Quinta-feira, 21 de Junho de 2012
Equívocos na prova 714 de Exame nacional de filosofia de 20 de Junho de 2012

 

O exame nacional de filosofia em Portugal (Prova 714/ 1ª fase) , de 20 de Junho de 2012, possui um certo número de equívocos importantes. Nem a Sociedade Portuguesa de Filosofia nem a Associação de Professores de Filosofia detectaram os erros que, aqui, passo a explanar. O essencial no ensino da filosofia não é preparar os alunos para exame, como defendem os burocratas cinzentos, licenciados, mestres ou doutorados na disciplina,  mas sim pôr os alunos a pensar em profundidade, o que implica fornecer-lhes, de forma rica e sintética, uma vasta gama de conceitos e teorias sem censuras científicas, religiosas, políticas, etc.  

 

Não conheço, por exemplo, nenhum professor de filosofia, além de mim, que ponha em causa o dogma da vacinação e forneça textos e videos críticos sobre esse tema,  o que prova que o ensino da filosofia  nas escolas é, quase todo, uma mera extensão das ciências oficiais e não uma crítica inteligente destas. Quantos são os professores de filosofia que sabem contrapor à medicina alopática, com a sua teoria causal bacteriana e viral das doenças, a concepção neo-hipocrática holística de que as múltiplas doenças locais são manifestação de uma só doença geral, a toxe-sangue-linfa (doutrina da unicidade das doenças) e de que um mesmo alimento são (exemplo: maçãs, uvas,etc) é ´capaz de curar doenças distintas em diferentes orgãos do corpo(unicidade da terapia alimentar)? Muitíssimo poucos... A incultura epistemológica reina entre os utilizadores dos «inspectores de circunstâncias», das «derivações», que vivem na casa vazia de uma lógica formal...

 

Aliás, os patrões das grandes editoras escolares não autorizam manuais de filosofia com textos contra a vacinação porque são amigos de médicos alopatas e querem estar nas boas graças dos políticos ligados às multinacionais farmacêuticas. Assim se condiciona e limita o campo filosófico, vergando-o aos lobbies do dinheiro...

 

Basta ver como os manuais escolares enfatizam os textos e a teoria de Karl Popper, um filósofo de segunda classe, inócuo para as ciências ideologicamente dominantes, e omitem, quase sempre por completo, os textos e a teoria de Paul Feyerabend. O servilismo dos manuais escolares escritos por membros da Sociedade Portuguesa de Filosofia (Desidério Murcho, Aires Almeida, Pedro Galvão, Luís Rodrigues, Pedro Madeira, etc) face à medicina alopática, à historiografia oficial liberal , etc, é confrangedor e obedece ao princípio positivista lógico: «nós em filosofia só tratamos da análise da linguagem e da ética, as questões científicas da medicina, astronomia, biologia, etc ficam a vosso cargo, ó cientistas, escrevam e façam o que quiserem, nós não incomodamos».

 

 

DETERMINISMO NÃO É EXATAMENTE O MESMO QUE DETERMINISMO EXCLUENTE DO LIVRE-ARBÍTRIO 

 

 

Vejamos algumas questões de estrutura ou correção oficial erróneas na prova 714 (versão 1) de exame nacional de filosofia de Junho de 2012.

 

GRUPO 1. 1.

 

Leia o texto seguinte do filósofo Espinosa acerca do problema do livre-arbítrio.

 

 

Texto A

 

Uma pedra recebe de uma causa exterior que a empurra uma certa quantidade de movimento,

 pela qual continuará necessariamente a mover-se depois da paragem da impulsão externa. [...]

 Imaginai agora, por favor, que a pedra, enquanto está em movimento, sabe e pensa que é

 ela que faz todo o esforço possível para continuar em movimento. Esta pedra, seguramente, […]

 acreditará ser livre e perseverar no seu movimento pela única razão de o desejar. Assim é esta

 liberdade humana que todos os homens se vangloriam de ter e que consiste somente nisto, que os

 homens são conscientes dos seus desejos e ignorantes das causas que os determinam.

 

Spinoza, «Lettre àSchuller», in Oeuvres Complètes, Paris, Gallimard, 1954

 

 

 

Identifique a tese defendida no texto.

 

Justifique a resposta, a partir do texto.

 

 

 

Cenário de resposta:

 

A resposta integra os seguintes aspetos, ou outros considerados relevantes e adequados:

 

– identificação da tese defendida no texto como sendo a tese do determinismo;

 

– interpretação do exemplo e da conclusão do texto – aplicação do argumento da causalidade e da tese

 

da negação do livre-arbítrio.

 

 

 

Crítica minha:  Existe aqui uma confusão. A tese que Spinoza exprime não é a do determinismo em geral , princípio da conexão necessária e uniforme de causas e efeitos, mas sim a do determinismo sem livre-arbítrio a rodeá-lo, isto é, aquilo que os manuais designam como determinismo radical. O que Spinoza nega no texto é a possibilidade real de os homens interferirem nas ações em que estão lançados por causas que lhe são estranhas e o que Spinoza realça é a ilusão em que os homens vivem de possuirem livre-arbítrio.  No texto não está presente, de modo explícito,  a tese do determinismo associado ou compatibilizado com livre-arbítrio, isto é, aquilo que os manuais e Blackburn designam por determinismo moderado . Logo, dizer que a tese do texto é o determinismo é uma resposta vaga, parcialmente errónea. A resposta correcta seria: determinismo excluente do livre arbítrio (vulgo determinismo radical). 

 

A ANÁLISE SEM VISÃO DE SÍNTESE DEFORMA, ISOLA, FRAGMENTA, O QUE NÃO PODE SER ISOLADO

 

 

 

Vejamos a segunda  pergunta  do grupo I:

 

2.

 

 

Leia o texto seguinte.

 

Texto B

 

Quando Kant propõe […], enquanto princípio fundamental da moral, a lei «Age de modo que

 a tua regra de conduta possa ser adotada como lei por todos os seres racionais», reconhece

 virtualmente que o interesse coletivo da humanidade, ou, pelo menos, o interesse indiscriminado

 da humanidade, tem de estar na mente do agente quando este determina conscienciosamente a

 moralidade do ato. Caso contráio, Kant estaria [a] usar palavras vazias, pois nem sequer se pode

 defender plausivelmente que mesmo uma regra de absoluto egoísmo não poderia ser adotada por

 todos os seres racionais, isto é, que a natureza das coisas coloca um obstáculo insuperável à sua

 adoção. Para dar algum significado ao princípio de Kant, o sentido a atribuir-lhe tem de ser o de que

 devemos moldar a nossa conduta segundo uma regra que todos os seres racionais possam adotar

 com benefício para o seu interesse coletivo.

  

John Stuart Mill,Utilitarismo, Porto, Porto Editora, 2005

 

 

 

Na resposta a cada um dos itens de2.1. a 2.4., selecione a única opção adequada ao sentido do texto.

 

Escreva, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção escolhida.

 

 

2.1.

 

 

Segundo Stuart Mill, Kant verdadeiramente valoriza:

 

(A)as circunstâncias da ação.

 

(B)o interesse da humanidade.

 

(C)o imperativo categórico.

 

(D)um imperativo hipotético.

 

 

Crítica: Os critérios  de correção dizem que a resposta certa é a B, o interesse da humanidade. Está certo mas não pode considerar-se menos certa a resposta C) , o imperativo categórico, que manda que se considere cada pessoa como um fim em si e não um meio da ação do sujeito. Portanto, há duas respostas certas e não uma. A análise sem uma concomitante visão de síntese deforma, isola e fragmenta o que não pode ser isolado, fazendo ver só árvore sem ver a floresta. 

 

MILL VALORIZA A INTENÇÃO NA AÇÃO MORAL, AO CONTRÁRIO DO QUE SUPÕEM OS AUTORES DA PROVA

 

Analisemos outra questão de escolha múltipla, o tipo de questão em que é habitual os autores, que carecem de uma visão dialética de síntese, escorregarem.

 

2.3.

 

Stuart Mill defende que uma ação tem valor moral

 

(A)sempre que o agente renuncia ao prazer.

(B)quando a intenção do agente é boa.

(C)sempre que resulta de uma vontade boa.

(D)quando dela resulta um maior bem comum.


 

Crítica minha: os critérios de correção sustentam que só a  hipótese D está correcta. Na verdade, a hipótese B está igualmente correcta porque Mill, ao contrário do que supõem os autores da prova, valoriza a intenção do agente.  Em "Utilitarismo", Mill dá o exemplo de um homem que salva um seu inimigo de morrer afogado a fim de o torturar com requintes sádicos e considera que essa ação de salvamento é moralmente má porque a intenção do agente é má. Isto prova que, em certas ações, a intenção é mais importante que o resultado prático, segundo Mill. A moral deste é deontológica, ao invés do que dizem as mentes «quadradas» dos «analíticos».  É uma deontologia, não da universalidade abstracta, mas das maiorias particulares e concretas em cada situação.

 

 

Os vesgos parafilósofos analíticos dividem a ética em três grandes correntes: ética das virtudes de Aristóteles, ética deontológica de Kant e ética consequencialista de Mill. Não se dão conta da unidade essencial destas três correntes: são todas deontológicas.  

 

A NÃO DISTINÇÃO ENTRE VALIDADE DEDUTIVA E VALIDADE INDUTIVA E AS AMBIGUIDADES QUE ISSO GERA

 

Vejamos o grupo II da prova de exame (versão 1).

 

 

2.2.

 

 

 

Num raciocínio indutivo forte, a verdade

 

 

(A)da conclusão é garantida pela verdade das premissas.

 

 

(B)das premissas torna provável a validade da conclusão.

 

 

(C)da conclusão é garantida pela validade das premissas.

 

 

(D)das premissas torna provável a verdade da conclusão.

 

 

Crítica minha: Os critérios de correção indicam que só a resposta D é correcta, o que é uma estupidez : a resposta A está também certa (exemplo: a verdade da permissa "o Sol nasce diariamente desde há milhões de anos no horizonte terrestre", garante a verdade da conclusão  "logo, hoje mais uma vez o Sol tinha de nascer no horizonte")  e a resposta B está também correcta. Note-se que se pode falar em validade formal dedutiva e em validade indutiva, substancial mas o texto e os critérios de correção não esclarecem esta distinção...Por isso, há mais que uma resposta certa.

 

DA NÃO DISTINÇÃO ENTRE IMPRESSÕES DE SENSAÇÃO E IMPRESSÕES DE REFLEXÃO, EM HUME

 

 

 

Vejamos uma questão do grupo IV da prova 714.

 

 

GRUPO IV

 

1.

 

Leia o texto seguinte.

 

Texto E

 

 

[…] Quando analisamos os nossos pensamentos ou ideias, por mais complexos ou sublimes que

 possam ser, sempre constatamos que eles se decompõem em ideias simples copiadas de alguma

 sensação ou sentimento precedente. Mesmo quanto àquelas ideias que, à primeira vista, parecem

 mais distantes dessa origem, constata-se, após um exame mais apurado, que dela são derivadas.

 A ideia de Deus, no sentido de um Ser infinitamente inteligente, sábio e bondos, deriva da reflexão

sobre as operações da nossa própria mente e de aumentar sem limites aquelas qualidades de

bondade e de sabedoria.

 

 

David Hume, «Investigação sobre o Entendimento Humano», in

 

Tratados Filosóficos I, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2002

 

  

1.1.Nomeie os tipos de perceção da mente, segundo Hume.

 

 

1.2.Explicite, a partir do texto, a origem da ideia de Deus na filosofia de Hume.

 

2.Confronte as ideias expressas no texto de Hume com o racionalismo de Descartes.

 

Na sua resposta, deve abordar, pela ordem que entender, os seguintes aspetos:

 

 

inatismo;

 

valor da ideia de Deus.

 

  

Cenário de resposta

 

A resposta integra os seguintes aspetos, ou outros considerados relevantes e adequados:

 

– relação entre as impressões e as ideias e entre as ideias simples e as ideias complexas;

 

– identificação da ideia de Deus como ideia complexa que tem por base ideias simples que a mente e

 

a vontade compõem e potenciam.»

 

 

Crítica minha: nos critérios de correção não se faz a distinção entre impressões de sensação e impressões de reflexão, ambas elas tipos de percepção da mente, distinção capital na gnosiologia de Hume. Se não houvesse impressões de reflexão como os sentimentos de bondade, de respeito por todos os seres humanos, etc, seria impossível formar a ideia de Deus.

 

Verifica-se, por conseguinte, analisando o teor deste exame 714, que as provas de exame nacional de filosofia em Portugal continuam a ser elaboradas por intelectuais de segunda e terceira categorias, destituídos de racionalidade holística e de poder de análise rigorosa. Há muita falta de imaginação, rigor e criatividade na elaboração destas provas, reflexo do ensino burocrático que a grande maioria dos professores do ensino secundário e universitário ministra. 

 

Os burocratas da filosofia, pequenos Stalines do formalismo lógico, chegam ao ponto de dizer que «o programa de filosofia do 10º ano não permite que se fale nos três mundos de Platão nem nos conceitos de tó on e tó tí nem na teoria das quatro causas de Aristóteles nem no taoísmo e dualismo Yin-Yang, nem na tese do microcosmos como espelho do macrocosmos»... Na sua ânsia de atacar-nos,  aos que somos criativos e cultos no ensino da filosofia, os «stalino»-analíticos confundem deliberadamente o programa (conjunto de linhas gerais) com os conteúdos que cada professor pode e deve livremente explanar e argumentam, falaciosamente, que «Platão, Aristóteles, Hegel, a teoria dos valores de Max Scheler, realismo/idealismo, estão fora do programa» só porque este não os menciona explicitamente. O que eles não sabem é quase nada de filosofia, não pensam, e mordem-se de inveja dos que sabem, dos que pensam...

 

O grande caos mental da filosofia analítica, iniciado com a tese paradoxal de Bertrand Russel de que «há classes que são membros, isto é, partes, de si mesmas, como a classe dos objetos abstratos», não cessa de aumentar e contamina os "filósofos de cátedra", os professores do secundário e os alunos - excepto os inteligentes, que resistem.

Platão dizia que o povo não é filósofo e isso aplica-se ao povo dos professores de filosofia que é ainda uma pequena multidão, pouco destacada intelectualmente, da multidão em geral.

 

Uma pequena multidão de professores demasiado uniforme, portadora de um horizonte totalitário de «não sair do programa, uniformizar», «agnóstica», politicamente demoliberal (numa democracia sequestrada), epistemológica e cosmologicamente totalitária, rejeitando, por princípio, a astrologia determinista histórico-social e as «ciências herméticas» (Cabala, I Ching, antroposofia de Rudolf Steiner, medicinas sagradas tradicionais, etc), socialmente empenhada na ascensão através de mestrados e doutoramentos que lhe dêem prestígio e vantagens económicas. As universidades, mesmo as estatais, parecem estar a transformar-se em prostitutas que, a troco de dinheiro, vendem mestrados e doutoramentos a qualquer professor/ licenciado medianamente inteligente.

 

Assim, a estratégia dos que amam a verdade, dos autênticos filósofos, passa por denunciar as actuais universidades, ocupadas por catedráticos e professores auxiliares sem qualidades superiores de inteligência e de saber erudito e sem coragem para afrontar a tecnociência e os interesses económicos e políticos das burguesias e burocracias dominantes.

 

E criticar, com paciência e clareza racional, a esmagadora maioria dos professores do ensino secundário que repetem os mesmos clichés confusos do tipo «o utilitarismo é um consequencialismo», «as éticas de Mill e de Aristóteles não são deontológicas», «o determinismo duro, o determinismo moderado, o libertismo e o indeterminismo são as quatro correntes sobre a questão do livre-arbítrio e da acção humana», «o libertismo é um incompatibilismo», «o relativismo é incompatível com o objectivismo», etc. É uma grande maioria, relativamente impensante, de professores, medianos e medíocres.

 

Destes, alguns, anti-racionalistas confessos, porque o curto raio (ratio) de alcance do seu pensamento não lhes permite atingir e compreender a posição dos planetas no Zodíaco e correlacionar com os factos terrestres sociais e biofísicos - refiro, entre outros, Carlos Pires («Dúvida Metódica»), Sérgio Lagoa, Tiago Pita, Valter Boita, Vítor Guerreiro, Aires Almeida, Carlos Alberto Gaspar, Rolando Almeida, Olívia Macedo, António Gomes, Luis Mendes, Isabel Versos, Rui Areal - destilam sarcasmos e falácias ad hominem contra este blog e o seu autor, o que me diverte bastante, mas não me desvia da luta pela claridade do pensamento filosófico e pela verdade. Doa a quem doer.

 

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Domingo, 10 de Junho de 2012
Uma previsão de Astrologia Histórica: Espanha-Alemanha, a final do Europeu em 1 de Julho de 2012

 

É possível a previsão científica com base na Astrologia? Sim, se se tratar de Astrologia Histórico-Social, rigorosamente fundada em milhares de dados empíricos - a Astrologia que pratico e desenvolvi com inovadoras teses chave, fazendo-a entrar definitivamente nas categorias de ciência da história humana e planetária e de teoria da predestinação absoluta.

 

A astrologia que aqui desenvolvo não tem praticamente nada em comum com a astrologia comercial e a astrologia tradicional, anti historicista, de Paulo Cardoso (comerciante de "horóscopos"), Maria Flávia Monsaraz, Luís Resina, Cristina Candeias, Helena Avelar, Luís Ribeiro e outros psico-astrólogos que a burguesia difunde ao grande público em programas televisivos, revistas, jornais e livros. A Astrologia Histórico-Social que construo é alvo de uma feroz censura nos media, nos departamentos universitários de filosofia, astronomia, história, sociologia e respectivas publicações. Querem confundi-la com a astrologia comercial e o charlatanismo retórico dos "signos"...

 

Mostrarei como é possível a partir de exemplos históricos empíricos, concretos, induzir regularidades ou leis parcelares astro-sociais.

 

Quais são as posições do Sol e dos planetas em 1 de Julho de 2012, dia da final do Europeu de futebol 2012? São as seguintes, às 0 e 24 horas: Sol em 9º 34´/ 10º 31´ de Caranguejo, Mercúrio em 5º 19´ / 6º 15´ de Leão, Vénus em 7º 42´/ 7º 51´de Gémeos, Marte em 20º 41´/ 29º 12´ de Virgem, Júpiter em 4º 16´/ 4º 28´ de Gémeos, Saturno em 22º 47´/ 22º 48´ de Balança, Úrano em 8º 29´ de Carneiro, Neptuno em 2º 59´/ 2º 58´de Peixes, Plutão em 8º 14´/ 8º 12´ de Capricórnio.

 

Se compararmos o Zodíaco ao mostrador de um relógio, o signo de Carneiro (30º de arco) equivale ao arco entre as 12 horas e a 1 hora no mostrador, o signo de Touro ao arco entre a 1 e 2 horas no mostrador, o signo de Gémeos ao arco de 30º entre as 2 e as 3 horas, no mostrador, e assim sucessivamente. Os signos são divisões astronómicas da coroa circular do céu, de 30º cada, e estão todos em simultâneo no círculo celeste. Nada importa que não correspondam às constelações que levam o mesmo nome que eles.

 

 

Em 1 de Julho de 2012, Mercúrio estará no signo de Leão. Que dados extraímos, por indução, da história recente do futebol?

 

MERCÚRIO NO SIGNO DE LEÃO (NO ARCO DE 120º A 150º DA ECLÍPTICA, NA ASTRONOMIA):

 

AZARES DA ALEMANHA, VITÓRIAS DA ESPANHA E GRÉCIA

 

 

Em 30 de Julho de 1966, com Mercúrio em 4º 1´/ 3º 20´ de Leão, a Inglaterra vence por 4-2 a Alemanha Federal, na final do campeonato mundial em Londres; em 29 de Junho de 1986, com Mercúrio em 2º 2´/ 2º 47´ de Leão, a Argentina conquista o título de campeã do mundo de futebol ao vencer por 1-0 a República Federal da Alemanha no Estádio Azteca, na cidade do México.

 

 

Em 4 de Julho de 2004, com Mercúrio em 29º de Carangejo e 0º de Leão, a Grécia vence Portugal por 1-0 na fnal do campeonato da Europa de futebol; em 11 de Julho de 2010, com Mercúrio em 2º 31´ / 4º 24´ de Leão,  na final do campeonato de mundo de futebol, a Espanha vence a Holanda por 1-0.

 

É óbvio que os exemplos são escassos. Mas sugerem uma direção mais forte de probabilidades: se a Alemanha estiver na final de 1 de Julho, estes exemplos sugerem que perderá... 

 

Que dados permitem induzir a presença da Alemanha como finalista em 1 de Julho? Vários. Entre eles, a presença de Saturno em 22º 47´/ 22º 48´ de Balança.

 

PONTO 22º 30´/ 22º 50´ DE QUALQUER SIGNO:

ALEMANHA

 

A passagem de um planeta ou Nodo da Lua no ponto 22º 30´ a 22º 50´ de qualquer signo zodiacal é condição necessária mas insuficiente para destacar a Alemanha.

 

Em 30 de Janeiro de 1933, com Júpiter em 22º 26´/22º 30´ de Virgem, Adolf Hitler toma posse como chanceler da Alemanha republicana, minada já pelas forças da direita e extrema-direita reaccionárias; em  30 de Julho de 1966, com Nodo Norte da Lua em 22º 36´/ 22º 26´ de Touro, a Inglaterra vence por 4-2 a Alemanha Federal, na final do campeonato mundial em Londres; em 29 de Junho de 1986, com Júpiter em 22º 33´/ 36´ de Peixes, a Argentina conquista o título de campeã do mundo de futebol ao vencer por 1-0 a República Federal da Alemanha no Estádio Azteca, na cidade do México; em 8 de Julho de 1990, com Saturno em 22º 31´/ 27´ de Capricórnio, a República Federal da Alemanha conquista o título de campeã do mundo de futebol ao vencer por 1-0 a Argentina no Estádio Olímpico, em Roma. 

 

 

GRAUS 7º DE GÉMEOS E 29º DE VIRGEM:

ESPANHA, ENTRE OUTROS

 

Embora cada grau do Zodíaco signifique em simultâneo várias entidades, a presença em simultâneo de Vénus em 7º de Gémeos e de Marte em 29º de Virgem no dia 1 de Julho de 2012, evoca Espanha em determinados exemplos históricos:

 

A)Em 15 de Junho de 1977, com Mercúrio em 7º de Gémeos, realizam-se em Espanha as primeiras eleições legislativas livres desde 1936, sendo a vitória da União do Centro Democrático do primeiro-ministro Adolfo Suárez. 

 

B) Em 11 de Julho de 2010, com Saturno em 29º de Virgem, a Espanha sagra-se campeã do mundo em futebol ao vencer por 1-0 a Holanda.

 

Poderá questionar-se a exiguidade da amostra e contestar a legitimidade da indução...

 

 

Portanto, a previsão que elaboro é a seguinte: Espanha e Alemanha deverão ser os finalistas do Europeu e a vitória será,provavelmente, da Espanha. Esta previsão pode falhar? Sim, porque há outras variáveis - ciclos planetários, ângulos interplanetários -  que não estou a levar em consideração. Mas, mesmo que falhe a previsão, fiz aqui a prova concreta de que a Astrologia Histórico-Social é ciência porque extrai leis astro-sociais dos factos segundo o princípio seguinte: factos histórico-sociais similares possuem em comum uma ou mais coordenadas planetário-zodiacais similares quanto à área do Zodíaco ocupada ou quanto à numeração de graus e minutos de arco.

 

Denunciemos, uma vez mais, a ignorância dos filósofos e dos astrólogos em geral sobre a astrologia histórica, sobre a predestinação de toda a vida humana, individual e colectiva, pelo compasso planetário: Descartes - mas não Aristóteles, nem Marco Aurélio nem Galileu nem Kepler- Kant, Nietzche, Hegel, Husserl, Heidegger, Russel, Witgenstein, Sartre, Rawls, falharam a racionalidade holística, a compreensão de que os movimentos dos planetas no Zodíaco determinam praticamente a totalidade dos fenómenos sociais, biofísicos, culturais no planeta Terra.

 

Mas enquanto que no Renascimento havia liberdade de produzir astrologia ao nível das universidades, hoje, sob o «racionalismo» iluminista - que vê, ao pormenor, as luzes das cidades, dos centros comerciais e das emissões de televisão mas não vê, de forma holística, a luz dos planetas e das estrelas semeadas ao longo dos doze signos do Zodíaco -  a Astrologia Histórica é vergonhosamente silenciada pelo totalitarismo das ciências oficiais, das universidades e dos grandes media (excepto a internet).

 

Os meus livros «Sincronismos Cabala e Graus do Zodíaco» (Estampa, 2001), «Astrología y guerra civil de España de 1936-1939» (Edição de autor, Beja, 2006), «Os acidentes em Lisboa na Astronomia-Astrologia, Astrolgy and Accidents in USA» (edição de autor/Publidisa, 2008) que consubstanciam o salto qualitativo da Astrologia tradicional, semi científica, para a Astrologia científica Histórico-Social, são pura e simplesmente ignorados, colocados no Index informal do silêncio - método aliás usado pelos adversários deste blog que mostra as insuficiências racionais do pensamento de Platão, Heidegger, Ortega y Gasset, Deleuze, Blackburn, Russel, Witgenstein, Singer, e tantos outros.

 

Promotores, ou cúmplices através do silêncio, desse totalitarismo universitário ( fascismo epistemológico: censura-se ou expulsa-se da universidade quem aí quiser apresentar a astrologia como ciência do determinismo) são os catedráticos de filosofia, sociologia e história e os  autores de livros de filosofia e comentadores televisivos da "cultura" de que dou alguns exemplos: ao nível internacional, Anthony Kenny, Michael Smith, Zizek, Simon Blackburn, Steven Pinker, Nigel Warburton, Gianni Vattimo, Marc Guillaume, Alan Badiou, Luc Ferry, Ruwen Ogien, Jean Pierre Dupuy, Jean Vassal, entre outros; ao nível lusitano, José Gil, Eduardo Lourenço, Vítor Correia, António Zilhão, José Barata-Moura, José Matoso, Borges Coelho, José Hermano Saraiva, José António Saraiva, Nuno Rogeiro, Olivier Feron, José Caselas, Porfírio Silva, Viriato Soromenho Marques, Ricardo Silva, Joana Pontes, Luís Andrade, Vítor Guerreiro, Ricardo Santos, João Branquinho, Dina Mendonça, Luis Bernardo, Desidério Murcho, Pedro Galvão, Alexandre Franco de Sá, Marcelo Rebelo de Sousa, Paula Moura Pinheiro, Mário Crespo, António Barreto, José Pacheco Pereira, Francisco Pinto Balsemão, Francisco José Viegas.

 

Eis a ironia do destino: milhares de universidades respeitadas ignoram, no seu obscurantismo iluminista, a astrologia como ciência da história e este blog de um simples licenciado em filosofia - eu - desvenda a verdade do determinismo astral sobre os factos sociais e terrestres. Estamos na verdade, que pesquisamos arduamente, e essa é que conta (internalismo) mas não temos força social (editores poderosos, grandes media, catedráticos do nosso lado) para implantar no público a nossa concepção holística, objectiva, e vê-la socialmente reconhecida (externalismo). Mas a vida é assim mesmo. Mais vale ser muito bom e estar isolado do que ser medíocre ou suficiente e estar nas boas graças do mundo, da burguesia editorial e seus jornalistas corrompidos, e do grande público impensante.

 

 

NOTA DE 30 DE JUNHO DE 2012, POSTERIOR À ESCRITA DESTE ARTIGO - Em 29 de Junho de 2012, a Itália eliminou a Alemanha por 2-1, desfazendo em parte o carácter científico da previsão que eu fizera de que a Espanha e a Alemanha seriam as finalistas do Europeu em 1 de Julho de 2012. Isso bastou para que alguns professores de filosofia, do vasto e obtuso partido anti-astrologia, como Sérgio Lagoa e Rui Areal, me rotulassem, de má fé e precipitadamente, de "charlatão". Mas onde está o charlatanismo, se acima eu admiti que a previsão era falível? Charlatanismo seria eu escrever uma coisa do género: «É infalível que a Alemanha e a Espanha serão as finalistas, eu nunca me engano.»

 

Mas o que escrevi foi outra coisa: «Esta previsão pode falhar? Sim, porque há outras variáveis - ciclos planetários, ângulos interplanetários -  que não estou a levar em consideração. Mas, mesmo que falhe a previsão, fiz aqui a prova concreta de que a Astrologia Histórico-Social é ciência porque extrai leis astro-sociais dos factos segundo o princípio seguinte: factos histórico-sociais similares possuem em comum uma ou mais coordenadas planetário-zodiacais similares quanto à área do Zodíaco ocupada ou quanto à numeração de graus e minutos de arco.»

 

A par disto, note-se que tanto Lagoa como Areal esconderam que a minha previsão acertou pelo menos em 50%: a Espanha é finalista, como se comprovou em 27 de Junho com o triunfo da Espanha sobre Portugal. Não parece que sejam intelectualmente honestos. O seu imperativo é a todo o custo fazer crer que não há determinismo planetário na vida social e biofísica e desqualificar, com falácias ad hominem, o investigador de história mediante os ciclos dos planetas. São fanáticos anti-astrologia, fanáticos do livre-arbítrio que julgam o homem como «centro do universo, deus criador, dotado de liberdade de decidir», ignorantes porque nunca estudaram o assunto...

 

Não é o falhanço de uma previsão - ou duas, quatro, dez ou vinte - que retira carácter científico à nossa Astrologia Histórico-Social ou Astronomia Sócio-Política, do mesmo modo que o falhanço em uma ou duas ou quatro operações cirúrgicas não autoriza a qualificar de «charlatão» um cirurgião experiente que operou com êxito milhares de pessoas. Desafio seja quem for a refutar globalmente os meus livros «Astrologia Cabala e Graus do Zodíaco» (Estampa, 2001) e «Acidentes em Lisboa na Astronomia-Astrologia, Astrology and Accidents in USA» ( Publidisa/ Edição de Autor, 2008) que expõem centenas, talvez mesmo mais de mil leis astronómico-sociais com exemplos históricos datados. É preciso ler e estudar para estar habilitado a refutar, Lagoa e Areal! Vocês, tal como os velhos inquisidores de que são a sombra remanescente, já perderam a guerra contra o empiro-racionalismo holístico astronómico-astrológico...

 

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Sábado, 9 de Junho de 2012
Teste de filosofia do 11º ano de escolaridade ( 3º período)

 

Eis um teste de filosofia do 11º ano em Portugal, centrado nas unidades IV (O conhecimento e a racionalidade científica e tecnológica) e V ( Unidade final- Desafios e Horizontes da Filosofia) do programa da disciplina. Este teste evita as perguntas de escolha múltipla que, na maioria dos casos, são mal concebidas pelos professores de filosofia, autores de provas de exame nacional ou autores de testes em cada escola, prisioneiros da visão compartimentada da chamada «filosofia analítica». As perguntas de escolha múltipla não permitem aos alunos desenvolver livremente os seus raciocínios e explanar conteúdos e conduzem a inúmeras injustiças na avaliação cognitiva dos alunos.

 

Perguntemo-nos que razões levaram a classe dominante, desde há uma década, a insubstancializar a filosofia, retirando conteúdos de cariz metafísico e ideológico-político do programa escolar (exemplo: as teorias de Platão, Hegel, Nietzschze, Marx, Freud, Kierkegaard, etc) e substituindo-os por regras lógicas vazias, formais, e por retórica. A resposta mais plausível é: a burguesia mundialista promove a estupidificação filosófica dos adolescentes para os tornar em tecnocratas ou operários dóceis e para evitar as revoltas, como a do Maio de 1968 em França,  em que os estudantes estavam muito politizados e liam Bakounine, Marx, Mao, Guy Débord, Marcuse.

Vejamos o teste.

 

Escola Secundária Diogo de Gouveia com 3º Ciclo, Beja

 

TESTE DE FILOSOFIA, 11º ANO TURMA A

 

4 de Junho de 2012            Professor: Francisco Queiroz   

 

I

 

«Tanto a teoria da relatividade geral como a teoria da relatividade especial de Einstein podem ser classificadas de realismo crítico. A teoria de Imre Lakatos sobre os programas de investigação científica distingue três regiões dentro de cada ciência e, segundo alguns, é compatível com a teoria das revoluções científicas de Thomas Kuhn. O anarquismo epistemológico de Paul Feyerabend não implica necessariamente o grau de cepticismo contido na teoria de Popper sobre as ciências.  juízos sintéticos e juízos analíticos, sustentou Kant.»

 

 

 

1) Explique, concretamente, cada uma das frases deste texto, em especial os conceitos e afirmações em destaque.

 

II

 

 

 

2) Relacione, justificando:

 

 

 

A) Existencialismo (incluindo 3 estádios) em Kierkegaard e Astúcia da razão universal em Hegel.

 

B) Fenómenos, formas a priori da sensibilidade, formas a priori do entendimento e razão, em Kant.

 

C) Materialismo dialético e doutrina de Hegel.

 

D)“Relógio químico” e leis dos dois aspectos da contradição e do salto qualitativo.

 

E)  Vitalismo/ mecanicismo e teoria cosmológica de Aristóteles.

 

III

 

3)     Disserte livremente sobre o seguinte tema:

 

«Racionalismo, empirismo, misticismo e intuicionismo no carácter alentejano e na vida quotidiana na cidade e no distrito de Beja»

 

  

 

CORREÇÃO DO TESTE (COTADO PARA 20 VALORES).

 

I-1) O realismo crítico é toda a doutrina  que reconhece a existência de um mundo material exterior às mentes humanas e independente delas mas sustenta que estas não captam o mundo como ele é, mas sim de forma distorcida. A teoria geral da relatividade  de Einstein que trata essencialmente do espaço geométrico e da gravitação, da forma do universo, é um realismo crítico: o espaço que parece, aos sentidos, ser formado de planos e linhas rectas infinitas, é ondulatório, encurva, tal como os raios de luz encurvam, na proximidade de grandes massas, e o universo é fechado, esférico. A teoria da relatividade especial ou restrita trata, sobretudo, da velocidade e do tempo (não esquecendo que Einstein fala do espaço-tempo), é um realismo crítico na medida em que admite que  há diversos tempos simultâneos e que, contra o que os sentidos nos sugerem, um observador que viaje a velocidades próximas da velocidade da luz ( 300 000 quilómetros por segundo) quase não avança no tempo e fica mais jovem do que nós. É também realismo crítico por sustentar que quanto mais alta for a velocidade a que um corpo viaja mais aumenta a sua massa. (estas frases acima valem dois valores). A teoria das revoluções científicas de Thomas Kuhn estabelece que o desenvolvimento de uma ciência ao longo da história comporta dois ritmos: a um longo período de um paradigma científico estável dito «ciência normal»- o paradigma é um modelo teórico dotado de metodologias práticas - segue-se um curto período de anomalias em que desponta um paradigma de oposição, chamado «ciência extraordinária», que, após ser aceite pela comunidade científica da época, se transforma na nova «ciência normal».  Imre Lakatos, epistemólogo, distingue três regiões em cada ciência: o núcleo duro (hard core), conjunto das teses indiscutíveis, imutáveis, que pode relacionar-se com a ciência normal dada a estabilidade; o cinto protetor (protective belt), conjunto das teses revisíveis, que pode relacionar-se com a ciência extraordinária dado o carácter de mutação; a heurística, conjunto de regras de investigação a usar (heurística positiva) e das regras a não empregar (heurística negativa). (Estas frases valem dois valores no seu conjunto). O anarquismo epistemológico de Paul Feyerabend contesta o conjunto das ciências dominantes nas universidades e na vida social - a medicina alopática, as tecnociências de efeitos agressivos, a historiografia anti-astrológica, etc - dizendo que servem os interesses de alguns poucos - cientistas e políticos muito bem pagos, industriais e comerciantes farmacêuticos e outros - e eliminam antigas ciências como a medicina natural, a astrologia e práticas mágicas eficazes como a dança da chuva e outras. Ao contrário de Popper, um verdadeiro céptico probabilista que não aceita a astrologia e considera que todas as ciências empírico-formais são conjuntos de conjecturas, sujeitas ao princípio da falsificabilidade, que exige a testabilidade e a revisibilidade das teses, Feyerabend é um dogmático crítico, aceita a certeza da verdade das ciências alternativas, com métodos heterodoxos, desde que ofereçam resultados práticos incontestáveis. ( Estas frases valem dois valores no seu conjunto). Os juízos sintéticos, que podem ser a priori ou a posteriori, são aqueles em que o predicado acrescenta algo de novo ao sujeito, os juízos analíticos são aqueles em que o predicado não acrescenta nada ao sujeito. (Esta frase vale um valor).

 

2) A) O existencialismo de Kierkegaard é a filosofia que defende que a existência humana é imprevisível e coloca a cada instante a pessoa na alternativa, na iminência de decidir, livremente, esta ou aquela atitude. O filósofo dinamarquês diz que há três estádios da existência humana: o estádio estético, personificado pelo Don Juan, o conquistador que salta de mulher em mulher, na procura do prazer do instante; o estádio ético, personificado no homem casado, fiel à esposa e aos seus deveres familiares e sociais; o estádio religioso, personificado em Abraão que se dispunha a matar o seu próprio filho Isaac, rompendo com a ética, por Deus lhe ter solicitado esse sacrifício. A astúcia da razão em Hegel é a manipulação pela razão universal (Deus) da vontade e das acções dos grandes homens de modo a que realizem o plano da razão universal para o seu povo ou a sua época. Há várias correlações possíveis: a astúcia da razão manipula o homem nos três estádios da existência, levando a ser esteta, depois etico e por último religioso místico; a astúcia da razão só manipula o homem nos dois estádios iniciais, estético e ético, mas não no estádio religioso em que o homem é livre de escolher salvar ou perder a alma; a astúcia da razão só manipula o homem no estádio religioso... (a resposta vale dois valores).

 

2)B)  Em Kant, os fenómenos são objectos aparentemente reais, como árvores, animais, rios, que se formam na sensibilidade externa ou espaço, dentro do espírito humano, por ação dos númenos, objectos reais incognoscíveis. O caos sensorial que estes geram, desde o exterior, é moldado pela formas a priori da sensibilidade que são o espaço ( extensão e figuras geométricas) e o tempo (duração, sucessão, simultaneidade). As imagens dos fenómenos são levadas, pela imaginação, às categorias do entendimento (unidade, pluralidade, totalidade, realidade, limitação, negação, etc) que, junto com a tábua de juízos puros,  são as formas a priori do entendimento que sintetizam, reduzem à unidade, o diverso da intuição empírica. A razão não pensa os fenómenos, está desligada do mundo empírico, só pensa os númenos (metafísica) e as categorias e juízos puros do entendimento (lógica). (a resposta vale dois valores)

 

2) C) O materialismo dialético é a filosofia que sustenta que a matéria é eterna, incriada, e está em perpétuo devir e que não há deuses nem Deus. Ao contrário, a doutrina de Hegel sustenta que o eterno é o espírito, a ideia absoluta ou Deus, que atravessa três fases na história: ser em si ou Deus antes de criar o universo, o espaço e o tempo; ser fora de si, ou Deus que se aliena em natureza biofísica, em astros, montanhas, vegetais, aninais, e deixa de pensar; ser para si, ou Deus encarnado em humanidade que através de diversas e sucessivas formas de estado (mundo oriental, um só homem livre; mundo greco-romano, alguns homens livres; mundo do cristianismo reformado a partir do sécilo XVI, todos os homens são livres) se vai elevando no sentido da liberdade e regressando à fase do ser em si. Hegel é espiritualista dialético. (a resposta vale dois valores)

 

2) D) O "relógio químico" é um fenómeno de ordem a partir do caos que consiste no seguinte: as moléculas de um gás, suponhamos vermelhas e azuis, em vez de se misturarem e darem uma tonalidade heterogénea, num estado de caos, movendo-se ao acaso, alternam entre dois tipos de estado, um em que todo o gás adquire a coloração azul e o outro em que todo o gás adquire a cor vermelha. Isto demonstra a lei dos dois aspectos da contradição que afirma que esta se compõe de dois aspectos, raramente em equilíbrio, sendo um o dominante e o outro o dominado, que invertem posições: o aspecto dominante do gás ora é azul, ora é vermelho. A lei do salto qualitativo afirma que a acumulação lenta e gradual de um aspecto de um fenómeno origina um brusco salto de qualidade nesse fenómeno: a multiplicação de colisões de moléculas do gás faz, num dado instante, a tonalidade do gás mudar bruscamente de azul para vermelha (salto qualitativo) e uma ulterior acumulação gradual de colisões faz que todas as moléculas mudem de repente de vermelho para azul. (A resposta vale dois valores).

 

2)E) Vitalismo é a corrente que afirma que a vida não nasce da matéria mas que, vinda de uma região superior, se aloja na matéria. Defende igualmente que os processos vitais são inteligentes, obedecem a finalidades inteligentes. Na cosmologia de Aristóteles, há vitalismo no facto de as estrelas e os planetas serem entidades inteligentes que começaram a girar em círculo presos às respectivas esferas de cristal com a finalidade de alcançar Deus, o pensamento puro, imóvel, exterior ao cosmos. Mecanicismo é a corrente que afirma que a vida nasce de movimentos mecânicos ( e químicos) da matéria e que o universo é como uma grande máquina regida por leis deterministas.(A resposta vale dois valores).

 

3) A resposta é livre. (A resposta vale dois valores).

 

Nota para a correção: nas perguntas de relacionação entre dois ou mais conceitos, a cotação para cada resposta dada deve obedecer a um princípio de premiar o aluno que estuda e sabe as definições separadamente: assim deverá receber 50% a 60% da cotação da pergunta desde que defina correctamente os conceitos, embora não consiga interligá-los

 

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Sábado, 2 de Junho de 2012
Teste de Filosofia do 10º ano de escolaridade (3º período)

 

Eis um teste de filosofia para o 10º ano da escolaridade em Portugal para o terceiro período lectivo, inspirado no princípio da substancialidade inteligente dos conteúdos: deve dar-se aos alunos múltiplos conteúdos filosóficos, definições claras, ricas e precisas, porque o filosofar não se alimenta do vazio e da vagueza, e deve-se pedir aos alunos que relacionem esses conteúdos.

 

A grande maioria dos professores de filosofia em Portugal, subsidiária dos clichés da lógica proposicional e de obtusos autores de manuais da linha filosófica "analítica", poderia ensinar muito melhor os seus alunos se pensasse em profundidade, dominasse os conceitos substanciais e ampliasse o horizonte de conteúdos a leccionar. Por exemplo, quantos professores sabem distinguir realismo crítico de realismo natural, em gnosiologia? Poucos...Por isso, expor com clareza conteúdos (exemplos: vitalismo, mecanicismo, leis da dialética, teoria dos três mundos em Platão, teorias aristotélicas da forma e da matéria, do acto e da potência, das quatro causas de um ente, estoicismo de Marco Aurélio, taoísmo, hegelianismo) é muito mais importante do que dar regras ou formas vazias (tabelas de verdade, derivações, etc) porque os conteúdos encerram ideias, teses substanciais e só isso permite o pensamento autêntico.

Vejamos o teste, centrado na Dimensão Estética:

 

Escola Secundária Diogo de Gouveia com 3º Ciclo, Beja

 

 

TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA A

 

  Maio de 2012.            Professor: Francisco Queiroz   

 

I

 

“O carácter heterocósmico da obra de arte liga-se ao facto de esta ser símbolo. A teoria da cor em Hegel exprime o realismo crítico deste e nessa teoria  o azul e o vermelho desempenham funções diferentes na pintura medieval e renascentista. Objectivismo estético não implica necessariamente realismo estético. Kant postulou três modalidades do sublime, que se distingue do belo

 

 

 

1) Explique, concretamente, cada uma destas frases.

 

                                                        II

 

2) Relacione, justificando:

 

 

A) As três fases da ideia absoluta em Hegel e a lei da tríade.

 

B) Artes não plásticas e catarse.

 

C) Cubismo e teoria cosmológica de Pitágoras de Samos.

 

D) Forma e conteúdo na obra de arte, segundo Hegel, e racionalismo/ empirismo.

 

E) Teoria da forma e da matéria-prima universal (hylé), em Aristóteles, e leis do salto qualitativo e dos dois aspectos da contradição.

 

 

III

 

 

 

3)Disserte livremente, a partir do seguinte tema e abordando as seguintes questões e outras que entender:

 

 

 

«A arte. Há obras de arte sem conteúdo? Haverá arte sem arquétipos? É preferível a arte pela arte ou a arte ideológica?  É a razão ou os sentidos ou outra instância a fonte do sentimento estético? A arte é filosófica ou anti-filosófica?

 

  

 

CORREÇÃO DO TESTE (COTADO PARA UM TOTAL DE 20 VALORES)

 

1) O carácter heterocósmico ( hetero significa outro, em grego, e cosmos é um universo ordenado) da obra de arte significa que esta é um mundo à parte da natureza biofísica e ao mesmo tempo um símbolo, isto é, um sinal gráfico-visual, auditivo, etc, de uma realidade ausente, metafísica ou não. Assim, por exemplo, o quadro de Salvador Dali com os relógios dobrados ou derretidos é um outro cosmos, na tela, e simboliza ou representa o passar do tempo de uma maneira diferente ou qualquer outra ideia. (nota: estas frases valem um total de 2 valores). A teoria da cor em Hegel sustenta que a luz é incolor e que a cor nasce da incidência da luz sobre as diferentes escuridades da matéria. Isso já constitui realismo crítico, isto é, doutrina de que há um mundo de matéria fora das nossas mentes que estas não captam tal como é. Realismo crítico em Hegel é também este sustentar que o céu é negro, de dia, embora pareça azul claro devido à dispersão da luz solar ao entrar na atmosfera. O azul é a cor maternal nos quadros renascentistas - a Virgem Maria segurando o menino Jesus, tem manto azul - o vermelho a cor viril da realeza - a Virgem Maria como rainha do céu tem manto vermelho. (nota: estas frases valem um total de 2 valores). Objectivismo estético é a doutrina segundo a qual os valores de belo e feio são os mesmos para todas ou quase todas as pessoas a respeito de cada caso, quer esses valores existam só nas mentes (irrealismo estético) ou no mundo exterior físico (realismo estético) ou mundo exterior arquetípico ( realismo estético platónico).  (nota: estas frases valem um total de 2 valores). Para Kant, o sublime, isto é, o grandioso espiritual, como a filosofia e o masculino, distingue-se do belo, isto é, o pequeno, adornado e perfeito do ponto de vista visual, como a arte da cerâmica e o feminino. O subline divide-se em três modalidades: o sublime nobre, grandioso e simples, como a planície alentejana, ou o mar azul imenso e calmo; o sublime terrível, grandioso e criador de medo ou horror, como um quadro do Inferno do catolicismo ou um precipício imenso à beira do qual estamos; o sublime magnífico, grandioso e repleto de riquezas materiais, adornos, como a basílica de São Pedro e as igrejas barrocas cheias de talha dourada, pratas, mármores raros, etc. (nota: estas frases valem um total de 2 valores; no seu todo, a interpretação do texto da pergunta I vale 8 valores).

 

2) A) As três fases da ideia absoluta em Hegel são: a fase lógica ou do ser em si, que é a ideia absoluta ou Deus antes de criar o universo, o espaço e o tempo ( é a tese da tríade); a fase da natureza ou do ser fora de si, que é a da ideia absoluta alenada em natureza biofísica, Deus transformado em astros, montanhas, árvores, rios, animais, etc, sem reflectir ( é a antítese ou negação da primeira fase); a fase da humanidade ou do ser para si em que a ideia absoluta encarna em homens e sociedades que, ao longo dos séculos se vão espiritualizando grau a grau, através das formas de estado, da arte, da religião e da filosofia (é a síntese ou negação da negação que resume as duas anteriores; neste caso, a humanidade incorpora o espírito da primeira fase e a matéria corporal da segunda). A lei da tríade sustenta que o desenvolvimento se baseia em tese-antítese- síntese ( a resposta vale 2 valores).

 

2) B) As artes não plásticas são aquelas que não se plasmam ou fixam na matéria: música, cinema, poesia, dança, teatro. Em todas estas há a catarsis ou purificação da alma, do espectador e do artista: ao ver uma cena comovente num filme ou no teatro, vêm lágrimas aos olhos de muitos espectadores e isso é catarse; ao ouvir uma música rock ou pop, a pessoa balança o corpo, salta, dança e faz catarse ao libertar emoções. ( vale um valor

 

2) C) O cubismo é uma corrente artística, de inícios do século XX, que transfigura a realidade natural reduzindo-a a figuras geométricas, nomeadamente a cubos, paralelipípedos, cilindros, etc. A cosmologia de Pitágoras de Samos sustenta que o cosmos se formou a partir de figuras geométricas que são números: do vazio veio um ponto (este representa o número um); o ponto desdobrou-se em dois que formam uma recta (esta representa o número dois); da recta sai um ponto que projetando-se sobre ela de infinitos modos tece um plano ( este representa o número três); do plano sai um ponto que projetando-se segundo três rectas gera um tetraedro ou pirâmide de três lados e uma base (esta representa o número quatro). Planos, linhas e pirãmides são comuns à doutrina de Pitágoras e ao cubismo na descrição ou reconstrução dos objectos do mundo real. (vale dois valores).

 

2) D) Para Hegel, a forma da obra de arte é os materiais e os contornos e superfícies que a compõem, e o conteúdo é o ideal e o sentimento que transmite. Assim, a Pietá de Miguel Ángelo tem como forma o mármore e a figuras da Virgem com Cristo morto sobre as coxas e como conteúdo o sofrimento da mãe do Salvador, na perspetiva cristã, e a ideia de que a morte de Cristo redimiu a humanidade dos pecados. A forma da obra de arte liga-se sobretudo ao empirismo, corrente que afirma que quase todas as nossas ideias são cópias empalidecidas das percepções empíricas, porque estas nos mostram a cor do quadro, o mármore da estátua, etc. O conteúdo da obra de arte liga-se sobretudo ao racionalismo, corrente que afirma que muitas das nossas ideias não derivam das percepções empíricas e contrariam estas, porque descobrir o conteúdo, o significado de uma obra de arte, envolve muitas vezes o raciocínio, o pensar reflectido. (vale dois valores)

 

2) E) Segundo Aristóteles, há uma matéria-prima universal (hylé) que ao ser moldada por diversas formas ( a forma de cavalo, a forma de árvore, etc) dá origem a objectos (compostos): esta e aquela árvore, este e aquele cavalo, este e aquele homem, etc. A lei do salto qualitativo diz que a acumulação lenta e gradual de um factor num fenómeno gera um salto brusco de qualidade: assim, podemos imaginar que a forma cavalo começa a introduzir-se lentamente na hylé ou matéria informe até que se dá o salto qualtitativo, o aparecimento de um cavalo físico real. A lei dos dois aspectos diz que numa contradição há dois aspectos em regra desigualmente desenvolvidos: assim, no objecto ou composto cavalo, a forma é o aspecto dominante e a matéria-prima ou hylé é o aspecto dominado. (vale dois valores)

 

3) A resposta é livre, aflorando as perguntas sectoriais dentro da pergunta (vale três valores).

 

Nota para a correção: nas perguntas de relacionação entre dois ou mais conceitos, a cotação para cada resposta dada deve obedecer a um princípio de premiar o aluno que estuda e sabe as definições separadamente: assim deverá receber 50% a 60% da cotação da pergunta desde que defina correctamente os conceitos, embora não consiga interligá-los.

 

 

 

 

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Sexta-feira, 1 de Junho de 2012
Equívocos de Ludwig Wittgenstein no Tratactus Logico-Philosophicus

 

O Tratactus Logico-philosophicus de Ludwig Wittgenstein apresenta diversas incoerências, disfarçadas na atomização "fatiada" das teses que parecem construir uma escadaria indestrutível de pensamentos. Mas há incoerências, degraus de mármore fracturados, fissuras. Wittgenstein escreveu:

 

«1. O mundo é tudo o que é o caso.

«1.1 O mundo é a totalidade dos factos, não das coisas.»

(Ludwig Wittgenstein, Tratado Lógico-Filosófico , Investigações Filosóficas, pag. 29, Fundação Calouste Gulbenkian; o bold é posto por mim).

 

Isto está em contradição com o seguinte pensamento:

 

«2.024  A substância é o que permanece independente daquilo que é o caso». 

 

(ibid, pag.33; o bold é posto por mim).

 

Ora aquilo que é o caso é o mundo. Assim a substância permaneceria independente do mundo. De novo, isto contradiz o seguinte:

 

«2.021 Os objectos formam a substância do mundo. Por isso, não podem ser compostos.»

 

Afinal há a substância do mundo... Mas acima dizia-se que a substância estava independente do mundo, isto é, daquilo que é o caso. É uma incoerência visível.

 

 

O TEMPO É FORMA FIXA OU É CONFIGURAÇÃO INSTÁVEL DOS OBJETOS?

 

Wittgenstein identifica o termo coisas com o conceito de objectos e define o mundo como múltiplos estados de coisas. Escreve ainda:

 

«2.01  O estado de coisas é uma conexão entre objectos (coisas).

«2.012  Se posso pensar num objecto em conexão com um estado de coisas então não posso pensá-lo fora dessa possibilidade desta conexão.»

2.0251  Espaço, tempo e cor (coloração) são as formas dos objetos.

2.027    Só havendo objetos pode haver uma forma firme do mundo.

2.0271  O objecto é o firme, o subsistente; a configuração o mutável, o insubsistente.»

2.072    A configuração dos objetos forma o estado de coisas.

2.032     O modo e a maneira como os objetos estão em conexão num estado de coisas, é a estrutura do estado de coisas.

2.033    A forma é a possibilidade da estrutura.»

(Ludwig Wittgenstein, ibid, páginas 30-34; o bold é colocado por mim)

 

 

Ao dizer que o espaço é uma forma dos objetos (2.0251), Witgenstein é ambíguo: há espaço além dos objectos, que não é forma destes.

Por outro lado, ao distinguir , como Aristóteles na "Metafísica" entre a configuração (morfé) ou forma em devir, mudando a cada instante, e a forma firme, estável (o eidos, essência), Wittgenstein contradiz-se, ao menos aparentemente: admite uma forma firme do mundo ( totalidade dos estados de coisas) devida aos objectos (2.026) mas diz que a instável configuração dos objectos forma cada estado de coisas (2.0271). É como dizer que a soma de todas as instabilidades, que são cada estado de coisas, originasse o mundo estável. Mas esta estabilidade do mundo seria meramente uma abstração, a menos que Wittgenstein se desviasse para o platonismo e considerasse existirem objetos imóveis e eternos, imateriais...

 

Dizer que «o tempo é uma forma dos objectos» é equívoco neste contexto, neste «jogo de linguagem»: devia antes  dizer que o tempo é configuração, um modo absolutamente transitório de os objetos serem.

A ideia de a forma conter todas as possibilidades da configuração e da estrutura do estado de coisas é claramente hegeliana: a essência contèm em germe, em potência, a totalidade dos momentos da forma que posteriormente serão extrinsecados ou postos fora de si.

 

 

HÁ UMA REALIDADE EXTRA MUNDO MAS... «A REALIDADE TOTAL É O MUNDO»

 

Wittgenstein escreveu:

 

«2.04  A totalidade dos estados de coisas que existem é o mundo.

2.06    A existência e a não existência de estados de coisas é a realidade.

2.063  A realidade total é o mundo.»

 

É evidente a inconsistência mútua destes pensamentos.No primeiro, o mundo é definido como a totalidade dos estados de coisas que existem mas não dos que não existem. Estes últimos, tal como o mundo, incorporam-se na realidade, que é o reservatório maior que tudo engloba, o mundo e o não mundo, de acordo com o pensamento 2.06. Por último Wittgenstein contradiz-se flagrantemente ao identificar o mundo com a realidade total (2063). 

Jogo de palavras, sofística - este é um traço da filosofia analítica a que o próprio Wittgenstein não escapou. Não possui conceitos firmes, isentos de anfibologia.

 

RUSSEL TAMBÉM PENSAVA DE FORMA ILÓGICA

 

Se um dos fundadores da filosofia analítica no século XX apresenta estas incoerências, não podemos esperar que os seus herdeiros e os epígonos estejam isentos da incoerência.  Bertrand Russel, outro fundador da filosofia analítica, postulou, erroneamente, que há classes que são membros de si mesmas, como a classe dos objectos abstractos (refutei este pseudo paradoxo em artigo neste blog, de 22 de Fevereiro de 2012).

 

Os catedráticos de filosofia analítica e de outras correntes não detectaram estas falhas lógicas numa filosofia que pretende ser a primeira na lógica. É por isso que não acredito na filosofia das universidades, no saber da cátedra. Esta é uma mistura de vaidades pessoais com reprodução de pensamentos  de filósofos consagrados e alguma rara inovação, às vezes para pior (caso da classificação de "consequencialismo" aplicada à teoria de Mill). Quanto ao processo de cooptação de novos catedráticos universitários, está, desde há séculos, inquinado: sendo a grande maioria dos catedráticos de inteligência mediana ou mediano-elevada, inimiga da inteligência superior, holística, que apenas existe em um ou outro, a regra é que os que ascendem à cátedra sejam pensadores de segunda categoria, razoavelmente confusos.

 

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