Domingo, 22 de Abril de 2012
Equívocos nos testes intermédios de filosofia de 20 de Abril de 2012

 

Sem os erros gritantes da prova de exame nacional de filosofia de 2007, o teste intermédio de filosofia realizado em Portugal  em 20 de Abril de 2012 - curiosamente o aniversário do nascimento de Adolf Hitler, o tal que mandava queimar em autos de fé os livros com as teorias metafísicas e científicas que o desafiavam e ao nazismo; a lembrar alguns ditadores da análise lógica de hoje, com os inspectores de circunstâncias e o raciocínio mecânico, robótico... - enferma, sem embargo, de alguns equívocos e da mesma estreiteza antimetafísica e antifilosófica que caracterizou a prova de exame de 2007. O teste intermédio não permite distinguir, com clareza, os alunos muito bons dos alunos bons, e estes dos suficientes elevados: não dá espaço à criatividade filosófica e faz da filosofia, exclusivamente, uma disciplina de memorização de conteúdos que são despejados no teste. Descartes e Hume são os filósofos sobre os quais se pede um saber nas perguntas 2.1 e 2.2 (da versão 1 do teste): mas as orientações de correção revelam que os  autores do teste não dominam a filosofia de David Hume, o que sucede, aliás, com pelo menos 95% dos professores de filosofia do ensino secundário em Portugal. 

 

PERGUNTA SOBRE O ARGUMENTO DE ANALOGIA MAL CONCEBIDA

 

A questão 1.6 do teste, confusamente elaborada, é a prova de que os autores - do mesmo modo que os manuais escolares em voga - não intuem com clareza o que é raciocínio de analogia. Vejamos:

  

1.6.

  

 

 Um argumento por analogia é um argumento

 

(A) dedutivo que parte de uma boa comparação entre realidades diferentes.

 

 

(B) não dedutivo que parte de semelhanças entre realidades diferentes.

 

 

(C) dedutivo que parte de certo número de semelhanças entre realidades diferentes.

 

 

(D) não dedutivo que parte de diferenças relevantes entre realidades semelhantes.

 

 

 O erro desta pergunta reside no facto de ignorar que o argumento por analogia, baseado na comparação entre dois ou mais entes, é multiforme: numa modalidade, consiste em  raciocínios indutivos unificados por uma intuição noética e na outra modalidade reduz-se ao raciocínio dedutivo unificado noeticamente (inteligivelmente). Portanto, as quatro respostas A, B, C e D estão razoavelmente correctas - e razoavelmente incorrectas. Aliás a resposta B é, no fundo, o mesmo que a resposta D: semelhanças entre realidades diferentes (exemplo: o mesmo tipo de intestino e de dentição e de vocação frugívora entre o homem e o gorila) e diferenças relevantes entre realidades semelhantes (exemplo: a crueldade primitiva da criança de 6 anos que agride fisicamente outra, e a crueldade refinada do homem adulto que faz intimidação e acosso psicológico ao seu semelhante) vai desaguar no mesmo, isto é, numa relação de identidade e diferença...

 

Há raciocínios de analogia que são quase puramente dedutivos como, por exemplo, a analogia do ente (tó ón) e do uno (tó tí) que Aristóteles estabelece na "Metafísica". Como verificar que se trata de uma dedução adicionada de intuição noológica unificadora? O ente é uno : unidade deduz-se do conceito abstracto de ente. O uno é ente, isto é, existe - é outra dedução. Trata-se de duas deduções que confluem neste argumento de analogia construído mediante uma intuição unificadora. As respostas A) e C) do texto encaixam nesta modalidade.

 

Consideremos agora o seguinte raciocínio de analogia: «O homem e o chimpanzé possuem semelhanças evidentes na sua anátomo-fisiologia: 32 dentes na boca, um intestino de 6 a 8 metros de comprimento diferente do intestino dos carnívoros que é de 2,5 a 3 metros e uns rins fracos. Portanto, o homem deve alimentar-se de modo similar ao chimpanzé em liberdade: frutos frescos ou gordos (nozes, amêndoas), hortaliças, ovos e pequenos mariscos.» Esta analogia parte da indução, de uma observação empírica do homem e do chimpanzé e por abstração unifica as duas espécies no género antropóides. A analogia inclui pois, nesta modalidade, indução e  aglutinação noética (intuição inteligível unificadora). Nada disto é ensinado nos manuais escolares nem nos dicionários de filosofia. Assim, a pergunta 1.6 está mal construída, borbulha no magma da confusão intelectual.

 

ERRÓNEA ORIENTAÇÃO PARA CORRIGIR AS PERGUNTAS SOBRE DAVID HUME

 

Veja-se agora uma pergunta sobre David Hume cuja teoria os autores desta prova - e a generalidade dos professores de filosofia - não dominam. Reza assim o final do enunciado do teste intermédio:

 

 

2.2.

 

Compare as posições de Hume e de Descartes relativamente à origem do conhecimento humano.

Na sua resposta deve integrar, pela ordem que entender, os seguintes conceitos:

 

 

razão;


 

sentidos;


 

ideias.

 

 

E para o cenário da resposta desenha, entre outras, a seguinte orientação:

 

Caracterização do papel da razão e dos sentidos no conhecimento da realidade, de acordo com a filosofia de Hume, segundo a qual a razão sem os sentidos não pode ajuizar ou fazer inferências sobre a realidade.

 

 

Nota-se neste critério de correção a ignorância dos autores desta prova sobre a doutrina de Hume. David Hume não considerou uma só razão nem afirmou que a razão sem os sentidos não pode ajuizar ou fazer inferências sobre a realidade. Escreveu:

 

«Pareceria ridículo aquele que dissesse que é somente provável que o sol nascerá amanhã, ou que todos os homens têm de morrer, embora seja claro que não temos outros factos além da que nos fornece a experiência. Por esta razão, talvez fosse mais exacto, para conservar logo o sentido correcto das palavras, e marcar os vários graus da evidência, distinguir três espécies de razão humana, a saber, a que resulta do conhecimento, a  que resulta das provas e a  que resulta das probabilidades. Por conhecimento, entendo a certeza que nasce da comparação de ideias. Por provas, os argumentos tirados da relação de causalidade e que são inteiramente livres da dúvida e incerteza. Por probabilidade, a evidência que ainda é acompanhada de certeza. É esta última espécie de raciocínio que passo a examinar. »

 

«A probabilidade ou raciocínio de conjectura pode dividir-se em duas espécies, a saber, a que se baseia no acaso e a que nasce de causas. Consideremos uma e outra por ordem. A ideia de causa e efeito é tirada da experiência que, apresentando-nos certos objectos constantemente conjugados, produz um hábito tal de os considerar nessa relação que não podemos sem sensível violência considerá-los em qualquer outra relação. Por outro lado, visto que o acaso não é em si nada de real e, falando com propriedade, é apenas a negação de uma causa, a sua influência na mente é contrária à da causação; e é essencial que deixe a imaginação perfeitamente indiferente para considerar a existência ou não-existência do objecto tomado como contingente.»

(David Hume, Tratado sobre a investigação humana, pag 163-164, Fundação Calouste Gulbenkian; o destaque a negrito é da minha autoria).

 

Para David Hume, a relação de causação ou causalidade necessária vem da experiência: é por vermos diariamente o nascer do sol e os nossos antepassados o terem visto sempre durante milhares de anos, que podemos dizer, com toda a segurança, que o sol nascerá amanhã. Essa é a razão das provas. Mas as outras duas razões ou vertentes de uma razão tridimensional - a razão do conhecimento, isto é meramente teórica, que compara ideias e formula, por exemplo, a teoria dos buracos negros do universo, feita de juízos e raciocínios especulativos; e a razão das probabilidades, céptica,  que conjuga o acaso com o determinismo - fogem da alçada dos sentidos, ainda que as ideias que manejam se originassem neles, e portanto ajuizam em "roda livre", sem controlo da experiência.

O que importa é que a razão opera e ajuíza sem os sentidos, ao contrário do que se afirma no critério de correção acima - opera com base na imaginação.

 

Nenhum dos manuais escolares de filosofia adoptados em Portugal nem os respectivos autores e revisores (Desidério Murcho, Pedro Galvão, Aires Almeida, Célia Teixeira, Paula Mateus, Luis Rodrigues, Pedro Madeira, Alexandre Franco de Sá, Michel Renauld, Marcelo Fernandes, Nazaré Barros, António Pedro Mesquita, Luís Gottschalk, Amândio Fontoura, Mafalda Afonso, Maria de Fátima Gomes, J.Neves Vicente, Catarina Pires, Maria Antónia Abrunhosa, Miguel Leitão, Margarida Moreira, Adília Maria Gaspar, Maria Luísa Ribeiro Ferreira, Fátima Alves, José Arêdes, José Carvalho, Rui Alexandre Grácio, José Manuel Girão, etc) compreenderam bem e explanaram correctamente a teoria de David Hume. Não falam desta tridimensionalidade da razão ou destas três razões. A doutrina de Hume é mais complexa do que o simplismo redutor com que a pintam. Como poderão então os professores correctores, sob a deficiente influência dessses autores e supervisores, corrigir com verdade as respostas dos alunos sobre a teoria de Hume e ter uma perspectiva correcta sobre a relação razão- sentidos segundo este filósofo?

 

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Quinta-feira, 19 de Abril de 2012
Estética de Hegel: a luz, a cor e a pintura no quadro das artes

 

A Estética, de Hegel, é um livro de um grande pensador, atento àos aspectos multiformes das artes plásticas (pintura, escultura, arquitectura) e não plásticas (poesia, teatro, música, dança). Hegel escreveu na sua teoria da cor e da luz incolor:

 

«Com efeito, a luz como dissemos não existe, senão em relação a outra coisa diferente dela, e particularmente à treva. Mas nesta relação os dois princípios, longe de se oporem um ao outro, formam uma unidade, uma combinação de luz e treva. A luz, assim toldada e obscurecida, mas penetrando e iluminando, por sua vez, a treva, forma o princípio da cor, que é o material próprio da pintura.A luz em si é incolor;é a indeterminação pura da identidade consigo mesma; a cor que, em relação à luz, é já qualquer coisa de relativamente escuro, e, por conseguinte, diferente da luz, é um obscurecimento a que se associa o princípio da luz, para formar uma unidade, e é ter-se uma falsa e péssima ideia da luz o considerá-la como composta de diferentes cores, quer dizer de diferentes escuridades.»

 

(Hegel, Estética, Pintura e Música, pag 42-43, Guimarães Editores, 1962; o destaque a negrito é de minha autoria)

  

Assim, Hegel opõe-se à ideia de que a luz (branca) se decompõe, ao refractar-se num prisma, nas sete cores do arco-íris. Estas seriam pois externas à luz, brotariam das diferentes escuridades das diversas zonas do prisma.  

 

Prossegue Hegel:

 

«As formas, as distâncias, a delimitação, os contornos, enfim todas as relações espaciais e todos os diferentes modos de manifestação no espaço, são produzidos na pintura pela cor, cujo princípio ideal está igualmente em condições de representar conteúdos ideais e permite traduzir, com o auxílio de oposições mais ou menos profundas, de delicadezas e transições várias, os mais ligeiros matizes dos objectos representados. O que podemos assim obter, graças à cor, é verdadeiramente admirável. Eis, por exemplo, dois homens totalmente diferentes: cada um representado pela consciência que tem de si prórprio e pelo seu organismo animal, uma totalidade espiritual e corporal, e todavia, toda esta diferença se reduz num quadro a simples diferenças de cores. Aqui termina uma cor, ali começa outra e, graças a isto, tudo surge ante a nossa vista: a forma, a distância, os jogos fisionómicos, a expressão, tudo o que cada homem tem de mais sensível e mais espiritual. E esta redução, dissemos já, não deve ser considerada como um expediente, como um defeito, mas antes pelo contrário: a pintura negligencia intencionalmente a terceira dimensão, para substituir a realidade puramente espacial pelo princípio mais elevado e mais rico da cor.» (...) (Hegel, Estética, Pintura e Música, pag 42-43, Guimarães Editores, 1962)

 

Eis, no texto acima, duas teses extraordinariamente interessantes de Hegel: é a cor que produz as formas - a cor que estamos habituados a encarar como um conteúdo que preenche o espaço vazio da forma, já é, em si, uma forma; o princípio da cor substitui a representação tridimensional do espaço, sendo mais rico que esta, o que significa que a cor é porta de acesso ao mundo espiritual mais do que a forma trimidensional de uma estátua.

 

A PINTURA É A ARTE QUE MELHOR LIGA A INTERIORIDADE À EXTERIORIDADE

 

Hegel compara entre si, do ponto de vista da forma e do conteúdo, as diferentes artes:

 

«A primeira coisa a considerar e sobre a qual importa chamar a atenção é que a pintura restringe as três dimensões do espaço à superfície. A concentração total dessas dimensões seria representada por um ponto, o que significaria a supressão da justaposição e a instabilidade consecutiva desta supressão que corresponde a um ponto do tempo. Mas é somente na música que esta negação se encontra realizada de uma forma consequente. A pintura, pelo contrário, deixa subsistir o espacial, ao suprimir apenas uma das três dimensões, e ao fazer da superfície o elemento das suas representações. Esta redução das três dimensões às duas da superfície está implicada no princípio da interiorização que se não pode manifestar no espacial como interioridade senão reduzindo a totalidade exterior, em vez de a deixar subsistir na sua completa extensão. (...)»

«Já a escultura, em lugar de ser uma simples reprodução, imitativa da realidade natural, corporal, era uma criação do espírito exercendo-se sobre a natureza e eliminando, por esta razão, das suas figuras, tudo o que não correspondia ao conteúdo que se tratava de exprimir.  Entre as particularidades eliminadas pela escultura, a cor era uma delas, de modo que permanecia apenas a abstração da figura sensível. Na pintura sucede o contrário, porque ela tem por conteúdo a interioridade espiritual que não pode manifestar-se exteriormente senão como parecendo retirar-se do exterior para reentrar em si mesma

(Hegel, Estética, Pintura e Música, pag 32-34, Guimarães Editores, 1962; o destaque a negrito é posto por mim).

 

A fina inteligência deste texto acima destaca que a música corresponde à ausência de espacialidade, tal como o ponto, ao passo que a pintura implica o espaço a duas dimensões. Enquanto a escultura é uma exterioridade, um fora de si, a pintura é um passar do exterior ao interior,  porque não é tridimensional e força a imaginar a realidade através de aparências.

A comparação entre música, pintura e escultura sugere-me a analogia com as três fases da Ideia Absoluta ou Deus concebidas por Hegel: a primeira, a fase do ser em si, ou Deus sozinho antes de criar o mundo, em que não há espaço nem tempo, poderia ser associada à música; a segunda, a fase do ser fora de si, ou Deus exteriorizado, alienado em natureza física e biofísica, em estrelas, montanhas, plantas e animais, seria simbolizada pela escultura; a terceira, a fase do ser para si, em que Deus encarna em humanidade a qual através do pensamento e da acção intenta volver a Deus espírito seria simbolizada pela pintura.

 

 

« Do ponto de vista da generalidade, existem diferenças entre as artes; têm umas um carácter mais ideal, são outras mais acessíveis à percepção exterior. As produções da escultura, por exemplo, são mais abstractas do que as da pintura; a poesia, os poemas épicos são, por um lado, dotados de menor vida exterior do que uma verdadeira representação dramática mas, por outro lado, ultrapassam a arte dramática graças ao seu conteúdo concreto...»

«Como todavia, é o espírito que realiza numa forma exterior, o conteúdo que tem um interesse intrínseco, cabe perguntar, também neste caso, qual seja o significado preciso da oposição entre o ideal e o natural. » (Hegel, Estética, o belo artístico ou o ideal, pag. 32, Guimarães editores, 1962; o destaque a negrito é posto por mim).

 

O espírito a que o texto se refere é o espírito do mundo, ou seja, a ideia absoluta (Deus) incarnada em humanidade, a ideia absoluta na sua terceira fase, de ser para si. As outras duas fases anteriores são como já disse: o ser em si ou ideia absoluta, Deus antes de criar o universo, o espaço e o tempo; o ser fora de si, isto é, Deus alienado em natureza biofísico, transformado em astros, montanhas, planícies, minerais, vegetais e animais, à excepção do homem.

 

 

E prossegue Hegel:

 

«Assim, com efeito, a pintura não deve introduzir no seu domínio senão o que, contariamente à escultura, à poesia e à música, ela é capaz de representar mediante e através das figuras e das formas exteriores, quer dizer, a concentração do espírito, cuja expressão permanece inacessível à escultura, enquanto que a música é incapaz de dar uma concreta expressão exterior da interioridade e a própria poesia se limita a uma imagem imperfeita da forma sensível. A pintura, pelo contrário, está em condições de lançar uma ponte entre a interioridade e a exterioridade, de ligar um ao outro o interior e o exterior, de exprimir exteriormente a interioridade total. Portanto tem por conteúdo, tanto a vida da alma com toda a profundidade dos sentimentos que nela se agitam, como as particularidades vincadas dos caracteres e tudo o que é característico em geral; (...) todavia a particularidade específica deve  estar como que gravada, enraízada na fisionomia, e ser parte integrante da forma exterior.» (Hegel, Estética, Pintura e Música, pag 51, Guimarães Editores, 1962; o destaque a negrito é posto por mim).

 

Na obra de pintura, o conteúdo é o sentimento geral, o ideal universal, - tese - a forma são os traços e as cores do quadro, o exterior-antítese. A síntese é o carácter do indivíduo, a particularidade específica, misto de visível e de invisível, que se espelha nos traços do rosto, nas cores da figura.

 

 

 

 O VERMELHO É A COR MASCULINA DA REALEZA, O AZUL A COR FEMININA DA MATERNALIDADE

 

 

 

As cores exprimem o espírito, o ideal universal e o subjectivo particular.

 

«A cor comporta igualmente uma oposição do claro e do escuro que vão reagindo um contra o outro, reforçando-se ou aniquilando-se reciprocamente. Apesar da sua intensidade, o vermelho e o amarelo são em si mais claros que o azul. Isto diz respeito à própria natureza das diferentes cores que Goethe expôs com mestria. Efectivamente, no azul é o escuro que domina e só aparece como azul depois de ter atravessado um meio mais claro, mas não inteiramente transparente. O céu, por exemplo, é escuro, tanto mais escuro, quase negro, quanto mais nos elevamos; mas visto através de um meio transparente, embora perturbador, como é o do ar atmosférico das regiões mais baixas, parece azul, e tanto mais azul quanto o ar é menos transparente. No amarelo, pelo contrário, é o claro que age através dum meio nublado, mas que o deixa transparecer. O fumo, por exemplo, é um destes meios; quando olhamos através do fumo qualquer coisa negra que atrás dele se encontra, mas que ele deixa ainda transparecer, o fumo toma uma cor azulada; toma pelo contrário uma cor amarelada ou avermelhada, quando se encontra ante um meio claro. O vermelho em si é a cor real e concreta, resultando da interpenetração do azul e do amarelo que formam, por seu turno, um par de cores opostas. O verde pode igualmente ser considerado como o produto de uma combinação análoga, mas de uma combinação que não vai até à fusão total, até à formação de uma unidade concreta; resulta muito simplesmente de uma supressão das diferenças, que se traduz por uma neutralidade calma, saturada. Estas cores são as mais puras, as mais simples, as cores fundamentais. »

 

«Há um simbolismo das cores. Devemos procurar um sentido simbólico na maneira como as aplicavam os antigos pintores, sobretudo no emprego do azul e do vermelho. O azul, pelo facto de ter por princípio o escuro que não opõe qualquer resistência ( enquanto que é o claro que resiste, que produz, que vive e anima) corresponde a uma maneira de considerar as coisas mais doce, mais reflectida, mais calma; o vermelho simboliza o princípio varonil, dominador, real; o verde, o indiferente e o neutro. Conformemente a esta simbólica, Santa Maria, quando é representada sentada sobre um trono na qualidade de Rainha do céu, está revestida de um manto vermelho, ao passo que traz um manto azul, quando é representada como Mãe

 

(Hegel, Estética, Pintura e Música, pags 96-98, Guimarães Editores, 1962; o destaque a negrito é posto por mim).


 

 

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Quarta-feira, 18 de Abril de 2012
Kant: a distinção entre belo e sublime

 

Kant distinguiu o belo do sublime. Parece-me correcto definir o sublime como algo grandioso e perfeito do ponto de vista metafísico e intelectual e o belo como algo pequeno, limitado, perfeito do ponto de vista físico-visual. Convém dizer que o Inferno da mitologia cristã é o sublime terrível: é perfeito enquanto lugar do mal ou seja maximamente imperfeito do ponto de vista do bem. Há portanto uma perfeição em dois sentidos: a perfeição do paraíso e do mundo dos arquétipos de Platão, perfeição do bem, em sentido positivo, e a perfeição dos infernos de Platão ou do catolicismo, com rios de lava levando as almas dos condenados e monstruosos diabos, perfeição do mal, em sentido negativo. Aparentemente pelo menos, o sublime é Yang, expansão, transcendência e o belo é Yin, contração, imanência.

 

Dentro do sublime, Kant distinguiu três modalidades: o sublime terrível que mistura a admiração da grandiosidade com o temor ou o horror (exemplo:um precipício imenso, a cratera de um vulcão a vomitar lava), o sublime nobre em que a admiração da grandiosidade se mistura com a nobreza assente na simplicidade, (exemplo: uma catedral gótica, sem decorações interiores) o sublime magnífico (exemplo: um palácio residencial recoberto a oiro e pedras preciosas). Escreveu:

 

«Os carvalhos altos e a sombra solitária no bosque sagrado são sublimes, as plantações de flores, sebes baixas, e árvores recortadas, formando figuras, são belos. A noite é sublime, o dia é belo. Os temperamentos que possuem o sentimento do sublime, quando a tremulante luz das estrelas rasga a parda sombra da noite e a lua solitária está no horizonte, são atraídos pouco a pouco pela calma silenciosa de uma noite de verão, a sensações supremas de amizade, de desprezo do mundo, de eternidade. O resplendor do dia infunde afãs de actividade e um sentimento de regozijo. O sublime comove, o belo encanta. O semblante do homem que se encontra em pleno sentimento do sublime é sério, às vezes rígido e ensombrado. Pelo contrário, a viva sensação do belo declara-se no olhar pela sua esplendorosa serenidade, por sorrisos rasgados e por um claro regozijo. » (Inmannuel Kant, Observaciones acerca del sentimiento de lo bello y de lo sublime, pag.32)

 

«O sublime há-de ser sempre grande, o belo pode também ser pequeno. O sublime há-de ser simples, o belo há-de ser limpo e adornado. Uma grande altura é sublime do mesmo modo que uma grande profundidade, só que esta vai acompanhada da sensação de estremecimento e aquela de admiração. Pelo que esta sensação pode ser sublime-terrível, e aquela nobre. A basílica de São Pedro em Roma é magnífica. Porque no seu desenho, que é grandioso e simples, está a beleza de tal maneira expandida, como o oiro, os mosaicos, etc, que, sem embargo, a sensação de sublime actua maximamente nele, dando um resultado magnífico. Um arsenal há-de ser nobre e simples, um palácio residencial magnífico, e um palácio de recreio belo e decorado.»

«Um longo período é sublime. Se se trata de um tempo passado é nobre; se se prevê para um futuro incalculável, tem então em si algo de terrível. Um edifício da mais remota antiguidade é venerável.» (Kant, ibid,  pag 34-35; o destaque a negrito é posto por mim)

 

A AMIZADE, O MORENO E A VELHICE SÃO SUBLIMES, O AMOR SEXUAL, O LOIRO E A JUVENTUDE SÃO BELOS

 

 

«O entendimento é sublime, o engenho é belo. A audácia é sublime e grandiosa, a astúcia é pequena mas bela. Cromwell dizia que a precaução é virtude de alcaides. A veracidade e a sinceridade são simples e nobres, a piada e a lisonja complacente são delicadas e belas. (..)

 

«A amizade guarda em si principalmente o carácter do sublime, mas o amor sexual é do belo. (..) A tragédia distingue-se, em meu entender, da comédia principalmente porque na primeira desperta o sentimento do sublime, e na segunda o do belo.» (pag Kant, ibid,  pag 37-38; o destaque a negrito é posto por mim).

 

«Com uma grande estatura ganha-se prestígio e respeito, com uma pequena gana-se melhor a confiança. Até a cor morena e os olhos negros estão mais vinculados ao sublime, e os olhos azuis e a cor loira ao belo. Uma idade um tanto avançada avém-se antes com as características do sublime, mas a juventude com as do belo. (...)»  (Kant, ibid,  pag 39; o destaque a negrito é posto por mim).

 

Se os velhos são, potencialmente, sublimes, devido à sua sabedoria, à profundidade da sua reflexão alicerçada em experiência de vida, há que ter presentes que neles o belo esbate-se, degrada-se, e uma certa fealdade física os caracteriza. Kant não parece ter sublinhado explicitamente esta relação inversamente proporcional entre a sublimidade e a beleza física, ou seja, a proporcionalidade directa entre a sublimidade e a fealdade, no caso dos seres humanos.

 

A FILOSOFIA, RACIONAL E METAFÍSICA, E O HOMEM SÃO SUBLIMES, O SENTIMENTALISMO E A MULHER SÃO BELOS

 

No caso da filosofia, considera sublime o seu pendor metafísico, noológico, e belo mas menor, o seu pendor lógico-sofístico, de que hoje no século XXI a filosofia analítica é o paradigma.

 

«A representação matemática da magnitude imensa do universo, as considerações da metafísica acerca da eternidade, da providência, da imortalidade da alma contêm certa sublimidade e dignidade. Ao contrário, a filosofia também se desfigura, em subtilezas muito vazias, e a aparência de solidez não impede que as quatro figuras de silogismo merecessem ser referidas como deformações grotescas de escola.»

 «Entre as qualidades morais só é sublime a virtude verdadeira. (...) Certo sentimentalismo, que com facilidade se junta a um sentimento de compaixão, é belo e amável, pois manifesta uma benévola participação na sorte de outros homens, à qual levam igualmente os princípios da virtude. Só que esta paixão de bem natural é, sem embargo, débil e sempre cega.»  (Inmanuel Kant, Observaciones acerca del sentimiento de lo bello y de lo sublime, pag. 43-44, Alianza Editorial; .o destaque a negrito é posto por mim)

 

A mulher é associada ao belo - basta pensar na maquilhagem, nos brincos, nos colares e pulseiras, nos cuidados do cabelo, na exuberância da roupa feminina - e o homem ao sublime - pense-se no homem de barba por fazer, desalinhado na roupa, mas com o pensamento em altos ideias abstractos.

 

«A mulher tem um sentimento inato mais intenso para tudo o que é belo, lindo e adornado. Já na sua infância, as meninas desfrutam ao ataviar-se e comprazem-se a embelezar-se. São muito limpas e muito sensíveis a respeito de tudo o que dá asco. (...) O belo sexo tem sem dúvida tanta inteligência quanto o masculino, só que é uma inteligência bela; a nossa deve ser uma inteligência profunda, como expressão para significar o mesmo que sublime .(Inmanuel Kant, Observaciones acerca del sentimiento de lo bello y de lo sublime, pag. 68-69, Alianza Editorial; o destaque a negrito é posto por mim) ».

  

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Domingo, 15 de Abril de 2012
Materialismo dialético: algumas teses e crítica da teoria da relatividade

 

 

O materialismo dialético é a filosofia perfilhada por Marx e Engels que, inspirada em Heráclito e Demócrito, sustenta a eternidade do mundo material, incriado, que é matéria em movimento, a passagem do caos à ordem em intervalos regulares e viceversa, a inexistência de Deus ou deuses (Heráclito falava em Deus de modo panteísta), a perpétua luta de contrários no seio de cada coisa ou fenómeno e a existência do pensamento humano como reflexo da matéria (natureza exterior com paisagens rurais e urbanas, alimentos assimilados, células do corpo do sujeito), pensamento que, no entanto, é dotado de certa autonomia e permite o livre-arbítrio. Os filósofos materialistas dialéticos, como Alan Woods e Ted Grant, refutam diversas doutrinas das ciências actuais.

 

Podemos designar a crítica filosófica e científica das ciências por epistemologia (episteme é, em grego, a ciência demonstrativa, de que a matemática é um exemplo capital). O livro "Razão e revolução" exprime as teses mais importantes da filosofia materialista dialética, uma filosofia realista poderosa que esmaga, em múltiplos aspectos, a fenomenologia heideggeriana, a filosofia analítica e outras. Exporemos apenas algumas, neste artigo que não constitui uma recensão do livro. 

 

A LUTA DE CONTRÁRIOS, MOTOR DO MOVIMENTO E DO DEVIR

 

A unidade e luta de contrários é a lei decisiva na dialética. Em todas as coisas e áreas de existência, uma luta de contrários está presente, como motor e essência dessas coisas e áreas. A luta entre o Yang (calor, dilatação, verão, vermelho) e o Yin (frio, contracção, inverno, azul) de que falava a antiga filosofia oriental do taoísmo verifica-se em tudo, até nas quatro forças fundamentais da natureza: a gravidade (yin) opõe-se ao electromagnetismo (yang), que é luz, microondas, raios X; a força nuclear forte, que dá coesão ao núcleo do átomo (yin) opõe-se à força nuclear fraca que desintegra o núcleo do átomo (yang) através da radioactividade.

 

«Na realidade, o positivo não tem sentido sem o negativo. (...)

«E mais, tudo está em constante relação com outras coisas. Inclusivamente através de grandes distâncias estamos afectados pela luz, a radiação, a gravidade...Ainda que os nossos sentidos não o detectem, existe um processo constante de interação que causa uma série de mudanças contínuas. A luz ultravioleta pode "evaporar" electrões de superfícies metálicas de maneira similar a como os raios solares evaporam água da superfície do oceano. »(...)

«Em 2 de Agosto de 1932, Robert Millikan e Carl D. Anderson do Instituto Californiano de Tecnologia descobriram uma partícula cuja massa era claramente a de um electrão mas que se movia em direção contrária. Não era nem um electrão, nem um protão, nem um neutrão. Anderson descreveu-o como "electrão positivo" ou positrão. Este era o novo tipo de matéria - anti-matéria - predita pelas equações de Dirac. Mais adiante descobriu-se que os electrões e positrões, quando se encontram, eliminam-se mutuamente produzindo dois fotões (dois estalidos de luz). Da mesma maneira quando um fotão atravessa a matéria pode dividir-se formando um electrão virtual e um positrão. »

«Este fenómeno da oposição existe em física, onde, por exemplo, cada partícula tem a sua antipartícula: electrão e positrão, protão e antiprotão, etc. Não são meramente diferentes, mas opostas no sentido mais literal da palavra, já que são idênticas em tudo exceto numa coisa: têm cargas elétricas opostas. Por certo, não importa qual é a positiva e qual é a negativa, o importante é a relação entre ambas.

«Cada partícula tem uma qualidade denominada spin, expressa com um mais ou um menos, dependendo da sua direção. Ainda que possa parecer estranho, o fenómeno oposto de "para a direita" ou "para a esquerda", que joga um papel decisivo em biologia, também tem o seu equivalente no nível subatómico. As partículas e as ondas contradizem-se umas às outras. O físico dinamarquês Niels Bohr referiu-se a isso, bastante confusamente, como "conceitos complementares", com o que queria dizer que se excluíam mutuamente.»

 

«As investigações mais  recentes sobre física de partículas estão clarificando o nível mais profundo da matéria descoberto até ao momento, os quarks. Estas partículas também têm "qualidades" opostas que não são comparáveis com as formas normais, obrigando os físicos a criar novas qualidades artificiais para poder descrevê-las. Assim, temos os quarks up ( acima) os down (abaixo), os charm (encanto), os strange (estranho, etc). Apesar de que ainda há que explorar a fundo as qualidades dos quarks, uma coisa é certa: a propriedade da oposição existe nos níveis mais fundamentais conhecidos pela ciência até ao momento.»

«Na realidade, este conceito universal da unidade de contrários é a força motriz de todo o desenvolvimento e movimento na natureza. É a razão pela qual não é necessário introduzir o factor do impulso externo para explicar o movimento e a mudança (a debilidade fundamental de todas as teorias mecanicistas).»

 

(Alan Woods e Ted Grant, «Razón y revolución, Filosofia marxista y ciencia moderna», pags 82-84, Fundación Frederico Engels, Madrid; o destaque a negrito é posto por mim )

 

Nestas passagens magníficas, só falta tirar uma ilação: uma vez que tudo se relaciona ou interfere com tudo,  os movimentos dos planetas, do Sol e da Lua ao longo da coroa de círculo celeste denominada Zodíaco interferem na vida na Terra, na erupção de revoluções ou contra-revoluções em tal ou tais países, na avaria dos motores de um avião em voo e subsequente queda, nos fluxos económicos e migratórios, na saúde e na doença de cada organismo humano, animal ou vegetal, etc; logo, impõe-se estudar o movimento dos astros em conexão com os factos reais, biofísicos e sociais, isto é, impõe-se investigar e construir a astrologia histórico-social.

 

REFUTAÇÃO DA TEORIA DA ENTROPIA OU CAOS FINAL DERIVADO DO SEGUNDO PRINCÍPIO DA TERMODINÂMICA

 

 

A dialética, enquanto defensora do curso perpétuo das coisas em devir e luta de contrários, impõe um certo optimismo teórico. O pessimismo que impregna a teoria da entropia como estado final do universo, que inexoravelmente se aproxima, é considerado uma ideologia da burguesia. A classe operária, que o materialismo dialético pretende representar no plano social e científico, tem de sustentar um ponto de vista heraclitiano de devir, em que à destruição se suceda a criação, à entropia e desordem celular da velhice suceda a neguentropia e ordem celular da infância e da juventude.

 

 «A termodinâmica (do grego Therme, calor, e dynamis, força) é o ramo da física que estuda as leis da energia calorífica e das relações entre o calor e outros tipos de energia. Baseia-se em dois princípios originariamente deduzidos de experiências, mas que agora se consideram axiomas. O primeiro é a lei da conservação da energia, que assume a forma de lei da equivalência de calor e trabalho. O segundo sustenta que o calor não pode passar de um corpo mais frio a outro mais quente sem mudanças em algum outro corpo». (...)

«Em geral, interpreta-se a entropia como uma tendência geral para a desorganização.» (....) «Segundo a segunda lei da termodinâmica, os átomos, sem nenhuma intervenção intervenção externa, misturar-se-ão e desordenar-se-ão entre eles tanto quanto seja possível

 (Alan Woods e Ted Grant, «Razón y revolución, Filosofia marxista y ciencia moderna», pags 193, Fundación Frederico Engels, Madrid; o destaque a negrito é posto por mim )

 

«Nos últimos anos, a interpretação pessimista da segunda lei foi desafiada por uma teoria totalmente nova (...).

«A termodinâmica afirma que as coisas deixadas à sua sorte, tendem a um incremento da entropia. Nos anos 60, Ilya Prigogine e outros deram-se conta que, no mundo real, átomos e moléculas quase nunca estão "deixados à sua sorte".  Todas as coisas afectam todas as coisas. Átomos e moléculas estão quase sempre expostos ao fluxo de energia e material do exterior, que se é suficientemente forte pode dar a volta parcialmente ao processo aparentemente inexorável de desordem desenhado na segunda lei da termodinâmica(....)  A madeira apodrece, mas também crescem as árvores. Segundo Prigogine, as estruturas que se organizam por si mesmas encontram-se por todas as partes da natureza. De igual maneira, M. Waldrop chega à seguinte conclusão:

 

«Um láser é um sistema que se auto-organiza em que as partículas de luz, fotões, podem agrupar-se espontaneamente num só feixe potente que tem todos os fotões a mover-se prietas las filas. Um furacão é um sistema que se auto-organiza fortalecido pela corrente constante de energia que vem do Sol, que dirige os ventos e obtém dos oceanos a água para a chuva. Uma célula viva (ainda que muito mais complicada de analisar matematicamente) é um sistema que se auto-organiza, que sobrevive tomando energia em forma de comida e excretando energia em forma de calor e desperdícios. » (M. Waldrop, Complexity, páginas 33-34)

 

«Por toda a natureza observamos modelos de comportamento. Uns são ordenados e outros são desordenados. Há decadência, mas também há crescimento. Há morte, mas também há vida. (...) A segunda lei assegura que tudo na natureza tem um bilhete só de ida para a desordem e a decadência. Sem embargo, isto não quadra com os modelos gerais que podemos observar. » (Alan Woods e Ted Grant, «Razón y revolución, Filosofia marxista y ciencia moderna», pags 196-197; Fundación Frederico Engels, Madrid; o destaque a negrito é da minha autoria)

 

 

 

A existência de ordem sob a aparência do caos, uma ordem que assenta em pares de contrários, agrupados segundo uma dualidade que Mao Ze Dong designava como a contradição principal, é um dos traços da dialética materialista. Isso é patente no "relógio químico".

 

«Durante muito tempo considerou-se a turbulência como sinónimo de desordem e caos. Mas agora descobriu-se que o que parece ser simplesmente desordem caótico no nível macroscópico está de facto altamente organizado no microscópico

«Hoje em dia, o estudo das instabilidades químicas converteu-se em algo comum. Especialmente interessantes são as investigações feitas em Bruxelas sob a direção de Ilya Prigogine. O estudo do que sucede mais além do ponto crítico em que começa a instabilidade química tem enorme interesse para a dialética. O fenómeno do "relógio químico" é especialmente importante. O modelo de Bruxelas (chamado braselator pelos cientistas norte-americanos) descreve o comportamento das moléculas de gás. Suponhamos que há dois tipos de moléculas, vermelhas e azuis, num estado caótico, movendo-se completamente ao acaso. Poderia supor-se que, chegados a um dado ponto, teríamos uma distribuição irregular das moléculas, produzindo uma cor roxa, com lampejos ocasionais de vermelho e azul. Mas num relógio químico isto não sucede além do ponto crítico. O sistema é todo azul ou todo vermelho, e a mudança de cor ocorre com intervalos regulares

«"Tal grau de ordem surgindo da actividade de milhares de milhões de moléculas parece incrível" dizem Prigogine e Stengers, "e, de facto, se não se houvesse observado relógios químicos ninguém acreditaria que um processo desse tipo fosse possível. Mas ao mudar de cor todas ao mesmo tempo, as moléculas devem ter uma maneira de "comunicar" entre si. O sistema tem que actuar como um todo. Voltaremos repetidamente a esta palavra chave, comunicar, que tem uma importância evidente em tantos campos, da química à neurofisiologia. As estruturas dissipativas introduzem provavelmente um dos mecanismos físicos mais simples de comunicação."

«O fenómeno de comunicação demonstra que, chegados a um ponto determinado, a ordem pode surgir espontaneamente do caos. Esta é uma observação importante, especialmente no relativo a como da matéria inorgânica surge a vida.» (Alan Woods e Ted Grant, «Razón y revolución, Filosofia marxista y ciencia moderna», pags 199, Fundación Frederico Engels, Madrid; o destaque a negrito é posto por mim )

 

 

O TODO, MAIS QUE A SOMA DAS PARTES, E A TEORIA DO CAOS

 

A lei do Uno, segundo a qual no universo as múltiplas coisas e determinações se relacionam entre si formando um imenso Uno, é a primeira lei da dialética materialista.  

 

«Segundo a lógica formal, o todo é igual à soma das partes. Sem embargo, examinando isto mais atentamente vemos que isto não está certo. No caso dos organismos vivos, claramente não está. Um coelho destroçado em um laboratório e reduzido às suas partes constituintes deixa de ser um coelho! Os defensores da teoria do caos e da complexidade compreenderam-no. Enquanto a física clássica, com os seus sistemas lineares, aceitava que o todo era exactamente a soma das partes constituintes, a lógica não linear da complexidade mantém a afirmação contrária, completamente de acordo com a dialética.(Alan Woods e Ted Grant, «Razón y revolución, Filosofia marxista y ciencia moderna», pag 73, Fundación Frederico Engels, Madrid; o destaque a negrito é da minha autoria).

 

É na noção de uno, de todo, que assenta a "teoria do caos", que alguns definem como a intercomunicação e da ocorrência simultânea ou quase simultânea de fenómenos que, aparentemente, nada têm a ver entre si. Para Woods e Grant a teoria do caos é algo diferente.

 

«A teoria do caos trata de processos da natureza que aparentemente são caóticos ou casuais. » (...)

«Demonstrou-se que processos naturais que antes se consideravam aleatórios têm umas leis internas no sentido científico, implicando causas deterministas. (...) Quando um bloco de metal se magnetiza, entra em um "estado ordenado" no qual todas as suas partículas apontam num mesmo sentido. Podem orientar-se num sentido ou noutro. Teoricamente, é "livre" de orientar-se em qualquer direção. Na prática, cada pequena peça de metal toma a mesma "decisão".».

«Um cientista do caos desenvolveu as regras matemáticas que descrevem as regras da "geometria fractal" de uma folha da samambaia de asplénio negro. Meteu toda a informação num computador que também tem um gerador casual de números e está programado para criar um desenho utilizando pontos casualmente colocados no ecrã. À medida que progride a experiência, é impossível antecipar onde aparecerá cada ponto. Mas infalivelmente aparece a imagem da folha de samambaia.» (...)

 

«O ponto de vista marxista estabelece que todo o universo, toda a realidade, se baseia em forças e processos materiais. A consciência humana é, em última instância, somente um reflexo do mundo real que existe fora dela, um reflexo baseado na interação física entre o corpo humano e o mundo material. No mundo material não há descontimuidade, não há interrupção na interconexão física de acontecimentos e processos. Por outras palavras, não resta nenhum espaço para a intervenção de forças metafísicas ou espirituais. O materialismo dialético, disse Engels, é a ciência da interconexão universal.» (...)

«A teoria do caos representa indubitavelmente, um grande avanço, mas também possui certas formulações questionáveis. O famoso efeito mariposa segundo o qual uma borboleta bate as suas asas em Tóquio e provoca uma tormenta na semana seguinte em Chicago, é sem dúvida um exemplo sensacional pensado para provocar controvérsia. Mas formulado assim é incorrecto. As mudanças qualitativas só podem dar-se como resultado de uma acumulação de mudanças quantitativas. Uma mudança pequena, acidental (uma mariposa batendo as asas) só pode produzir um resultado dramático se todas as condições para uma tormenta já estivessem dadas. Neste caso, a necessidade exprime-se através do acidente. Mas só neste caso.»

(Alan Woods e Ted Grant, «Razón y revolución, Filosofia marxista y ciencia moderna», pags 151-152, Fundación Frederico Engels, Madrid; o destaque a negrito é da minha autoria).

 

 

  

 

A TEORIA DA RELATIVIDADE DE EINSTEIN

 

A posição do materialismo dialéctico, exposta neste livro, é a de que a teoria da relatividade de Einstein é, globalmente, científica mas com lacunas que são fonte de inúmeras interpretações metafísicas anticientíficas como a existência simultânea de múltiplos tempos diferentes e de universos paralelos simultâneos. 

 

«Albert Einstein foi indubitavelmente um dos grandes génios do nosso tempo. Completou uma revolução científica entre a idade de 21 e 38 anos de idade, com profundas repercussões a todos os níveis. Os dois grandes avanços foram a teoria da relatividade especial (1905) e a teoria da relatividade geral (1915). A primeira estuda as grandes velocidades, a segunda a gravidade (Alan Woods e Ted Grant, «Razón y revolución, Filosofia marxista y ciencia moderna», Fundación Frederico Engels, Madrid), pags 165; o destaque a negrito é da minha autoria)

 

«Massa e energia não são simplesmente «intercambiáveis», como se podem trocar pesetas por dólares. São a mesma substância que Einstein caracterizou como "massa-energia". Esta ideia é muito mais profunda e vai muito mais além do velho conceito mecânico no qual, por exemplo, a fricção se transforma em calor. Aqui a matéria é somente uma forma concreta de energia "condensada" e toda outra forma de energia (luz incluída) tem uma massa associada. Por isso é totalmente incorrecto dizer que a matéria "desaparece" quando se transforma em energia.

«As leis de Einstein retiraram da cena a velha lei da conservação da massa, elaborada por Lavoisier, que diz que a matéria, entendida como massa, não se pode criar nem destruir. De facto, toda a reacção química que liberta energia converte uma pequena quantidade de massa em energia.»(Alan Woods e Ted Grant, «Razón y revolución, Filosofia marxista y ciencia moderna», pags 186-189, Fundación Frederico Engels, Madrid;  o destaque a negrito é da minha autoria)

  

Sabe-se que Kant sustentou que o espaço vazio é possível, a priori, existe como estrutura do sujeito e que Aristóteles negou o espaço vazio.

 

«Einstein demonstrou que a geometria euclidiana só se aplicava ao "espaço vazio", uma abstração ideal. Na realidade, o espaço não é "vazio". O espaço é inseparável da matéria. Einstein manteve que o próprio espaço está condicionado pela presença de corpos materiais. Na sua teoria geral, essa ideia exprime-se pela afirmação aparentemente paradoxal de que próximo de corpos pesados o espaço se "encurva".

«O universo real, quer dizer, material não é como o mundo da geometria euclidiana, com círculos perfeitos, linhas absolutamente rectas, etc. O mundo real está cheio de irregularidades. Não é recto, mas precisamente "torcido". Por outro lado, o espaço não é algo que existe aparte e separado da matéria. A curvatura do espaço é só outra maneira de exprimir a curvatura da matéria que "enche" o espaço. Por exemplo demonstrou-se que os raios de luz dobram-se sob a influência dos campos gravitacionais dos corpos espaciais.»

«Na realidade, a ideia que devemos sempre ter em mente é a unidade indissolúvel do tempo, espaço, matéria e movimento. » (Alan Woods e Ted Grant, «Razón y revolución, Filosofia marxista y ciencia moderna», Fundación Frederico Engels, Madrid), pags 169-170; o destaque a negrito é da minha autoria).

 

E no que se refere ao combate entre a teoria da ordem - a relatividade - e a teoria da desordem - a mecânica quântica - lemos:

 

«Durante a maior parte do século (XX), a física esteve dominada por duas teorias imponentes: a relatividade e a mecânica quântica. O que em geral não se compreende é que ambas são incompatíveis. A teoria da relatividade não leva nada em conta o princípio da incerteza. Einstein passou a maior parte dos últimos anos da sua vida a tentar resolver essa contradição, mas não o conseguiu.»

«A teoria da relatividade foi revolucionária, como o foi no seu tempo a mecânica newtoniana. Sem embargo, o destino de estas teorias é converter-se em ortodoxias, sofrer uma espécie de arterioesclerose até que já não são capazes de responder às perguntas que a marcha da ciência faz surgir.» (Alan Woods e Ted Grant, «Razón y revolución, Filosofia marxista y ciencia moderna», pag. 190-191, Fundación Frederico Engels, Madrid; o destaque a negrito é da minha autoria).

 

 

A GRAVIDADE NÃO É UMA FORÇA 

 

 

A gravidade é definida na física actual como uma das quatro forças fundamentais. A gravidade ou força gravitacional força atractiva que mantém unido o sistema solar e evita a explosão das estrelas é  a mais fraca das quatro forças mas aquela que se exerce numa maior vastidão. sendo a sua magnitude relativa de 10 e o seu mediador o gravitão, partícula de massa nula.As outras três são:

 

A)  Força nuclear forte, interacção entre os quarks e os gluões com  um curtíssimo raio de acção de dez elevado à potência menos treze, que mantém coeso o núcleo de cada átomo, mantendo os protões unidos entre si, por serem compostos de quarks, vencendo a força repulsiva entre os protões, e mantém unidos os neutrões, compostos de quarks, no núcleo de cada átomo.

 

B) Força nuclear fraca, que cinde as partículas e constitui, por exemplo, a radioactividade - ou desintegração de um núcleo instável de urânio com emissão de partículas alfa, beta, radiações electromagnéticas de alta frequência gama e poeiras até que o núcleo fique estável - e provoca o calor desenvolvido pelo núcleo de um reactor de energia nuclear gerador de electricidade sendo os  seus mediadores  os bosões W e Z e sendo a sua magnitude relativa dez elevado à potência 29. Juntamente com o electromagnetismo constitui a força electrofraca.

 

C) Electromagnetismo que, na Terra, é, por vezes, suficientemente forte para se sobrepor à gravidade e inclui a luz, as ondas de rádio e televisão,  microcondas, raios X, radar, baseado na transmissão dos fotões. A sua magnitude relativa é dez elevado à potência de 39,  o mediador é o fotão. O campo magnético é o resultado de uma corrente eléctrica.

 

Interessante é notar como a visão dialética encara a gravidade: Woods e Grant dizem que ela não é uma força de sentido unívoco, mas o resultado de uma luta de forças. Se é certo que a Terra atrai qualquer corpo livre no ar - um homem, um avião sem combustível ou sem motores a funcionar, etc - não é menos certo que estes corpos exercem uma atração ínfima sobre a Terra.

 

 «A gravidade não é uma força mas uma relação entre objectos reais. A um homem que cai de um edifício muito alto parece que a Terra "se lhe lança em cima.» Do ponto de vista da relatividade, esta observação não é incorrecta. Só adotando o conceito mecânico e unilateral de "força" veremos este processo como a gravidade da Terra atraindo o homem para baixo, em lugar de ver que é uma interação entre dois corpos. Para condições normais, a teoria da gravidade de Newton está de acordo com Einstein. Mas em condições extremas, estão em completo desacordo. A teoria geral da relatividade contradiz a teoria de Newton da mesma maneira que a dialética contradiz a lógica formal.» (...)

«As propriedades de um objecto não são o resultado das suas relações, mas só se podem manifestar nas suas relações com eles.» (Alan Woods e Ted Grant, «Razón y revolución, Filosofia marxista y ciencia moderna», pag Fundación Frederico Engels, Madrid), ; o destaque a negrito é da minha autoria)

 

ESPAÇO E TEMPO SÃO REALIDADES, O TEMPO É PROPRIEDADE OBJECTIVA DA MATÉRIA

 

Uma das teses do materialismo dialéctico é a de que o tempo é inerente à matéria, é uma propriedade da matéria: esta não está no tempo como se estivesse num meio exterior a ela, como se fosse um acidente do tempo, mas é o inverso. O tempo é um acidente intrínseco ou essencial da matéria.

 

«Espaço e tempo são abstrações que nos permitem medir e compreender o mundo material. Toda a medição está referida ao espaço e ao tempo.

«O tempo só pode exprimir-se de maneira relativa, do mesmo modo que a grandeza valor de uma mercadoria só se pode exprimir em relação com outras mercadorias. Sem embargo, o valor é intrínseco às mercadorias e o tempo é uma característica objectiva da matéria. A ideia de que o tempo é subjectivo, isto é, uma ilusão da mente humana, é uma reminiscência do preconceito de que o dinheiro é meramente um símbolo, sem significado objectivo. Cada vez que se tentou pôr em prática a ideia de "desmonetarizar" o ouro, que partia desta falsa permissa, provocou-se inflação.» (Alan Woods e Ted Grant, «Razón y revolución, Filosofia marxista y ciencia moderna», pag 174, Fundación Frederico Engels, Madrid); o destaque a negrito é da minha autoria).

 

 

O tempo absoluto, ou tempo em si mesmo, abarcando a cada instante a totalidade do universo, é um postulado do materialismo dialético.

 

«A teoria da relatividade implica uma contradição. Pressupõe que a simultaneidade é relativa a um sistema de referência. Se um sistema de referência se está a mover em relação a outro, então os acontecimentos que são simultâneos no primeiro não o são no segundo e vice-versa. Este facto, que não encaixa no senso comum, foi demonstrado experimentalmente. Desgraçadamente pode levar a uma interpretação idealista do tempo, por exemplo com a afirmação de que pode haver uma variedade de "presentes". E mais, pode considerar-se o futuro como coisas e processos que "passam a ser", como sólidos quadridimensionais que têm um "segmento temporal".»

«A não ser que se resolva esta questão, podem cometer-se todo o tipo de erros: por exemplo, a ideia de que o futuro já existe e que se materializa no "agora" da mesma maneira que uma rocha submersa irrompe de repente quando uma onda rompe contra ela. (Alan Woods e Ted Grant, «Razón y revolución, Filosofia marxista y ciencia moderna», pag. 178-179, Fundación Frederico Engels, Madrid; o destaque a negrito é da minha autoria)

 

Depois de se demarcarem dos filósofos do processo (dialético) Alfred North Whitehead, britânico, e Henry Bergson, intuicionista francês, que "acreditavam que o fluxo do tempo era um facto metafísico que só se podia compreender com intuição não científica" mas apesar deste misticismo «tinham razão em afirmar que o futuro é indeterminado e o passado é imodificável, fixo e determinado.» Woods e Grant escrevem:

 

«Por outro lado, temos os filósofos da "multiplicidade", que sustentam que os acontecimentos  futuros podem existir, mas que não estão suficientemente ligados por leis aos do passado. Adoptando um ponto de vista filosoficamente incorrecto sobre o tempo acabamos no puro misticismo, como a noção de "multiverso" - um número infinito de universos (se esta é a palavra correcta, já que não existem no espaço "tal como o conhecemos" - paralelos que existem simultaneamente ( se esta é a palavra correcta, já que não existem no tempo "tal como o conhecemos" 9. Este tipo de confusão é a que surge da interpretação idealista da relatividade.» (Alan Woods e Ted Grant, «Razón y revolución, Filosofia marxista y ciencia moderna», pag. 179, Fundación Frederico Engels, Madrid; o destaque a negrito é da minha autoria)

 

 

OBJEÇÕES AOS BURACOS NEGROS E À RALENTIZAÇÃO DO TEMPO

 

 

A teoria dos buracos negros no universo, segundo a qual o buraco negro é o que resta da explosão em raios gama de uma estrela (supernova) na qual o núcleo se foi reduzindo, por falta de combustível, sugando tudo o que podia, foi defendida por Penrose e Stephen Hawking, usando equações matemáticas.

Roger Penrose descreveu assim o buraco negro:

 

«Que é um buraco negro? Para efeitos astronómicos comporta-se como um pequeno e muito condensado "corpo" escuro. Mas não é um corpo material no sentido normal da palavra. Não é uma superfície ponderável. Um buraco negro é uma região de espaço vazio (ainda que estranhamente distorcido) que actua como centro de atração gravitacional. Houve um tempo em que um corpo material esteve ali. Mas o corpo contraiu-se sob a pressão da sua própria gravidade. Quanto mais se concentrava o corpo sobre o seu centro, mais forte se fazia o seu campo gravitacional e mais incapaz era o corpo de impedir um colapso ainda maior. Num dado momento alcançou-se um ponto de não retorno e o corpo desapareceu dentro do seu " horizonte absoluto de sucessos". (....) «A região interna, na qual o corpo caíu, define-se pelo facto de que nenhuma matéria, luz ou sinal de qualquer tipo pode escapar dela, enquanto que na região externa ainda é possível que sinais ou partículas materiais escapem para o mundo exterior. A matéria que colapsou formando o buraco negro contraiu-se até alcançar densidades incríveis, aparentemente foi inclusivamente espremida até deixar de existir, atingindo o que se conhece como uma "singularidade espaço-tempo", um lugar no qual as leis físicas, tal e como as entendemos actualmente, não vigoram.» Alan Woods e Ted Grant, «Razón y revolución, Filosofia marxista y ciencia moderna», pag. 226, Fundación Frederico Engels, Madrid; o destaque a negrito é da minha autoria)

 

Escrevem Woods e Grant:

«Se existem os buracos negros, e isto não está definitivamente demonstrado, tudo o que haveria no centro seriam os restos colapsados de uma estrela gigante, não outro universo. Qualquer pessoa real que entrasse seria imediatamente feita em pedaços e convertida em energia pura. (...) Toda a ideia de "viagem no tempo" inevitavelmente acaba numa massa de contradições, não dialéticas mas absurdas.»

 

Woods e Grant discordam da ideia de Einstein segundo a qual quem viajasse a uma velocidade próxima da velocidade da luz (300 000 quilómetros/ segundo) escaparia ao avançar do tempo na Terra, isto é, não envelheceria praticamente e se voltasse à Terra após algum tempo nessa viagem, já teriam passado 1000 ou 10 000 anos no nosso planeta.

 

« Fizeram-se experiências com partículas subatómicas (muões) que indicam que as partículas que viajam a 99,5% da velocidade da luz prolongam a sua vida umas 30 vezes, exactamente o que predisse Einstein. Mas está por ver se estas conclusões se podem aplicar à matéria em grande escala e, em concreto, à matéria viva. (...) No futuro, podem ser possíveis viagens espaciais a grande velocidade, talvez a um décimo da velocidade da luz. A essa velocidade uma viagem de cinco anos luz tardaria cinquenta anos (ainda que segundo Einstein, seriam três meses para os viajantes).»  (Alan Woods e Ted Grant, «Razón y revolución, Filosofia marxista y ciencia moderna», pag. 183, Fundación Frederico Engels, Madrid; o destaque a negrito é da minha autoria)

 

A MATEMÁTICA NÃO DEVE SER O MODELO PARA EXPLICAR A GÉNESE E A REALIDADE DO UNIVERSO

 

 

A matemática postula o infinito, nas suas duas versões - mais infinito e menos infinito - mas Aristóteles, filósofo grego bastante fecundo para o materialismo dialéctico,  sustentava que o infinito só existe em potência, não em acto. Daí que a matematização do cosmos e da sua evolução seja discutível, se ultrapassar certos limites. O modelo ideal racional consubstanciado na matemática, em particular na geometria euclidiana,

 

«Einstein está morto e portanto é incapaz de fazer qualquer comentário sobre esta particular interpretação das suas teorias. De facto, nos seus escritos, não há uma só referência ao big bang, aos buracos negros e demais. O próprio Einstein, apesar de inicialmente tender para o idealismo filosófico, opôs-se implacavelmente ao misticismo na ciência. Passou as últimas décadas da sua vida lutando contra o idealismo subjectivo de Heisenberg e Bohr, e de facto acercou-se bastante de uma posição materialista. » (Alan Woods e Ted Grant, «Razón y revolución, Filosofia marxista y ciencia moderna», pag 228, Fundación Frederico Engels, Madrid); o destaque a negrito é da minha autoria)

 

 

O materialismo dialético rejeita a teoria do Big Bang defendido por Hawking e outros. Critica sobretudo, a demonstração matemática da realidade física do cosmos feita por Stephen Hawkings e outros supostos herdeiros de Einstein:

«O problema é se a premissa inicial é correcta ou não. Este é o problema central de toda a matemática, e a sua principal debilidade. E toda esta teoria se baseia principalmente na matemática:

 

«"No tempo que denominamos big bang .." mas se não havia tempo, como nos podemos referir a ele como "o tempo"? Postula-se que o tempo começou nesse ponto. Então, o que havia antes do tempo? Um tempo no qual não havia tempo! A contradição desta ideia é evidente. Tempo e espaço são o modo de existência da matéria. Se não havia tempo, nem espaço, nem matéria, que havia? Energia? Mas a energia, como explica Einstein, é só outra manifestação da matéria. Um campo de força? Mas um campo de força também é energia, com o que não resolvemos nada. A única maneira de nos livarmos do tempo é se antes do big bang não havia...nada

«O problema é: como é possível passar de nada a algo? Se uma pessoa é religiosa, não há problema. Deus criou o universo do nada. Esta é a doutrina da Igreja Católica, a criação ex nihilo. Hawking dá-se conta disso, o que resulta bastante incómodo,como evidencia o seguinte parágrafo:

«Muita gente não gosta da ideia de o tempo tenha um princípio, provavelmente porque soa a intervenção divina. (A Igreja Católica, pelo contrário, apropriou-se do modelo do big bang e em 1951 proclamou oficialmente que estava de acordo com a Bíblia)».

(Alan Woods e Ted Grant, «Razón y revolución, Filosofia marxista y ciencia moderna», pag 229, Fundación Frederico Engels, Madrid); o destaque a negrito é da minha autoria)

 

  

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f.limpo.queiroz@sapo.pt

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publicado por Francisco Limpo Queiroz às 10:48
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Terça-feira, 3 de Abril de 2012
Astrologia Desportiva: é possível a previsão fundada de quem será campeão nacional da Liga Sagres em 13 de Maio de 2012?

 

É possível a previsão astrológica séria, fundada em estatísticas fiáveis, sobre quem se sagrará campeão nacional de futebol da Liga Sagres em 13 de Maio de 2012? É.

 

Em 13 de Maio de 2012, data da jornada 30 e última da Liga Sagres, Vénus estará em 23º do signo de Gémeos, isto é, no grau 83º de longitude eclíptica ou zodiacal ( o signo de Carneiro vai de 0º a 30º da eclíptica, o signo de Touro é o "arco" de 30º a 60º, o signo de Gémeos é o arco de 60º a 90º, o signo de Caranguejo é o arco de 90º a 120º do Zodíaco, etc) . Sem carácter exaustivo - e isto é uma falha de investigação - recolhi alguns dados astronómicos ligados à presença de Vénus, e também de Mercúrio, na área 23º-26º do signo de Gémeos, que se conexionam com vitórias do Futebol Clube do Porto.

 

ÁREA 23º-26º  DE GÉMEOS:

 

F.C.PORTO

 

 

 

Em 27 de Maio de 1987, com Mercúrio em 25º -26º  de Gémeos, o F.C. Porto conquista a Taça dos Campeões Europeus ao vencer, por 2-1, o Bayern de Munique em Viena de Áustria; em 26 de Maio de 2004, com Vénus em 24º  de Gémeos,  o FC Porto é campeão europeu ao vencer o Mónaco por 3-0; em 16 de Maio de 2010, com Vénus em 25º- 26º  de Gémeos, o FC Porto conquista a Taça de Portugal ao vencer por 2-1 o Chaves; em 15 de Maio de 2011, com Nodo Sul da Lua em 23º  de Gémeos, realiza-se a 30ª jornada da Liga Sagres de Futebol em que o FC Porto é campeão com 21 pontos de avanço sobre o Benfica. 

 

Por conseguinte, sem carácter de infalibilidade, porque não estou a considerar muitos outros ciclos planetários, a minha previsão é: o FC Porto será, provavelmente, o campeão nacional em 13 de Maio de 2012, dia em que Vénus estará em 23º de Gémeos

Mesmo que falhe a previsão, o que importa é que estou a mostrar que há um método indutivo, científico - ou paracientífico, de base estatística - para calcular os acontecimentos desportivos e outros. Assim, reduzo ao silêncio a multidão imensa dos cretinos licenciados, mestres ou doutorados em filosofia, em física, em astronomia, em matemática, em sociologia ou em história que, ignorantes na matéria mas arrogantes, proclamam que «a astrologia não pode ser ciência, porque não há influência real e testável dos longínquos planetas na vida humana, e o determinismo astral sobre a vida humana é uma fantasia». 

 

A astrologia pode ser ciência, sim, se se tratar de Astrologia Histórico-Social, fundada em factos histórico-astronómicos, construída do modo que aqui ilustro. Pesquisei e sintetizei dezenas de milhar de dados que integram regularidades/ leis astronómico-sociais e muitos deles já os publiquei. Para quem estiver atento  e aberto à reflexão incondicionada.

 

Nietzschze escreveu:

«285- Os maiores acontecimentos e os maiores pensamentos - mas os maiores pensamentos são os maiores acontecimentos - são os que mais tarde se compreendem : as gerações que lhes são contemporâneas, não vivem esses acontecimentos - passam por eles. Acontece aqui algo de análogo ao que se observa no domínio dos astros. A luz das estrelas mais distantes chega mais tarde aos homens; e antes da sua chegada, os homens negam que existam lá - estrelas. «Quantos séculos precisa um espírito para ser compreendido?» - aí está também uma medida, um meio de criar uma hierarquia e uma etiqueta necessárias: para o espírito e para a estrela.» (Nietzschze, Para além do bem e do mal).

 

 www.filosofar.blogs.sapo.pt

 

f.limpo.queiroz@sapo.pt

 

© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)



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