é prévio ao ver humano e se desdobra em três fases, a do ser em si (Deus antes de criar o universo, o espaço e o tempo) , a do ser fora de si (panteísmo: Deus transformado em astros,montanhas, plantas e animais, ou seja, em natureza biofísica) e a do ser para si (panenteísmo: Deus renascido em humanidade que progride em direção à liberdade de espírito. Nada disto José Reis compreendeu.

 

 

A frase «O ser não se destrói pois porque pura e simplesmente não se vê» é uma adulteração do pensamento de Hegel: a humanidade - os antigos aristocratas e escravos  gregos e romanos, os senhores feudais e os servos da Idade Média, os artífices da Renascença, o proletariado moderno - é o ser para si, o ser que volta a si, e é e foi visível e tangível.

 

A frase «(o ser) tendo de ser recebido, é em absoluto alterado» é incompreensível no quadro da doutrina de Hegel. Recebido por quem, se a própria humanidade, o sujeito cognoscente é ser, é uma parte do ser?

 

Hegel escreveu:

«Deus é a Ideia absoluta da razão, não um ser-posto, fantasia, não simplesmente algo de possível; é Ideia necessária não posta por um pensar estranho.

«O conhecimento de Deus é imediato e mediato»  ( Georg Friederich Hegel, Propedêutica Filosófica, pag 235, Edições 70, Lisboa) .

 

«Deus é 1. o ser em todo o ser, simplesmente primeiro e imediato. Este ser é apenas a abstração de toda a determinidade, o indeterminado, o imóvel (Hegel, ibid, pag. 336).

 

«A natureza vegetal é o começo do processo individual ou subjectivo de autoconservação ou efectivamente orgânico que, no entanto, não possui ainda a força plena da unidade individual, porque a planta, a qual é um indivíduo, possui apenas partes que podem, por seu turno, considerar-se como indivíduos independentes.» (Hegel, Propedêutica filosófica, pag 52, Edições 70; o destaque a bold ).

 

Nestes excertos de Hegel há a teoria realista do conhecimento, culminando 1800 anos de história das igrejas cristãs: a natureza vegetal é anterior ao homem, Deus não é uma fantasia, uma possibilidade, é uma realidade anterior aos homens e geradora destes que são incarnação de Deus, na terceira fase. E neste ponto Hegel é radicalmente diferente de Kant visto que este duvida da existência de Deus que rotula de númeno, ser incognoscível. Como pode José Reis dizer que Hegel, que lhe é superior intelectualmente, passou ao lado do verdadeiro problema do conhecimento? Em Hegel, o ser suplanta o ver e este é apenas uma dimensão do ser. Isto é uma ontologia e uma teoria do conhecimento: uma ontognosiologia, a que Hegel chama «idealismo absoluto» mas que, em rigor, é um ideal-realismo.

 

HEIDEGGER QUIS PENSAR O SER COMO NADA OU RECONHECEU O PODER DE O SER NADIFICAR?

 

Sobre Heidegger escreve José Reis :

 

 «Heidegger quis e bem pensar o ser como nada, porque quis pensar o ser antes do ver. E levado por essa evidência que conhecer é ver o que antes não se via, manteve, com uma consciência absolutamente tranquila, apesar de se tratar de um nada, o seu projecto até ao fim». (José Reis, Nova Filosofia, pag. 213; o destaque a negrito é posto por mim ).

 

Não é exacto que Heidegger pensasse o ser como nada. O ser tem uma estrutura, tem regras próprias que impõe ao homem:

 

«O ser é a protecção que guarda o homem em sua essência ex-sistente, de tal maneira, para a sua verdade, que ela instala a ex-sistência na linguagem. É por isso que a linguagem é particularmente a casa do ser e a habitação do ser humano.» (Heidegger, Carta sobre o humanismo, pag. 118, Guimarães & C.ª Editores, Lisboa). 

 

Se o ser é uma protecção do homem não é um nada, obviamente. E se vive na linguagem como sua casa é porque é o conjunto de referentes da linguagem ou, pelo  menos, as regras internas linguísticas. O nadificar ou reduzir a nada, próprio de um momento da dialética, exerce-se no seio do ser mas não é todo o ser. Escreveu Heidegger:

 

 

«O nadificar desdobra o seu ser no ser, e de maneira alguma, no ser aí, na medida em que este ser aí é pensado como a subjectividade do ego cogito(...)

«O nadificar no ser é essência daquilo que eu nomeio o nada. Por isso, porque pensa o ser, o pensar pensa o nada.» (Heidegger, Carta sobre o humanismo, pag. 116-117, Guimarães & C.ª Editores, Lisboa; o destaque a negrito é posto por mim).

 

    

Os grandes filósofos são raros nas cátedras universitárias de hoje. E José Reis não é um grande filósofo, sem embargo de ser uma inteligência acima da média entre os académicos. A grande maioria das cátedras são dominadas por indivíduos medianos, razoavelmente ou mesmo altamente eruditos, mas intelectualmente confusos, em maior ou menor grau, com apreciável poder retórico. Na área da filosofia, pode dizer-se que as universidades são inimigas da grande filosofia, da verdade, pois os absurdos, as deturpações do pensamento original de certos filósofos e os lugares-comuns são frequentes nas teses de doutoramento e nas lições de cátedra.

 

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José Reis e a «refutação» da teoria da potência, de Aristóteles

No seu livro «Nova Filosofia», José Reis, um catedrático de filosofia da universidade de Coimbra, tentou refutar a teoria do acto e da potência de Aristóteles. 

É sabido que Aristóteles definiu dois modos de cada ente: o acto , isto é, aquilo que o ente é no presente (por exemplo: este sobreiro é sobreiro desenvolvido em acto); a potência, isto é aquilo  que virá a ser, em princípio, no futuro ( exemplo: a semente de um sobreiro é o sobreiro, como árvore, em potência). José Reis argumenta que a potência já está contida no acto ou realidade presente e não extravasa esta e, por isso, «não existe». Escreve:

 

« E eis o que é a potência: as próprias coisas, que já aí estão , mas não se vêem, porque estão implicitadas nelas mesmas.

 

«§ 19  Destruição da potência

 

E eis porque não há a potência: porque essa implicitude, só é tal, verdadeiramente, quando for o nada.

É muito simples. A potência são as próprias coisas (as coisas que depois vão aparecer), nas suas determinações exactas, nem mais nem menos, não é verdade? Pois bem, então, ou essas determinações estão aí ou não estão. Se não estão, óptimo, não estão e acabou. Se estão, por pequeninas ou vagamente que se lá pensem, isso mesmo já é um acto, já é a explicitude, e não a potência, a implicitude que se queria; esta mesma só, rigorosamente, o nada.

É irremediável. A potência não passa de uma ambiguidade. Dizemos que já lá temos as coisas, mas em absoluto não as podemos ter porque, por minimamente que elas já lá estejam, que elas já lá estejam nas suas próprias determinações, elas já não são a potência, mas o acto. (...) Redondamente,não há potência.» ( José Reis, Nova Filosofia, páginas 47-48, Edições Afrontamento, Porto; o negrito é colocado por mim ).

 

 

Dizer que a potência não existe é negar o processo de transformação do ovo de galináceo em galo. As determinações do galo adulto já estão contidas, embrionariamente, no ovo mas este não é de modo nenhum, o galo adulto. Essa diferença entre ovo e galo adulto, esse processo de desenvolvimento por vir é a potência. As formas em potência estão no futuro. Potência significa forma futura . Dizer que a potência não existe é dizer que o futuro não existe. Isso pode ser um ponto de vista enviesado de filosofia analítica, fragmentadora, mas não é o ponto de vista da dialética, holística: o futuro existe em potência e desfaz-se a cada instante no acto presente.

 

José Reis não refutou em nada a teoria de Aristóteles do acto e da potência. Esta última, a potência, possui um pouco de acto (em todo o Yang há um pouco de Yin, diz a filosofia chinesa do Tao) e o que José Reis fez foi isolar esse aspecto estático de acto esquecendo o aspecto do devir dinâmico, do futuro, que é o aspecto principal da potência. Reis não possui aqui, como em outros domínios, um pensamento dialético, holístico e dinâmico.

 

A POTÊNCIA NÃO É NÚMENO, AO CONTRÁRIO DO QUE DIZ JOSÉ REIS

 

 E escreve ainda José Reis a propósito de haver um pinheirinho minúsculo contido em cada pinhão:

 

«Dirão: a potência não se pode observar. Certo, a potência é um númeno, algo só pensado, e não um fenómeno e, como tal, não se pode observar.Mas deveria poder sê-lo...» .(José Reis, Nova Filosofia, página 49) 

 

José Reis não domina o conceito kantiano de númeno. Não o distingue de conceito empírico. A ideia de pinheiro, só pensada, nunca é um númeno porque tem forma: tronco, ramagem, pinhas, etc. O númeno é um ente imaterial, fora do espaço e do tempo, incognoscível, que não tem forma, como por exemplo, Deus, liberdade, mundo como totalidade. A potência (dynamis, em grego) é um conceito empírico ou uma disposição dinâmica da natureza biofísica  a que corresponde uma sucessão de conceitos empíricos: o sobreiro em potência é um conceito mentalmente visualizado, a expectativa do que virá a ser esta semente de sobreiro que tenho na mão.

 
 

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