Domingo, 25 de Janeiro de 2009
El utilitarismo de las preferencias, una noción confusa

Hay, sin duda, una confusión importante entre utilitarismo clásico y utilitarismo de las preferencias, esta última una noción añadida, posterior a Bentham y a Stuart Mill,  por teóricos de la ética que no han asimilado en toda su amplitud la teoría de Mill.

En su artículo «La utilidad y el bien» escribe Robert E.Goodin:

 

La versión moderna más común sustituye la psicología hedonista del propio Bentham por la noción de «satisfacción de la preferencia.» Según esta idea lo que se maximiza - y, para dar mordiente ética a la noción, los utilitaristas de la preferencia tienen que aãdir «y debe maximizarse» - no es el equilibrio de placeres sobre dolores, sino más bién la satisfación de las preferencias en sentido más general. Esta última subsume a la primera, en la gran mayoría de casos en los que la psicología-con-ética hedonista de Bentham estaba en general en el camino correcto. Pero además deja lugar para explicar aquellos casos en los que no estaba.»

 

«En ocasiones, llevamos a cabo actos de autosacrificio, donando un dinero difícilmente ganado, o permaneciendo al margen para que otros aspirantes más merritorios puedan conseguir su justa recompensa, o arrojándose sobre granadas de mano activas para salvar de una muerte segura a nuestros compañeros. Podría decirse cinicamente que, a la postre, realizamos todos estes actos filantrópicos hacia los demás para nuestros propios fines ulteriores - si no más que para aplacar nuestra propia conciencia.Con todo, sea cual sea la satisfacción que obtengamos de esos actos no es fácil describirlas en termos abiertamente hedonistas. Igualmente, cuando un corredor de maratón soporta una gran agonía para conseguir el mejor tiempo personal o cuando los presos republicanos sufren torturas en vez de traicionar a suas camaradas, de nuevo la satisfacción que obtienen es dificil definirla en términos hedonistas».

(Robert E.Goodin in Peter Singer (ed), Compendio de Ética,Alianza Editorial, pag 339-340; el bold es nuestro)

 

En apariencia, si un soldado escoge morir disparando sin cesar sobre el enemigo permitiendo que 20 colegas suyos huyan y salven sus vidas, se trataria de utilitarismo de preferencias y no de utilitarismo clásico. Pero, si el soldado abandona el placer físico de vivir, por medio del sacrificio altruísta del combate, ¿no está huyendo del dolor moral que es el remordimiento que sentiría a lo largo de toda su vida posterior en caso de que se hubiera salvo y 18 de sus compañeros hubieran perecido bajo el fuego enemigo? La satisfacción de preferencias se estriba en el placer y el dolor, si no de un modo inmediato al menos de un modo mediato e indirecto, al contrario de lo que teoriza Goodin.

 

Stuart Mill escribió en su obra «Utilitarismo» :

 

«La moralidad utilitarista reconoce, por supuesto, en los seres humanos el poder de sacrificar su bién más grande en aras del bien de los otros. Sólo rechaza admitir que el sacrificio es, en sí mismo, un bien. La moralidad utilitarista considera desperdiciado cualquier sacrificio que no aumente, o no tienda a aumentar, la cuantidad total de felicidad. La única auto renuncia que aplaude es la dedicación a la felicidad, o a algunos de los medios de la felicidad, de los otros; sea de la humanidad tomada colectivamente, sea de individuos (de acuerdo con los límites impuestos por los intereses colectivos de la humanidad).» (Stuart Mill, El utilitarismo, pag 63 de la edición portuguesa).

 

Mill clasificaba la actitud de sacrificio a favor de otros como utilitarismo, pero otros como Robert Goodin y Peter Singer, la clasifican de utilitarismo de las preferencias «distinto al utilitarismo clássico»... Es que estos dos teóricos contemporaneos no parecen haber aprehendido el utilitarismo en todas sus facetas. En toda la actitud utilitarista hay una preferencia: hay que preferir la mayoría a la minoría, hay que preferir lanzar al paro a 150 obreros de una empresa para salvar esta y mantener en ella a 400 otros obreros en laboración, etc., etc. Por quê, entonces, inventar el "utilitarismo de las preferencias", que no es sino un "flatus vocis", una formulación tautológica del utilitarismo?

 

Es así la filosofía analítica de Goodin y Singer: de tanto utilizar la «micro división» - las preferencias contra las «no preferencias» - acaba perdiendo la visión de síntesis que sólo la dialéctica puede aportar.

 

Nota: No Centro de Formação Margens do Guadiana, com sede na Escola Secundária com 3º Ciclo Diogo de Gouveia, R. Luís de Camões, 708-508 BEJA (telefone: 284 328 063), estão abertas as inscrições para a acção de formação para professores de filosofia (Grupo 410) «A teoria geral dos valores e a Ética, na perspectiva do método dialéctico», equivalente a dois créditos,50 horas de duração (50HP), CCPFC/ACC 52326/08 CF. O formador é o autor deste blog.

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Sábado, 24 de Janeiro de 2009
Contradições de Thomas Nagel: A filosofia não assenta na observação?

A caracterização da filosofia é feita por Thomas Nagel da seguinte maneira:

 

«Escreve-se àcerca destes problemas desde há milhares de anos, mas a matéria-prima filosófica vem directamente do mundo e da nossa relação com ele, e não de escritos do passado. (...)»

«A filosofia é diferente da ciência e da matemática. Ao contrário da ciência, não assenta em experimentações, nem na observação, mas apenas no pensamento. E, ao contrário da matemática, não tem métodos formais de prova»

(Thomas Nagel, Que quer dizer tudo isto? Uma iniciação à Filosofia, Gradiva, pag 8).

 

Há, neste texto, uma inconsistência: por um lado, diz, correctamente, que «a matéria-prima da filosofia vem directamente do mundo» (através da percepção empírica, da observação, é óbvio); por outro lado, diz, erradamente, que «a filosofia não assenta na observação, mas apenas no pensamento.» Gostaríamos de saber como haveria filosofia em torno do aborto se não houvesse observação das várias fases da gravidez feminina, do aspecto, tamanho e reacções do feto no ventre, etc. E como haveria uma filosofia apologista do capitalismo e outra apologista do socialismo, se não houvesse observação das sociedades, do modo de vida dos capitalistas liberais, dos operários, dos burocratas comunistas, dos mercados, dos bairros, da escala de salários, etc?

 

Além do mais, ao contrário do que sustenta Nagel, a filosofia tem métodos formais de prova: os princípios da lógica formal aristotélica; as leis da dialética. Não falo da lógica proposicional, uma ciência imperfeita do pensamento, com numerosas lacunas.

 

O corte brutal entre filosofia e ciência operado por Nagel prova que este não compreende a conversão dialética de uma na outra. Uma tese científica - exemplo: a molécula da água tem dois átomos de hidrogénio e um de oxigénio - pode dar lugar a uma questão de filosofia - exemplo: Como se chegou à conclusão que a relação é 2-1 entre o hidrogénio e o oxigénio da molécula de água, se é impossível ver o átomo?.

Elevar um Nagel a um prestigiado Prémio de Filosofia da Academia Sueca que atribui o Nobel foi, seguramente, um artifício de alguns, o triunfo do lobby da superficialidade universitária norte-americana no campo filosófico.

 

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Sexta-feira, 23 de Janeiro de 2009
Confusões de Thomas Nagel: Fisicalismo, Dualismo e Teoria do Aspecto Dual

No capítulo IV, O Problema Mente-Corpo,  do seu livro «Que quer dizer tudo isto? Uma iniciação à filosofia» Thomas Nagel distingue três teorias: o fisicalismo ou materialismo, o dualismo e a teoria do aspecto dual.

 

«Existe outra teoria possível, que é diferente, quer do fisicalismo quer do dualismo. O dualismo é a perspectiva segundo a qual és composto por um corpo e por uma alma e a tua vida mental se desenrola na tua alma. O fisicalismo é a perspectiva segundo a qual a tua vida mental consiste em processos físicos no teu cérebro. Contudo, outra possibilidade é a de a tua vida mental se desenrolar no teu cérebro, mas todas essas experiências, sentimentos, pensamentos e desejos não serem processos físicos no teu cérebro, o que equivaleria a dizer que a massa cinzenta de milhares de milhões de células nervosas no teu crânio não é apenas um objecto físico. Tem muitas propriedades físicas - desenrolam-se nele grandes quantidades de actividade química e eléctrica - mas também tem processos mentais

 

«A perspectiva de que o cérebro é o lugar da consciência mas que os seus estados conscientes não são apenas estados cerebrais, é designada por teoria do aspecto dual. Chama-se assim porque significa que quando comes um chocolate se produz um estado ou um processo no teu cérebro com dois aspectos: um aspecto físico, que envolve diversas transformações químicas e eléctricas, e um aspecto mental- a experiência do sabor do chocolate. Quando este processo ocorre, um cientista que olhe para o teu cérebro será capaz de observar o aspecto físico, mas tu próprio passarás, interiormente, pelo processo mental: terás a sensação de saborear chocolate.» (Thomas Nagel, Que Quer dizer tudo isto?, Gradiva, pag 34-35; a letra negrita é de minha autoria.)

 

Não sabendo aplicar a navalha de Ockham, método sintético para eliminar as redundâncias, Nagel caiu na duplicação: definiu a teoria do aspecto dual como distinta do fisicalismo quando se trata da mesma coisa.

 

Os materialistas em geral - excepto os mecanicistas -  não negam o pensamento como emanação especial da matéria física, diferente desta. Defendem que o pensamento é dual na sua natureza: radiação da matéria física enquanto veículo empírico,  e oposição (alteridade) face à matéria, enquanto veículo abstracto.

Nagel é, pois, deficiente na sistematização conceptual.

 

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Thomas Nagel confunde determinismo com fatalismo

No seu livro «What Does it All Mean?», de 1987,  o laureado Thomas Nagel comete alguns erros de raciocínio como o de atribuir significados contraditórios entre si ao termo determinismo. Vacila nas definições, contradiz-se, sem dar por isso. 

Escreve Nagel:

 

«Escolher o pêssego continua a ser para ti uma possibilidade em aberto até ao momento em que de facto escolhes bolo de chocolate. A tua escolha não está determinada à partida.»

«Algumas coisas que acontecem estão determinadas à partida. Por exemplo, parece estar determinado que o Sol se levantará amanhã a uma certa hora. O Sol não se levantar amanhã e continuar a noite não é uma possibilidade em aberto. Tal não é possível porque apenas poderia acontecer se a Terra parasse de rodar, ou se o Sol deixasse de existir, e não se passa nada na nossa galáxia que pudesse fazer com que alguma destas coisas acontecesse». (Thomas Nagel, Que Quer dizer tudo isto? Uma Iniciação à Filosofia, Gradiva, pag. 48).

 

Nesta passagem, Nagel interpreta determinismo como princípio segundo o qual nas mesmas circunstâncias, as mesmas causas (neste caso: a rotação da Terra em torno do seu eixo) produzem sempre os mesmos efeitos ( neste caso: o nascer do Sol, entre as 5 e as 8 horas de cada dia). Embora não o defina explicitamente assim.

Noutra passagem escreve Nagel:

 

«Algumas pessoas pensam que nunca é possível fazermos qualquer coisa diferente daquilo que de facto fazemos(...)  Mas afirmam que, em cada caso, as circunstâncias que existem antes de agirmos determinam as nossas acções e tornam-nas inevitáveis. O total das experiências, desejos e conhecimentos de uma pessoa, a sua constituição hereditária, as circunstâncias sociais e a natureza da escolha com que a pessoa se defronta, em conjunto com outros factores dos quais pode não ter conhecimento, combinam-se todos para fazerem com que uma acção particular seja inevitável nessas circunstâncias.»

«Essa perspectiva chama-se determinismo.» (Thomas Nagel, Que quer dizer tudo isto? Uma iniciação à Filosofia, Gradiva, pag 49)

 

Nesta passagem Nagel chama determinismo àquilo que deveria designar como convergência de determinismos vários culminando em fatalismo.

 

A fraqueza de Nagel está em confundir determinismo com fatalismo, teoria segundo a qual todos os acontecimentos estão predestinados, podendo ou não, encadear-se uns nos outros segundo o determinismo. O determinismo é sempre coexistente com o factor acaso («livre-arbítrio» da natureza) que introduz uma certa diferenciação nos efeitos produzidos pelas mesmas causas.

 

Por exemplo, dar uma certa quantidade de veneno a um cão provoca-lhe a morte mas dar a mesma quantidade de veneno a outro cão pode fazer adoecer gravemente este, sem o matar, e o animal recuperar a saúde passados dias ou semanas. Assim, o determinismo exerceu-se nos dois casos, produziu um efeito genericamente similar, mas diferente na particularidade.

Determinismo é não fatalismo, apesar de tomar a aparência de um fatalismo parcial ou mesmo global.

 

 

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Quinta-feira, 22 de Janeiro de 2009
O utilitarismo de Mill rege-se somente pelas consequências da acção? (Crítica de Manuais Escolares-XXXIV)

No Manual Filosofia-10º ano, de Luís Rodrigues, lê-se:

 

«Durante a visita a um museu, um dos visitantes apercebe-se de que dois funcionários estão a ter dificuldades em mudar de lugar um quadro muito famoso e valioso. Imediatamente, apressa-se a ajudá-los, mas infelizmente tropeça num tapete e choca com um dos funcionários derrubando-o. O quadro cai com estrondo e fica muito danificado.»

«O visitante agiu com boa intenção mas as consequências da acção foram desastrosas. Será que podemos considerar a sua acção moralmente correcta, pois agiu com boa intenção, ou devemos considerá-la como moralmente incorrecta porque as consequências foram más? »

 

«A resposta de Mill seria que a acção foi moralmente incorrecta. Porquê? Porque segundo a sua perspectiva consequencialista um acto deve ser julgado pelas suas consequências. Se as consequências forem boas, a acção é boa; se forem más a acção é má». (Luís Rodrigues, Filosofia 10º ano, volume 1º, Plátano Editora, pag 194).

 

Será que Mill classificaria como «acção moralmente má» a intervenção desafortunada do visitante e o consequente dano material do quadro? Suponho que não. Luís Rodrigues atribui a Mill uma interpretação que não lemos nos textos deste filósofo inglês.

 

A acção involuntária de danificar o quadro não foi moralmente má: foi materialmente má. Eticamente, o comportamento do visitante desastrado é irrepreensível. E Mill dava importância ao motivo, que neste caso prepondera sobre o resultado da acção. Não há só um princípio - o resultado prático - na avaliação moral da acção. Há princípios secundários a levar em conta: os motivos,  a intenção..

Stuart Mill escreveu:

 

«É uma estranha noção que o reconhecimento de um primeiro princípio é inconsistente com a admissão de princípios secundários. Informar um viajante sobre o seu destino final não implica proibir a utilização de marcos miliários e sinais pelo caminho. A proposição de que a felicidade é o fim e a meta da moralidade não significa que não tenha de ser estabelecida uma rota para esse objectivo, ou que as pessoas que o procuram não tenham de ser aconselhadas a tomar uma direcção em vez de outra.» (Stuart Mill, O utilitarismo, Gradiva, pag 73; o bold é nosso).

 

Se o utilitarismo visa maximizar o prazer dos agentes envolvidos na acção - e aparentemente estes são três: os dois empregados do museu e o visitante que os decidiu ajudar - então seria contra a moral utilitarista condenar o visitante, partindo do princípio que os empregados permanecem neutros quanto ao resultado da acção ( nem felizes, nem infelizes, conformados com a deterioração do quadro).

Reduzir o utilitarismo à tese de que «se as consequências forem boas, a acção é boa; se forem más a acção é má» é deturpar, em larga medida, o pensamento de Stuart Mill.

 

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Quinta-feira, 15 de Janeiro de 2009
A essência é o ser?

 


Em artigo da Enciclopédia de Filosofia na net (http://encfil.goldeye.info/essencia.htm) é assim exposto o conceito de essência:


«Essência


À simplicidade da definição de essência não corresponde uma similar unanimidade nas maneiras de interpretar o conceito, que é dos mais debatidos em filosofia.


O termo essência designa o ser, a consistência ou qüididade de um ente, considerado independentemente da sua existência. Dizer o que é uma coisa é declarar a sua essência.


Na filosofia grega até Platão, a essência - eidos - tem a conotação peculiar daquilo que, numa coisa, é permanente e central, em oposição ao transitório e acidental. Para Platão, a verdadeira realidade está na essência, na forma pura da coisa, subtraída à tela aparente da existência. Com Aristóteles, essência designa apenas a definição de uma substância, que é, esta sim, a realidade verdadeira: o real existe apenas sob a forma das substâncias individuais, ou entes singulares: este homem, este cavalo, estes cosmos, este Deus. As espécies - coleções de substâncias que têm logicamente a mesma essência - não são irreais, mas constituem uma forma deficiente, ou derivada, de realidade, a "substância segunda".»


Globalmente, trata-se de um bom artigo de filosofia. Mas há imprecisões a apontar:


1) A essência (tò ti en eînai) não se identifica com o ser (einai) mas com o ser-determinado, isto é, o ser dotado de forma. Pode haver um ser informe.


2) A consistência não é o mesmo que a quididade ou causa formal, na terminologia aristotélica. Há consistência sem quididade. O substracto geral, a matéria-prima, tem consistência mas não quididade.


3) O ser extravasa a essência, segundo Aristóteles, como se pode ver no texto seguinte em que a essência ser-superfície não se amplia no ser-superfície branca:


«Assim, pois, a tua essência é o que, por ti mesmo, és. E tampouco tudo isto é essência. Não o é, com efeito, aquilo que uma coisa é por si mesma ao modo em que a superfície é branca, já que aquilo em que consiste ser-superfície não é aquilo em que consiste ser-branco. Mas tampouco é essência da superfície o composto de um e de outro, o "ser-superfície-branca", posto que ela mesma resulta acrescentada em tal expressão». (Aristóteles, Metafísica, Livro VII, 1029b).


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Terça-feira, 13 de Janeiro de 2009
Aporías de Aristóteles: «No hay esencia de hombre blanco»

Intentando la redución de una pluralidad de individuos a una sola espécie y de una pluralidad de especies a un sólo género, Aristóteles cayó en el platonismo más de prisa de lo que imaginara y naufragó en aporías.

Segun Aristóteles, hay esencia de hombre pero no hay esencia de hombre blanco. Blanco sería un accidente, una categoría de cualidad que se añade a la esencia «hombre».

 

«Y es que hombre blanco es blanco, pero su esencia no es ciertamente, aquello en que consiste ser-blanco. En qualquier caso, ¿ser-vestido constituye una esencia en sentido pleno? ¿O no? Desde luego la esencia es precisamente algo determinado, y cuando se predica de otra cosa, no es algo en si mismo determinado, por ejemplo, «hombre blanco» no es precisamente algo determinado, dado que el ser algo determinado pertenece exclusivamente a las sustancias (ousía). Por consiguiente hay esencia de todas aquellas cosas cuyo enunciado es definición.» (Aristóteles, Metafísica, 1029a-1030b).

 

 Aquí se patentiza una de las dificultades de la teoría de Aristóteles: la negación de la esencia de las categorías accidentales, al menos en este texto.  Hombre es algo determinado (einaí todí) pero blanco también lo es, aunque Aristóteles niega la última parte de esta proposición (el blanco como ser-determinado) en este pasaje.

 

El pensamiento de Aristóteles es el de que el blanco y cualquier color no pueden ser en sí mismo, por si (kath autó). Así se demarca de su maestro Platón. Entonces, blanco no puede ser sustancia, es decir, sujeto portador de una esencia (eidos). Si blanco no es materia prima indeterminada, ni sustrato individualizado, es, sin duda, esencia (forma específica), en cuanto cualidad capable de existir separada, y accidente en la realidad material ( ejemplo: rosa blanca; blanco es accidente porque la rosa pudiera ser roja).

 Para tener coherencia, Aristóteles hubiera de admitir que hay esencia de hombre blanco, diferente a la esencia de hombre negro y a la de hombre asiático. El color de piel y otros rasgos físicos entran en la definición de cada espécie del género hombre. Pero para Aristóteles, hombre no es género sino espécie.

 Hay, además, una contradicción entre lo enunciado por encima de Aristóteles – el blanco y el hombre blanco no son esencias, no son determinados – y el siguiente texto del filósofo:

 

«Y es que si las afecciones no existen aparte de las sustancias – por ejemplo, estar en movimiento o blanco - «blanco» será anterior a «hombre blanco» cuanto à la definición, pero no en cuanto a la sustancia, puesto que no puede existir separado, sino que siempre se da conjuntamente en el compuesto (y llamo «compuesto» al hombre blanco). Es evidente, por tanto, que ni lo sustraído es anterior, ni lo añadido es posterior.  Y es que «hombre blanco» se enuncia por adición de “hombre” a “blanco”» (Aristóteles, Metafísica, 1077b)

 

En este pasaje Aristóteles admite que “blanco” tiene definición, esencia, es decir, es algo determinado y anterior – en lo que concierne a la esencia, no a la existencia – a “hombre blanco”. Y debería decir que la suma de dos esencias (hombre y blanco) convierte una (blanco) en accidente de otra (hombre), lo que plantea el accidente no como una entidad absoluta sino relativa.

 

 

 

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Quarta-feira, 7 de Janeiro de 2009
O relativismo afirma que as crenças da maioria são a verdade moral? (Crítica de Manuais de Filosofia- XXXIII)

Sobre o relativismo, escreve o manual português Filosofia 10º ano de Luís Rodrigues:

 

«3- O relativismo moral parece implicar que a acção dos reformadores morais é sempre incorrecta.

 

«O que é um reformador moral? Uma pessoa que tenta alterar significativamente o modo de pensar, de agir e de sentir de uma dada sociedade porque o considera moralmente errado nalguns aspectos importantes. Martin Luther King tentou por vía pacífica chamar a atenção para as deficiências morais de um código moral e jurídico que no sul dos EUA considerava moralmente aceitável que os negros fossem tratados como cidadãos de segunda classe. O mesmo fez Nelson Mandela na África do Sul. Como, segundo o relativismo, as crenças da maioria dos membros de uma sociedade são a verdade em matéria moral, como aquilo que é socialmente aprovado (o que significa aprovado pela generalidade dos membros de uma sociedade) é verdadeiro e deve ser seguido, então King comportou-se de forma moralmente errada.» (Luís Rodrigues, Filosofia 10º ano, volume I, pag 148, Plátano Editora; o negrito é por nós colocado).

 

Este manual, à semelhança de outros manuais e de «notáveis filósofos» da ética, navega nas águas da confusão conceptual.

 

O que é o relativismo ético? É a teoria segundo a qual os valores éticos - de bem e mal, correcto e incorrecto, justo e injusto - variam de grupo étnico a grupo étnico, de classe social a classe social, de contexto geográfico a contexto geográfico, de povo a povo, de época a época, de religião a religião.

 

Ora Luís Rodrigues afirma que segundo o relativismo as crenças da maioria são a verdade em matéria social. E que, por conseguinte, Luther King ao defender em 1964-1968 os direitos da minoria negra seria condenado pelo relativismo...

 

Confusão enorme! É justamente o oposto: um relativista diria que o racismo da elite dominante norte-americana nos anos 60 é uma perspectiva da verdade e que o anti-racismo e igualitarismo de Luther King e dos activistas negros é a outra perspectiva da verdade. A verdade tem, potencialmente, duas faces contrárias entre si, embora só possa estar numa delas ou se distribua desigualmente por ambas (70% de verdade numa, 30% na outra, por hipótese). Logo, o relativista - podendo alinhar com os racistas ou com os antiracistas - nunca entende, no seu íntimo, que só um dos lados possui 100% de verdade. Só o anti relativista acha que a maioria tem sempre razão...

 

Se o relativismo afirmasse, como sustenta Luís Rodrigues, que a maioria social tem sempre a razão ética e toda a razão, deixaria de ser relativismo, ou seja, visão holística diferenciada. Transformar-se-ia em absolutismo, isto é, anti holismo segmentador.

 

LUÍS RODRIGUES SEGUE O ERRO DE JAMES RACHELS

 

Luís Rodrigues, como aliás outros autores de manuais de filosofia em Portugal, segue, acriticamente, os erros dos «mestres» de língua inglesa - tal é o panorama actual desolador de uma grande parte dos professores de filosofia do ensino secundário, alguns com mestrados e doutoramentos.

 

Neste caso, o «mestre» é James Rachels que escreveu:

 

«2. Poderíamos decidir se as acções são certas ou erradas pela simples consulta dos padrões da nossa sociedade. O relativismo cultural propõe uma maneira simples para determinar o que está certo e o que está errado: tudo o que necessitamos é de perguntar se a acção está de acordo com o código da nossa sociedade. Suponhamos que em 1975 um residente na África do Sul se perguntava se a política de apartheid do seu país - um sistema rigidamente racista - era moralmente correcta. Tudo o que teria de fazer era perguntar se esta política se conformava com o código moral da sua sociedade. Em caso de resposta afirmativa, não haveria motivos de preocupação, pelo menos do ponto de vista moral.»

 

«....No entanto o relativismo cultural não se limita a impedir-nos de criticar os códigos de outras sociedades; não nos permite igualmente criticar a nossa».

 

(James Rachels, Elementos de Filosofia Moral, Gradiva, pag 41)

 

A confusão de Rachels é total: o relativismo moral impede-nos de criticar a nossa sociedade e os códigos das outras, isto é, impede-nos de relativizar a verdade? É óbvio que Rachels confunde relativismo com absolutismo de maioria sociológica. E é este Rachels um dos maiores teóricos mundiais da ética, como no-lo apresenta a indústria editorial? Deixem-nos rir de Rachels e do grotesco espectáculo das cátedras universitárias em filosofia, da distorção que o seu valor real (mínimo, a maioria das vezes) sofre sob o impacto dos media, dos prémios "equivalente a Nobel" (lembramos o premiado Thomas Nagel, tão pequenino no pensamento à beira de um Sartre ou de um Heidegger e de outros!)...

 

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Segunda-feira, 5 de Janeiro de 2009
Filosofia na História ou História da Filosofia?

Os que acusam o ensino clássico da filosofia, baseado na interpretação de textos de Platão, Aristóteles, Descartes, Leibniz, Heidegger ou Sartre, entre outros, de ser apenas «história da filosofia» sofrem de uma distorsão intelectual.

Na verdade, opor a filosofia à história da filosofia, sem identificar um termo médio, é antidialéctico. É um reducionismo empobrecedor da realidade. A dialética considera em cada assunto um par de contrários e o seu intermédio, isto é, uma tríade susceptivel de redução à díade.

 

Assim, ensinar Platão ou Kant ou Heidegger, questionando as suas ideias, não é fazer história da filosofia mas filosofia na história ou historicizada.

Há portanto três posições:  filosofia a-histórica, no instante presente; filosofia na história (leitura e debate livre das ideias e teorias dos filósofos antigos e contemporâneos); história da filosofia (datação das teorias filosóficas e narração da vida dos filósofos consagrados).

 

Exemplo de filosofia a-histórica: «Nesta aula, abordaremos a ética dos transplantes de orgãos humanos. A questão é: será eticamente correcto extrair o coração, os pulmões e o fígado a um corpo humano sem sinais vitais sem ter consultado previamente a pessoa que nele habitava para lhe pedir autorização?»

 

Exemplo de filosofia na história: «´Passo a ler parte do excerto 1029a do livro VII da «Metafísica» de Aristóteles: "Fica esquematicamente dito , de momento, o que é a substância (ousía): aquilo que não se diz de um sujeito, mas isso de que se dizem as demais coisas. Não obstante, convém não ficar somente nisto, pois isto é insuficiente. Isto é em si mesmo, obscuro, e ademais, a matéria vem a ser substância; com efeito, se ela não é substãncia, se nos escapa que outra coisa possa sê-lo, já que se se suprimem as demais coisas, não parece que fique nenhum outro substrato "(fim de citação). Ora a pergunta que vos quero pôr, caros alunos, é a seguinte: sendo a matéria, para Aristóteles, destituída de forma, e sendo a união da forma com a matéria a criadora da substância, parece-vos que a matéria prima indeterminada já possui algo de substância  ou esta está toda na forma ou está por inteiro no composto forma-matéria?

 

Exemplo de história da filosofia: «Aristóteles, nascido em Estagira em 384 A.C., foi durante 19 anos discípulo de Platão, até à morte deste, e fundou cerca de 334 A.C o liceu onde ensinava ao passear em círculo com os seus alunos, designados por peripatéticos».

 

Quem não compreende esta coexistência, numa mesma aula, de filosofia a-histórica, filosofia na história e história da filosofia e se deixa arrastar na falácia de que estudar o «Timeu» de Platão ou a «Metafísica» de Aristóteles "não é filosofar mas apenas aprender história da filosofia", ainda pensa muito pouco e mal.

 

Nota: Este artigo insere-se na filosofia analítica, ainda que se oponha a uns tantos «divulgadores da filosofia analítica» em voga.

 

 

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© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)



publicado por Francisco Limpo Queiroz às 17:10
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