A filosofia analítica declara que o conhecimento é «uma crença verdadeira justificada». Ora, o conhecimento não é crença, não inclui a crença: o conhecimento é a apreensão de um objecto material, ideal ou lógico por uma consciência de um sujeito. A crença é colateral ao acto de conhecimento. Na verdade, só há crença na medida em que há dúvida, desconhecimento. Os católicos ou os judeus crêem em Deus porque não O conhecem, nem estão certos de que existe: desejam que Ele exista a fim de encontrarem paz e conforto. O céptico não é menos crente que o dogmático. O céptico crê que é impossível conhecer se há vida após a morte física, se os quarks e leptões existem realmente, se o amor a outrém existe, em si mesmo, ou se é apenas uma modalidade do amor próprio.
O que os crentes religiosos conhecem é uma ideia de Deus, uma descrição desta entidade, real ou meramente imaginária. Não conhecem Deus - a menos que reduzam este à mente superior de cada um, observada internamente. A crença implica fé. Mas o conhecimento dispensa a fé, porque, em si mesmo, é uma apropriação, um contacto intelectual ou empírico-intelectual com a verdade material ou ideal.
Na crença existe distância. No conhecimento, há fusão, anulação da distância. O conhecimento é uma adesão indiscutível, que está além da hesitação da crença.
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