O MEU AMOR VERMELHO
O meu amor vermelho, de cristal,
é feito de energia, adoração.
É, em ti, Galaaz e Santo Graal
a pomba, a palma da tua Mão.
É nicho, catedral, ontologia
o Ser-ai da pura devoção,
a abertura do Ser, a heresia,
a coluna que une o céu ao chão.
Sou-te em azul, em pura percepção,
o sutiã, o seio, a Intuição,
que eleva a sensação ao transcendente.
Essência e existência, abstração,
dois corpos no uno do coração
e o rubi da paixão no imanente.
Francisco Limpo
IMAGEM NO ESPELHO
Sou a janela branca do teu quarto
de onde olhas a planície alentejana.
Sou o teu guarda-roupa, já estou farto
de não ser uma coisa mais profana.
Quero ser a tua liga, o sutiã,
o top vermelho que te molda o peito,
a cuequinha, essa meia de lã,
que te faz, alternativa, desse jeito.
E ser as tuas botas sobre a laje,
o teu vestido de estilo vintage,
e o teu cabelo solto, sedutor.
E ser a tua imagem no espelho,
voltar atrás no tempo, não ser velho,
e nascer no baton do teu amor.
Francisco Limpo
NA GÔNDOLA AZUL DESTA VENEZA
Ah, meu amor, que lindos os teus passos
na gôndola azul desta Veneza
de ter-te no claustro dos meus braços,
junto à água, nas pontes da beleza.
E ser, em ti, a praça de São Marcos,
o oceano azul, livre e profundo,
os teus seios vogando como barcos,
no sal da minha boca como o mundo.
E os teus braços abertos, canapés
de oiro e brocado, e o pôr dos teus pés
no sido, ontologia do passado.
E a tua boca, rosas e marfim,
devir, ser outro, já longe de mim,
e descobrir-me em ti, reificado.
Francisco Limpo
ISQUEIRO DO AGORA
Saio agora para o campo dos teus olhos
onde há feiras medievas, arlequins,
túnicas brancas, vestidos de folhos
e um leve vermelho botequins.
Saio e encontro a tua alma a flutuar
no isqueiro aceso do Agora,
e pergunto se é o vento a ondular
ou se és a prontidão que há na aurora.
E vejo-te na noite, sorridente,
no bar dos meus sentidos, no tridente
do meu ser deus dos mares, certo, seguro.
E o teu lábio é caravela ardente,
nao sei se sempre igual ou se diferente
de eu ser amor por ti enquanto duro.
Francisco Limpo
CANTAR COM OS BUBEDANAS
Um dia fui cantar com «Os Bubedanas»,
na Praça da República de Beja,
e o Henribar transformou-se em igreja
e Deus desceu a estas terras planas.
Era o Bernardo, o Rui, o Luis Aleixo
vozes do sagrado ao profano,
abóbada de sons que, no seu fecho,
nao são, senão, o céu alentejano.
O céu do sobro, de espigas doiradas,
das moças lindas, searas lavradas,
do queijo, do gaspacho e cataplanas .
Menina Florentina, sob a lua,
queria que a minha boca fosse a tua,
ao som do cante de «Os Bubedanas».
Francisco Limpo
TEMPO AZUL DOS TEUS SENTIDOS
Sei do tempo azul dos teus sentidos
e Beja Inteira poisa em mim, em oiro.
castelos no vermelho e negro toiro
na harpa dos teus seios escondidos .
És linda. Toco-te o sutiã
algures no continente do teu peito
e beijo-te, em rosáceas, mas com jeito,
que a catedral de ti nasce amanhã.
E sou a arquitectura do teu ser,
gótico radiante de mulher,
Beja, convento da Conceição!
E quanto mais te beijo, mais te adoro
és o Arquetipo, a deusa a que oro,
a mistura do real e da ilusão.
Francisco Limpo
METAMORFOSE
Tão bela, tão formosa, tão bonita,
e eu ao desejá-la já sou ela,
sou o seu corpo de linho, qual túlipa
sua mulher, seu homem, sua estrela.
E ao desejá-la sou apenas um verso
a estátua branca da Virgem Maria,
da mão suspenso , em pérolas, um terço
e é madrugada azul ou já é dia.
E rezo-me em mim ou ela me reza agora,
eu homem, feito deusa da aurora,
nesta igreja de vermelho travestismo.
Altares de mim são ela em movimento
os seus beijos de açúcar e o momento
de sermos um só ente, em erotismo.
Francisco Limpo
AMOR POLÍCROMO
Ó meu amor vermelho, quanto és verde,
e de oiro, silêncio, é o teu seio azul,
e a anca de platina, mais ao sul,
na calcinha de renda em que se perde
o mastro do barco do meu desejo,
a mão da minha loucura, qual cavalo,
no prado do teu ventre, no teu halo,
na água esplendorosa deste beijo.
Dá-me a harpa, a alça do sutiã,
no teu ombro toco, até ser manhã,
e o sol já vem chegando, no terraço.
É Alentejo. Amo-te, avelã,
poejo, cardo, queijo, pura lã,
e tudo o mais que nasce deste abraço.
Francisco Limpo
POLPA SEM GRAINHA
Ela é o meu amor. É tão novinha!
É sorriso de prata, folha de ouro,
amor de Escorpião, e não de Touro,
uva, parra, polpa sem grainha.
´Não lhe toco. Amo-a assim, aurora,
de um rosto puro, branco, divinal,
e o seu braço é um castiçal
e eu, a chama que arde no agora.
Sorrimos. E o amor a sério existe,
forte, metálico e persiste,
e sempre assim será, até morrer.
Espero-a no castelo imaginário,
de um beijo, de um abraço extraordinário,
que pode nunca vir a acontecer.
Francisco Limpo
© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
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