Domingo, 4 de Novembro de 2012
Sonetos - I

  

O MEU AMOR VERMELHO

 

O meu amor vermelho, de cristal,
é feito de energia, adoração.
É, em ti, Galaaz e Santo Graal
a pomba, a palma da tua
o.

É nicho, catedral, ontologia
o Ser-ai da pura devoção,
a abertura do Ser, a heresia,
a coluna que une o céu ao chão.

Sou-te em azul, em pura percepção,
o sutiã, o seio, a Intuição,
que eleva a sensação ao transcendente.

Essência e existência, abstração,
dois corpos no uno do coração
e o rubi da paixão no imanente

 

Francisco Limpo

 

 

 

IMAGEM NO ESPELHO

 

Sou a janela branca do teu quarto

de onde olhas a planície alentejana.

Sou o teu guarda-roupa, já estou farto

de não ser uma coisa mais profana.

 

Quero ser a tua liga, o sutiã,

o top vermelho que te molda o peito,

a cuequinha, essa meia de lã,

que te faz, alternativa, desse jeito.

 

E ser as tuas botas sobre a laje,

o teu vestido de estilo vintage,

e o teu cabelo solto, sedutor.

 

E ser a tua imagem no espelho,

voltar atrás no tempo, não ser velho,

e nascer no baton do teu amor. 

 

Francisco Limpo

 

 

NA GÔNDOLA AZUL DESTA VENEZA

 

Ah, meu amor, que lindos os teus passos

na gôndola azul desta Veneza

de ter-te no claustro dos meus braços,

junto à água, nas pontes da beleza.

 

E ser, em ti, a praça de São Marcos,

o oceano azul, livre e profundo,

os teus seios vogando como barcos,

no sal da minha boca como o mundo.

 

E os teus braços abertos, canapés

de oiro e brocado, e o pôr dos teus pés

no sido, ontologia do passado.

 

E a tua boca, rosas e marfim,

devir, ser outro, já longe de mim,

e descobrir-me em ti, reificado. 

 

Francisco Limpo

 

 

 

ISQUEIRO DO AGORA

 

 

Saio agora para o campo dos teus olhos
onde há feiras medievas, arlequins,
túnicas brancas, vestidos de folhos
e um leve vermelho botequins.

 

Saio e encontro a tua alma  a flutuar
no isqueiro aceso do Agora,
e pergunto se é o vento  a ondular
ou se és a prontidão que há na aurora.

E vejo-te na noite, sorridente,
no bar dos meus sentidos, no tridente
do meu ser deus dos mares, certo, seguro.

E o teu lábio é caravela ardente,
nao sei se sempre igual ou se diferente
de eu ser amor por ti enquanto duro.

 

Francisco Limpo

 

 

CANTAR COM OS BUBEDANAS

 

Um dia fui cantar com «Os Bubedanas»,
na Praça da República de Beja,
e o Henribar transformou-se em igreja
e Deus desceu a estas terras planas.

Era o Bernardo, o Rui, o Luis Aleixo
vozes do sagrado ao profano,
abóbada de sons que, no seu fecho,
nao são, senão, o céu alentejano.

O céu do sobro, de espigas doiradas,
das moças lindas, searas lavradas,
do queijo, do gaspacho e cataplanas .

Menina Florentina, sob a  lua,
queria que a minha boca fosse a tua,
ao som do cante de «Os Bubedanas».

 

Francisco Limpo

 

 

TEMPO AZUL DOS TEUS SENTIDOS

 

Sei do tempo azul dos teus sentidos
e Beja Inteira poisa em mim, em oiro.
castelos no vermelho e negro toiro
na harpa dos teus seios escondidos .

És linda. Toco-te o sutiã
algures no continente do teu peito
e beijo-te, em rosáceas, mas com jeito,
que a catedral de ti nasce amanhã.

E sou a arquitectura do teu ser,
gótico radiante de mulher,
Beja, convento da Conceição!

E quanto mais te beijo, mais te adoro
és o Arquetipo, a deusa a que oro,
a mistura do real e da ilusão.

 

Francisco Limpo

 

 

METAMORFOSE

 

Tão bela, tão formosa, tão bonita,
e eu ao desejá-la já sou ela,
sou o seu corpo de linho, quallipa
sua mulher, seu homem, sua estrela.

E ao desejá-la sou apenas um verso
a estátua branca da Virgem Maria,
da mão suspenso , em pérolas, um terço
e é madrugada azul ou já é dia.

 

E rezo-me em mim ou ela me reza agora,

eu homem, feito deusa da aurora,

nesta igreja de vermelho travestismo.

 

Altares de mim são ela em movimento

os seus beijos de açúcar e o momento

de sermos um só ente, em erotismo.

 

 

 

 

Francisco Limpo

 

 

AMOR POLÍCROMO

 

Ó meu amor vermelho, quanto és verde,

e de oiro, silêncio, é o teu seio azul,

e a anca de platina, mais ao sul,

na calcinha de renda em que se perde

 

o mastro do barco do meu desejo,

a mão da minha loucura, qual cavalo,

no prado do teu ventre, no teu halo,

na água esplendorosa deste beijo.

 

Dá-me a harpa, a alça do sutiã,

no teu ombro toco, até ser manhã,

e o sol já vem chegando, no terraço.

 

É Alentejo. Amo-te, avelã,

poejo, cardo, queijo, pura lã,

e tudo o mais que nasce deste abraço.

 

 

 

 

 Francisco Limpo

 

 

POLPA SEM GRAINHA

Ela é o meu amor. É tão novinha!

É sorriso de prata, folha de ouro,

amor de Escorpião, e não de Touro,

uva, parra, polpa sem grainha.

 

´Não lhe toco. Amo-a assim, aurora,

de um rosto puro, branco, divinal,

e o seu braço é um castiçal

e eu, a chama que arde no agora.

 

Sorrimos. E o amor a sério existe,

forte, metálico e persiste,

e sempre assim será, até morrer. 

 

Espero-a no castelo imaginário,

de um beijo, de um abraço extraordinário,

que pode nunca vir a acontecer.

 

Francisco Limpo

 

www.filosofar.blogs.sapo.pt

 

 

© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)

 



publicado por Francisco Limpo Queiroz às 13:23
link do post | favorito

Comentar:
De
  (moderado)
Nome

Url

Email

Guardar Dados?

Este Blog tem comentários moderados

(moderado)
Ainda não tem um Blog no SAPO? Crie já um. É grátis.

Comentário

Máximo de 4300 caracteres



Copiar caracteres

 



O dono deste Blog optou por gravar os IPs de quem comenta os seus posts.

mais sobre mim
pesquisar
 
Janeiro 2024
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4
5
6

7
8
9
10
11
12
13

14
15
16
17
18
19
20

21
22
23
24
25
26
27

28
29
30
31


posts recentes

5 de Janeiro de 2024: a i...

Área 2º-4º do signo de Es...

15 a 18 de Novembo de 202...

13 a 16 de Novembro de 20...

Lua em Peixes em 10 de Ma...

6 a 7 de OUTUBRO DE 2023 ...

Plutão em 28º de Capricór...

11 a 13 de Setembro de 20...

Islão domina Europa e Ale...

Pão branco melhor que o i...

arquivos

Janeiro 2024

Dezembro 2023

Novembro 2023

Outubro 2023

Setembro 2023

Agosto 2023

Julho 2023

Junho 2023

Maio 2023

Abril 2023

Março 2023

Fevereiro 2023

Janeiro 2023

Dezembro 2022

Novembro 2022

Outubro 2022

Setembro 2022

Agosto 2022

Julho 2022

Junho 2022

Maio 2022

Abril 2022

Março 2022

Fevereiro 2022

Janeiro 2022

Dezembro 2021

Novembro 2021

Outubro 2021

Setembro 2021

Agosto 2021

Julho 2021

Junho 2021

Maio 2021

Abril 2021

Março 2021

Fevereiro 2021

Janeiro 2021

Dezembro 2020

Novembro 2020

Outubro 2020

Setembro 2020

Agosto 2020

Julho 2020

Junho 2020

Maio 2020

Abril 2020

Março 2020

Fevereiro 2020

Janeiro 2020

Dezembro 2019

Novembro 2019

Outubro 2019

Setembro 2019

Agosto 2019

Julho 2019

Junho 2019

Maio 2019

Abril 2019

Março 2019

Fevereiro 2019

Janeiro 2019

Dezembro 2018

Novembro 2018

Outubro 2018

Setembro 2018

Agosto 2018

Julho 2018

Junho 2018

Maio 2018

Abril 2018

Março 2018

Fevereiro 2018

Janeiro 2018

Dezembro 2017

Novembro 2017

Outubro 2017

Setembro 2017

Agosto 2017

Julho 2017

Junho 2017

Maio 2017

Abril 2017

Março 2017

Fevereiro 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Novembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Julho 2008

Junho 2008

Maio 2008

Abril 2008

Março 2008

Fevereiro 2008

Janeiro 2008

Dezembro 2007

Novembro 2007

Outubro 2007

Setembro 2007

Agosto 2007

Julho 2007

Junho 2007

Maio 2007

Abril 2007

Março 2007

Fevereiro 2007

Janeiro 2007

Dezembro 2006

Novembro 2006

Setembro 2006

Agosto 2006

Julho 2006

Maio 2006

Abril 2006

Março 2006

Fevereiro 2006

tags

todas as tags

favoritos

Teste de filosofia do 11º...

Suicídios de pilotos de a...

David Icke: a sexualidade...

links
blogs SAPO
subscrever feeds